Ao
definir hipótese, Gil (1996, p. 35) afirma que ela é uma "proposição testável
que pode vir a ser a solução do problema".
Um
pesquisador observa os fatos e procura explicar sua ocorrência, apoiado em
determinadas teorias. Após determinar o problema que deseja resolver com a
pesquisa, deve-se interrogar sobre as possíveis respostas para ele. Assim é que
ele inicia seu trabalho com a exposição de um problema cuja solução seja possível.
Entre as supostas soluções, ou hipóteses, o pesquisador escolherá a mais
consistente teoricamente e adequada para iniciar a busca da solução dos fatos
problemáticos, objetos de sua investigação. É possível
que diante dessas possíveis respostas se sinta em dificuldades quanto à teoria
e experiência necessárias para dar andamento ao estudo. Para Richardson (1999,
p. 104), "uma vez determinado o problema, o pesquisador enfrenta uma
variedade de possíveis respostas, desconhecendo qual é a mais adequada".
Por
isso, cabe-lhe escolher as que lhe parecem mais adequadas para realização de
testes. Das hipóteses derivam as variáveis a serem estudadas. Nelas apóiam-se
as informações coletadas, os métodos usados e a análise dos dados. Na
elaboração de questionários e entrevistas (principalmente, em pesquisa social),
deve-se fazer referência às hipóteses, explicativas ou implícitas, da pesquisa.
A
hipótese é definida, portanto, como solução tentativa; consiste em uma suposta
resposta destinada a explicar provisoriamente um problema até que os fatos
venham a contradizê-Ia ou confirmá-Ia, isto é, uma formulação provisória de
prováveis causas do problema, objetivando explicá-Io de forma científica. É uma suposição que se introduz em um teste
para demonstrar as conseqüências que seguem; portanto, não é mera opinião,
ficção ou contraposição ao fato. Em geral, baseia-se, dedutivamente, na relação
do problema com a solução proposta pelo pesquisador, tendo em vista verificar a
validade da resposta. Hipóteses podem ser obtidas pela experiência (indução) ou
pela dedução. As condições que ajudam a descobri-Ias são: (a) a própria
pesquisa; (b) a analogia; (c) a indução; (d) a dedução; (e) as reflexões. Para
Gil (1996, p. 40), as principais fontes de hipóteses são: a observação, os
resultados de outras pesquisas, as teorias, a intuição.
A
distinção de uma hipótese de uma afirmação factual, segundo Richardson (1999,
p. 105), depende do conhecimento do pesquisador: se ele sabe que a afirmação é
verdadeira, ela deixa de ser uma hipótese, pois é um fato. Se não tem certeza
de sua validade, trata-se de uma hipótese.
É
de salientar que nem todos os tipos de pesquisa exigem o estabelecimento de
hipóteses (RICHARDSON, 1999, p. 104). Entre eles, o autor citado apresenta as
pesquisas explicativas em que se deseja "conhecer ou levantar os aspectos
gerais de um tema"; no entanto, nos estudos que procuram determinar os
fatores ou motivos que influenciam certos acontecimentos, que analisam relações
entre fenômenos ou procurem estabelecer a existência de certa característica,
esses tipos de pesquisa precisam de hipóteses. Gil (1996, p. 43), contudo,
afirma que, "rigorosamente, todo procedimento de coleta de dados depende
da formulação prévia de uma hipótese. Ocorre que em muitas pesquisas as
hipóteses não são explícitas".
Em
estudo cujo objetivo é descrever um fenômeno ou apresentar suas características,
as hipóteses não precisam ser enunciadas formalmente; se a pesquisa, porém,
objetiva verificar relação de associação ou dependência entre variáveis, é
necessário elaborar uma hipótese de forma clara e precisa.
A
hipótese, respeitando-se sua natureza, não deve contradizer verdade já aceita,
ou explicada; deve ser simples (deve-se evitar hipótese complexa) e deve ser
verificável pelos fatos. Deve ser formulada de maneira clara e sem ambigüidade,
utilizando termos precisos e concisos. Deve ainda atribuir a cada questão uma
técnica adequada para a solução do problema.
Funções das hipóteses,
segundo Cervo e Bervian (1983, p. 29 s):
· Orientar o pesquisador, dirigindo-o na direção de uma causa
provável do fenômeno que investiga; para Garcia (1998, p. 33), as hipóteses
"funcionam como setas de um caminho a seguir, ora para definir
aspectos metodológicos adequados ao problema e conforme os objetivos, ora para
definir ações e traçar estratégias mais efetivas, especificar o problema,
melhor detalhar os objetivos e metas possíveis e almejadas da pesquisa e
orientar as explicações ou soluções do problema. Essas setas devem conduzir a
uma verificação empírica".
