Mércia Helena do
Sacramento
Sandra Mara Bessa
Ferreira
Introdução
A comunicação é o fundamento que
determina, em grande medida, o grau de desenvolvimento de uma comunidade. Isto
decorre do fato de que é, pela comunicação, que o homem expressa sentimentos,
idéias, conceitos, bem como evolui como ser humano interativo que ensina e
aprende em contato com o outro. Nesse sentido, pode-se afirmar que cada
palavra, cada imagem, cada gesto que provoque uma ação/reação interativa se
configure em uma comunicação. Estamos imersos num processo cotidiano de
múltiplas possibilidades comunicativas, sendo impossível qualquer opção em
contrário. Somos, portanto, comunicação.
A angústia da
sociedade contemporânea no sentido de reverter o caos social vivido atualmente
nos remete à reflexão de que o homem não se resume a si mesmo, nem aos seus
interesses, mas se constrói cotidianamente em interação com o outro. A
linguagem que nos permite esta interação é a mesma que pode gerar ruptura.
Constantemente, presenciamos situações de conflito geradas pelo uso inadequado
da linguagem. É imprescindível, assim, que se tenha clareza da importância de
apropriação das habilidades que nos possibilitam uma comunicação verdadeira com
o outro, especialmente, quando se estabelecem as relações entre professor e
aluno, as quais podem ser determinantes no processo de aprendizagem.
Não se pode perder de vista, nesse
contexto, que, para preparar o homem para viver no terceiro milênio, é
fundamental que, desde pequeno, esse indivíduo aprenda a se aceitar e se
respeitar para poder aceitar e respeitar o outro, quando em convivência, sendo
corrigido e modificado apenas no seu fazer (capacitação) e
nunca no seu ser (formação humana). A criança deve ser aceita
na sua legitimidade, pois assim adquire confiança de que possui todas as
qualidades para se tornar um adulto íntegro, responsável e amoroso.
Cada ponto de vista é a vista de um
ponto: a linguagem é geradora
Nossas ações determinam os resultados
que obtemos, a nossa qualidade de vida (no âmbito profissional, familiar ou
qualquer outro) e, inclusive, o tipo de pessoa que somos. Portanto, precisamos
compreender por que atuamos desta ou daquela maneira, visto que a forma como
atuamos depende do observador particular que somos. Diferentes observadores
definem, de maneira distinta, o âmbito de ações possíveis e atuam de modo
diferente. A ação humana não é uma variável independente, depende do tipo de
observador que cada pessoa é. Ao se conhecer o tipo de observador que uma
pessoa é, pode-se antecipar a forma como ela atuará.
Cada indivíduo é um observador
diferente que observa mundos distintos. Não existe um só mundo, mas tantos
quantos são os observadores, portanto, de acordo com Maturana, o que existe é
um “multiverso” e não um “universo”. Se é aceita a noção do observador e a
idéia de que existem observadores diferentes, cabe então perguntar: O que faz
cada ser humano observar de maneira diferente?
Para responder a tal pergunta, é
preciso, inicialmente, examinar os três domínios primários que constituem o
observador: a corporalidade, a emocionalidade e a linguagem. De acordo com as
diferenças encontradas neles, serão constituídos observadores distintos.
A estrutura biológica determina, em
primeira instância, a forma como o observador vê as coisas, bem como o
diferencia de outras espécies de animais e distingue um indivíduo do outro. O
corpo é modo e meio de integração do indivíduo à realidade do mundo, sendo
carregado de significação, veículo e meio de linguagem. O indivíduo aprende a
fazer uso das expressões corporais de acordo com sua cultura e
com seu ambiente. Assim, todo movimento do corpo tem um significado de acordo
com o contexto.
A emocionalidade constitui observadores
diferentes: distintas emoções predispõem a observar certos eventos e a não
observar outros. Uma pessoa com medo, por exemplo, observa coisas diferentes
daquelas observadas por uma pessoa tranqüila. O mesmo acontece com qualquer emoção.
