segunda-feira, 21 de maio de 2012

Fechamento de capitais

RESUMO

A regulamentação do mercado de ações é uma preocupação constante das empresas e do Governo. No ano de 2001, a reforma dada a Lei no. 6404/ 76 das Sociedades por Ações, sobre o processo de cancelamento do registro de companhia aberta, foi objeto de grandes discussões e um dos pontos mais controversos. Após atualizações da Lei das sociedades por ações, dadas pelas Leis no. 9.457/97 e 10.303/2001, as regras para o cancelamento do registro de capital aberto e as obrigações das empresas para com os acionistas minoritários tornaram-se mais claras e rígidas. As teorias da Administração ganharam força, aliadas a um novo segmento de listagem chamado Novo Mercado, criado pela Bovespa, com diferentes níveis de Governança Corporativa, focada na análise de instrumentos de controle das empresas e transparência. A partir daí, com a situação econômica do país estabilizada, juntamente com o retorno do investidor estrangeiro ao Brasil, o cenário tornou-se favorável e o mercado de capital foi impulsionado pelo ingresso das companhias brasileiras que viram na abertura de capital uma oportunidade de crescimento, fonte de liquidez e valorização de suas ações entre outras. Porém, as vantagens da abertura de capital estão intimamente ligadas à liquidez das ações da empresa e a negociação de valores expressivos de ações, por parte dos investidores, sem que isto gere grandes alterações ao seu valor. Contudo, existem questões como custos fixos e perda da confidencialidade que muitas vezes são motivos que levam algumas empresas a fecharem o capital. O objetivo desta pesquisa é identificar os motivos que conduziram empresas a cancelarem o registro de companhia aberta. As informações foram obtidas através do banco de dados da Bolsa de Valores e de uma pesquisa de campo, onde o instrumento de pesquisa utilizado para análise foi um questionário estruturado distribuído por meio eletrônico. Os resultados obtidos com a pesquisa permitem concluir que os fatores que mais influenciam na decisão de fechar o capital são os elevados custos, as exigências para a manutenção da empresa de capital aberto, o porte da empresa bem como a situação do mercado acionário.

Palavras-chave: Fechamento de capital, Oferta pública de ações, Cancelamento registro de companhia aberta; Sociedade anônima fechada.
“Mas o puro realismo não pode oferecer nada além de uma luta nua pelo poder, que torna qualquer tipo de sociedade internacional impossível. Tendo demolido a utopia atual com as armas do realismo, ainda necessitamos construir uma nova utopia para nós mesmos, que um dia haverá de sucumbir diante das mesmas armas. (...) aqui, portanto, está a complexidade, o fascínio e a tragédia de toda vida política. A política é composta de dois elementos – utopia e realidade – pertencentes a dois planos diferentes que jamais se encontram”.

                                                                    Edgar Carr, Vinte Anos de Crise

As velas para São Luís

Ruth Guimarães 

Não sei se com base folclórica ou religiosa, existe um costume com respeito aos moribundos: temos que lhes colocar uma vela. 

Ninguém estaria bem assistido em seus últimos momentos, se se não segurasse mal e mal, entre os dedos já sem movimento uma vela acesa, isto é, uma luz, para alumiar-lhe o caminho na outra vida. E isto estava arraigado no povo. Morrer sem uma vela, nem pensar! E os caminhos? E a luz? 

Conta-se de dois pretos, já de certa idade, arranchados numa clareira, carvoeiros que eram e lenhadores. Um deles se sentiu mal e começou a fazer termo para morrer. Eles tinham o seu machado , o facão, a bilha cheia d’água do riozinho, os mantimentos para a semana, a pedra de tirar fogo. Mas vela, nenhuma. Ninguém se lembrou desse utensílio. Não tem nada, não, que o preto comentou consigo mesmo. A gente dá jeito. Foi na touceira de taquaruçu, cortou um gomo bom de abarcar com os dedos, bolou um pavio de um pedaço de pano e pôs nas mãos do moribundo o precioso instrumento de encontrar o caminho no céu. Mas o companheiro, nada de morrer. Varou estertorando o resto do dia e a noite. E o fogo lavorando lento mas firme, gomo de taquaruçu abaixo. 

Um parênteses para explicar: alguém já viu queimada de moita de taquaruçu? Quando o fogo pega e se o vento ajuda, é cada estrondo na touceira , que parece uma caçada ou uma guerra. E aquele foguinho descendo. E o compadre, coitado, desprevenido do que estava para acontecer. Ia baita de um susto. O outro desesperou. 

- Compadre! – rogou – Pelo amor de Deus! Morra logo, antes que chegue no nó! 

