segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Literatura apócrifa na internet: um desserviço à língua e à nacionalidade

A comunicação de massa ganhou um extraordinário tambor com o advento do rádio. É um veículo barato, não tem barreiras a não ser aquelas impostas pela geografia dos morros e das senas, seu sistema de distribuição requer pouca manutenção, de modo que o investimento inicial fica diluído no tempo. Não há casebre ou choupana brasileira sem um aparelho de rádio. Mais: as pesquisas mostram que o rádio é o mais eficiente veículo - cada aparelho atinge 25 pessoas, contra os 8 atingidos pelos jornais e revistas, e mesmo os 12 atingidos por um televisor.

E eis que surge a televisão. Mais cara, mas infinitamente mais fascinante, não desbancou o rádio, mas passou a exercer um hipnótico papel na sociedade moderna. A TV anunciava o fim do mundo, para a comunicação. A massificação ficou manifesta, a superficialidade passou a ser o ingrediente. O conteúdo cedeu espaço ao entretenimento, o show tomou o lugar da reflexão. A notícia agora é produto de consumo, rápido, mas inconsistente. Como em quase todos os outros aspectos da vida ocidental, o invento se rendeu à supremacia do poder, e a notícia seguiu os mesmos moldes.

O jornalista francês Régis Debray afirma que "a arte de governar é a arte de fazer crer". Com isto, mostra certo desencanto ao inferir que as notícias não se limitam a refletir a realidade, mas que de maneira dialética a recriam, porque, ao mesmo tempo em que apresentam determinadas concepções da realidade, contribuem para modificar a percepção dessa realidade. É dele uma frase que sintetiza a postura que impera nas redações desde a década de 80: "Antigamente, quando você chegava com uma novidade a um diretor de jornal, ele piscava os olhinhos, esfregava as mãos e dizia entusiasmado: 'Ótimo, ótimo, vamos publicar já! Ninguém está falando nisso!' Mas hoje, quando se chega a um diretor de jornal com uma novidade, ele faz um muxoxo de desprezo e diz: ‘Isso não vamos dar. Não interessa. Ninguém está falando nisso."

O comentário anedótico tem base real, e resume de certa maneira a postura do jornalismo das últimas décadas no Brasil. O que Debray disse está contido quase integralmente nos 11 mandamentos do telejomalismo brasileiro, assimilados pela TV Globo das redes norte-americanas, já no início de suas operações, na década de 60. Os mandamentos são estes:
  1. A grande notícia está onde estão as câmeras; 
  2. Notícia importante é a que entra nos 22 minutos do horário nobre; 
  3. O telejornalismo é um processo brutal de eliminação de matérias; 
  4. Se o político não consegue dar o recado em 15 segundos, corte o homem; 
  5. Se o presidente fala é notícia; 
  6. Se o concorrente tem é preciso usar; 
  7. Entre a bela e a fera, use a bela; 
  8. Se os jornais publicarem, a TV deve dar; 
  9. Se é importante mas a imagem é pobre, conte e não mostre; 
  10. Se não aconteceu hoje, não é notícia; 
  11. Deixe o telespectador feliz. 
Aparecem nessas 11 regras, aparentemente singelas, indicações muito fortes da presença do poder da TV, em variadas formas e de variadas origens, num vinculo interdependente entre imprensa e sociedade.

Dizer que a notícia está onde estão as câmeras é uma presunçosa assertiva do poder da televisão como elemento de catarse do público. Equivale simplesmente a dizer que, se surge um carro de reportagem de alguma emissora de TV, alguém vai promover algum evento para captar a atenção do cinegrafista para fazê-lo registrar as imagens. Que pode ser um protesto improvisado, uma travessura qualquer, e até mesmo uma infração, ou um crime. São os 15 minutos de fama de que falava o artista pop Andy Warhol, e que as pessoas buscam para se sentirem, ainda que momentaneamente, retiradas do anonimato. Não importa se efêmera, a fama será ainda mais completa se puder ser mostrada no horário nobre, que compreende os 22 minutos e meio que dura o Jornal Nacional, carro-chefe do jornalismo da TV Globo (cujo processo de exibição o ex-diretor da Central Globo de Jornalismo, Armando Nogueira, comparava à decolagem de um Boeing). 

