quarta-feira, 27 de junho de 2012

O educador e a linguagem: interação e aprendizado

Mércia Helena do Sacramento
Sandra Mara Bessa Ferreira

Introdução

A comunicação é o fundamento que determina, em grande medida, o grau de desenvolvimento de uma comunidade. Isto decorre do fato de que é, pela comunicação, que o homem expressa sentimentos, idéias, conceitos, bem como evolui como ser humano interativo que ensina e aprende em contato com o outro. Nesse sentido, pode-se afirmar que cada palavra, cada imagem, cada gesto que provoque uma ação/reação interativa se configure em uma comunicação. Estamos imersos num processo cotidiano de múltiplas possibilidades comunicativas, sendo impossível qualquer opção em contrário. Somos, portanto, comunicação.
A angústia da sociedade contemporânea no sentido de reverter o caos social vivido atualmente nos remete à reflexão de que o homem não se resume a si mesmo, nem aos seus interesses, mas se constrói cotidianamente em interação com o outro. A linguagem que nos permite esta interação é a mesma que pode gerar ruptura. Constantemente, presenciamos situações de conflito geradas pelo uso inadequado da linguagem. É imprescindível, assim, que se tenha clareza da importância de apropriação das habilidades que nos possibilitam uma comunicação verdadeira com o outro, especialmente, quando se estabelecem as relações entre professor e aluno, as quais podem ser determinantes no processo de aprendizagem.
Não se pode perder de vista, nesse contexto, que, para preparar o homem para viver no terceiro milênio, é fundamental que, desde pequeno, esse indivíduo aprenda a se aceitar e se respeitar para poder aceitar e respeitar o outro, quando em convivência, sendo corrigido e modificado apenas no seu fazer (capacitação) e nunca no seu ser (formação humana). A criança deve ser aceita na sua legitimidade, pois assim adquire confiança de que possui todas as qualidades para se tornar um adulto íntegro, responsável e amoroso. 

Cada ponto de vista é a vista de um ponto: a linguagem é geradora

Nossas ações determinam os resultados que obtemos, a nossa qualidade de vida (no âmbito profissional, familiar ou qualquer outro) e, inclusive, o tipo de pessoa que somos. Portanto, precisamos compreender por que atuamos desta ou daquela maneira, visto que a forma como atuamos depende do observador particular que somos. Diferentes observadores definem, de maneira distinta, o âmbito de ações possíveis e atuam de modo diferente. A ação humana não é uma variável independente, depende do tipo de observador que cada pessoa é. Ao se conhecer o tipo de observador que uma pessoa é, pode-se antecipar a forma como ela atuará.
Cada indivíduo é um observador diferente que observa mundos distintos. Não existe um só mundo, mas tantos quantos são os observadores, portanto, de acordo com Maturana, o que existe é um “multiverso” e não um “universo”. Se é aceita a noção do observador e a idéia de que existem observadores diferentes, cabe então perguntar: O que faz cada ser humano observar de maneira diferente?
Para responder a tal pergunta, é preciso, inicialmente, examinar os três domínios primários que constituem o observador: a corporalidade, a emocionalidade e a linguagem. De acordo com as diferenças encontradas neles, serão constituídos observadores distintos.

A estrutura biológica determina, em primeira instância, a forma como o observador vê as coisas, bem como o diferencia de outras espécies de animais e distingue um indivíduo do outro. O corpo é modo e meio de integração do indivíduo à realidade do mundo, sendo carregado de significação, veículo e meio de linguagem. O indivíduo aprende a fazer uso das expressões corporais de acordo com sua cultura e com seu ambiente. Assim, todo movimento do corpo tem um significado de acordo com o contexto.

A emocionalidade constitui observadores diferentes: distintas emoções predispõem a observar certos eventos e a não observar outros. Uma pessoa com medo, por exemplo, observa coisas diferentes daquelas observadas por uma pessoa tranqüila. O mesmo acontece com qualquer emoção. Porém, a diferença que a emocionalidade estabelece no observador não se limita ao que este seja capaz de observar ou não. Uma mesma situação observada por dois observadores diferentes será distinta de acordo com suas respectivas emocionalidades. Um mesmo fato poderá ser observado de maneira muito diferente se o observador se encontra alegre ou triste, relaxado ou tenso, confuso ou surpreso, seguro ou inseguro. Todas as observações se produzem em um espaço emocional que as afeta, ao alterar um determinado estado emocional do observador altera-se o tipo de observação que este experimenta. 

