quinta-feira, 18 de abril de 2013

Os Poemas de Guto

Ruth Guimarães 

O livro de Guto começa com um poema que é a própria dedicatória. Ao Botelho. No nosso exemplar, por ele gentilmente oferecido, chama o Botelho de amigo, a mim trata meio que medalhona, e me chama de Mestra, com M maiúsculo. Fiquei sem saber se essa maneira de classificar deve me lisonjear ou entristecer; eis que o nosso poeta tem duas grandes qualidades, ou dois grandes defeitos, dependendo do ponto de vista. Primeiro aquela sensibilidade agônica dos muito moços e muito poetas, e segundo o romantismo no seu caso dirigido para o niilismo à Alvares de Azevedo e a 1899, que faz taboa rasa de tudo, e descrê de tudo, e ficamos sem saber se é melhor atribuir essa crise existencial ao excesso de mocidade, e passa mais ou menos sem seqüelas, como o sarampo. 

O poeta meio que pede desculpas de juntar tais e tais poemas e nos conta que se demorou a ter coragem para isso. 

Coragem de que? Coragem de sair à luz, enfrentar as críticas e comentários, sem saber bem se tinha acertado? Mas esse temor devia ter sido quando da publicação do primeiro livro, quando perdeu a virgindade com os haikais. 

Então, o quê? A coragem de dizer e escrever palavrões? Depois de Jorge Amado e da desorientação da TV. Basta que a gente dê uma boa olhadela ao Decameron e a outras obras desabusadas do medioevo, para perceber que isso não é mais necessário. 

Coragem, a própria palavra quer dizer coração intrépido. 

Eu sei bem da sua coragem, meu poeta! Aquela coragem de violentar a si mesmo e trazer à luz o imo em carne viva. Contar da sua tristeza existencial, da sua descrença, do seu negativismo, das suas desilusões. Da incapacidade e de impotência de enfrentar o mundo e seus horrores. De desculpar o homem e a cega caminhada para o abismo. Existir não é fácil, quando se tem a sua sensibilidade. 

O poeta nos mostra o nosso rosto original, o que tínhamos antes de nascer. Pois que em verdade temos duas idades. A do nosso tempo presente e a que trazemos conosco ao vir ao mundo: o pacote genético, com tudo que a humanidade aprendeu definitivamente, em milhões de anos, e ao qual vamos acrescentar um grão, ao lutarmos para viver como a vida deve ser vivida. 

A última notícia que me vem desse poeta é que volta para Cachoeira talvez, mas de qualquer modo para o Estado de São Paulo. Fez concurso para professor do Estado. Passou muito bem classificado. Vencedor? Joguete de suas tarefas ilusórias? 

Neste mundo brasileiro há duas classes de gente abandonada ao seu destino precário e sonhador: os artistas e os professores.

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