Conseguir bilhete para esse Boeing nem sempre é possível, dado que editar um telejornal como esses pressupõe um processo de escolha e seleção muito cuidadoso, às vezes até brutal, se considerarmos o volume de notícias que ficam em números médios fora da edição do dia simplesmente porque não há tempo para exibir todas estima-se que um percentual de apenas 30% do que foi originalmente captado pela equipes de produção e de reportagem num dia é efetivamente levado ao ar). Muitas vezes interessa para os jornalistas que suas fontes organizem manifestações públicas próximas do espetáculo (alguns autores chegaram a escrever sobre isto) (1), porque garantem cobertura de uma notícia palpitante. As fontes, por sua vez, ganham visibilidade em razão da cobertura — e em geral são pessoas ligadas a elites de poder, pois que somente elas podem arcar com as despesas custosas de uma organização desse nível.

No quarto item, a instrução de limitar o tempo de depoimento dos políticos tem três fundamentos. Em primeiro lugar o medo de entediar o telespectador, porque a política é considerada um tema sem boa receptividade por parte do público. Em segundo lugar, mas talvez mais importante, é o medo que a imprensa tem de ser usada pelos políticos. O terceiro motivo, e o mais prosaico, é que o depoimento (que em televisão e em rádio se chama "sonora") é a parte mais fácil de ser editada.

O quinto item da lista (quando o presidente fala, é notícia), vem de certo modo reforçar a permanência do pensamento político de Thomas Hobbes sobre a fonte do poder, que Foucault tentou reformar em suas regras.

O sexto item — se o concorrente tem, é preciso usar — nos remete ao que costumo chamar de "pasteurização da notícia", e que Regis Debray ironizou, como vimos há pouco. Mas há uma forma de poder implícita nessa cândida regra: a de que uma emissora precisa ter o domínio da informação, não ser ultrapassada por outra, não ser apanhada em "delito" por não exibir um assunto em seus telejornais, e que outra emissora apresentou. E concorrência de produto, exatamente como manda o mercado capitalista, mas é também concorrência de domínio, de poder, de supremacia.

O sétimo item apela para o poder pela via da estética do gosto. Pesquisas de marketing revelam, há muito tempo,que a presença de mulheres bonitas em televisão captam a atenção do telespectador, seja do sexo masculino ou feminino.

O oitavo item, que de certo modo repete o sexto, refere-se à concorrência direta de outros veículos de imprensa, que são os jornais impressos. De novo a questão da supremacia, porque o que está em jogo é a capacidade da televisão, que quer ser instantânea, de apresentar um assunto o jornal, pela sua natureza, só será capaz de mostrar na sua próxima edição, no modelo brasileiro é publicada sempre no dia seguinte. O novo item está bastante próximo do oitavo, ao recomendar que a imagem vale mais do que mil palavras: a imagem animada, com seu efeito visual e conseqüentemente mais sinestésico, sobre o telespectador, é que diferencia televisão de jornal. Portanto, deve ser explorada. E, dentro deste mesmo conceito de concorrência entre TV e jornal, o décimo item se encaixa perfeitamente, porque a instantaneidade da TV decreta a morte das "novidades velhas", como dizia Antonio Soares Amora em suas aulas na USP.

Por fim, o décimo item: deixe o telespectador feliz. Quanto a isto, os editores têm como premissa o fato de que no chamado horário nobre um grande número de pessoas estão em casa, depois do trabalho, cansadas e procurando relaxar, cercadas da familia, jantando, enquanto assistem ao noticiário — que é uma forma de exibirem conhecimento aos colegas de trabalho, no dia seguinte. Portanto, não devem ser mostrados assuntos escabrosos, imorais, ou que produzam asco. Dentro desse mesmo conceito, encaixa-se a idéia de que os telespectadores adoram tragédias — na casa dos outros. Uma notícia bombástica, como o anúncio de milhares de mortes por causa de um terremoto ou de um acidente nuclear, é sempre seguido da atenuante explicação geográfica: "na China" — ou em qualquer outro domínio geográfico distante do Brasil.