Vêm-me a lembrança as noites de tempestade, quanto estouram os gomos de taquaruçu, grávidos de sacis, um negrinho em cada gomo. De cada estouro vai saindo para o mundo, pulando e assobiando, a sacizada. O pipocar é de uma guerra. E é prevendo essa guerra esse aluvião de sacis, libertados em noite de tempestade, que o pobre velho, acompanhante da alma que agoniza sem vela, vai rezando e entremeando as palavras sagradas, com o acréscimo de palavras de sua intenção particular: “Morra logo, compadre, antes que chegue no nó!” 

São Luiz do Paraitinga tem relações muito satisfatórias com o saci. De lá partiu uma campanha de fortificação do mito Pererê em contraposição ao halloween. Nessa campanha tomaram parte todos os artistas, dom Quixotes, da cidade. Empenharam-se a valer, inclusive insistindo numa pergunta a que os brasileiros teriam que responder: 

- Você acredita em Saci? 

A mim jamais fizeram tal indagação. 

É sabido que eu brincava com o saci, nas moitas de perpétua em flor do jardim da minha avó. 

Dali (de São Luís, digo), veio o quarteto Pererê. Veio a campanha de substituir o halloween americano pelo saci, duende-menino tão inofensivo e até divertido. Teve a sua graça e somente não vingou a excelente ideia, porque os caminhos do folk são outros caminhos. 

Que podem contra eles os frágeis pensamentos dos homens? 

Mas São Luís tem outras amáveis acontecências. Por exemplo as músicas dolentes de Elpídio dos Santos, de quem neste ano se comemora o centenário de nascimento. Tem o carnaval das marchinhas dos carnavais de antanho, que falam ao nosso coração brasileiro. E aqueles prédios que caíram, mas vão se erguer novamente, para gáudio dos paraitinganos, antigos e novos, a um tempo, numa demonstração de que todos carregam velas para a nova vida de São Luís do Paraitinga. Numa demonstração de que Deus vai acabar caminhando direito por linhas tortas. 

Como sempre.

Da agricultura

Ruth Guimarães 

Essa historia de lavrador perder porque colhe demais e porque colhe de menos, perder quando chove e quando não chove, perder quando o Governo financia e quando não financia, até me faz lembrar os dois caipiras que foram tirar cipó no mato. Um subiu pelo cipó, calculou uma extensão boa, dava para fazer muita cesta e trançar muita corda, cortou abaixo de si com a foicinha e ficou pendurado no alto, sem meios de descer. O compadre que estava com ele quase morreu de rir. Uai! E como é que eu ia cortar? Cê vai ver. Marinhou pelo cipozão, chegou bem no alto, perto das pontas folhudas da árvore, cortou um palmo mais ou menos acima da sua cabeça, e despencou no chão feito uma abóbora podre. (Uai! Eu não sei como se corta cipó.) 

Há uns anos, ou melhor, há muitos e muitos anos, os fazendeiros do Vale do Paraíba entraram em greve para conseguir o aumento do leite, sem o que não conseguiriam sobreviver. Vaca não quer ouvir falar de greve, e Deus não colabora pois o leite tem que ser tirado todos os dias. A greve consistia em deixar de o entregar às cooperativas de laticínio para ser pasteurizado e encaminhado a São Paulo. A princípio os fazendeiros – e são cerca de quatrocentas as fazendas só no município de Cachoeira Paulista – distribuíam-no pela população. Apareceu um fiscal do Governo em nome de não sei que lei da Saúde Pública, que proibia a distribuição do leite não pasteurizado. A cooperativa pasteurizava para vender, não para dar. Desse lado, nada feito. E os fazendeiros, compassivos, ou avarentos, ou temerosos do castigo divino, sei eu, tiveram que fazer como se havia resolvido no começo: jogar o leite fora. 

Pois desses quatrocentos fazendeiros, calejados no negócio, donos de fazendas que passam de pais para filhos há dezenas de anos, nem um havia, mas nenhum mesmo, que tivesse condições, material rústico, tachos, fogões de tijolos com grandes trempes, para improvisar uma fabriquinha de cocada de leite, e nem um, nem um mesmo, tinha uma queijeira. Para enfrentar uma eventualidade estavam completamente inermes. E o leite foi jogado no Paraíba. Durante dias, até que se normalizou a situação e foram ouvidos os pleiteantes, o Paraíba corria esbranquiçado, grosso, leitoso, com mais de trinta mil litros do líquido que fazia falta a milhares de crianças, misturado às suas águas. 

Os nossos índios já conheciam a historia dos macacos jurupixuna, os de boca preta que, entanguidos de frio e molhados nos dias de chuva, se lembravam que precisavam fazer casa. 