A linguagem também constitui observadores diferentes. Sem diminuir a importância dos domínios anteriores, é aqui que se encontra uma das fontes mais ricas das diferenças individuais. Esta capacidade, exclusiva dos seres humanos, torna as diferenças individuaismuito maiores do que as encontradas em outras espécies. No domínio da linguagem, os principais componentes da constituição do observador são: as distinções, os juízos e as narrativas. 

Os seres humanos, além de perceber o mundo com os sentidos, o percebem com suas distinções. Muitos objetos que povoam seus mundos, não são objetos percebidos pelos sentidos, mas surgem da linguagem que proporciona ao indivíduo essa capacidade de distinguir uma coisa da outra, de destacar de um pano de fundo algo que se torna o objeto de observação. Por meio das distinções, os seres humanos organizam o mundo, cada um à sua maneira.
Por exemplo, no caso de uma avaliação da aprendizagem, é muito diferente o ângulo sob o qual o resultado final é observado. O estudante percebe algo muito diferente daquilo que o professor observa. Se, além disso, o acadêmico obteve um baixo rendimento, observará algo muito diferente de outro colega que obteve um excelente resultado. Enquanto o primeiro acredita que o professor o persegue, o segundo percebe a nota como resultado apenas de seus esforços. 
O ser humano não é um observador neutro, descomprometido com o que observa. Ele toma posição, é influenciado pelo que observa de uma ou outra forma e coloca em prática sua capacidade de fazer juízos sobre o que experimenta. Os seres humanos são seres linguísticos e os juízos que emitem os constituem em observadores diferentes. 
Indivíduos que participam de uma mesma situação são observadores diferentes, de acordo com os juízos que fazem daquilo que acontece. A rigor, não tem sentido falar de uma "mesma" situação, pois não existe uma situação "objetiva". As situações serão tantas quantas forem os observadores que participarem dela. 

A linguagem também permite estabelecer relações entre tudo aquilo que se distingue e dar sentidos diferentes às coisas, que assim adquirem determinadas conotações e significados. Para tanto, são elaboradas narrativas, dando explicações e contando histórias sobre o que acontece. Essas narrativas fazem de cada indivíduo um observador diferente e definem distintas possibilidades de ação. 
Durante séculos, a linguagem foi considerada um instrumento passivo de comunicação, que permitia ao ser humano apenas descrever o que percebia, sentia ou pensava. Ela expressava algo que tinha existência autônoma e era vista como um instrumento de comunicação. Essa interpretação tem sido fortemente questionada. Hoje se reconhece que, ao falar, o indivíduo não só descreve o que observa, mas atua no mundo e faz com que certas coisas aconteçam. Por meio da linguagem, ele também pode modificar suas relações com os demais e desenvolver sua própria identidade.
A linguagem é geradora. Tanto ao falar, como ao escutar, há uma intervenção ativa na situação enfrentada. Quando se diz a alguém "espero que você reconsidere o fato", "eu lhe perdôo pelo que me fez", "convido você para jantar amanhã", "seu trabalho ficou ótimo" ou " eu te amo"..., não se está descrevendo nada, mas atuando e alterando o que é possível – algo, que provavelmente não aconteceria antes do nosso falar, e que agora pode acontecer. 
A linguagem é um tipo de ação que, se bem desempenhada, pode ter efeitos decisivos na vida do indivíduo e na vida das pessoas a seu redor. O podertransformador da ação implica que toda atuação acarreta conseqüências, mas nem sempre é possível antecipar os efeitos das ações.
O observador tanto pode conduzir a atuação de uma determinada maneira, como também avalia os resultados gerados por suas próprias ações. Essa avaliação cumpre um papel decisivo no desenvolvimento pessoal, na medida em que define as seguintes possibilidades:

·                    Se os resultados obtidos são satisfatórios, segue-se atuando da mesma forma, uma vez que não há pressão para mudar o jeito de atuar.
·                    Se os resultados obtidos não são satisfatórios, adota-se a resignação ou a aprendizagem.