DIALETO E IDIOLETO 

Também foi por "culpa" da TV que houve a imposição de um supra-sotaque no território nacional (a supremacia tirânica do carioquês). Mesmo nas emissoras de TV dos mais distantes rincões nordestinos os falares regionais foram suplantados pelo arrassssstado falarr da capital, onde se localiza a sede da mais importante, a TV Globo. Ao mesmo tempo, a linguagem é a mais coloquial possível. Trocam-se os sinônimos preciosos pelo mais medíocre discurso em nome do chamado "entendimento geral". A quem serve a vulgarização da língua? Porque a qualidade vem cedendo, na prática, espaço à coloquialidade? Parece uma questão de língua e polis, Platão revisitado. Mas o máximo da frivolidade e da superficialidade ainda viria, na forma das mensagens de correio eletrônico, aplicada em nome da velocidade, objetividade e síntese. A língua foi ainda mais vulgarizada, e surgiu o internetês.

FALÁCIAS DA ESCRITURA "ON LINE"

"Em Internet é assim", é o que mais se ouve de quem trabalha no meio. E quem trabalha no meio; pessoas que dominam a ferramenta, e não o conteúdo, e se consideram acima das leis da gramática, ortografia e comunicabilidade. Dotadas do poder sobre a máquina, essas pessoas se arrogaram o papel de estabelecer a forma de comunicação que todos deveriam seguir. Chegou-se ao cúmulo, ao meu ver, da superficialidade pedagógica, em nome da velocidade e da comunidade, com a expansão da educação a distância. Tem, admito, propósitos, mas muitos mais despropósitos.

O principal desserviço que a Intemet vem prestando à produção intelectual é o uso e o abuso de não pedir licença. Sem leis, sem proteção, piccolo fanchiulo che piange, a Intemet anulou o copyright (©).

A literatura divulgada às mãos cheias — mais ou menos como queria Castro Alves — é propositadamente apócrifa. Literatura inconseqüentemente apócrifa. Preguiça, desprezo ao copyright.

Debate-se sobre leis e fundamentos legais, mas quem fiscaliza? Alguém sabe exatamente quem consome a informação originada da Internet? Onde estão os valores?

A CRISE 

A literatura brasileira ocupa um lugar apenas subsidiário nos veículos de comunicação de massa — que são, afinal, grandemente responsáveis pela formação da nossa sensibilidade. Especialmente a TV e a Internet, hoje. Assim mesmo, a produção literária nacional divulgada restringe-se aos sucessos de marketing como os de auto-ajuda e esoterismo — e que Lima de Albuquerque chama de "espécie de comprimidos de Prozac em forma de livros". Quando a imprensa concede algum destaque, o espaço é reservado apenas aos autores canônicos chancelados pela academia.

Mas o pior é que os textos começam a ser repassados aos cacos, retalhados, sem referência autoral, copiados e colados indiscriminadamente nos corpos de mensagens descompromissadas.

Povo deseducado, a bordo do maquinário internético, corre o risco de perder identidade, história, valores. Quem serão os leitores do futuro?
Segundo Proust, o leitor é antes de tudo leitor de si mesmo. Parece ser a chave perdida dessa questão.

NOTA: 
1. Por exemplo Erickson Richard, Patricia M. Baranek e Janet B.L. Chan, da Universidade de Toronto, dizem isto no trabalho que publicaram em 1989, chamado Negotiahing control: a study of news sources.


Joaquim Maria Botelho. Artigo publicado na Revista Ângulo, Faculdades Integradas Teresa D’Ávila, Lorena, São Paulo.

