sexta-feira, 29 de junho de 2012

Há alegria no saber: um estudo sobre a coesão e a coerência na promoção da comicidade nas histórias em quadrinhos

Marise de Cássia Soares de Melo

INTRODUÇÃO

Este trabalho aborda o que, nas pesquisas lingüísticas, tem sido denominado de coerência e de mecanismos de coesão na composição e estruturação dos textos das histórias em quadrinhos, bem como a relação entre esses processos e a interpretabilidade da comicidade nos textos humorísticos em histórias em quadrinhos do jornal O Globo. A proposta deste trabalho constitui-se de uma análise e reflexão sobre a língua escrita, reconhecendo seu valor como meio de transmissão da cultura e da informação, valorizando a escrita e a leitura de textos em quadrinhos como fonte de fruição estética e cultural, bem como de entretenimento.

A importância desse panorama é que, esta pesquisa amplia os trabalhos realizados anteriormente sobre coesão e coerência, pela inclusão do gênero histórias em quadrinhos nos estudos feitos, aprofundando os conhecimentos referentes à organização dos elementos discursivos desse gênero textual. Todo texto reflete determinados discursos, e esses espelham as maneiras de comunicação de diferentes instituições que regulam a comunidade onde o indivíduo está inserido. Por esse motivo, julgamos ser indispensável contemplar criticamente as partes que o integram para que o leitor, como agente social, possa refletir mais cuidadosamente sobre como esse tipo de texto pode intervir no fluxo aparentemente natural da vida, como forma de produção cultural. Trata-se, por fim, de uma pesquisa com a qual se objetiva contribuir para a formação do leitor proficiente e para um ensino, além de eficaz, atrativo da língua portuguesa.

Verificamos como, nos textos de histórias em quadrinhos, a presença e /ou a ausência de elementos de coesão e de coerência textuais contribuem para a construção da ambigüidade e do efeito cômico. Baseamo-nos nos pressupostos de Halliday e Hasan (1976, 1989), a respeito de ser a coerência uma função da estrutura e tessitura textual, ou seja, dos elementos que tornam um texto de fato um texto. É de grande importância também a obra de Koch e Travaglia (2002), que mostra que a coerência é global e só há uma unidade de sentido no todo do texto se este é coerente.

Fazemos dialogar esses conceitos com a construção do efeito do humor pelo espírito de palavras, que decorre de uma habilidade na organização do material verbal empregado na expressão do pensamento, que é complexa, dinâmica e libertadora, pois fornece ambigüidade ao texto, o qual sinaliza para mais de uma via interpretativa.
O humor é um fenômeno discursivo que busca a contradição, a transgressão, o inesperado, com a intenção de criar outro efeito de sentido, que pode oscilar entre a simples comicidade e o profundo questionamento de práticas socialmente arraigadas em nossa cultura. Dessa forma, mais do que apenas divertir, o texto das histórias em quadrinhos traduz um modo diferente de dizer, pautado na mistura de entretenimento e seriedade, deleite e reflexão.

O humor encontrado nas histórias em quadrinhos abala o princípio do sério e da rigidez, fazendo o homem alcançar uma dimensão mais ampla da consciência e da aceitação da relatividade e da alternância de sua existência. Esse humor através de palavras decorre da habilidade na organização do material verbal cuja técnica consiste, geralmente, na condensação de palavras e na configuração da frase, podendo ser eliminado se desfeito o jogo de palavras estabelecido. De acordo com Possenti (1998: 27), são necessários tanto o conhecimento lingüístico quanto o conhecimento de mundo para que se compreenda uma piada.
Como observamos, há boas razões para postularmos que os textos das histórias em quadrinhos fornecem ótimos exemplos para o estudo dos elementos lingüísticos referentes à coesão e à coerência, pois deixam evidente que existe uma diferença importante entre interpretar e compreender, uma vez que operam com ambigüidades, sentidos indiretos e implícitos.

Como todo tipo de pesquisa deve ter como finalidade servir à ação visando à busca de resultados, através da analise de textos de histórias em quadrinho procuramos responder: como a coerência e os mecanismos de coesão contribuem para a compreensão do sentido do cômico, promovendo o humor? Como os mecanismos de coesão e de coerência juntos contribuem para a construção da ambigüidade e conseqüentemente do efeito cômico? Como a coerência se mantém apesar da ambigüidade, característica recorrente nesse gênero? O presente trabalho, ao término de suas considerações, apresentará conclusões que satisfazem, mesmo que parcialmente, tais questionamentos.

Como trabalhamos com histórias em quadrinhos, cuja característica principal é a associação da linguagem verbal com a não-verbal, o texto será compreendido não só como unidade lingüística concreta, que é tomada pelos usuários da língua numa situação de interação comunicativa específica, mas também como o conjunto dos elementos icônicos que, juntamente com os elementos lingüísticos, preenchem uma função comunicativa reconhecível independentemente de sua extensão. Estamos entendendo sentido como a atualização seletiva no texto de significados possíveis, virtuais das expressões lingüísticas em associação com os elementos icônicos.

O presente trabalho torna-se uma fonte de pesquisa útil para os professores de língua portuguesa, que trabalham com diferentes gêneros textuais em suas aulas. Ele possibilitará a esses profissionais apropriarem-se das características fundamentais das estruturas de coesão e coerência que promovem o cômico dentro das histórias em quadrinhos e, através dessas características, construir progressivamente, em seus alunos, a compreensão dessas estruturas, visando torná-los leitores mais proficientes.

A COERÊNCIA, A COESÃO E O HUMOR NAS TIRAS DOS QUADRINHOS.
As tiras das histórias em quadrinhos, impressas no jornal, apresentam um plano de expressão com características particulares, diferenciadas tanto do discurso oral, quanto do escrito ou do puramente visual. Portanto, é possível afirmar que elas utilizam recursos que lhe são próprios para construir uma seqüência humorística.

As particularidades de seu plano de expressão explicitam-se, e diferenciam-na de outros textos, pelo fato de que tanto a linguagem verbal quanto a não-verbal são acionadas de forma a provocar a interpretação e, conseqüentemente, a sua atuação é conjunta. Esse elemento caracteriza estratégias discursivas e textuais que obrigam o analista a pensar determinadas questões de significação também a partir dessa particularidade.
Para interpretar o sentido humorístico desejado pelo autor, nesse tipo específico de texto, o leitor precisa entender a intenção transmitida, interpretando a mensagem a partir do contexto. Isso porque o sentido, nas tiras dos quadrinhos, é construído não só no nível semântico_ pela significação das palavras e dos enunciados; no desfecho inesperado; nem se restringe no nível sintático_ na relação das palavras e orações_ mas também na associação de palavras e imagens. A coerência, nesse tipo de texto em particular, não é apenas uma característica do texto verbal, mas depende fundamentalmente da interação entre o texto verbal e o texto não-verbal, e da interação entre aquele que o produz e aquele que busca compreendê-lo.

Contudo, há elementos lingüísticos no texto que possibilitam ao usuário depreender o sentido e estabelecer a coerência; mas muito depende do próprio leitor como interpretador do texto, que conta com o seu conhecimento de mundo e da situação de produção, bem como do seu grau de domínio dos elementos lingüísticos, pelos quais o texto verbal se atualiza naquele momento comunicativo, e de sua percepção dos recursos visuais, dos elementos icônicos presentes. Dessa forma a coerência é o processo que coloca texto e leitor em relação, numa dada situação bem específica de comunicação.
A diagramação, o projeto gráfico, a maneira de colocar as informações verbais e visuais formam um conjunto. Há a necessidade de leitura e interpretação dos dois acontecimentos, sendo a imagem emoldurada pelas seqüências verbais e as seqüências verbais tendo como centro catalisador às imagens.
Fávero (2002: 60) afirma que o texto contém mais do que o sentido das expressões na superfície textual, pois deve incorporar o conhecimento de experiências cotidianas e intenções, ou seja, fatores não-lingüísticos. Portanto, um texto não é em si coerente ou incoerente; ele o é para um leitor numa determinada situação.

A coerência de um texto humorístico se estabelece apesar da violação de uma ou algumas das máximas conversacionais. O próprio Gice (1975) salientou que o interlocutor, para salvaguardar uma máxima, viole outra, mantendo a coerência pela continuidade de sentidos entre os elementos visuais descritos e os elementos verbais inscritos no texto, sendo a coerência ao mesmo tempo semântica e pragmática, tendo uma dimensão sintática e lingüística, e também uma dimensão não-gramatical.
Vale lembrar que o leitor, para construir a coerência, deve considerar não só os elementos lingüísticos presentes no texto, mas também o seu próprio conhecimento enciclopédico, as suas crenças, pressuposições, intenções explicitas ou veladas, a situação comunicativa, os elementos icônicos, contexto sócio-cultural e assim por diante.

