Coesão
Referencial
Certos itens na língua têm a
função de estabelecer referência, ou seja, não são interpretados semanticamente
por seu sentido próprio, mas fazem referência a alguma coisa necessária a sua
interpretação. A coesão referencial pode ser obtida por substituição e por
reiteração.
Substituição: A substituição ocorre quando um componente é
retomado ou precedido por uma pro-forma (elemento gramatical representante de
uma categoria), as pro-formas podem ser: nominais
(feita por meio de: pronomes pessoais; numerais; nomes genéricos; como coisa,
gente ou pessoa); verbais (o verbo fazer é substituto dos verbos
causativos e ser é o substituto existencial); ou ainda adverbiais e
numerais. Quando realizamos retomadas, temos a anáfora e, na sucessão, a
catáfora.
Muitas vezes para promover o humor, o autor
utiliza a quebra no sequenciamento do raciocínio desviando a significação
referencial inicial da fala dos personagens. Os recursos coesivos são empregados
para criar no leitor uma expectativa que será quebrada levando ao riso. Portanto,
salientamos que esses recursos contribuem para a promoção do efeito de humor.
Reiteração: A reiteração ocorre quando se repetem formas no
texto, o que funciona como um recurso de ênfase e também para manter a coesão.
Não raro observamos nas HQ. que a reiteração lexical feita, pela repetição de
palavras ou expressões pode produzir por si só um efeito humorístico.
É pela repetição lexical que o autor vai
criando a expectativa no leitor quanto ao desfecho do texto que será então
abruptamente desfeita pelo raciocínio truncado e completamente inadequado de algum
personagem e o resultado disso é que leva inexoravelmente ao riso. Assim, a
reiteração de certos vocábulos dentro do texto colabora para a promoção do
efeito de humor por construiu junto ao leitor uma expectativa quanto a um final
provável, criando uma reação em cadeia que culmina com um final totalmente
inesperado, num desfecho surpreendente.
Coesão Sequencial
Os
mecanismos de coesão sequencial são os que têm por função fazer progredir o
texto, caminhar o fluxo informacional,.
A
coesão sequencial pode ocorrer por sequenciarão temporal (para indicar o tempo)
ou por conexão (quando a interdependência semântica e/ou pragmática é expressa
por operadores do tipo lógico, operadores discursivos e pausas).
Conjunção: A
conjunção se dá quando uma palavra, expressão ou oração se relaciona com outras
antecedentes por meio de conectores gramaticais. Fávero (2002:14) comenta que
os elementos conjuntivos são coesivos não por si mesmos, mas indiretamente, em
virtude das relações específicas que estabelecem entre orações, períodos e
parágrafos.
Uma
das maneiras mais eficazes de produzir um texto humorístico é utilizar recursos
conhecidos como globais, ou seja, aqueles que permeiam por todo o texto fazendo
parte de sua natureza interna. As conjunções fazem parte destes recursos
globais, pois auxiliam na construção da gradação de idéias e também para criar
um sentido lógico do qual o personagem vai se desviar, por acrescentar um dado
novo que vai então provocar o riso por quebrar os padrões lógicos do sentido
estabelecido pelo enunciado. Assim, podemos verificar que as conjunções
indiretamente colaboram na construção do humor.
Coesão
Recorrencial
A coesão recorrencial ocorre
quando, apesar de se terem retomado estruturas, itens ou sentenças, o fluxo
informacional caminha, progride. Portanto esse tipo de coesão leva adiante o discurso.
Articula a informação nova à velha. Pode se dar por: recorrência de termos, paralelismo,
paráfrase, recursos fonológicos segmentais e supra-segmentais.
Concordância: A concordância
ocorre quando se obtém uma sequencia gramaticalmente lógica, em que todos os
elementos concordam entre si (tempos e modos verbais correlacionados; regências
verbais corretas, gênero gramatical corretamente atribuído, coordenação e
subordinação entre orações).
O emprego das formas verbais correlacionadas mantém a
concordância na sequencia textual, fornecendo as precondições básicas, o pano
de fundo sobre o qual se funda a relação comunicativa. Mas, ao mesmo tempo,
conduzem o leitor ao desfecho inesperado o que nos leva a considerar que esse
recurso de coesão colabora com a construção do sentido cômico.
Coesão lexical: A coesão lexical é
obtida pela reiteração de itens lexicais idênticos ou que possuam o mesmo
referente. É comum a substituição de nomes próprios por: a gente, a coisa, o
negócio etc.
No exame dos jogos de dizer, na busca das estratégias
capazes de provocar o humor, percebemos que a reiteração dos substantivos
colaboram na construção de sentidos dentro do texto, fazendo-o progredir sem
que se torne repetitivo e monótono.
Elipse: Chamamos elipse a omissão de um item lexical recuperável
pelo contexto. Pode ocorrer a elipse de elementos nominais, verbais e
oracionais.
Como já foi mencionado, anteriormente, uma das
características mais marcantes do campo verbal das tiras dos quadrinhos é
justamente o seu caráter lacunar: formas breves, espaços vazios, elipses,
frases não ditas. São mecanismos verbais postos à disposição do leitor na construção
de sua interpretação.
A análise dos efeitos de sentido presentes
nesses textos humorísticos nos faz perceber que a omissão de termos colabora para
promover o efeito cômico e que auxilia na progressão textual fazendo fluir o
fluxo informacional e imprimindo leveza aos textos. É importante lembrar que as
tiras dos quadrinhos constituem-se de um modo diferente de dizer e é a partir
daí que flui o humor.
Como podemos constatar pelos
exemplos citados, o uso adequado dos elementos de coesão confere unidade ao
texto, auxiliam na progressão textual, fazem fluir o fluxo informacional, colaborando
para o estabelecimento da coerência textual e, portanto, auxiliam, mesmo que de
forma indireta, na construção de sentidos no texto, inclusive no efeito do
sentido humorístico dos textos em quadrinho.
Percebemos claramente esse fato
quando utilizamos esses recursos linguísticos de forma inadequada. O uso incorreto
ou a falta de elementos de coesão têm efeitos perturbadores, podendo tornar o
texto incompreensível para o leitor. E, se o leitor não compreende o sentido do
texto, não acha graça alguma, por isso podemos afirmar que os elementos de
coesão contribuem para o estabelecimento do humor no texto.
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