· Coordenar e completar os resultados obtidos, agrupando-os em um
conjunto completo de fatos, para facilitar a compreensão e o estudo.
Entre
as finalidades da hipótese na organização da pesquisa, ressaltam-se: (a) com
base em sua formulação técnica e apropriada, o pesquisador pode delinear a
amostra e fazer a seleção de variáveis para investigação; (b) favorecer a
concentração de esforços e evitar o dispêndio desnecessário de recursos; (c)
possibilitar a procura de informações teóricas adequadas à solução do
problema.
Garcia
(1998, p. 35) apresenta os seguintes exemplos de hipóteses:
Se os pais são ruins, os filhos também o serão.
De
pais ruins, podem-se esperar filhos não ruins, ou não necessariamente
filhos ruins.
De
pais não ruins, podem-se esperar filhos ruins.
De pais não ruins, podem-se esperar filhos não necessariamente ruins.
As
hipóteses seguintes, porque utilizam termos imprecisos e sem base empírica
para orientar a pesquisa, são consideradas confusas:
Maus juízes não deveriam atuar em processos penais, porque
podem trazer sérios riscos à sociedade ...
Promotores corajosos devem ser condecorados pelo Estado, para que
continuem sempre atuando com honestidade.
O
excesso de impostos leva os empresários a optar por políticas de contenção
de pessoal (os destaques mostram a ambigüidade dos termos
utilizados).
Exemplo de hipótese
formulada com clareza:
Inflação de menos de 2% ao ano eleva o crescimento
econômico industrial em 3%.
Os maus políticos devem ser expulsos de seus partidos, pois
atraem o desinteresse do eleitor.
São
os seguintes os critérios ou requisitos para a formulação de uma hipótese: (a)
consistência lógica: os termos do enunciado não podem ser contraditórios e ele
deve ser compatível com o conhecimento científico atual; (b) os fatos arrolados
devem ser verificáveis, passíveis de comprovação; por isso, não se admite o uso
de conceito moral, religioso, transcendente; (c) a conceituação deve ser clara
e compreensível; por isso, a necessidade de termos precisos e de se evitar
generalizações ("os conceitos empregados devem ser precisos, rigorosos e
previamente definidos para evitar ambigüidades" - Richardson, 1999, p.
106); (d) não deve basear-se em conceitos morais e subjetivos, e evitar
adjetivos como: bom, mau, jovem, velho, atual, antiquado, prejudicial; (e)
deve dispor de uma teoria que lhe dê sustentação.
As
hipóteses aparecem em todas as fases da pesquisa, mas principalmente no
planejamento da pesquisa, na introdução do relatório, na interpretação dos
dados levantados e na conclusão do trabalho.
Para
Richardson (1999, p. 64) as hipóteses podem ser formuladas de três formas: (a)
com apenas uma variável (univariáveis); (b) com duas ou mais variáveis ligadas
entre si (multivariáveis); (c) com relação de causa e efeito entre as variáveis
(de relação causal).
Variáveis
O
uso de variável na formulação de um enunciado científico tem como objetivo
alcançarlhe maior precisão. Uma variável pode assumir diferentes valores,
segundo as circunstâncias. São exemplos de variáveis: idade, sexo, categoria
social, estatura, peso, grau de escolaridade, estado civil, religião. Assim
podem-se observar as variáveis em destaque nas seguintes hipóteses:
O
índice de desistência no curso de Direito da Faculdade São Francisco
da USP é maior que o curso de Artes da ECA.
Solteiros freqüentam menos teatro que pessoas casadas ou que vivem
com alguém.
Mulheres analfabetas têm maior número de filhos que as que cursaram uma
faculdade.
A classe social de um aluno do curso de Direito influencia na escolha
da carreira (advocacia, magistratura, promotoria, procuradoria).
Nesse
caso, a variável classe social é
considerada variável independente, enquanto escolha da carreira é
a variável dependente.
Extraído de: MEDEIROS, João Bosco;
HENRIQUES, Antonio. Monografia no Curso
de Direito: como elaborar o trabalho de conclusão de curso (TCC). 6.ed. São
Paulo: Atlas, 2008.
Gostei muito da explicação .... realmente foi esclarecedora ! Parabéns ...
ResponderExcluirExcelente explicação. Parabens!
ResponderExcluirgostei muito da explicação;gostaria de obter mais exemplo de hipoteses especificas;plausivel;verificavel pelos processos cientificos; hipotese clara e hipotese consistente muito obrigado
ResponderExcluirMuito interessante! !!
ResponderExcluirMuito boa a explicação.
ResponderExcluirMuito grata por poder ajudar nos.
Bem explicado e claro
ResponderExcluirMUITO BOM
ResponderExcluir