A coerência é semântica, porque é a capacidade do texto de agir como unidade, remetendo a um sentido global; é pragmática, porque o sentido depende da interação comunicativa e é sintática, porque pode ser recuperada a partir da seqüência lingüística que constitui o texto. A coerência não é apenas propriedade do texto, mas se estabelece numa situação comunicativa entre usuários que têm modelos cognitivos comuns ou semelhantes, adquiridos em dada cultura.
Ora, não levar em conta a reconstrução de sentidos por parte do leitor é não reconhecer o que nos diz Bakhtin (1982: 383) sobre cada palavra do texto conduzir para fora de seus limites, pois toda compreensão representa a confrontação de um texto com outros textos, constituindo o caráter dialógico dessa confrontação.
Para a construção da coerência nos textos humorísticos, temos de levar em conta o que nos traz o contexto, pois, como afirma Koch (1999: 39), o sentido da frase absurda está em ser absurda: “Supõe-se que os sujeitos são cooperativos na sua interlocução. Assim, se o receptor não consegue calcular a significação, ele conclui que o autor do texto fê-lo incoerente com um propósito e considera que a não-coerência é que lhe dá o sentido”.
O espaço das HQ é um espaço de linguagem: dinâmico, ativo, criativo. Conforme mostrou Bakhtin (1976: 21), “A linguagem não é um meio neutro que se torne fácil e livremente a propriedade intencional do falante, ela está povoada ou superpovoada de intenções de outrem. Dominá-la, submetê-la às próprias intenções e acentos é um processo difícil e complexo”.

Os Fatores de Coerência Presentes nas Histórias em Quadrinhos

A coerência está ligada à possibilidade de estabelecer um sentido ao texto, podendo ser entendida como um princípio de interpretabilidade do texto, levando-se em conta o seu sentido global. Pode ocorrer que, em determinadas circunstâncias, se afrouxe ou elimine deliberadamente a coesão e/ou a coerência semântica do texto com o objetivo de produzir certos efeitos específicos, e é exatamente isso que freqüentemente observamos ocorrer no caso de textos humorísticos.

Consideraremos agora os fatores responsáveis pelo estabelecimento da coerência segundo os estudos de Koch (2000), em que a autora menciona: o conhecimento lingüístico; as ativações de conhecimento de mundo; o conhecimento partilhado; a realização de inferências; fatores pragmáticos; a situacionalidade; a intencionalidade; a aceitabilidade; a informatividade; a relevância; a focalização e a intertextualidade, que passaremos a expor na seqüência verificando sua relação com o sentido do humor.

Fatores de Coesão nas Histórias em Quadrinhos
A coesão constitui o modo como as frases se combinam, para assegurar um desenvolvimento proposicional, e revela-se por índices formais, sintáticos, sem qualquer apelo ao pragmático. São várias as classes de palavras que têm a função básica de organizar o texto, atuando como elementos de coesão, fornecendo ao interlocutor apoios para o processamento textual, através de indicações, ou ainda, estabelecendo uma ordenação entre segmentos textuais.
Exercem essa função: as preposições (a, de, para, com, por...); as conjugações (que, quando, embora, para que, mas...); os pronomes (ele, eles, ela, elas, seu, sua, este, esse, aquele...) e os advérbios (aqui, aí, lá, assim...).


Conclusão

Muitas reflexões e leituras culminaram neste trabalho, que traduz o fechamento de uma pesquisa cuidadosa e árdua, mas prazerosa e de tema instigante, cujo produto é este que ora apresentamos.
Como educadores, nos preocupamos com a formação de leitores proficientes, devido ao grau de vulnerabilidade ideológica a que estão expostos os leitores ingênuos. Muitas vezes eles despercebem os mecanismos discursivos que são capazes de torná-los passivos na interação comunicativa, induzindo-os a determinadas condutas sobre as quais não conseguem exercer qualquer postura crítica.

Destarte, propusemo-nos a estudar como os mecanismos de coesão e de coerência contribuem para a promoção do sentido cômico das histórias em quadrinhos, desvendando alguns de seus artifícios de modo que a metodologia utilizada e as conclusões a que chegamos pudessem ser suporte para uma investigação pedagógica eficiente junto ao corpo discente no que tange a essa matéria. E tal ação pedagógica seria um dos fatores que colaborariam para munir o aluno com um melhor domínio do arsenal lingüístico que contribui para a interpretação da ambigüidade e do efeito cômico nos textos, proporcionando a possibilidade de fluir de uma leitura mais funcional.

Como vimos a coerência é a ligação em conjunto dos elementos formativos de um texto e a coesão é a associação consistente desses elementos. Porém, essas duas definições literais não contemplam todas as possibilidades de significação dessas duas operações essenciais na construção de um texto. As definições apresentadas constituem apenas princípios básicos de reconhecimento das duas operações. Constatamos que a coerência se estabelece na dependência de uma multiplicidade de fatores, passando a ser percebida como um princípio global de interpretabilidade do texto.
Em linhas gerais, dentre as idéias dos autores aqui mencionados, podemos afirmar que a coerência não é uma característica inerente ao texto, mas deve ser percebida como um princípio de interpretabilidade decorrente de uma multiplicidade de fatores, que ocorrem na interação do produtor e do receptor. Dentre os fenômenos observados, estudamos também o papel da coesão no processo interpretativo e verificamos que, apesar de sua importância para o estabelecimento do sentido, sua presença não é indispensável, nem suficiente para produzir a coerência ou a comicidade de um texto, mas que indiretamente os mecanismos de coesão possibilitam ao leitor perceber o humor nos quadrinhos.

Tudo o que está inscrito numa página em que o material lingüístico figure, como as imagens, ou tudo o que nela deixa de ser registrado, torna-se determinante na construção do sentido cômico, inclusive o contexto situacional, que se relaciona tanto com o nível semântico e o conhecimento de mundo, quanto com o nível pragmático.
O estabelecimento da coerência, neste trabalho é visto como um processo cooperativo entre produtor e receptor. Deve ocorrer, na interação texto-usuários, a construção de um sentido possível para o texto, pois só assim haverá compreensão. As condições em que o texto é produzido, as intenções comunicativas, bem como o contexto de que depende o enunciado é que determinam o nível de coerência reconhecido e o estabelecimento do efeito cômico. Não se busca a coerência simplesmente na sucessão unidimensional ou linear dos enunciados, mas em uma ordenação não hierárquica e pluridimensional que une a linguagem verbal à linguagem não-verbal.

Isso significa que, ao buscarmos a coerência textual nas histórias em quadrinhos, não é suficiente procurar as relações que devem existir entre as unidades lingüísticas que estão representadas superficialmente no texto, mas é necessário considerar o processo total como produção e escolha de sentidos. Em grande parte, dependerá dessas relações a compreensão do humor, pois o contexto também dá sentido às palavras.
Não é difícil perceber que, em contextos diferentes, o sentido muda, enquanto o significado de um vocábulo permanece estável. Os sentidos se movem, são vivos; o significado é cristalizado, só existe como abstração. O que determina a escolha de um certo sentido pelo sujeito é a motivação criada pelo contexto. Assim, cada texto possui sempre um subtexto, um pensamento oculto por de trás das palavras.
Algumas vezes a fronteira entre um texto coerente e um texto incoerente depende em exclusivo da competência textual do leitor em decidir sobre a continuidade de sentidos, que é fundamental e que deve presidir à construção de um enunciado. A coerência e a incoerência revelam-se não direta e superficialmente no texto, mas indiretamente por ação da leitura desse texto. Havendo coesão, é possível inferir os atos ilocucionais a partir das ligações proposicionais indicadas explicitamente; já a coerência é o leitor quem deve deduzir nas ligações proposicionais implícitas a partir de uma interpretação dos atos ilocucionais e dos elementos icônicos.

A coerência textual é o resultado da articulação das idéias de um texto; diz respeito à estruturação lógico-semântica, que faz com que, numa situação verbal, palavras e frases, juntamente com imagens, componham um todo significativo para os interlocutores e que as aparentes incoerências sejam entendidas como fazendo parte do sentido cômico do texto. A coesão textual, por sua vez, diz respeito às articulações gramaticais existentes entre as palavras, frases, orações, parágrafos e partes maiores de um texto que garantem sua conexão seqüencial, colaborando para o seu entendimento.

A concepção de texto apresentada aqui subjaz ao postulado de que o sentido cômico não está contido no texto, mas se constrói a partir dele pela interação. Uma vez construído “um”, e não “o” sentido adequado ao texto pelo contexto, o texto será considerado engraçado pelos parceiros comunicativos. A coerência é estabelecida em uma situação concreta de atividade verbal, levando à identificação do texto, com ou sem o viés de humor, como sendo realmente um texto e não um amontoado de frases desconexas.

Referências bibliográficas
ALMEIDA, Fernando Afonso. Linguagem e humor: Comicidade em Lês Frustre, de Claire Bretécher. Niterói: Eduff, 1999.
BAKHTIN, M. (VOLOSHINOV, V. N.) Estética de la creación verbal. Buenos Aires, SigilomnVeintiuno: 1982.
COSTA, Maria da Graça Val. Redação e Textualidade. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e coerência textuais. São Paulo: Ática, 2002.
HALLIDAY, M. A. K. e HASAN, R. Cohesion in English. London: Longman, 1976.
––––––. Language, text and context: Aspects of language in a social-semiotic perspective. Oxford: Oxford University Press, 1989.
GRICE, H. P. Logic and conversation. In: Cole, P. E Morgan, P. (eds.). Syntax and semantics. New York: academic Press, 1975.
KOCH, I. V. E TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência textual. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 2002.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2000.
––––––. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1999.
––––––. A coerência textual. 14ª ed. São Paulo: Contexto, 2002.
POSSENTI, Sírio. Os Humores da Língua: análises lingüísticas de piadas. São Paulo: Mercado de Letras, 1998.
VERÓN, E. A produção de sentido. São Paulo: Cultrix, 1980.

