domingo, 22 de abril de 2012

Poesias de Gilberto Amado

Ruth Guimarães

Inesperadamente, relendo “Poesias” de Gilberto Amado, vejo-me diante de uma nova “História de minha Vida”. Ali vemos a história da evolução literária do Autor, no terreno da Poesia, , como num espelho mágico, desfilarem as sucessivas imagens do que foi e do que é Gilberto Amado, o magnífico. É tão evidente esse característico que não sei se deva opor restrições contra a inclusão de algumas poesias que são excelentes exercícios de metrificação e rima, ou se louvar o corajoso desprendimento do Autor, arriscando-se a diminuir a qualidade do seu livro. Realmente, alguns poetas, por uma razão sentimental, que eu absolutamente não compreendo, conservam versos escritos há vinte anos, ou aos vinte anos. Quando são bons, não há objeção, é claro. Entretanto, ao que parece, em Gilberto Amado a sequência dos poemas obedece a um plano em linha ascendente, a uma história da sua poesia, contada sutilmente, implacavelmente, e em que ele se desnuda, modesto e arrojado a um tempo, e aparece em toda a sua plenitude, desvendando o seu processo de crescimento e de aprendizado, soberbo e inacessível, sem pudores literários e sem mistério, poeta ao natural como era homem ao natural um grego coroado de rosas.

É por isso que encontro em seu livro muitas poesias e algumas poesias e encontro ora poemas, ora a poesia, e encontro suas experiências e a sua experiência. E encontro ainda, inevitavelmente, um conglomerado de produções, meio caótico, onde se misturam escolas, ou melhor, onde as escolas se sucedem, o que não condiz com a serenidade olímpica do Autor.

O livro todo se compõe de seis partes, divididas não por assuntos, nem em versos tradicionais ou livres, mas por épocas. Épocas de vida, ao que parece. “Suave ascensão”, a primeira, é de 1917. As outras não têm data. Vêm depois: “Imagem do Brasil “, “Meu coração cresceu”, uma 4ª parte bipartida em “Visões e anseios” e “Instantâneos”, uma 5ª parte composta somente de “Sonetos” do mais puro parnasianismo, “Canção das Águas Claras”, sexta e última parte, um poema só, de metros misturados, quatro, cinco, seis e sete sílabas, o que lhe dá um ritmo, um embalo gostoso de canção.O que nos surpreende ao ler Gilberto Amado é encontrar um fenômeno muito raro no Brasil: um espírito helênico, impregnado do culto da Beleza. Ele tem o amor da claridade, e o culto da forma. Encarna bem o trinômio do classicismo, o Bem, o Belo e a Verdade, tudo em doses racionais, iguais, atuantes, e tem o poder de renovar e de ressuscitar, acompanhando pari passu a evolução, e mesmo indo adiante dela. Desses espíritos que jamais envelhecem.

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