A criatividade aflora quando mudamos o padrão, variamos o ângulo, quando vamos além da primeira resposta e procuramos alternativas.
Ela é mãe. E também madrasta. Quando menos esperamos, lá vem ela em toda sua glória. Indica o caminho, ilumina a escalada, elimina nossas dúvidas e nos incentiva quando desanimamos. Por outro lado, na noite mais escura, do lugar mais isolado, do poço mais profundo, certas vezes ela não escuta nosso pedido de ajuda.
Qual a alternativa? Tomar as rédeas desta carruagem desgovernada e conduzi-la da forma que acharmos mais apropriada. Existe saída deste beco. Mas primeiro precisamos levar em consideração que os sentidos humanos estão programados para discernir diferenças. Por exemplo: você é convidado para um churrasco na casa de um amigo. Quando chega lá, sente o cheiro da carne assando. Sua boca começa a salivar. Você escuta o filé mignon fazendo aquele ruído… ssssssss… na grelha. A casa inteira está tomada pelo aroma da carne sendo preparada.
No entanto, dez minutos depois o “perfume” desapareceu. Você não sente mais o cheiro da carne na churrasqueira. O mesmo acontece com ruídos, estímulos táteis ou qualquer outra manifestação externa que bombardeie seus sentidos. Se a manifestação for contínua, ela não será mais percebida. Mais um exemplo: pare tudo e escute o barulho do tráfego lá fora.
…
Percebeu? Os motores, as buzinas e o ruído dos pneus no asfalto estavam lá o tempo todo. Mas você não estava mais ouvindo porque não estava mais prestando atenção. Não é à toa que este tipo de barulho é chamado de ruído branco. É o estímulo (a TV lá na sala, o cachorro do vizinho, aquela dorzinha nas costas que nunca vai embora) que nossa consciência administra jogando lá para o fundo, onde, em tese, não incomodaria mais.
Todos precisamos de pelo menos algumas constantes na nossa vida. Nem que seja uma sombra de rotina para podermos viver em sociedade. Se você fizer tudo diferente, o tempo todo, todos os dias em todos os lugares, o diferente se transforma na rotina. Por outro lado a rotina massacrante também anestesia os sentidos. Qual o caminho? Como sempre, o do meio. O do bom senso.
E a alternativa para dar esta cutucada na criatividade é quebrar o padrão. Esquecer o normal. Abandonar, inclusive, por alguns minutos, o que as pessoas chamam de “razão”.
Não posso dar receitas de bolo de como resolver este problema, mesmo porque somos todos muito diferentes. Mas posso dizer o que funciona comigo. Sinto que, às vezes, preciso “inspirar” a inspiração. Ela é preguiçosa por natureza (aliás, como eu) e precisamos fazer nossa parte. Quando ela está ocupada lidando com outros problemas, normalmente faço o seguinte:
Converso com nossas gatinhas – temos duas gatinhas, Miadóra e Shypelanca. Invento diálogos com elas. Converso, debato, argumento, faço os dois lados da discussão. Claro que esta técnica serve também para cachorros, passarinhos, coelhos e outros seres vivos. Até bebês.
Invento letras absurdas para melodias de músicas que gosto – Ou ainda invento minhas próprias melodias. Claro, não tenho um dom musical, então você pode imaginar como minhas músicas soam. Isto funciona especialmente quando estou fazendo tarefas maçantes ou repetitivas. O problema é que não consigo combinar os dois exercícios, pois quando começo a cantar, as gatas desaparecem.
As próximas 3 “técnicas” (são brincadeiras, na verdade) também funcionam muito bem.
Faça caretas na frente do espelho. E não se preocupe se alguém pegar você em flagrante. Faça mais uma careta dirigida ao invasor! É interessante ver seu rosto de forma diferente.
Mude de posição. Sente de trás pra frente na cadeira. Mude a cadeira de posição. Mude a mesa de posição. Vá escrever no jardim, na sacada, na escada, debaixo da mesa, dentro do box do chuveiro (com ele desligado, por favor). Inverta coisas, práticas e modelos. Subverta seu local de trabalho.
Faça de conta que você é uma figura histórica ou mitológica. Pode ser um ex-presidente, o Hércules, Sócrates ou até figuras como Papai Noel ou o Coelho da Páscoa. Qualquer personagem serve. Que tal um super-herói? Como você resolveria seus problemas, os problemas de outras pessoas ou ainda os problemas do mundo se você tivesse um super poder?
Se quiser ler mais a respeito, aqui estão alguns livros relacionados ao assunto.
Em Espere o Inesperado (ou você não o encontrará), Roger von Oech utiliza trinta epigramas de Heráclito como trampolins para impulsionar a criatividade. Ao usar cada máxima como uma fonte de inspiração, ele nos proporciona passagens divertidas, enigmas desafiadores e perguntas intrigantes formuladas para derrubar velhos hábitos mentais e incendiar a imaginação. O autor mostra como reverter nossas expectativas, conduzir a mudança a nosso favor, criar metáforas poderosas e evitar a armadilha do “mais” , ou seja, supor que mais é sempre melhor para resolução de problemas. Todas as pessoas que buscam novos métodos para a resolução de problemas – administradores, estudantes, artistas – encontrarão neste livro uma ferramenta de inestimável valor. Quer você o leia como um manual de criatividade, quer use os insights como uma forma de meditação matinal ou consulte-o diariamente como um oráculo. Esta obra dará uma saudável sacudida na sua imaginação.(fonte: Submarino)
Este livro contém uma importante mensagem: a de que a criatividade pode ser cultivada por todos – crianças e adultos, empresas e comunidades inteiras. Como você pode liberar o seu espírito criativo e usá-lo para melhorar a qualidade da sua vida? Este livro o leva a conhecer o processo criativo, fazendo-o entender os reinos da intuição e do “fluxo criativo”, onde os nossos esforços estão perfeitamente à altura da tarefa que temos em mãos. Ele oferece uma série de exercícios práticos para aumentar sua criatividade e desfazer hábitos preconceituosos de pensamento, e leva você numa viagem ao redor do mundo contando-lhe histórias inspiradoras sobre o espírito criativo em ação: Uma escola revolucionária italiana mostra como liberar a criatividade das crianças. O gênio cômico Chuck Jones, lendário criador do coelho Pernalonga, explica por que “a ansiedade é a serva da criatividade”. Uma inovadora fábrica sueca abre mão da hierarquia e revela todos os segredos da empresa aos funcionários. Uma igreja urbana norte-americana usa a antiga arte da escultura para ajudar na reconstrução de uma comunidade. Repleto de humor e dos altos e baixos da criatividade, O Espírito Criativo nos encoraja a investir na paixão, na persistência e na disposição de correr riscos que podem nos fazer sentir a alegria de viver.(fonte: Submarino)
Ao expor e questionar o mito da criatividade, o autor demonstra, em prosa ágil, bem-humorada e competente, que ela é um produto bem mais acessível do que se imagina. Antes de ser uma dádiva divina, é fruto do trabalho gradual e da dedicação apaixonada de cada um de nós. Para provar, Zugman investiga a vida e o pensamento de uma série de personagens e personalidades reconhecidamente criativas: Darwin, Freud, Einstein, Batman, Da Vinci e até o célebre governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger. Uma viagem cultural imperdível.(fonte: Submarino).
Fábio Marchioro
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