Procedimentos gramaticais empregados na coesão



Coesão Referencial
Certos itens na língua têm a função de estabelecer referência, ou seja, não são interpretados semanticamente por seu sentido próprio, mas fazem referência a alguma coisa necessária a sua interpretação. A coesão referencial pode ser obtida por substituição e por reiteração.

Substituição: A substituição ocorre quando um componente é retomado ou precedido por uma pro-forma (elemento gramatical representante de uma categoria), as pro-formas podem ser: nominais (feita por meio de: pronomes pessoais; numerais; nomes genéricos; como coisa, gente ou pessoa); verbais (o verbo fazer é substituto dos verbos causativos e ser é o substituto existencial); ou ainda adverbiais e numerais. Quando realizamos retomadas, temos a anáfora e, na sucessão, a catáfora.
Muitas vezes para promover o humor, o autor utiliza a quebra no sequenciamento do raciocínio desviando a significação referencial inicial da fala dos personagens. Os recursos coesivos são empregados para criar no leitor uma expectativa que será quebrada levando ao riso. Portanto, salientamos que esses recursos contribuem para a promoção do efeito de humor.

Reiteração: A reiteração ocorre quando se repetem formas no texto, o que funciona como um recurso de ênfase e também para manter a coesão. Não raro observamos nas HQ. que a reiteração lexical feita, pela repetição de palavras ou expressões pode produzir por si só um efeito humorístico.
É pela repetição lexical que o autor vai criando a expectativa no leitor quanto ao desfecho do texto que será então abruptamente desfeita pelo raciocínio truncado e completamente inadequado de algum personagem e o resultado disso é que leva inexoravelmente ao riso. Assim, a reiteração de certos vocábulos dentro do texto colabora para a promoção do efeito de humor por construiu junto ao leitor uma expectativa quanto a um final provável, criando uma reação em cadeia que culmina com um final totalmente inesperado, num desfecho surpreendente.

Coesão Sequencial
Os mecanismos de coesão sequencial são os que têm por função fazer progredir o texto, caminhar o fluxo informacional,.
A coesão sequencial pode ocorrer por sequenciarão temporal (para indicar o tempo) ou por conexão (quando a interdependência semântica e/ou pragmática é expressa por operadores do tipo lógico, operadores discursivos e pausas).

Conjunção: A conjunção se dá quando uma palavra, expressão ou oração se relaciona com outras antecedentes por meio de conectores gramaticais. Fávero (2002:14) comenta que os elementos conjuntivos são coesivos não por si mesmos, mas indiretamente, em virtude das relações específicas que estabelecem entre orações, períodos e parágrafos.
Uma das maneiras mais eficazes de produzir um texto humorístico é utilizar recursos conhecidos como globais, ou seja, aqueles que permeiam por todo o texto fazendo parte de sua natureza interna. As conjunções fazem parte destes recursos globais, pois auxiliam na construção da gradação de idéias e também para criar um sentido lógico do qual o personagem vai se desviar, por acrescentar um dado novo que vai então provocar o riso por quebrar os padrões lógicos do sentido estabelecido pelo enunciado. Assim, podemos verificar que as conjunções indiretamente colaboram na construção do humor.

Coesão Recorrencial
A coesão recorrencial ocorre quando, apesar de se terem retomado estruturas, itens ou sentenças, o fluxo informacional caminha, progride. Portanto esse tipo de coesão leva adiante o discurso. Articula a informação nova à velha. Pode se dar por: recorrência de termos, paralelismo, paráfrase, recursos fonológicos segmentais e supra-segmentais.

Concordância: A concordância ocorre quando se obtém uma sequencia gramaticalmente lógica, em que todos os elementos concordam entre si (tempos e modos verbais correlacionados; regências verbais corretas, gênero gramatical corretamente atribuído, coordenação e subordinação entre orações).
O emprego das formas verbais correlacionadas mantém a concordância na sequencia textual, fornecendo as precondições básicas, o pano de fundo sobre o qual se funda a relação comunicativa. Mas, ao mesmo tempo, conduzem o leitor ao desfecho inesperado o que nos leva a considerar que esse recurso de coesão colabora com a construção do sentido cômico.

Coesão lexical: A coesão lexical é obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuam o mesmo referente. É comum a substituição de nomes próprios por: a gente, a coisa, o negócio etc.
No exame dos jogos de dizer, na busca das estratégias capazes de provocar o humor, percebemos que a reiteração dos substantivos colaboram na construção de sentidos dentro do texto, fazendo-o progredir sem que se torne repetitivo e monótono.

Elipse: Chamamos elipse a omissão de um item lexical recuperável pelo contexto. Pode ocorrer a elipse de elementos nominais, verbais e oracionais.
Como já foi mencionado, anteriormente, uma das características mais marcantes do campo verbal das tiras dos quadrinhos é justamente o seu caráter lacunar: formas breves, espaços vazios, elipses, frases não ditas. São mecanismos verbais postos à disposição do leitor na construção de sua interpretação.
A análise dos efeitos de sentido presentes nesses textos humorísticos nos faz perceber que a omissão de termos colabora para promover o efeito cômico e que auxilia na progressão textual fazendo fluir o fluxo informacional e imprimindo leveza aos textos. É importante lembrar que as tiras dos quadrinhos constituem-se de um modo diferente de dizer e é a partir daí que flui o humor.
Como podemos constatar pelos exemplos citados, o uso adequado dos elementos de coesão confere unidade ao texto, auxiliam na progressão textual, fazem fluir o fluxo informacional, colaborando para o estabelecimento da coerência textual e, portanto, auxiliam, mesmo que de forma indireta, na construção de sentidos no texto, inclusive no efeito do sentido humorístico dos textos em quadrinho.
Percebemos claramente esse fato quando utilizamos esses recursos linguísticos de forma inadequada. O uso incorreto ou a falta de elementos de coesão têm efeitos perturbadores, podendo tornar o texto incompreensível para o leitor. E, se o leitor não compreende o sentido do texto, não acha graça alguma, por isso podemos afirmar que os elementos de coesão contribuem para o estabelecimento do humor no texto.

Fatores responsáveis da coerência segundo Koch

O Conhecimento Lingüístico
Os estudiosos em sua maioria concordam que os elementos lingüísticos têm grande importância para o estabelecimento da coerência, mas é ilusão pensar que entendemos o significado de uma mensagem com base apenas nas palavras e na sintaxe. Koch (2000: 26) salienta que o conhecimento lingüístico compreende o conhecimento gramatical e o lexical.
Os fatores de natureza lingüística, cujo funcionamento textual é o estabelecimento da coerência, são: a anáfora; as descrições definidas; o uso dos artigos; as conjunções; os conectores interfrásicos; marcas de temporalidade; tempos verbais; a repetição; a elipse; modalidades; entonação; subordinação e coordenação; substituição sinonímica; ocorrência de signos do mesmo campo lexical; ordem de palavras; marcadores conversacionais; os conceitos e mundos que se deflagram no texto; fenômenos de recuperação pressuposicional; fenômenos de tematização; tema/rema; tópico-comentário e marcas de tematização; fenômenos de implicação; orientações argumentativas de elementos do léxico da língua; componentes de significado de itens lexicais. Nos textos das HQ não raro encontramos várias vezes esses elementos.

O Conhecimento de Mundo
O estabelecimento do sentido de um texto depende em boa parte do conhecimento de mundo ou conhecimento enciclopédico dos seus usuários, o qual vai permitir a realização de processos cruciais para a compreensão. Para Koch (1999: 60), é o conhecimento de mundo que propicia ao usuário do texto a construção de um mundo textual, ao qual se ligam crenças sobre mundos possíveis e que passa pelo modo como o receptor vê o texto, como se referindo ao mundo real ou ficcional e que vai influenciar decisivamente se o leitor vai considerar o texto como coerente ou não.
Segundo Maria G. C. Val (1999: 6), a coerência do texto deriva da sua lógica interna, resultante dos significados que põe em jogo, mas também da compatibilidade entre a rede que compõe o mundo textual e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso, ou seja, o leitor. O conhecimento de mundo é visto como uma espécie de dicionário enciclopédico do mundo e da cultura arquivado na memória. Se o interlocutor não possui esse conhecimento a piada não provoca o efeito esperado, que é levar ao riso e, por meio dele, à crítica do modelo social vigente.

O Conhecimento Partilhado
O mundo textual, do emissor e do receptor, deve conter um certo grau de similaridade, o que vai constituir o conhecimento partilhado. Esse conhecimento determina a estrutura informacional do texto em termos do que se pode chamar de dado e novo. O conhecimento de mundo deve ter pontos em comum, resultado da experiência cotidiana ou científica. A diferença entre os dois pode afetar a compreensão e criar problemas de coerência.
O leitor, para compreender a ironia contida nos quadrinhos deve compartilhar com o escritor o conhecimento sobre o assunto abordado. O autor, para atingir seus objetivos, pressupõe que o leitor compartilhe desse conhecimento. Caso contrário, a piada não provoca o efeito de levar ao riso. A prática da compreensão, portanto, é fundada no conhecimento. O leitor, para compreender, deve possuir um conhecimento implícito, compartilhado com o autor, o que envolve a capacidade de reconhecer contextos e de conferir condições de verdade. Se as informações forem totalmente desconhecidas para o leitor será difícil para ele compreender o sentido cômico do texto.

