sexta-feira, 20 de abril de 2012

Como formular um problema de pesquisa


A pesquisa somente tem início quando se tem uma dúvida, uma indagação, um problema. 

O que é um problema?
• Dicionário do Aurélio:
– Questão matemática proposta para que se lhe dê a solução;
– Questão não solvida e que é objeto de discussão, em qualquer domínio do conhecimento;
– Proposta duvidosa que pode ter diversas soluções;
– Conflito afetivo que impede ou afeta o equilíbrio psicológico do indivíduo.

Nem todo problema é passível de tratamento científico. Isto significa que para se realizar uma pesquisa é necessário, em primeiro lugar, verificar se o problema cogitado se enquadra na categoria de científico.

Não são Científicos
• O que fazer para melhorar os transportes urbanos?
• O que pode ser feito para melhorar a distribuição de renda?
• Como aumentar a produtividade no trabalho?
Não indagam como são as coisas, suas causas e conseqüências, mas indagam acerca de como fazer as coisas.
• Qual a melhor técnica psicoterápica?
• É bom adotar jogos e simulações como técnicas didáticas?
• Os pais devem dar palmadas nos filhos?
São problemas de valor. Indagam se é bom ou mau, desejável ou indesejável, certo ou errado, se é melhor ou pior, se deve ser feito ou não.

São problemas científicos:
• Quando envolvem variáveis que podem ser testáveis.
– Em que medida a escolaridade determina a preferência político partidária?
– A desnutrição determina o rebaixamento intelectual?
– Técnicas de dinâmicas de grupo facilitam a interação entre os alunos?
Todos acima contém variáveis suscetíveis de observação ou manipulação.
Como formular um problema
• Para muitos, não é tarefa fácil, portanto TREINE.
• Faça uma imersão no tema, converse com pesquisadores, estude a literatura sobre o assunto, discuta com quem vivencia na prática;
• Não é de forma mecânica, exige criatividade.

Algumas Regras Práticas
a) Deve ser formulado como pergunta;
b) Deve ser claro e preciso;
c) Deve ser empírico;
d) Deve ser suscetível de solução;
e) Deve ser delimitado a uma dimensão viável.

a) Deve ser formulado como pergunta;
• Se alguém disser que vai pesquisar sobre o divórcio, por exemplo, pouco estará dizendo.
Mas se propuser:
• Que fatores provocam o divórcio? ou
• Quais as características da pessoa que se divorcia?
Estará propondo um problema de pesquisa.
De um modo geral o estudante inicia o processo de pesquisa pela escolha de um tema, que por si só não constitui um problema. Ao formular perguntas sobre o tema, provoca-se a problematização.
b) Deve ser claro e preciso;
• Não são exemplos:
– O que acontece no sol?
– Como funciona a mente?
– O que determina a natureza humana?
• Reformulados:
– Que mecanismos psicológicos podem ser
identificados no processo de memorização?
Defina o termo – Definição Operacional dos Termos – Menino de Rua – Menino na Rua – Marginal – etc.
c) Deve ser empírico
• Transformar as noções iniciais em outras mais úteis, que se refiram diretamente a fatos empíricos e não a percepções pessoais:
• “Mau professor” (valor) _ professor que não prepara suas aulas; ou que seguem práticas autoritárias; que adotam critérios arbitrários de avaliação...
d) Deve ser suscetível de solução
• Como coletar dados necessários a sua solução?
• Ex: ligando-se o nervo ótico às áreas auditivas do cérebro, as visões serão sentidas auditivamente?
• Esta pergunta só poderá ser respondida quando a tecnologia neurofisiológica progredir a ponto de possibilitar a obtenção de dados relevantes.
Para formular um problema adequadamente é preciso ter o domínio da tecnologia adequada à sua solução. Caso contrário, o melhor será proceder uma investigação acerca das técnicas de pesquisa necessárias.
e) Deve ser delimitado a uma dimensão viável
• “Em que pensam os jovens?”
• Delimite a população dos jovens a serem pesquisados _ faixa etária, localidade, sexo...
• Delimite “o que pensam” _ sobre os problemas mundiais, atitude em relação à religião, mas ainda esta amplo.... _ restrinja a investigação do que os jovens de determinada cidade, bairro ou rua pensam acerca de alguns aspectos tais como “aborto”...
Chama-se a isto recortar o tema até o possível de ser executado, pelo tempo disponível, recursos, técnicas, instrumentos.
Problematização
Processos auxiliares na definição do problema:
1. Trata-se de um problema original e relevante?
2. Ainda que seja “interessante”, é adequado para mim?
3. Tenho hoje possibilidades reais para executar tal estudo?
4. Existem recursos (financeiros, materiais, humanos, etc.) para o estudo?
5. Há tempo suficiente para investigar tal questão?
Pergunta-se: qual a questão a ser resolvida?
• Problema jurídico é qualquer inquirição não resolvida e que por isso passa a ser objeto de discussão jurídica. Em outras palavras, é uma situação de conflito que encontra solução no âmbito do Direito.
• Formulação do Problema: É uma dificuldade de ordem prática, por exemplo:
Como fazer para evitar o uso abusivo da imprensa?
Exemplo
Assunto: Direito
Tema: Os crimes praticados na imprensa ou pela imprensa.
Problema Hipótese
Até que ponto os procedimentos previstos no ordenamento jurídico brasileiro são suficientes para conciliar a liberdade de imprensa (o direito de ser informado) com os demais direitos individuais, (o direito à honra e à privacidade), tutelados pela Constituição Federal de 1988, notadamente nos casos em que o uso abusivo da imprensa causar prejuízos a terceiros?
Há necessidade de se criar novos procedimentos jurídicos que conciliem direitos conflitantes.

Leituras Recomendadas
• SELLTIZ, Claire et.al. Métodos de pesquisas nas relações sociais. São Paulo: Herder, 1967.
O segundo capítulo deste livro é inteiramente dedicado à formulação do problema.
Esclarece como se passa do tema ao problema e indica as dificuldades que geralmente envolvem esse processo.

• TRUJILLO FERRARI, Alfonso. Metodologia da pesquisa científica. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1982.
Ao tratar do planejamento da pesquisa, no Capítulo 7, o autor considera as principais implicações referentes à escolha, identificação, definição e delimitação do problema.
Onde Encontrar Sugestões?

• GAMA, Ricardo Rodrigues. Monografia Jurídica. Campinas: Bookseller, 2001.
O Apêndice desse livro traz da página 193 até a página 397, sugestões de Assuntos com respectivas Referências Bibliográficas, o que facilita ao iniciante na fase exploratória de sua pesquisa.

Baseado em: Gil, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1991.

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