Ao avaliar um resultado, pode-se optar por duas possibilidades:

Resignação: quando se considera que nada pode ser feito para modificar a situação e, portanto, continua atuando como antes. A resignação pode ter origens distintas, mas, em geral, combina emoções e juízos a respeito da situação enfrentada. Entre os juízos, destacam-se: “não sabíamos que poderíamos fazer diferente” e “não temos os recursos ou as competências para produzir resultados distintos”. 

Aprendizagem: quando se acredita que a situação pode ser modificada, mudando a forma de atuação e, com isso, melhorar as consequências dessas ações, gerando resultados que antes não era possível produzir. Aí se abrem duas opções:
A aprendizagem de primeira ordem visa expandir a capacidade de ação, intervindo diretamente no tipo de ações realizadas. Pode orientar, por exemplo, a busca alternativa de ações ou a adquirir competências específicas para realizar ações para as que inicialmente não eram possíveis. Esta modalidade de aprendizagem busca modificar a capacidade de ação, permitindo obter um resultado satisfatório.
A aprendizagem de segunda ordem visa transformar a atuação do observador, buscando modificar o próprio observador. Este tipo de aprendizagem alcança um nível de profundidade muito maior, visto que está direcionada àquela parte do ser humano onde se definem as inquietudes e a maneira como são configurados os problemas, possibilidades e soluções. Antes de se preocupar em modificar as ações em si, esta aprendizagem busca questionar as suposições, as emoções, as distinções primárias, e os juízos-mestres, a partir dos quais são moldadas as atuações.
Uma vez transformado o observador, emerge um leque de ações possíveis que poderá ser muito diferente do que se tinha inicialmente. Muitas soluções do passado tornam-se inválidas e infinitas possibilidades, até então não-observáveis, se apresentam diante dos olhos, podendo inclusive, aparecer soluções para vários problemas que, em vão, tentava-se resolver. 
Os seres humanos são seres que se constituem no diálogo com os demais, não podendo afirmar que cada um é de uma forma particular e, a partir de como cada um é, conversa com os demais. As conversações cumprem um papel ativo para constituir cada indivíduo no tipo de pessoa que cada um é. O indivíduo e suas relações são interdependentes, sem privilégio de um sobre outro. Toda pessoa fica marcada pelas relações que estabelece, assim como imprime sua marca nas relações que mantém ao longo da vida. 

“É preciso pensar a linguagem humana como lugar de interação, de constituição das identidades, de representação de papéis, de negociação de sentidos, por palavras, é preciso encarar a linguagem não apenas como representação do mundo e do pensamento ou como instrumento de comunicação, mas sim, acima de tudo, como forma de interação social”. (KOCH, 2003: 128)