Inferências
Segundo Koch (2000: 23), as inferências constituem estratégias cognitivas extremamente poderosas, que possibilitam o estabelecimento de pontes entre o material lingüístico presente na superfície textual e os conhecimentos prévios e/ou partilhados pelos interlocutores, sendo em grande parte responsável pela reconstrução dos sentidos que o texto explicita.
Uma das características marcantes dos quadrinhos é seu caráter lacunar, uma vez que, por trás do dito, há toda uma instância do dizer, a evidenciar que a significação da tira vai muito além da simples manifestação verbal. Por isso, uma das funções do leitor é o preenchimento do que não foi dito pela recuperação dos implícitos e pela percepção dos efeitos de sentido desejados pelo autor.
As inferências são processos mentais de decodificação, enriquecimento, reconhecimento, pressuposição, processamento, validação e conclusão de uma palavra e/ou enunciado, em um contexto. Sempre podemos fazer muitas inferências a partir dos elementos de um texto, uma vez que os textos mostram uma quantidade mínima de coesão formal, abrindo muitas linhas de possíveis inferências, o que normalmente requer que o leitor faça quantas inferências forem necessárias para obter a compreensão do texto.
O leitor é sempre responsável pela projeção do sentido que melhor lhe convier, a partir da posição política, social, econômica e pessoal que ocupe. Portanto, a interpretação de uma piada depende também das inferências, ou seja, das conexões que as pessoas fazem, quando tentam estabelecer a compreensão do que lêem. Os textos dúbios, como são os textos de humor exigem que o leitor realize várias inferências para construir o sentido, e o resultado dessas inferências leva ao riso.

Fatores Pragmáticos
A autora Ingedore Koch (1999: 74) mostra que a coerência depende em muito de fatores pragmáticos, já que a compreensão do texto depende de fatores como: contexto de situação, intenção comunicativa, características e crenças etc. O processo de compreensão obedece a regras de interpretação pragmáticas uma vez que leva em conta a interação, as crenças, desejos, quereres, preferências, normas e valores dos interlocutores.
Como exemplo podemos citar que a base de sustentação do humor dos quadrinhos do aposentado advém da crítica social à crença de que, para os aposentados, há muito pouco a fazer e que, em decorrência disso, eles passam os dias ociosos. Por tratar desse tema de domínio comum, as tiras assumem um caráter público e abrangente que possibilitam ao autor a condição de criar e mesmo de modificar relações comunitárias. Essa informação, embora relacionada aos fatos do cotidiano, sempre apresenta um outro ângulo, uma visão inesperada e é o reconhecimento pelo leitor desse efeito oculto, em maior ou menor intensidade, que garante o sentido humorístico.

Situacionalidade
A coerência se estabelece pelo nível de inserção do texto numa determinada situação de comunicação, e a situacionalidade refere-se ao conjunto de fatores que tornam um texto relevante para uma dada situação comunicativa. Quando a condição de situacionalidade não ocorre, o texto tende a parecer incoerente, porque o cálculo de seu sentido se torna difícil ou impossível.
Para Koch (1999: 76), foi a não-situacionalidade que levou alguns estudiosos a classificarem certos textos como incoerentes. Porém, verificou-se depois que esses textos em uma situação específica eram perfeitamente coerentes. A compreensão do sentido cômico dos textos das HQ depende muito mais da situacionalidade do que a compreensão de outros tipos de textos escritos. O autor das tiras conta uma história com personagens atuando de modo a quebrar expectativas criando incongruências em relação ao esperado, tendo em vista o modelo social vigente para fazer conexões e para produzir sentido nas coisas do mundo.
Entretanto, a surpresa não gera estranhamento ou conflito para o leitor de tiras em quadrinhos, pois é vista por ele como fazendo parte do jogo dos esquemas de conhecimento desse leitor, ou seja, o conflito criado pela ambigüidade do texto não só já é esperado, como é percebido como parte integrante da situação de comunicação. É pela situação de incongruência que se cria o humor.
Para Koch (1999: 39), o sentido da frase absurda está justamente em ser absurda. Quando o leitor não consegue calcular a significação, logo conclui que o autor o fez incoerente de propósito e que a não-coerência é justamente o que lhe dá o sentido. É, portanto pelo princípio da situacionalidade que se percebe as supostas incoerências nas tiras como compondo um texto coerente, ou seja, a adequação do texto à situação comunicativa desfaz uma aparente incoerência e suscita o riso, criando o efeito de humor.

Intencionalidade
O produtor quer sempre produzir um texto que faça sentido para o leitor. Portanto, a noção de intencionalidade trata da intenção do emissor de produzir uma manifestação lingüística coesiva e coerente.
O leitor, pelo principio de cooperação, tentará sempre construir uma imagem coerente dos eventos ao invés de trabalhar com as conexões verbais isoladas para realizar a interpretação textual. O sentido humorístico resulta, assim, da relação de co-intencionalidade que se estabelece entre os parceiros do ato comunicativo, mais especificamente entre enunciador e destinatário, ou seja, autor e leitor.
A coerência é definida em função dessa idéia de continuidade de sentidos e essa continuidade estabelece certa coesão conceitual cognitiva elaborada tanto pelo produtor como pelo receptor do texto, o que nos leva a outro princípio do estabelecimento da coerência, que é o de aceitabilidade.

Aceitabilidade
A aceitabilidade diz respeito à atitude cooperativa dos receptores de aceitarem uma dada expressão lingüística como um texto coerente, que apresente alguma relevância. O autor pressupõe que seus leitores cooperem com ele no processo de construção de sentido. Koch (2000: 18) usa a expressão “jogar o jogo” como se referindo aos interlocutores aceitarem, em princípio, a contribuição do parceiro como coerente e adequada à realização dos objetivos visados.
A atividade de interpretação deve fundamentar-se na confiança de que, quem produziu o texto tem sempre determinadas intenções, o que conduz o leitor a prever uma pluralidade de interpretações. O conhecimento do leitor da intenção do produtor do texto de criar o humor colabora muito para a aceitabilidade do texto e para o estabelecimento da coerência e da interpretação da comicidade do texto.
Maria G. C. Val (1999: 11) coloca a aceitabilidade como o outro lado da intencionalidade, pois, segundo a autora, “a aceitabilidade concerne à expectativa do recebedor de que o conjunto de ocorrências com que se defronta seja um texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor”.
O objetivo do escritor é, por meio dos jogos de dizer, ressaltar estratégias capazes de provocar a adesão do leitor com vistas à produção, circulação e construção de sentidos. O humor é um fenômeno discursivo que busca a contradição, a transgressão, o deslocamento de algo, quase sempre de modo inesperado, a fim de possibilitar o surgimento de outro efeito.

Informatividade
A informatividade diz respeito à medida na qual as ocorrências de um texto são esperadas ou não, conhecidas ou não, no plano conceitual e formal. O texto será tanto menos informativo quanto maior a previsibilidade; e tanto mais informativo quanto menor a previsibilidade. Um discurso menos previsível é mais informativo, porque a sua recepção, embora mais trabalhosa, resulta mais interessante, mais envolvente. Nos quadrinhos o autor sempre procura surpreender o leitor com uma situação bem humorada e original.

Relevância
A relevância governa as estratégias de compreensão. Um conjunto de enunciados será relevante para um determinado tópico discursivo se eles forem interpretáveis como predicando algo sobre um mesmo tema e que esse tema seja do conhecimento do leitor. A relevância não se dá linearmente entre pares de enunciados, mas entre conjuntos de enunciados e um tópico discursivo.
A prática da compreensão é fundada no conhecimento compartilhado, o que envolve a capacidade de reconhecer contextos e de conferir condições de verdade/falsidade. Para muitos autores, atualmente a noção de tópico discursivo é crucial para a compreensão da coerência textual. O leitor das tiras em quadrinho já espera delas algo humorístico e vai à procura do que a torna engraçada dentro da situação abordada, inferindo sentidos a partir de pistas que estão no código verbal e ou no não-verbal.

Focalização
A focalização tem relação direta com a questão do conhecimento de mundo e do conhecimento partilhado. As diferenças de focalização causam problemas de compreensão, a focalização não só torna a comunicação mais eficiente, como, na verdade, a torna possível.
Diferentes elementos do contexto podem gerar focalização, como, por exemplo, os títulos dos textos, por selecionarem áreas do conhecimento de mundo, avançando expectativas. Percebemos que nas histórias em quadrinhos a diagramação da página e o título da história preparam o leitor para compreender o conteúdo do texto. Ao visualizar esses elementos antes mesmo de iniciar a leitura, o leitor já tem, por meio da focalização, o conhecimento prévio de que se trata de um texto de humor e que por esse motivo as aparentes incoerências fazem parte do seu sentido.

Intertextualidade
A intertextualidade concerne às diversas maneiras pelas quais a produção e a recepção de dado texto depende do conhecimento de outros textos. Inúmeros textos só fazem sentido quando entendidos em relação a outros textos, que funcionam como seu contexto.
Maria C. G. Val (1999: 15), relata que o mais freqüente interlocutor de todos os textos, invocado consciente ou inconscientemente, é o discurso anônimo do senso comum, da voz geral corrente. Portanto, para a autora, avaliar a intertextualidade pode ser, em sentido lato, analisar a presença dessa fala subliminar, de todos e de ninguém, nos textos.
Segundo o autor Verón (1980: 82), um texto não tem propriedade em si: caracteriza-se por aquilo que o torna diferente de outros textos, trabalha-se sempre sobre vários textos, seja isso de forma consciente ou não, já que as operações na matéria significante são, por definição, intertextuais.