Porém, a diferença que a emocionalidade estabelece no observador não se limita
ao que este seja capaz de observar ou não. Uma mesma situação observada por
dois observadores diferentes será distinta de acordo com suas respectivas
emocionalidades. Um mesmo fato poderá ser observado
de maneira muito diferente se o observador se encontra alegre ou triste,
relaxado ou tenso, confuso ou surpreso, seguro ou inseguro. Todas as
observações se produzem em um espaço emocional que as afeta, ao alterar um
determinado estado emocional do observador altera-se o tipo de observação que
este experimenta.
A linguagem também constitui
observadores diferentes. Sem diminuir a importância dos domínios anteriores, é
aqui que se encontra uma das fontes mais ricas das diferenças individuais. Esta
capacidade, exclusiva dos seres humanos, torna as diferenças individuaismuito
maiores do que as encontradas em outras espécies. No domínio da linguagem, os
principais componentes da constituição do observador são: as distinções, os
juízos e as narrativas.
Os seres humanos, além de perceber o
mundo com os sentidos, o percebem com suas distinções. Muitos objetos que
povoam seus mundos, não são objetos percebidos pelos sentidos, mas surgem da
linguagem que proporciona ao indivíduo essa capacidade de
distinguir uma coisa da outra, de destacar de um pano de fundo algo que se
torna o objeto de observação. Por meio das distinções, os seres humanos
organizam o mundo, cada um à sua maneira.
Por exemplo, no caso de uma avaliação
da aprendizagem, é muito diferente o ângulo sob o qual o resultado final é
observado. O estudante percebe algo muito diferente daquilo que o professor
observa. Se, além disso, o acadêmico obteve um baixo rendimento,
observará algo muito diferente de outro colega que obteve um excelente
resultado. Enquanto o primeiro acredita que o professor o persegue, o segundo
percebe a nota como resultado apenas de seus esforços.
O ser humano não é um observador
neutro, descomprometido com o que observa. Ele toma posição, é influenciado
pelo que observa de uma ou outra forma
e coloca em prática sua capacidade de fazer juízos sobre o que experimenta. Os
seres humanos são seres linguísticos e os juízos que emitem os constituem em
observadores diferentes.
Indivíduos que participam de uma mesma
situação são observadores diferentes, de acordo com os juízos que fazem daquilo
que acontece. A rigor, não tem sentido falar de uma "mesma"
situação, pois não existe uma situação "objetiva". As situações serão
tantas quantas forem os observadores que participarem dela.
A linguagem também permite estabelecer
relações entre tudo aquilo que se distingue e dar sentidos diferentes às
coisas, que assim adquirem determinadas conotações e significados. Para tanto,
são elaboradas narrativas, dando explicações e contando histórias
sobre o que acontece. Essas narrativas fazem de cada indivíduo um observador
diferente e definem distintas possibilidades de ação.
Durante séculos, a
linguagem foi considerada um instrumento passivo de comunicação, que permitia
ao ser humano apenas descrever o que percebia, sentia ou pensava. Ela
expressava algo que tinha existência autônoma e era vista como um instrumento de comunicação. Essa interpretação tem sido
fortemente questionada. Hoje se reconhece que, ao falar, o indivíduo não só
descreve o que observa, mas atua no mundo e faz com que certas coisas
aconteçam. Por meio da linguagem, ele também pode modificar suas relações com
os demais e desenvolver sua própria identidade.
A linguagem é geradora. Tanto ao falar,
como ao escutar, há uma intervenção ativa na situação enfrentada. Quando se diz
a alguém "espero que você reconsidere o fato", "eu lhe perdôo
pelo que me fez", "convido você para jantar amanhã", "seu
trabalho ficou ótimo" ou " eu te amo"..., não se está
descrevendo nada, mas atuando e alterando o que é possível – algo, que
provavelmente não aconteceria antes do nosso falar, e que agora pode
acontecer.
A linguagem é um tipo de ação que, se
bem desempenhada, pode ter efeitos decisivos na vida do indivíduo e na vida das
pessoas a seu redor. O podertransformador da ação implica que toda atuação
acarreta conseqüências, mas nem sempre é possível antecipar os efeitos das
ações.
O observador tanto pode conduzir a atuação de
uma determinada maneira, como também avalia os resultados gerados por suas próprias
ações. Essa avaliação cumpre um papel decisivo no desenvolvimento pessoal, na
medida em que define as seguintes possibilidades:
·
Se os resultados obtidos são
satisfatórios, segue-se atuando da mesma forma, uma vez que não há pressão para
mudar o jeito de atuar.