Cada um leva consigo em seu desenvolvimento um pedaço da alma daqueles que são parte de suas relações. Cada relação vai contribuir para moldar cada ser humano. As pessoas carregam a história de seus amores, dos seus conflitos pessoais, das relações que tiveram com os pais, irmãos, mestres, amigos, colegas e até com os inimigos – que também colaboraram para fazer cada um do jeito que é. O ser humano é o resumo de todas as relações que teve e tem durante a vida. No tocante a este aspecto, Slama-Cazacu (1979: 5) afirma “A língua é um bem pessoal, na medida em que é um bem coletivo.”
De acordo com Maturana e Verden-Zoller (1995:9), a existência humana se apoia num espaço relacional denominado “conversar”, que são as interações que ocorrem entre a linguagem, fenômeno biológico relacional e as emoções, classe de condutas do domínio das ações. O conversar permeia todo o viver humano, o qual se processa em uma rede de conversações.
Os seres humanos atuais resultaram de um processo evolutivo que promoveu alterações anatômicas e fisiológicas, mas também preservou o conversar como um modo de vida. Hoje, o homem é o presente de uma história evolutiva, em que as conversações representaram um grande avanço nas redes de relações, propiciando a convivência grupal em harmonia.
O homem necessita, a todo o momento, de se relacionar com os outros e essas relações são estabelecidas por meio de conversações. Dependendo do emocional, pode ser ou não considerada uma relação social. Só será social se ocorrer na Biologia do Amor, ou seja, quando houver aceitação e respeito mútuos.
Os seres humanos, principalmente os ocidentais, devido a uma tradição cultural que desvaloriza as emoções, declaram continuamente, que o homem é um ser racional. Não vêem o entrelaçamento constante que ocorre entre a razão e a emoção, que constitui a vida humana.
Maturana (1996:46 ) reconhece que o racional é importante na vivência humana, mas que a primeira providência a ser tomada para a valorização da emoção seria aceitar que, entrelaçado ao racional, está sempre presente, o emocional.
Segundo Maturana (1997:15), as emoções não são sentimentos, são disposições corporais dinâmicas que definem as diferentes ações que são desencadeadas no cotidiano das convivências. São próprias do reino animal e pertencem ao domínio do biológico. Quando as emoções são modificadas, as ações decorrentes delas também se alteram. Para um mesmo estímulo, dependendo do estado emocional do indivíduo, haverá a manifestação de uma ação diferente.
Maturana (1996: 47) afirma ainda que o homem tem medo das emoções, pois as consideram responsáveis pela ruptura com a razão e, por isso, pretendem, a todo o momento, controlá-las. Enfatiza que, culturalmente o ser humano tem como norteador de sua vida, a “luta entre o bem e o mal” e, com isso, perde a confiança no humano e natural. Historicamente arraigado em sua constituição, acredita que a maldade pode ser controlada por meio da razão e que esta o aproxima da bondade.
O resultado disso é a luta que o indivíduo trava para sufocar as emoções, supondo que elas o afastam da razão e o aproximam do arbitrário, que é o mal. Maturana (1996:15) crê que essa luta entre o bem e o mal é cultural e não pertence à constituição humana. Ele confia na Biologia do Amor como fundamento do social.
Pertencemos a uma cultura que valoriza o racional e dá a ele uma validade transcendente, enquanto que as ações procedentes do emocional são caracterizadas como arbitrárias. Por estas razões, é difícil aceitar que razão e emoção se entrelaçam e atuam em conjunto. Culturalmente, o que se estabeleceu e se enraizou no ser humano é que, ao aceitar a importância da emoção numa ação considerada racional, ele estaria se expondo ao caos.
Para Maturana (1997:58), só existe o caos quando o indivíduo perde a referência emocional e não sabe mais o que fazer, porque ele se encontra envolvido por emoções contraditórias.
O falar é atuar, tem poder gerador. Sempre que alguém fala, altera o mundo ao seu redor. Gera conseqüências daquilo que se fala. Ao fazer distinções entre as duas modalidades da fala: propor e indagar, as conversações se tornam muito mais efetivas, evoluindo de maneira diferente, visto que ocorre o compartilhamento de inquietudes e decisões.
A indagação é a preparação para o escutar, porque demonstra a preocupação com as inquietudes do outro. Ao indagar, abre-se um espaço para que o outro exponha as suas inquietudes e as compartilhe, para que, juntos, busquem uma solução.
A proposição mostra ao outro observador, as inquietudes de quem está propondo: o pensa, o sente, quem é ele. Ao propor, há a exposição das inquietudes de quem está propondo, compartilhando-as com o outro.

·                    Indago para um outro observador falar.
·                    Proponho para um outro observador escutar.

Há um vínculo muito grande entre o falar e o escutar, visto que o falar só é significativo se houver um outro observador para escutar, pois é o escutar que valida o falar. Se numa conversação, predominam as proposições, há a exposição das idéias de quem está falando, sem que o mesmo abra espaço para que o outro se manifeste e coloque as suas inquietudes. É uma conversa unilateral, em que prevalecem as preocupações e vontades de quem fala. Se predominam as indagações, há a exposição das inquietudes do outro, mas quem indaga omite as suas. Também representa uma conversa unilateral, em que apenas um dos participantes compartilha suas inquietudes. O outro (quem indaga) mantém-se omisso. Assim, é preciso que haja o equilíbrio entre a indagação e a proposição para que as inquietudes sejam compartilhadas, gerando um clima de confiança e respeito mútuo.