Referências Bibliográficas
KOCH, I. V. E TRAVAGLIA, L. C. Texto e coerência textual. 6ª ed. São Paulo: Contexto, 2002.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 3ª ed. São Paulo: Contexto, 2000.
––––––. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1999.
––––––. A coerência textual. 14ª ed. São Paulo: Contexto, 2002.

A coerência textual

“… é na linguagem e pela
linguagem que o homem
Se constitui como sujeito”.
Benveniste


Introdução

A coerência resulta da configuração que assumem os conceitos e relações subjacentes à sua superfície textual. É considerada o fator fundamental da textualidade, porque é responsável pelo sentido do texto. Envolve não só aspectos lógicos e semânticos, mas também cognitivos, na medida em que depende do partilhar de conhecimentos entre os interlocutores.

Um discurso é aceito como coerente quando apresenta uma configuração conceitual compatível com o conhecimento de mundo do recebedor. Essa. O texto não significa exclusivamente por si mesmo. Seu sentido é construído não só pelo produtor como também pelo recebedor, que precisa deter os conhecimentos necessários à sua interpretação. O produtor do discurso não ignora essa participação do interlocutor e conta com ela. É fácil verificar que grande parte dos conhecimentos necessários à compreensão dos textos não vem explícita, mas fica dependente da capacidade de pressuposição e inferência do recebedor.

Através dessa visão Ingedore villaça e Luiz Carlos travagua em seu livro “A coerência textual” pretende em sua obra apenas introduzir os leitores ao estudo da coerência textual . É a coerência que faz com que uma seqüência linguística qualquer seja vista como um texto, porque é a coerência, através de vários fatores, que permite estabelecer relações (sintático-gramaticais, semânticas e pragmáticas) entre os elementos da sequência (morfemas, palavras, expressões, frases, parágrafos, capítulos, etc), permitindo construí-la e percebê-la, na recepção, como constituindo uma unidade significativa global. Portanto é a coerência que dá textura e textualidade à sequência linguística, entendendo-se por textura ou textualidade aquilo que converte uma seqüência linguística em texto. Assim sendo, podemos dizer que a coerência dá início à textualidade

Mesmo sendo uma obra que aponta vários fatores responsáveis pela coerência textual de um discurso qualquer:a intencionalidade e aceitabilidade, fatores de contextualização, a situacionabilidade, a informatividade e a intertextualidade,a intertextualidade e inferência , que têm a ver com os fatores pragmáticos envolvidos no processo sociocomunicativo ,acrescentamos com outros fatores relevantes de outros autores com a intenção de ampliar ainda mais nosso estudo sobre coerência textual

Travando conhecimento com a coerência

A ideia de incoerência depende de conhecimentos prévios sobre o mundo e do tipo de mundo em que o texto se insere, bem como do tipo de texto.

Todos recursos estabelecidos pela a linguística chama de coesão textual.

A coesão textual revela a importância do conhecimento linguístico (dos elementos da língua, seus e usos) para produção do texto e sua compreensão e, portanto, para o estabelecimento da coerência.O texto só é perfeitamente inteligível se houver conhecimento do uso dos elementos linguísticos eu, em relação com a situação de comunicação.

O conhecimento de mundo é importante, não menos importante é que esse conhecimento seja partilhado pelo produtor e receptor do texto. O produtor e receptor do texto devem ter conhecimento comum.

Finalmente é preciso lembrar que o sentido que damos a um texto pode depender (e com freqüência depende) do conhecimento de outros textos, com os quais ele se relaciona.

Neste capitulo você deve ter intuído uma concepção básica do que seja o fenômeno da coerência e do que depende. Busquemos a seguir uma visão mais detalhada e sistemática da coerência textual.

Conceito de Coerência
O que é coerência

Dificilmente se poderá dizer o que é coerência apenas através de um conceito, pó isso vamos defini-la através da apresentação de vários aspectos e/ou traços que, em seu conjunto, permitem perceber o que esse termo significa.

A coerência está diretamente ligada à possibilidade de estabelecer um sentido para o texto, ou seja, ela é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários, devendo, portanto, ser entendida com um principio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido desse texto. Este sentido, evidentemente, deve ser do todo, pois a coerência é global. Para haver coerência é preciso que haja possibilidade de estabelecer no texto alguma forma de unidade ou relação entre seus elementos.

A relação que tem de ser estabelecida pode ser não só semântica (entre conteúdos), mas também pragmática, entre atos de fala, ou seja, entre as ações que realizamos ao falar (por exemplo: jurar, ordenar, asseverar, ameaçar, prometer, avisar). Este fato é que levou Widdowson (1978) a dizer que a coerência seria a relação entre os atos de fala que as proposições realizam (uma proposição é definida como representação linguística de um estado de coisas por meio de um ato de referencia e um ato de predicação, daí a expressão conteúdo proposicional).

Beaugrande & Dressler (1981) e Marcushi (1983) afirmam que, se há uma unidade de sentido no todo do texto quando este é coerente, então a base da coerência é a continuidade de sentidos entre os conhecimentos ativados pelas expressões do texto. Essa continuidade diz respeito ao modo como os componentes do mundo textual, ou seja, o conjunto de conceitos e relações subjacentes à superfície linguística do texto, são mutuamente acessíveis e relevantes. Evidentemente, o relacionamento entre esses elementos não é linear e a coerência aparece, assim, como uma organização reticulada, tentacular e hierarquizada do texto. A continuidade estabelece uma coesão conceitual cognitiva entre os elementos do texto através de processos cognitiva entre os elementos do texto através de processos cognitivos que operam entre os usuários (produtor e receptor) do texto e são não só de tipo lógico, mas também dependem de fatores socioculturais diversos e de fatores interpessoais, entre os quais podemos citar: 
as intenções comunicativas dos participantes da ocorrência comunicativa de que o texto é o instrumento as formas de influencia do falante na situação de fala; as regras sócias que regem o relacionamento entre pessoas ocupando determinados “lugares sociais”. 

O Simples cortejo das idéias, das expressões linguísticas que as ativam e das suas posições no texto deixam evidente o caráter não linear, reticulando, tentacular da coerência.

A coerência se estabelece na interlocução entre os usuários do texto, (seu produtor e receptor). Textos sem que continuidade são considerados como incoerente, embora a continuidade relativa a um dado tópico discursivo seja uma condição para o estabelecimento da coerência, nem sempre a continuidade representará incoerência. Os processos cognitivos operantes entre os usuários do texto caracterizam a coerência na medida em que dão aos usuários a possibilidade de criar um mundo textual que pode ou não concordar com a versão estabelecida do “mundo real”.

A coerência é algo que se estabelece na interlocução, na interação entre dois usuários numa dada situação comunicativa. Carolles (1979) afirmou que a coerência seria a qualidade que têm os textos que permitem aos falantes reconhece-los como bem formados, dentro de um mundo possível (ordinário ou não). A boa formação seria vista em função da possibilidade de os falantes recuperarem o sentido de um texto, calculando sua coerência. Considera-se , pois , a coerência como principio de interpretabilidade, dependente da capacidade dos usuários de recuperar o sentido do texto pelo qual interagem, capacidade essa que pode ter limites variáveis para o mesmo usuário dependendo da situação e para usuários diversos, dependendo de fatores vários (como grau de conhecimento sobre o assunto, grau de cursos linguísticos utilizados , grau de integração dos usuários. A coerência tem a ver com a boa formação em termos da interlocução comunicativa, que determina não só a possibilidade de estabelecer o sentido do texto, mas também , com freqüência, qual sentido se estabelece.

Não se deve pensar que a questão de estabelecimento de sentido esteja apensa do lado receptor. A questão é mesmo de interação.

Van Dijk e Kintsch falam de coerência local, referente a parte do texto ou a frases ou a seqüência de frase dentro do texto; e em coerência global, que diz respeito ao texto em sua totalidade. Já mostramos que a coerência do texto é global. A coerência local advém do bom uso dos elementos da língua em seqüências menores, para expressar sentidos que possibilitem realizar uma intenção comunicativa. Incoerências locais advêm do mau uso desse mesmos elementos linguísticos para o mesmo fim. Ao se construir um texto, é preciso cuidado, pois o acumulo de incoerências locais pode tornar o todo do texto incoerente.

Van Dijk e Kinstich (1983) mencionam diversos tipos de coerência: 
Coerência semântica, que se refere à relação entre significados dos elementos das frases em seqüência em um texto ou entre os elementos do texto como um todo. 
Coerência sintática, que se refere aos meios sintática para expressar a coerência semântica como, por exemplo, os conectivos, o uso de pronomes, de sintagmas nominais definidos e indefinidos. 

A coerência sintática nada mais é do que um aspecto da coesão que pode auxiliar no estabelecimento da coerência. 
Coerência estilística, pela qual um usuário deveria usar em seu texto elementos lingüísticos, (léxico, tipos de estruturas, frases, etc.) pertencentes ou constitutivos do mesmo estilo ou registro lingüístico. 
Coerência pragmática, que tem a ver com o texto visto como uma seqüência de atos de fala. Estes são relacionados de modo que, para a seqüência de atos ser percebida como apropriada, os atos de fala que a constituem devem satisfazer as mesmas condições presentes em uma dada situação comunicativa. Caso contrário temos incoerência. 