Congresso Internacional


Cada um de nós é um continente postado à mesa, cada qual em seu lugar respeitando fronteiras estabelecidas pela linguagem. Um sorriso é sempre encorajador se faz brechas no muro  sentado em frente: e o sorriso se constrange quando obrigado a responder em língua estranha.  Os sons indecifráveis não entendem o olhar súplice implorando a interrupção dessa torrente que nada diz.  O gesto indeciso aumenta o mar de palavras, inunda o inimigo...
Algumas das nove musas, entre elas Dança, Canto, Música, Poema, invadem espaços, engolem fronteiras. O povo sentado à mesa se embebedou saudando as bruxas que traduziam mal o linguajar eclesiástico vertido nas taças.  O mapa-múndi perdeu o equilíbrio, trocou de posição; o eixo pendeu esvaziando mares encharcando penínsulas.
Mesas são afastadas, desfaz-se o nó das gravatas, começa o ritmo desconhecido.  Os pés tentam acompanhar, mas o compasso está mesmo é na malícia dos olhos seguindo o rebolado da mulata.  Heresia? O que faz o sacerdote cristão sobre a mesa? Rouba a cena tentando imitar a dança que o encanta.  Alguém ousa dizer que a Europa não tem gingado? o eixo do mundo pende novamente, a África muda de lugar.  Nos rostos azuis os grandes beiços imitam a percussão do surdo.  Um passo.  E dois.  Um.  E dois.  E um e dois; e um e dois e um e dois eumedois.  Quadris comunicam o convite universal – África, Europa, Continente Americano esmaecem o desenho original, todo mundo é preto e branco.
Silêncio.  Mesas abandonadas, salão vazio, toalhas manchadas, taças quebradas, um lenço perdido.
As musas se afastam.  A linguagem cede lugar à polidez; o sorriso tímido responde outra vez  ao que não pode mais entender...




Júnia Botelho




Formada pela USP em Letras (francês, português e italiano). Especializada em tradução e mestrado na Sorbonne/Paris com ênfase no estudo da semiótica, linguística e semântica das línguas portuguesa e francesa. Tradutora juramentada do idioma francês, nomeada em 2000. Professora de francês e de português para brasileiros e estrangeiros.
Especializações: História do Cinema - Fotografia - Especialização em Tradução
Sítio: www.palascomunicacao.com.br

domingo, 30 de outubro de 2011

Boa Gente

"... Divêrjo de todo mundo... Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre - o senhor solte em minha frente uma ideia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém! Olhe: o que devia de haver, era de se reunirem-se os sábios, políticos, constituições gradas, fecharem o definitivo a noção - proclamar por uma vez, artes assembléias, que não tem diabo nenhum, não existe, não pode. Valor de lei! Só assim, davam tranquilidade boa à gente. Por que o Governo não cuida?!


Ah, eu sei que não é possível. Não me assente o senhor por beócio. Uma coisa é pôr ideias arranjadas, outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias..."

Trecho de Grande Sertão: Veredas, João Guimarães Rosa.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Macacos do Sub-Trópico

Ouvi dizer que se cogita reformar o ensino do português, casta linguagem, o que não é sem tempo, porque um número cada vez maior de brasileiros, ditos alfabetizados, alguns até de beca e capelo (vide a enorme, escandalosa reprovação de nossos advogados na OAB) estão falando cada vez pior. Todos nós estamos falando cada vez pior.

E escrevendo idem, idem. E não me venham dizer que se trata de evolução da língua. Que já mudamos os tempos e modos do verbo. Que alteramos a significação das palavras. Que a época é outra. Que o nosso vocabulário é formado por três línguas. Que não se usa falar de maneira empolgante, só nos palanques em campanha eleitoral. E nos púlpitos. Que a colocação dos pronomes... que Portugal... que o Brasil...

Não é nada disso. Trata-se puramente de empobrecimento devido a quatro causas: Educação péssima, principalmente a oficial, desleixada e abandonada. Falta de leitura. Parco vocabulário. Preguiça. Há pouquíssimas expressões, para todos os gastos. Exemplos: legal, bacana, roubada, dar bronca, quebra-galho, ficar, ô cara! Artista de tv abre a boca e você já escuta: Espetacular! Esse povo maravilhoso!