Em sala de aula, a necessidade desse equilíbrio é muitas vezes desconsiderada. Não é incomum verificarmos a manutenção de modelos tradicionais de ensino em que professor fala e o aluno ouve. É esse o contexto que Paulo Freire chamava de educação bancária, em que se descortina um professor que sabe e ensina e um aluno que ouve e aprende (não necessariamente). Agregada a essa concepção de ensino-aprendizagem, está uma concepção equivocada do próprio ato da comunicação, tendo em vista que o falar está diretamente ligado ao escutar, pois quem fala, fala para alguém que o escuta. Para essa escuta ser efetiva, é preciso: checar a escuta (indagar), compartilhar inquietudes e permitir abertura para novas indagações. Enfim, é preciso que tal interação se configure por sua essência dialógica em que o diálogo "se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens" (Freire, 1983:93).
Por isso, há a imprescindibilidade de que tais discussões se ampliem no meio universitário, de forma que, um dia, os licenciados formados pela Universidade Católica de Brasília, assim como por outras IES, possam  configurar sua prática numa ação comunicativa de maneira consciente e, acima de tudo, intencional.

Na tentativa de concluir

A formação docente não pode abdicar da reflexão sobre uma prática pedagógica que pressuponha o saber dialogar e escutar, o respeito pelo saber do educando e o reconhecimento da identidade cultural e emocional do outro. A aceitação da necessidade de mudança nas relações pode ser o passo inicial para se alcançar sucesso nessa empreitada rumo a uma pedagogia mais tolerante, no que diz respeito à abertura de novas possibilidades de participação e humanização dos processos educativos. O contexto de mudança e inovação depende em muito do potencial criador das pessoas que o formam. Tal potencial pode ser explorado, em maior ou menor escala, dependendo  dos fatores que venham servir de estímulo ou obstáculos ao seu desenvolvimento. Uma “postura de receptividade, flexibilidade, aceitação, estímulo a novas idéias e respeito às opiniões divergentes” (Faria e Alencar, 1996: 53) caracteriza uma relação descentralizadora, que tende ao diálogo e à cooperação. Neste sentido, é que através do diálogo, a relação educador-educando deixa de ser uma doação ou imposição, mas caracteriza-se como uma relação horizontal, que minimiza as fronteiras entre os sujeitos.

“As organizações são compostas por pessoas. Se as pessoas não mudam, as instituições não mudarão (...) pessoas mais abertas, confiantes, bem resolvidas podem compreender melhor e implantar novas formas de relacionamento, de trabalho, de cooperação. Estão atentas para o novo, conseguem ouvir os outros e expressar-se de forma clara, não ficam  ressentidas porque suas idéias não foram eventualmente aceitas.” (Moran, 1998: 92 e 93).

Isso requer do professor a consciência de que a sua ação não consiste em transmitir conhecimentos, mas criar dialogicamente um conhecimento do mundo, tendo em vista que, segundo Freire, o diálogo leva o homem a se comunicar com a realidade e a aprofundar a sua tomada de consciência sobre ela de modo a perceber qual será seu papel nesse contexto social em plena transformação.
Sousa ratifica tal visão: “Isso requer dos professores firme disposição pessoal para desobstruir a comunicação de preconceitos e estereotipias. Requer espaço para análise das contradições verificadas nas dobraduras do cotidiano, escondidas e distorcidas pela compreensão diária apoiada no senso comum. E demanda dos professores uma desenvoltura para abrir o diálogo em sala de aula, um gosto pela mudança, pela cooperação, pela criação e pela liberdade...” (2002: 106)
A comunicação é permeada de um caráter problematizador que gera consciência crítica e permite a busca do compromisso de transformação da realidade. Não podemos, portanto, pensar em competências do docente sem passarmos por suas competências lingüísticas, as quais, como vimos, lhe dão subsídios para interagir com o mundo, com o outro e consigo mesmo.

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