·
Se os resultados obtidos não são
satisfatórios, adota-se a resignação ou a aprendizagem.
Ao avaliar um resultado, pode-se optar
por duas possibilidades:
Resignação: quando se considera que nada pode ser feito para
modificar a situação e, portanto, continua atuando como antes. A resignação
pode ter origens distintas, mas, em geral, combina emoções e juízos a respeito
da situação enfrentada. Entre os juízos, destacam-se:
“não sabíamos que poderíamos fazer diferente” e “não temos os recursos ou as
competências para produzir resultados distintos”.
Aprendizagem: quando se acredita que a situação pode ser
modificada, mudando a forma de atuação e, com isso, melhorar as consequências
dessas ações, gerando resultados que antes não era
possível produzir. Aí se abrem duas opções:
A aprendizagem
de primeira ordem visa expandir a capacidade de ação, intervindo
diretamente no tipo de ações realizadas. Pode orientar, por exemplo, a busca
alternativa de ações ou a adquirir competências específicas para realizar ações
para as que inicialmente não eram possíveis. Esta modalidade de
aprendizagem busca modificar a capacidade de ação, permitindo obter um
resultado satisfatório.
A aprendizagem
de segunda ordem visa transformar a
atuação do observador, buscando modificar o próprio observador. Este tipo de
aprendizagem alcança um nível de profundidade muito maior, visto que está
direcionada àquela parte do ser humano onde se definem as inquietudes e a
maneira como são configurados os problemas, possibilidades e
soluções. Antes de se preocupar em modificar as ações em si, esta aprendizagem
busca questionar as suposições, as emoções, as distinções primárias, e os
juízos-mestres, a partir dos quais são moldadas
as atuações.
Uma vez transformado o observador,
emerge um leque de ações possíveis que poderá ser muito diferente do que se
tinha inicialmente. Muitas soluções
do passado tornam-se inválidas e infinitas possibilidades, até então
não-observáveis, se apresentam diante dos olhos, podendo inclusive, aparecer
soluções para vários problemas que, em vão, tentava-se resolver.
Os seres humanos são seres que se
constituem no diálogo com os demais, não podendo afirmar que cada um é de uma
forma particular e, a partir de como cada um é, conversa com os demais. As
conversações cumprem um papel ativo para constituir cada
indivíduo no tipo de pessoa que cada um é. O indivíduo e suas relações são
interdependentes, sem privilégio de um sobre outro. Toda pessoa fica marcada
pelas relações que estabelece, assim como imprime sua marca nas relações que
mantém ao longo da vida.
“É preciso pensar a linguagem humana como lugar de
interação, de constituição das identidades, de representação de papéis, de
negociação de sentidos, por palavras, é preciso encarar a linguagem não apenas
como representação do mundo e do pensamento ou como instrumento de comunicação,
mas sim, acima de tudo, como forma de interação social”. (KOCH, 2003: 128)
Cada um leva consigo em seu
desenvolvimento um pedaço da alma daqueles que são parte de suas relações. Cada
relação vai contribuir para moldar cada ser humano. As pessoas carregam a
história de seus amores, dos seus conflitos pessoais, das relações que tiveram
com os pais, irmãos, mestres, amigos, colegas e até com os inimigos – que também
colaboraram para fazer cada um do jeito que é. O ser humano é o resumo de todas
as relações que teve e tem durante a vida. No tocante a este aspecto,
Slama-Cazacu (1979: 5) afirma “A língua é um bem pessoal, na medida em que é um
bem coletivo.”
De acordo com Maturana e Verden-Zoller
(1995:9), a existência humana se apoia num espaço relacional denominado
“conversar”, que são as interações que ocorrem entre a linguagem, fenômeno
biológico relacional e as emoções, classe de
condutas do domínio das ações. O conversar permeia todo o viver humano, o qual
se processa em uma rede de conversações.
Os seres humanos atuais resultaram de
um processo evolutivo que promoveu alterações anatômicas e fisiológicas, mas
também preservou o conversar como um modo de vida. Hoje, o homem é o presente
de uma história evolutiva, em que as conversações representaram um grande
avanço nas redes de relações, propiciando a convivência grupal em
harmonia.