A divisão da coerência em tipo tem o mérito de chama a atenção para diferentes aspectos daquilo que chamamos de coerência: o semântico, o pragmático, o estilístico e o sintático. Mas é preciso ter sempre em mente que a coerência é um fenômeno que resulta da ação conjunta de todos esses níveis e de sua influência no estabelecimento do sentido do texto, uma vez que a coerência é, basicamente, um principio de interpretabilidade do texto, caracterizado por tudo do que o processo aí implicado possa depender inclusive a própria produção do texto, na medida em que o produtor do texto quer que seja entendido e o constitui para isso, excetuadas situações muito especiais.

Relação entre coerência e coesão

A coerência é subjacente, tentacular, reticulada, não-linear, mas, como bem observa Charolles, se relaciona com a linearidade do texto. Isto quer dizer que a coerência se relaciona com a linearidade do texto. Isto quer dizer que a coerência se relaciona com a coesão do texto , pois por coesão se entende a ligação , a relação , os nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem a superfície textual. A coerência , que é subjacente, a coesão é explicitamente revelada através de marcas lingüísticas, índices formais na estrutura da seqüência lingüística, índices formais na estrutura da seqüência lingüística e superficial do texto, o que lhe dá um caráter linear, uma vez que se manifesta na organização seqüencial do texto, tendo em vista a ordem em que aparecem , a coesão é sintática e gramatical, mas também semântica , pois , em muitos casos, os mecanismos coesivos se baseiam numa relação entre os significados de elementos da superfície do texto , como na chamada coesão referencial.

Há duas grandes modalidades de coesão: a coesão remissiva ou referencial e a coesão seqüencial. A coesão referencial é a que se estabelece entre dois ou mais componentes da superfície textual que remetem a (ou permitem recuperar) um mesmo referente (que pode, evidentemente, se acrescido de outros traços que se lhe vão agregando textualmente). Ela é obtido por meio de dois mecanismos básicos. 
substituição: anáfora, catáfora. 
Reiteração: se faz através de sinônimos , de hiperônimos, de nomes genéricos, de expressões nominais definidas, de repetição do mesmo item lexical, de nominalizações. 

A coesão sequencial também se faz através de dois procedimentos: a recorrência e a progressão.

A sequenciação por recorrência (ou parafrástica) é obtida pelos seguintes mecanismos: recorrência de termos, de estruturas (o chamado paralelismo), de conteúdos semânticos (paráfrase), de recursos fonológicos segmentais e suprassegmentais (ritmos, rima, aliteração, eco, etc), de aspectos e tempos verbais.

A coesão sequencial por progressão (ou frástica) é feita por mecanismos que possibilitam: 
a manutenção temática; 
os encadeamentos, que podem se dar por justaposição ou conexidade. 


A relação da coesão com a coerência existe porque a coerência é estabelecida a partir da seqüência linguística que constitui o texto, isto é, os elementos da superfície lingüística é que servem de pistas, de ponto de partida para o estabelecimento da coerência. A coesão ajuda a estabelecer a coerência na interpretação do textos, porque surge como uma manifestação superficial da coerência no processo de produção desse mesmos textos.

Embora a coesão auxilie no estabelecimento da coerência, ela não é garantia de se obter um texto coerente. Observa Charolles, os elementos lingüísticos da coesão não são nem necessários, nem suficientes para que a coerência seja estabelecida.

Como a coesão não é necessária, há muitas conseqüências linguísticas com poucos ou nenhum elemento coesivo, mas que constituem um texto porque são coerentes e por isso têm o que se chama de textualidade.

Como a coesão não é suficiente, há sequencias lingüísticas coesas, para as quais o receptor não pode ou dificilmente consegue estabelecer um sentido global que as faça coerentes.

O mau uso dos elementos linguísticos de coesão pode provocar incoerências locais pela violação de sua especificidade de uso e função. Às vezes também ocorre um tipo de incoerência porque o não uso de elementos necessários calcula-la de forma mais direta causa uma estranhamento da seqüência pelo receptor. A separação entre coesão e coerência não é tão nítida, a coesão tem relação com a coerência na medida em que é um dos fatores que permite calcula-a e , embora do ponto de vista analítico seja interessante separa-las , distingui-las, cumpre não esquecer que são duas faces do mesmo fenômeno.

Coerência, texto e lingüística do texto
Coerência e texto

É a coerência que faz com que uma seqüência lingüística qualquer seja vista como um texto, porque é a coerência, através de vários fatores, que permite estabelecer relações (sintático-gramaticais, semânticas e pragmáticas) entre os elementos da seqüência (morfemas, palavras, expressões, frase, parágrafos, capítulos, etc), permitindo construí-la e percebe-la, na recepção, como constituindo uma unidade significativa global. Portanto, é a coerência que dá textura ou textualidade à seqüência linguística, entendendo-se por textura ou textualidade.

A coerência dá origem a textualidade , o que responde a primeira questão.A coesão é apenas um dos fatores de coerência, que contribui para a constituição do texto enquanto tal, representando fatos de face linguística da coerência, mas não sendo nem necessária, nem suficiente para converter uma seqüência linguística da coerência, mas não sendo nem necessária, nem suficiente para converter uma seqüência linguística em texto. A coesão não dá textualidade é a coerência que faz isso.

Para Beaugrande e Dressler, para quem a coerência é definida em função da continuidade de sentidos há seqüências lingüísticas incoerentes, que seriam aqueles em que o receptor não consegue descobrir qualquer continuidade de sentido. Marcuschi e mesmo Fávero e Koch falam na existência de textos incoerentes.

Já Charolles afirma que as seqüências de frases não são coerentes ou incoerentes em si. Para Charolles não há texto incoerente em si. Charolles admite o tipo de incoerência que já referimos com o nome de incoerência local e que pode resultar do uso inadequado de elementos linguísticos, violando seu valor e função.

Bernárdez, ao falar do processo de criação de um texto coerente, propõe que ele se dá em três fases e que, em cada uma delas, podem ocorrer falhas causadoras de incoerência em determinados casos: 
na primeira fase, o produtor do texto tem uma intenção comunicativa. 
Na segunda fase, o produtor do texto desenvolve um plano global que lhe possibilite conseguir que seu texto cumpra sua intenção comunicativa, ou seja, tenha êxito face a todos os fatores envolvidos. 
Na terceira fase, o produtor realiza as operações necessárias para expressar verbalmente o plano global, de maneira que, através das estruturas superficiais, oprecebedor seja capaz de reconstituir ou identificar a intenção comunicativa. 

Não existe o texto incoerente em si, mas que o texto poder incoerente em/para determinada situação comunicativa. Assim, ao dizer que um texto é incoerente, temos que especificar as condições de incoerência.

O texto será incoerente se seu produtor não souber adequá-lo à situação, levando em conta intenção comunicativa, objetivos, destinatário, regras socioculturais, outros elementos da situação, uso dos recursos linguísticos, etc. Caso contrário, será coerente.

O mau uso de elementos linguísticos e estruturais cria incoerências no nível local. O produtor do texto, em função de sua intenção comunicativa, levando em conta todos os fatores da situação e usando seu conhecimento linguístico, de mundo , etc., constrói o texto, cuja superfície lingüística é constituída de pistas que permitem aos receptor calcular o (um) sentido do texto, estabelecendo sua coerência, através da consideração dos mesmos fatores que o produtor e usando os mesmo recursos. A coerência não é nem característica do texto, nem dos usuários do mesmo, mas está no processo que coloca texto e usuários em relação numa situação comunicativa. Tendo em vista: 
a coesão é uma manifestação da coerência na superfície textual; 
os elementos linguísticos da superfície do texto funcionam como pistas que o produtor do texto escolheu em função de sua intenção comunicativa e do(s) sentido(s) que desejava que o receptor do texto fosse capaz de recuperar – pode-se esperar que diferentes tipos de textos apresentem diferentes modos, meios e processos de manifestação da coerência na superfície linguística. 

Diferentes tipos de textos têm diferentes esquemas estruturas que, na Lingüística Textual, recebem o nome de superestruturas. Narrativos, descritivos, dissertativos, líricos, ficção, dramáticos, poéticos e prosas. O conhecimento ou não, a utilização ou não das características de superestrutura de cada tipo pode auxiliar ou dificultar o estabelecimento de coerência.

Os estudos da coerência e coesão nos textos orais, em comparação com os textos escritos, os usuários utilizam recursos diferenciados na superfície linguística, de modo que sua coerência tem de se estabelecer e ser julgada por mecanismos e critérios diversos dos utilizados para o texto escrito, sob pena de incorrermos em falhas de julgamento.

Coerência e linguística do texto

Quando a linguística começou a tomar o texto como unidade de estudo, os estudiosos, acreditando na existência de textos e não-textos, propuseram a formulação de uma gramática do texto.Com a evolução dos estudos que não existe a seqüência linguística incoerente em si e, portanto, não existe o não texto. Passou-se à construção de uma Teoria do texto ou Lingüística do Texto, que é dizer a boa ou má formação dos textos, mas permitir representar os processos e mecanismos de tratamentos dos dados textuais que os usuários põem em ação quando buscar interpretar uma seqüência linguística, estabelecendo o seu sentido e, portanto, calculando sua coerência.