E não estou falando de juventude. Falo dos brasileiros em geral. O empobrecimento vocabular dificulta e acaba por impedir o pensamento. Como poderemos distinguir, discernir, compreender e sobretudo pensar, sem palavras? Precisamente o grande Paulo Rónai situa o mal de não ler, de não saber ler, de não gostar de ler, no fato de ser esta uma geração sem palavras.

A palavra nos tornou humanos. A palavra nos eleva até Deus, que era o verbo antes de se tornar carne. Claro que falo da palavra rica, variada, justa, exata, própria, única, expressão do pensamento e não da meia dúzia de palavras que todos usam no gasto cotidiano. Que qualquer papagaio decora e repete e continua repetindo, sem dizer nada.

A vida deve ser simplificada, é o que se repete a cada momento. Então simplifiquemos a linguagem. Ora, a vida não ficará menos complicada por isso. Muito pelo contrário, recorreremos a cada momento à gíria, à catacrese: a folha de papel, o dente do serrote, nariz do avião, braços da poltrona, pois em face da riqueza e da proliferação da matéria, da criação e diferenciação das coisas, em razão mesmo da tecnologia, a linguagem se mostra insuficiente. Não teremos cá um novo Adão para nomear os seres e as coisas, como nos conta o livro dos livros.

Afirma Goethe que estamos no mundo não para sermos felizes, mas para cumprirmos nossa obrigação, mas para pensar, se é isso que nos distingue dos animais.

Alguém disse que estamos no mundo para felicidades?

Descemos há muitos milhões de anos da árvore, à qual nos agarrávamos com as quatro mãos e o apêndice caudal. 

Já que descemos, que não nos aconteça subirmos outra vez, por excesso de simplificação. 


Ruth Guimarães é poetisa, romancista, contista, cronista, teatróloga, tradutora, jornalista e, mais que tudo, pesquisadora da alma popular, suas memórias, suas falas, seus jeitos e sentidos. E educadora, na mais profunda acepção do termo.

Mário de Andrade e a linguagem

A linguagem de Mário de Andrade se constituiu, em parte, o desiderato do Autor, que era abrasileirar o Português do Brasil. Agora nos causa uma impressão senão de artifício e de postiço, pois disso nos salva a genialidade do grande Modernista, causa-nos uma impressão de atitude estudada, de intervenção indébita na língua. O que a esvazia da sua Verdade.

Mário Neme, em artigo a respeito de Mário de Andrade e Antoninho de Alcântara Machado na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, sai-se com esta apreciação: “sinto que falta ................. alguma coisa de mais puro, de mais natural, de menos pensado... na linguagem do Mestre. É que Mário de Andrade, intelectual puro, está muito alto, culturalmente, para se identificar com a massa.”

Todavia Sérgio Milliet nos dá seu depoimento, exatamente contrário: Conta-nos de uma senhora que estava traduzindo para o francês os contos de “Belazarte”, pouco depois da morte de Mário. “Trabalhamos, a tradutora e eu, duas manhãs inteiras, na procura das melhores soluções e foi aí que, relendo os contos tão meus conhecidos, tive a oportunidade de observar até que ponto essa língua de Mário de Andrade era brasileira.” Boa parte daquilo que se classificou como pernóstico e que tanto chocava o leitor pacato de suas crônicas ou de seus livros deve atribuir-se a essa constante solicitação do Brasileiro, em Mário de Andrade. Assim como na época das primeiras colonizações os jesuítas incentivavam a expansão da língua geral, dando-lhe uma estrutura sintática vocabular, Mário, em nossos tempos de regionalismos literários tentou descobrir e cultivar o denominador comum do Português falado no Brasil”.

Então repitamos com Manuel Bandeira:

“A sua finalidade era a unificação psicológica do Brasil. De fato, Mário de Andrade viveu e produziu sempre em função desse destino que se impôs, como um apostolado”.