O homem necessita, a todo o momento, de
se relacionar com os outros e essas relações são estabelecidas por meio de
conversações. Dependendo do
emocional, pode ser ou não considerada uma relação social. Só será social se
ocorrer na Biologia do Amor, ou seja, quando houver aceitação e respeito
mútuos.
Os seres humanos, principalmente os
ocidentais, devido a uma tradição cultural que desvaloriza as emoções, declaram
continuamente, que o homem é um ser racional. Não vêem o entrelaçamento
constante que ocorre entre a razão e a emoção, que constitui a vida humana.
Maturana (1996:46 ) reconhece que
o racional é importante na vivência humana, mas que a primeira providência a
ser tomada para a valorização da emoção seria aceitar que, entrelaçado ao
racional, está sempre presente, o emocional.
Segundo Maturana (1997:15), as emoções
não são sentimentos, são disposições corporais dinâmicas que definem as
diferentes ações que são desencadeadas no cotidiano das convivências. São
próprias do reino animal e pertencem ao domínio do biológico.
Quando as emoções são modificadas, as ações decorrentes delas também se
alteram. Para um mesmo estímulo, dependendo do estado emocional do indivíduo,
haverá a manifestação de uma ação diferente.
Maturana (1996: 47) afirma ainda que o
homem tem medo das emoções, pois as consideram responsáveis pela ruptura com a
razão e, por isso, pretendem, a todo o momento, controlá-las.
Enfatiza que, culturalmente o ser humano tem como norteador de sua vida, a
“luta entre o bem e o mal” e, com isso, perde a confiança no humano e natural.
Historicamente arraigado em sua constituição, acredita que a maldade pode ser
controlada por meio da razão e que esta o aproxima da bondade.
O resultado disso é a luta que o
indivíduo trava para sufocar as emoções, supondo que elas o afastam da razão e
o aproximam do arbitrário, que é o mal. Maturana (1996:15) crê que
essa luta entre o bem e o mal é cultural e não pertence à constituição humana.
Ele confia na Biologia do Amor como fundamento do social.
Pertencemos a uma cultura que valoriza
o racional e dá a ele uma validade transcendente, enquanto que as ações
procedentes do emocional são
caracterizadas como arbitrárias. Por estas razões, é difícil aceitar que razão
e emoção se entrelaçam e atuam em conjunto. Culturalmente, o que se estabeleceu
e se enraizou no ser humano é que, ao aceitar a importância da emoção numa ação
considerada racional, ele estaria se expondo ao caos.
Para Maturana (1997:58), só existe
o caos quando o indivíduo perde a referência emocional e não sabe mais o que
fazer, porque ele se encontra envolvido por emoções contraditórias.
O falar é atuar, tem poder gerador.
Sempre que alguém fala, altera o mundo ao seu redor. Gera conseqüências daquilo
que se fala. Ao fazer distinções entre as duas modalidades da fala: propor e
indagar, as conversações se tornam muito
mais efetivas, evoluindo de maneira diferente, visto que ocorre o
compartilhamento de inquietudes e decisões.
A indagação é a preparação para o
escutar, porque demonstra a preocupação com as inquietudes do outro. Ao
indagar, abre-se um espaço para que o outro exponha as suas inquietudes
e as compartilhe, para que, juntos, busquem uma solução.
A proposição mostra ao outro observador,
as inquietudes de quem está propondo: o pensa, o sente, quem é ele. Ao propor,
há a exposição das inquietudes de quem está propondo, compartilhando-as com o
outro.
·
Indago para um outro observador falar.
·
Proponho para um outro observador
escutar.
Há um vínculo muito grande entre o
falar e o escutar, visto que o falar só é significativo se houver um outro
observador para escutar, pois é o escutar que valida o falar. Se numa
conversação, predominam as proposições, há a exposição das idéias de quem está
falando, sem que o mesmo abra espaço para que o outro se manifeste e coloque as
suas inquietudes. É uma conversa unilateral, em que prevalecem as preocupações
e vontades de quem fala. Se predominam as indagações, há a exposição das
inquietudes do outro, mas quem indaga omite as suas. Também representa uma
conversa unilateral, em que apenas um dos participantes compartilha suas inquietudes.