Tais processos e mecanismos , em sua atuação , sofrem restrições que obedecem a determinações psicológicas e cognitivas, socioculturais, pragmáticas e linguísticas. Por isso, o estudo da produção , compreensão e coerência textuais tornou-se um campo inter e pluridisciplinar. Charolles cabe aos lingüistas “delimitar, na constituição e composição textuais, qual é a parte e a natureza das determinações (que referimos no parágrafo anterior) que resultam dos diferentes meios que existem na diferentes línguas, para exprimir a continuidade ou a seqüência do discurso”.

O linguista deve, assim, fazer “a analise das marcas de relação entre as unidade de composição textual que a língua usa para resolver, o melhor possível, os problemas de interpretação que seu uso possa gerar. Isto para além da generalidade dos processos psico e sociocognitivos que intervêm na interpretação (da coerência) do discurso”.

Fatores de coerência

A construção da coerência decorre de uma multiplicidade de fatores das mais diversas ordens: lingüísticos, discursivos, cognitivos, culturais e interacionais .

Elementos linguísticos

É indiscutível a importância dos elementos lingüísticos do texto para o estabelecimento da coerência. Esses elementos servem como pistas para ativação dos conhecimentos armazenados na memória , constituem o ponto de partida para a elaboração de inferências, ajudam a captar a orientação argumentativa dos enunciados que compõem o texto. Todo o contexto linguístico – ou co-texto – vai contribuir de maneira ativa na construção da coerência.

Conhecimento de Mundo

O nosso conhecimento de mundo desempenha um papel decisivo no estabelecimento da coerência: se o texto falar de coisas que absolutamente não conhecemos, será difícil calcularmos o seu sentido e ele nos parecerá destituído de coerência.

Armazenando os conhecimentos, modelos cognitivos. 
os frames armazenados sob um certo “rótulo”. 
Os esquemas em seqüência temporal ou causal. 
Os planos como agir para atingir determinado objetivo 
Os scripts modos de agir altamente estereotipados em dada cultura, inclusive em termos de linguagem; 
As superestruturas ou esquemas textuais – conjunto de conhecimentos sobre os diversos tipos de textos, que vão sendo adquiridos à proporção que temos contanto com esses tipos e fazemos comparações entre eles. 

É o nosso conhecimento de mundo que nos faz considerar estranho o texto. È a partir dos conhecimento que temos que vamos construir u modelo do mundo representado em cada texto – é o universo (ou modelo) textual. Para que possamos estabelecer a coerência de um texto, é preciso que haja correspondência ao menos parcial entre os conhecimentos nele ativados e o nosso conhecimento de mundo , pois , caso contrário, não teremos condições de construir o universo textual dentro do qual as palavras e expressões do texto ganham sentido.

Conhecimento compartilhado

É preciso que o produtor e receptor de um texto possuam , ao menos uma boa parcela de conhecimentos comuns.

Os elementos textuais que remetem ao conhecimento partilhado entre os interlocutores constituem a informação “velha” ou dada, ao passo que tudo aquilo que for introduzido a partir dela constituirá a informação nova trazida pelo texto. Para que um texto seja coerente, é preciso haver um equilíbrio entre informação dada e informação nova. 
Constituem o co-texto; 
Aquele que fazer parte do contexto situacional 
Aqueles que são do conhecimento geral em dada cultura 
As que remetem ao conhecimento comum do produtor e do receptor. 

O contexto (linguístico e situacional) permite desfazer a ambigüidade de termos e expressões da língua.

Inferências

Inferência é a operação pela qual, utilizando seu conhecimento de mundo, o receptor de um texto estabelece uma relação não explicita entre dois elementos (normalmente frases ou trechos) deste texto que ele busca compreender e interpretar; ou, então, entre segmentos de textos e os conhecimentos necessários para a sua compreensão.

Fatores de contextualização

Os fatores de contextualização são aqueles que “ancoram” o texto em uma situação comunicativa determinada. Segundo Marcushi podem ser de dois tipos: os contextualizadores propriamente ditos e os perspectivos ou prospectivos. Entre os primeiros estão a data, o local, a assinatura, elementos gráficos, timbre, etc., que ajudam a situar o texto e , portanto , a estabelecer-lhe a coerência.

Sem os elementos contextualizadores, fica difícil decodificar a mensagem. Também em documentos, correspondência oficial e outros textos do gênero, o timbre, o carimbo, a data, a assinatura serão de extrema importância, servindo, inclusive, para fé ao texto.

Entre os fatores gráficos, temos: disposição na página, ilustrações, fotos, localizações no jornal (caderno, página), que contribuem para a interpretação do texto.

Os fatores perspectivos ou prospectivos são aqueles que avançam expectativas sobre o conteúdo – e também a forma – do texto: titulo, autor, inicio do texto.

A leitura (compreensão) de um texto é uma atividade de solução de problemas. Ao descobrirmos a solução final, teremos estabelecido a coerência do texto.

Situacionalidade

A Situacionalidade, outro fator responsável pelo coerência, pode ser vista atuando em duas direções: 
da situação para o texto 
do texto para a situação 
Da situação para o texto – trata-se de determinar em que medida a situação comunicativo interfere na produção recepção do texto e , portanto no estabelecimento da coerência., o contexto imediato da interação, o contexto sociopolitico-cultural em que a interação está inserida. Ao construir um texto, verificar o que é adequado àquela situação especifica: grau de formalidade, variedade dialetal, tratamento a ser dado ao tema, etc. O lugar e o momento da comunicação, as imagens recíprocas que os interlocutores fazem uns do outros, os papéis que desempenham, seus pontos de vista , o objetivo da comunicação. 
Do texto para a situação – também o texto tem reflexos importantes sobre a situação comunicativa: o mundo textual não é jamais idêntico ao mundo real. O produtor recria o mundo de acordo com seus objetivos, propósitos, interesses, convicções, crenças, etc. Os referentes textuais não são idênticos ao do mundo real, mas são construídos no interior do texto. O receptor, por sua vez, interpreta o texto de acordo com a sua ótica, os seus propósitos, as suas convicções – há sempre uma mediação entre o mundo real e o mundo textual. 

Na construção da coerência , a situacionalidade exerce um papel de relevância. Um texto que é coerente em dada situação pode não sê-lo em outra: daí a importância da adequação do texto à situação comunicativa.

Informatividade

Diz respeito ao grau de previsibilidade(ou expectabilidade) da informação contida no texto.Um texto será tanto menos informativo se contiver apenas informação previsível ou redundante, seu grau de informatividade será baixo; se contiver, além da informação de um texto for inesperada ou imprevisível, ele terá um grau máximo de informatividade, podendo, à primeira vista, parecer incoerente por exigir do receptor um grande esforço de decodificação.

O grau máximo de informatividade é comum na literatura e na linguagem metafórica em geral.

Mas também são freqüentes, tanto em texto poéticos como em textos publicitários ou manchetes jornalísticas.

É a informatividade que vai determinar a seleção e o arranjo das alternativas de distribuição da informação no texto, de modo que o receptor possa calcular-lhe o sentido com maior ou menor facilidade, dependendo da intenção do produtor de construir um texto mais ou menos hermético, mais ou menos polissêmico, ou que está, evidentemente, na dependência da situação comunicativa e do tipo de texto a ser produzido.

Focalização

A focalização tem a ver com a concentração dos usuários (produtor e receptor) em apenas uma parte do seu conhecimento, bem como com a perspectiva da qual são vistos os componentes do mundo textual. O produtor fornece ao receptor pistas sobre o que está focalizando. Diferenças de focalização podem causar problemas sérios de compreensão, impedindo, por vezes, o estabelecimento da coerência.

A mesma palavra poderá ter sentido diferente, dependendo da focalização. No caso de palavras homônimas, a focalização comum do interlocutores permitirá depreender o sentido do termo naquela situação especifica. A focalização determina também, em dados casos, o uso adequado de certos elementos linguísticos. Um dos mais importantes meios de evidenciar a focalização é o uso do que chamamos de descrições ou expressões definidas, isso é, grupos nominais introduzidos por artigo definido (ou por demonstrativos). Tais expressões selecionam , dentre as propriedades e características do referente, aquelas sobre as quais se deseja chamar a atenção.

O titulo do texto é, em grande parte dos casos, responsável pela focalização. Como já vimos anteriormente ativa e/ou seleciona conhecimentos de mundo que temos arquivados na memória, avançando expectativas sobre o conteúdo do texto.

Intertextualidade

Outro importante fator de coerência é a intertextualidade, na medida em que , para o processamento cognitivo (produção/recepção) de um texto, recorre-se ao conhecimento prévio de outros textos. A intertextualidade pode ser de forma ou de conteúdo. A intertextualidade de forma ocorre quando o produtor de um texto repete expressões, enunciados ou trechos de outros textos, ou então o estilo de determinado autor ou de determinados gêneros de discurso. Um subtipo de intertextualidade formal é a intertextualidade tipológica, que também é importante para o processamento adequando do texto. Os conhecimentos de mundo são armazenados em nossa memória sob forma de blocos – os modelos cognitivos globais, entre os quais estão as superestruturas ou esquemas textuais, que são conjuntos de conhecimentos que se vão acumulando quanto aos diversos tipos de textos utilizados em dada cultura. Quanto ao conteúdo, pode-se dizer que a intertextualidade é uma constante: os textos de uma mesma época, de uma mesma área de conhecimento, de uma mesma cultura, etc., dialogam, necessariamente , uns com os outros. Essa intertextualidade pode ocorrer de maneira explicita ou implícita.