Sabemos que Mário de Andrade o propulsor e o estruturador do Modernismo brasileiro, em Literatura, e quiçá nas outras artes, porque deu o primeiro impulso e ficou, à maneira de um Atlas, sustentando um mundo. Em função desse gigantesco destino, ele foi, ao mesmo tempo, o Realizador e a Vítima dos caminhos e descaminhos da tendência nacionalista. Aceitou como força vital a Literatura, e, em última instância, a Palavra, tocando, por si só e por si mesma a significação total do Ser.

Mário foi o que lutou, tentou, tateou, intuiu, estudou, fez, desfez, e refez caminhos. A sua luta foi tremenda, tremendo foi o seu drama, tremenda a sua intransigente honestidade.

Não entendemos porque, com a excelência de seus livros, com a sua linguagem brasileira – a sua obra não é exaustivamente indicada, repisada, incluída em todos os vestibulares, de todas as escolas do país.

Fizéssemos isso e nos tornaríamos talvez independentes da nossa atual galopante involução, involução esta comandada por todas as nossas mestras eletrônicas.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Redação Empresarial sem mistérios


"O que Joaquim Maria Botelho faz, e com profundo conhecimento de causa, é mostrar como a palavra é essencial à comunicação humana e, como tal, deve ser bem tratada. Quase num tom de conversa, ele nos mostra que, sendo bem juntadas, de acordo com algumas regras, as palavras podem definir o sucesso de uma carreira profissional e, por extensão, o sucesso da empresa". Audálio Dantas.

Educação dos filhos pelo exemplo dos pais

Quando os pais se sentem impotentes para educar seus filhos ficam desorientados, apreensivos e sem ação. Outra preocupação constante também dos pais é de como falar sobre determinados temas complexos. Há sempre uma preocupação na receptividade dos filhos, por isso, o receio em detalhar ou não, determinados assunto.

Temas polêmicos como sexualidade, drogas são um destas dificuldades dos pais, então, acaba por negligenciar e transferi-lo estas responsabilidades à outrem.

Há várias tendências pedagógicas sobre estes assuntos de como falar; quando falar; o que falar; e que idade. Tudo isso atemoriza os pais. Para ajudar a somar ainda vem toda uma cultura; educação recebida; espiritualidade; a estrutura psíquica. Então, diante este quadro fica-se numa encruzilhada preferindo omitir e prolongando tais abordagens.

Acredito que uma boa educação nos tempos de hoje é o exemplo. É a consciência de não ter se omitido, negligenciado e a certeza de ter repassado o melhor de si para os filhos através dos exemplos. Já diz um ditado: “As palavras movem, mas os exemplos arrastam.”. Ensinar valores éticos, morais e espirituais. A conscientização vem seguida da ação. A receita do diálogo ainda é o caminho mais eficiente, estas em três palavras básicas: amor; compreensão e respeito.

Num mundo globalizado em que vivemos, torna-se necessário a aproximação da família. Há necessidade de uma qualidade no tempo dispensado aos filhos. É fundamental desde criança a espiritualização no âmbito familiar. E social.

Nossas crianças, adolescentes e jovens são bombardeadas de informações recebendo também educação pela mídia, pela escola, por amigos e tantas outras fontes de aprendizado. Toda esta educação tanto podem levar ao desenvolvimento sadio quanto ao desenvolvimento nocivo. Certamente, nossos filhos encontram-se bem mais informados do que nós pais sobre a realidade de sua idade e de tempo.

Os pais não têm como ficar o tempo todo junto aos filhos, vigiando-os vinte quatro horas; a pedagogia do terror, do medo, da mentira com objetivo de intimidá-los e nutri-los pelo medo não funciona mais. Não existe possibilidade de colocá-los numa redoma para protegê-los das adversidades da vida.

Algo fundamental e que se faz urgente avançar está na diminuição da distância existente entre as pessoas. A desinformação leva ao medo, o medo produz à insegurança e por conseqüência o preconceito que colabora para a rotulação promovendo ainda mais à distância entre as pessoas.

Nosso comportamento diante da sociedade é o reflexo do que recebemos através da educação de um modo geral. Os exemplos dos pais nas atitudes, nos gestos norteiam a educação dos filhos por toda vida.