O outro (quem indaga) mantém-se omisso. Assim, é preciso que haja o equilíbrio
entre a indagação e a proposição para que as inquietudes sejam compartilhadas,
gerando um clima de confiança e respeito mútuo.
Em sala de aula, a necessidade desse
equilíbrio é muitas vezes desconsiderada. Não é incomum verificarmos a
manutenção de modelos tradicionais de ensino em que professor fala e o aluno
ouve. É esse o contexto que Paulo Freire chamava de educação bancária, em que
se descortina um professor que sabe e ensina e um aluno que ouve e aprende (não
necessariamente). Agregada a essa concepção de ensino-aprendizagem, está uma concepção equivocada
do próprio ato da comunicação, tendo em vista que o falar está diretamente
ligado ao escutar, pois quem fala, fala para alguém que o escuta. Para essa
escuta ser efetiva, é preciso: checar a escuta (indagar), compartilhar
inquietudes e permitir abertura para novas indagações. Enfim, é preciso que tal
interação se configure por sua essência dialógica em que o diálogo "se
impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto
homens" (Freire, 1983:93).
Por isso, há a imprescindibilidade de
que tais discussões
se ampliem no meio universitário, de forma que, um dia, os licenciados formados
pela Universidade Católica de Brasília, assim como por outras IES, possam configurar
sua prática numa ação comunicativa de maneira consciente e, acima de tudo,
intencional.
Na tentativa de concluir
A formação docente não pode abdicar da
reflexão sobre uma prática pedagógica que pressuponha o saber dialogar e
escutar, o respeito pelo saber do educando e o reconhecimento da identidade
cultural e emocional do outro. A aceitação da necessidade de mudança nas
relações pode ser o passo inicial para se alcançar sucesso nessa empreitada
rumo a uma pedagogia mais tolerante, no que diz respeito à abertura de novas
possibilidades de participação e humanização dos processos educativos. O
contexto de mudança e inovação depende em muito do potencial criador das
pessoas que o formam. Tal potencial pode ser explorado, em maior ou menor
escala, dependendo dos fatores que venham servir de estímulo ou
obstáculos ao seu desenvolvimento. Uma “postura de receptividade,
flexibilidade, aceitação, estímulo a novas idéias e respeito às opiniões
divergentes” (Faria e Alencar, 1996: 53) caracteriza uma relação descentralizadora,
que tende ao diálogo e à cooperação. Neste sentido, é que através do diálogo, a
relação educador-educando deixa de ser uma doação ou imposição, mas
caracteriza-se como uma relação horizontal, que minimiza as fronteiras entre os
sujeitos.
“As organizações são compostas por pessoas. Se as
pessoas não mudam, as instituições não mudarão (...) pessoas mais abertas,
confiantes, bem resolvidas podem compreender melhor e implantar novas formas de
relacionamento, de trabalho, de cooperação. Estão atentas para o novo,
conseguem ouvir os outros e expressar-se de forma clara, não ficam ressentidas
porque suas idéias não foram eventualmente aceitas.” (Moran, 1998: 92 e 93).
Isso requer do professor a consciência
de que a sua ação não consiste em transmitir conhecimentos, mas criar
dialogicamente um conhecimento do mundo, tendo em vista que, segundo Freire, o
diálogo leva o homem a se comunicar com a realidade e a aprofundar a sua tomada
de consciência sobre ela de modo a perceber qual será seu papel nesse contexto
social em plena transformação.
Sousa ratifica tal visão: “Isso requer
dos professores firme disposição pessoal para desobstruir a comunicação de
preconceitos e estereotipias. Requer espaço para análise das contradições
verificadas nas dobraduras do cotidiano, escondidas e distorcidas pela
compreensão diária apoiada no senso comum. E demanda dos professores uma
desenvoltura para abrir o diálogo em sala de aula, um gosto pela mudança, pela
cooperação, pela criação e pela liberdade...” (2002: 106)
A comunicação é permeada de um caráter
problematizador que gera consciência crítica e permite a busca do compromisso
de transformação da realidade. Não podemos, portanto, pensar em competências do
docente sem passarmos por suas competências lingüísticas, as quais, como vimos,
lhe dão subsídios para interagir com o mundo, com o outro e consigo mesmo.
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