domingo, 22 de abril de 2012

Da ressaca

Ruth Guimarães 

Em casa de enforcado, não falar em corda, lá diz sabiamente o ditado popular. Pois não falemos de ressaca neste momento de grandes festejos, mas da sua cura. 

O jornalista Henry Mc Lemore regressou de uma viagem ao Japão, com um processo extraordinário de cura da ressaca. 

“Quando lhe doer e latejar a cabeça, em conseqüência de excessos de bebida, dispa-se completamente, fique de pé, de pernas abertas sobre a terra nua, numa posição bem ereta, os punhos às costas, presos firmemente pelos dedos. Em seguida peça a uma pessoa que lhe despeje sobre a cabeça quatro ou cinco litros de água gelada. Isso completa o círculo celestial entre o céu e a terra, através do homem, expulsando-lhe do corpo o demônio da ressaca.” 

Suponhamos alguém resida num apartamento, no Rio de Janeiro ou São Paulo, centro, está curtindo uma dor de cabeça que o deixa louco, adquirida nas festas, e então resolve sair para tentar o heróico remédio japonês. Poderá escolher um canteiro florido, num dos parques da cidade, únicos lugares onde ainda poderá pôr pé em terra nua. 

O duro vai ser depois convencer o policial de serviço, a respeito do círculo celestial. 

Nos Estados Unidos os beberrões aconselham uísque com água gelada, para beber, como quem diz: mordida de cão se cura com o pêlo do próprio cão. 

Na mesma linha de pêlo de cão, temos o testemunho de W.C. Fields, o antigo ator cinematográfico, que preferia para tal cura cerveja preta ou branca, embora muitos dos seus conterrâneos prefiram gim e champanha em partes iguais. 

Os magiares, grandes cavaleiros e amantes de bebidas fortes, recomendam uma mistura de tabaco e esterco de andorinha, para beber. Os assírios de antanho usavam um pó de bicos de andorinha, fervido em água, juntamente com ervas aromáticas. Catão recomendava uma refeição sólida, constante de couves cozidas, com amêndoas amargas, amassadas, cruas. Plínio registrou para a ressaca um mingau feito com ovos de coruja, pulmões assados de javali, guisado sobre o qual se esparramaria pó de pedra-pomes. Na Riviera Francesa usa-se suco de limão, com absinto e xerez. 

No Brasil usa-se tudo isto: 

Gemada de cerveja gelada. Cerveja preta com champanha, mistura chamada Veludo Negro. Suco de tomate gelado. Chá de cravo da Índia. Suco de couve com pinga. Água de azeitona de lata. Comer batata cozida, fria. Chucrute frio. E por aí vai. 

Há outros remédios, digamos emocionais. Por exemplo: 

Mergulhar num banho de água gelada, que, com o susto, acaba a sonolência e o turvamento. Alguns recomendam apenas sentar na água gelada. Levar um susto muito grande. Saber uma notícia ou calamitosa ou como comunicado de morte, ou grandemente jubilosa, como ter tirado um prêmio de milhões na loteria. Ou morte da sogra. 

É muito usado um remédio preventivo: beber um litro inteirinho de leite gelado, antes de beber. 

Entretanto, seguro mesmo conhece-se um só remédio. 

NÃO BEBER.

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