Educação e Mestre

Educação, tema vago, muito ligado à política eleitoreira, cuja sociedade, se torna permissiva e ao mesmo tempo, enganada, boiando na burocracia do dia-a-dia na cumplicidade dos dirigentes que nadam nas ondas da sua indiferença. Em cada um o ponto alto de seus interesses:

· Aos meios de comunicação – a mídia. 

· Aos políticos - o voto; à sociedade, o desengano de ver o tempo passar no sustentáculo de seus discursos cansativos. 

Uns mostram, outros rebatem; culpam-se também, uns aos outros no vazio de seus projetos. A iniciativa privada “neutra” reza convicta numa cartilha de humildes aplicações muito aquém do desejado, repassando apenas o que pode ser recuperado mais adiante. 

Constantemente, vêm à tona os artigos de nossa Constituição, onde se estabelecem os pontos de obrigações nunca levados à sério pelos nossos representantes dos três poderes da República. O certo é que estamos nos acostumando com essa velha discussão, longe dos ouvidos de quem deveria escutar. A mídia apressa-se em espelhar-se na educação coreana, cujo ponto de vista, levaria de quatro a cinco gerações para alcançar o mínimo de nossas aspirações, a começar pelo domínio da língua e o amor à Pátria elevado a um grau razoável de sinceridade. Nós vivemos de emoções momentâneas. Debruçamo-nos sobre elas, quando nos sentimos abatidos ou atingidos. Fazemos até passeatas, mas é por pouco tempo. Estes movimentos funcionam como um calmante ou um comprimido para dor de cabeça. Daí, continuamos lamentando até o próximo mal-estar.

O professor brasileiro segue transferindo seu orgulho, sem o mínimo de possibilidade que lhe proporcione um futuro mais condizente com a postura de mestre, em cujos ombros deveria recair a responsabilidade de mudar o destino da nação calcada na mentalidade de sua juventude. Um não sobrevive sem o outro; os dois caminham juntos rumo ao progresso do saber. Esta consciência se torna amadurecida ao somar-se a ela, o esforço da família. Quando chegará o tempo em que o mestre possa andar de peito erguido, com dignidade, ostentando a alegria do seu dia e a certeza da valorização da sua arte de ensinar? Esta é uma resposta nebulosa que imaginamos difícil dentro do nosso Sistema, porém, uma pretensão duradoura a cada ano que passa sem solução em médio prazo.

Como fazer uma resenha



1.Identifique a obra: coloque os dados bibliográficos essenciais do livro ou artigo que você vai resenhar;

2.Apresente a obra: situe o leitor descrevendo em poucas linhas todo o conteúdo do texto a ser resenhado;

3.Descreva a estrutura: fale sobre a divisão em capítulos, em seções, sobre o foco narrativo ou até, de forma sutil, o número de páginas do texto completo;

4.Descreva o conteúdo: Aqui sim, utilize de 3 a 5 parágrafos para resumir claramente o texto resenhado;

5.Analise de forma crítica: Nessa parte, e apenas nessa parte, você vai dar sua opinião. Argumente baseando-se em teorias de outros autores, fazendo comparações ou até mesmo utilizando-se de explicações que foram dadas em aula. É difícil encontrarmos resenhas que utilizam mais de 3 parágrafos para isso, porém não há um limite estabelecido. Dê asas ao seu senso crítico.

6.Recomende a obra: Você já leu, já resumiu e já deu sua opinião, agora é hora de analisar para quem o texto realmente é útil (se for útil para alguém). Utilize elementos sociais ou pedagógicos, baseie-se na idade, na escolaridade, na renda etc.

7.Identifique o autor: Cuidado! Aqui você fala quem é o autor da obra que foi resenhada e não do autor da resenha (no caso, você). Fale brevemente da vida e de algumas outras obras do escritor ou pesquisador.

8.Assine e identifique-se: Agora sim. No último parágrafo você escreve seu nome e fala algo como “Acadêmico do Curso de _____ da Universidade _________ (SIGLA)”