Intertextualidade implícita não se tem indicação de fonte, de modo que o receptor deverá ter os conhecimentos necessários para recupera-la; do contrário, não será capaz de captar a significação implícita que o produtor pretende passar. Não havendo indicação da fonte do texto original, caberá receptor, através de seu conhecimento de mundo, não só descobri-la como detectar a intenção do produtor do texto ao retomar o que foi dito por outrem.

O reconhecimento do texto fonte e dos motivos de sua reapresentação, no caso da intertextualidade implícita, é como se vê, de grande importância para a construção de sentido de um texto.

Intencionalidade e Aceitabilidade

O produtor de um texto tem, necessariamente, determinados objetivos ou propósitos, que vão desde a simples intenção de estabelecer ou manter o contato com o receptor até a de leva-lo a partilhar de suas opiniões ou a agir ou comportar-se de determinada maneira. A intencionalidade refere-se ao modo como os emissores usam textos para perseguir e realizar suas intenções, produzindo, para tanto, textos adequados à obtenção dos efeitos desejados.

A aceitabilidade constitui a contraparte da intencionalidade. Já se disse que, segundo o Principio Cooperativo de Grice, o postulado básico que rege a comunicação humana é o da cooperação, isto é, quando duas pessoas interagem por meio de linguagem, elas se esforçam por fazer-se compreender e procuram calcular o sentido do texto do(s) interlocutor(s), partindo das pistas que ele contém e ativando seu conhecimento de mundo, da situação, etc.

A intencionalidade tem relação estreita com o que se tem chamado de argumentatividade. Se aceitamos como verdade que não existem textos neutros, que há sempre alguma intenção ou objetivo da parte de quem produz um texto, e que este não é jamais uma “cópia” do mundo real, pois o mundo é recriado no texto através da mediação de nossas crenças, convicções, perspectivas e propósitos, então somo obrigados a admitir que existe sempre uma argumentatividade subjacente ao uso da linguagem. A argumentatividade manifesta-se nos textos por meio de uma série de marcas ou pistas que vão orientar os seus enunciados no sentido de determinadas conclusões.

Entre estas marcas encontram-se os tempos os tempos verbais, os operadores e conectores argumentativos, os modalizadores, entre outros. A partir dessa marcas, como também das inferências e dos demais elementos construtores da textualidade, o receptor construirá a sua leitura, entre aquelas que o texto, pela maneira como se encontra lingüisticamente estruturado, permite. È por isso que todo texto abre a possibilidade de várias leituras.

Consistência e relevância

De acordo com Giora, dois requisitos básicos para que um texto possa ser tido como coerente são a consistência e a relevância.

A condição de consistência exige que cada enunciado de um texto seja consistente com os enunciados anteriores, isto é, que todos os enunciados do texto possam ser verdadeiros dentro de um mesmo mundo ou dentro dos mundos representados no texto. O requisito da relevância exige que o conjunto de enunciados que compõe o texto seja relevante para um mesmo tópico discursivo subjacente, isto é, que os enunciados sejam interpretáveis como falando sobre um mesmo tema.

A relevância tópica é outro fator importante da coerência. A coerência não é apenas um traço ou uma propriedade do texto em si, mas sim que ela se constrói na interação entre o texto e seus usuários, numa situação comunicativa concreta, em decorrência de todos os fatores aqui examinados.

Coerência e Ensino

O objetivo é registrar alguns pontos fundamentais quando se pergunta em que as análises da lingüística sobre coerência, coesão e texto podem auxiliar no trabalho do professor no ensino de língua materna. Lembraremos alguns aspectos que podem ser importantes para a adoção de uma postura metodológica pelo professor. Metodologia, uma questão de postura, ideologia, metas, objetivos e fundamentos e não apenas técnicas de ensino.

Conclusão

Assim, a coerência do texto deriva de sua lógica interna, resultante dos significados que sua rede de conceitos e relações põe em jogo, mas também da compatibilidade entre essa rede conceitual – o mundo textual – e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso.

A coesão é a manifestação linguística da coerência: advém da maneira como os conceitos e relações subjacentes são expressos na superfície textual. Responsável pela unidade formal do textual, constrói-se através de mecanismos gramaticais e lexicais.

Entre os primeiros estão os pronomes anafóricos, os artigos, a elipse, a concordância, a correlação entre os tempos verbais, as conjunções, por exemplo. Todos esses recursos expressam relações não só entre os elementos no interior de uma frase, mas também entre frases e seqüências de frases dentro de um texto.

FATORES IMPORTANTES PARA OBTER COERÊNCIA EM UM TEXTO 

Intencionalidade – ela exige do produtor a construção de um discurso coerente e coeso, capaz de satisfazer os objetivos em uma determinada situação comunicativa (informar, convencer, pedir, etc). 
Aceitabilidade – dá-se quanto à expectativa de que o recebedor tenha acesso a um texto coerente e coeso. 
Situacionalidade – refere-se a que diz respeito à adequação do texto à situação sócio-comunicativo, responsável pela pertinência e relevância do texto. 
Intertextualidade – para isso o texto deve interagir com outros textos que funcionam oco seu contexto 

OS FATORES PRAGMÁTICOS DA TEXTUALIDADE

Entre os cinco fatores pragmáticos estudados por Beaugrande e Dressler (1983), os dois primeiros se referem aos protagonistas do ato de comunicação: a intencionalidade e a aceitabilidade.

A intencionalidade concerne ao empenho do produtor em construir um discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os objetivos que tem em mente numa determinada situação comunicativa. A meta pode ser informar, ou impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, ou ofender, etc., e é ela que vai orientar a confecção do texto.

Em outras palavras, a intencionalidade diz respeito ao valor ilocutório do discurso, elementos da maior importância no jogo de atuação comunicativa.

O outro lado da moeda é a aceitabilidade, que concerne à expectativa do recebedor de que o conjunto de ocorrências com que se defronta seja um texto coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos do produtor.

Grice (1975. 1978) estabelece máximas conversacionais, que seriam estratégias normalmente adotadas pelos produtores para alcançar a aceitabilidade do recebedor. Tais estratégias se referem à necessidade de cooperação (no sentido de o produtor responder aos interesses de seu interlocutor) e à qualidade (autenticidade), quantidade (informatividade), pertinência e relevância das informações, bem como à maneira como essas informações são apresentadas (precisão, clareza, ordenação, concisão, etc).

INFORMATIVIDADE

O texto com bom índice de informatividade tem que apresentar todas as informações necessárias para que seja compreendido com o sentido que o produtor pretende. Não é possível nem desejável que o discurso explicite todas as informações necessárias ao seu processamento, mas é preciso que ele deixe inequívocos todos os dados necessários à sua compreensão aos quais o recebedor não conseguirá chegar sozinho.

FOCALIZAÇÃO

A focalização que tem a ver com a concentração dos usuários (produtor e receptor) em apenas uma parte do seu conhecimento e com a perspectiva da qual são vistos os componentes do mundo textual. Seria como uma câmera que acompanhasse tanto o produtor como o receptor no momento em que um texto é processado. O primeiro fornece ao segundo determinadas pistas sobre o que está focalizando, ao passo que o segundo terá de recorrer a crenças e conhecimentos compartilhados sobre o que está sendo focalizado, para poder entender o texto (e as palavras que o compõem), de modo adequado.

FATORES DA CONTEXTUALIZAÇÃO

Os fatores de contextualização que “ancoram” o texto em uma situação comunicativa determinada; a situacionalidade, como outro fator responsável pela coerência, e que pode ser vista atuando em duas direções: a) da situação para o texto; b) do texto para a situação; a informatividade que interfere na construção da coerência no que diz respeito ao grau de previsibilidade (ou expectabilidade) da informação contida no texto;

INTENCIONALIDADE E ACEITABILIDADE

A intencionalidade e a aceitabilidade: a primeira refere-se ao modo como os emissores usam textos para perseguir e realizar suas intenções, produzindo para tanto, textos adequados à obtenção dos efeitos desejados; a segunda constitui a contraparte da intencionalidade que, por sua vez, tem relação estreita com o que se tem chamado de argumentatividade.

CONCLUSÃO

A obra expõe a constituição dos sentidos nos textos e seus fatores, tais como os elementos lingüísticos, o conhecimento do mundo, as inferências e a situação. Um de seus capítulos é dedicado ao registro de como a análise da coerência textual pode auxiliar no trabalho do professor no ensino da língua e em sala de aula. Assim, a coerência do texto deriva de sua lógica interna, resultante dos significados que sua rede de conceitos e relações põe em jogo, mas também da compatibilidade entre essa rede conceitual – o mundo textual – e o conhecimento de mundo de quem processa o discurso.

Todos esses recursos expressam relações não só entre os elementos no interior de uma frase, mas também entre frases e seqüências de frases dentro de um texto. Os autores apresentam ampla bibliografia comentada para os interessados em se aprofundar nesse campo. Obra fundamental !


Referências
INGEDORE VILLAÇA KOC
TRAVAGLIA, LUIZ CARLOS A COERÊNCIA TEXTUAL
BENVENISTE, E. Problemas de Iingüística geral. São Paulo: Nacional, 1976.
LYONS, John. Linguagem e Iingüística. Rio de Janeiro Zahar Editores, 1988.
MESERANI, Samir. O intertexto escolar. São Paulo, Cortez, 1995.

Autor: Silvia Maria Silva Duarte