Isso os macacos. 

Mas entre os humanos é levar um pouco longe demais a observância às formosas palavras de Cristo: e assim não andeis inquietos pelo dia de amanhã... 

Pois acontece que o dia de amanhã já é hoje.

Pobreza

Ruth Guimarães 

O pobre é importante porque trabalha. Tem dignidade porque trabalha. Cresce porque trabalha. Demos de tirar-lhe tudo isso. E dá-lhe obras assistenciais. E dá-lhe esmolas. E dá-lhe o ser inútil, para si e para os demais. Dá-lhe o não ser. E então o povo não faz, não pensa, não quer. 

Deus, o que estamos fazendo com a tua obra! 

Estamos cansados de saber que há mais empregos que possíveis empregados. Que não há bastante gente capaz para impulsionar a barca da coisa pública. Que nossa deficiência é governamental. Que não sabemos investir na área certa. Que as nossas prioridades estão jogadas pras cobras. Que não temos nem teremos educação nem saúde. Que pedimos trabalho, cidadania, dignidade e nos dão PAC e bolsa família. 

Precisamos de boa formação e segurança e nos dão o massacre dos professores e dos policiais. 

Este país tiene gobierno? 

E a essa juventude que pede ensino, que necessita de ensino, dão-lhe esmolas. 

Dão-lhe a progressão continuada sem capacitar o magistério. Proíbem-no de trabalhar antes dos 16, quando então já estará nas mãos do traficante. As intenções estão piorando. Pois não é que queremos encampar SS, às únicas instituições que preparam veramente para o trabalho? Para continuar a excelente obra começada esta tierra tiene gobierno 

A intenção não é acabar com a pobreza é acabar com o pobre, a intenção é reinaugurar a escravidão e ser dono do trabalhador tutelado até na hora do voto. 

Entonces eu sou contra. 

O pobre é mais necessário do que o rico. É ele que faz. E na maior parte das vezes é o que pensa. A maioria dos filósofos era pobre. Que fizeram os cresos de que temos notícia? O que cozinha, o que capina, o que dirige os ônibus e os três. E os pilotos. O que varre e o que lava. O que planta e o que colhe. O que constrói? O que vigia? O que costura. O que dança nas ruas, o que lota as arquibancadas, o palhaço e o malabarista. Restas? 

O que tece. O que limpa. O que escuta. O que faz. O que escolhe. O que espera. O que ajuda. O companheiro. Com o pobre se conta, se vive, se descansa, se desabafa, se alegra. 

Acabar com a pobreza como quer um infalível Presidente não dá. Vamos. Além, esfregão de casas ricas e ariador de panela. 

Não acaba com a pobreza, mas acaba com o pobre. É o rico que precisa do pobre, não o contrário. Poder. Mas de que lado está o poder. 

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Método do estudo eficiente


O método do estudo eficiente se reduz nos seguintes pontos fundamentais:

  1. Finalidade – desenvolver hábitos de estudo eficiente que não se restrinjam apenas a determinado setor de atividade ou matéria específica, mas hábitos que sejam válidos, pelo processo de transferência de aprendizagem, para as demais situações e sejam eficientes para o transcurso da vida.
  2. Abrangência – servir de instrumento a todos que tenham as mesmas necessidades e interesses, em qualquer fase de desenvolvimento e escolaridade, podendo aperfeiçoar-se à medida que o indivíduo progride, através de seus próprios recursos.
  3. Processamento – ser GLOBAL – PARCIAL – GLOBAL, seguindo assim o princípio geral que rege a própria natureza: o desenvolvimento “difuso-analítico-sintético”.

Como o processamento é a razão de ser do método, teremos condições de estabelecer que as técnicas do estudo eficiente derivam dessas três fases, conforme se pode perceber no quadro abaixo. Leia-o refletidamente e imagine-o colocado como uma resposta ao seu problema de estudante interessado em maior rendimento no estudo.

FASES
ATITUDE E COMPORTAMENTO
TÉCNICAS BÁSICAS DO ESTUDO PELA LEITURA
1.GLOBAL
Curiosidade

Interesses



Propósito definido



“olho clínico”
Atenção

Não passividade


1. Perguntar-se antes do estudo-leitura:
- qual é o assunto?
- o que eu sei sobre isso?
- que acho que vai tratar-se aqui?
2. Pausa para responder mentalmente a essas perguntas.
3. Leitura rápida sobre o livro (quando é o primeiro contato com ele):
– tentar obter o plano da obra.
- informações sobre o autor e seu trabalho
- tentar descobrir seu método expositivo
4. Leitura rápida sobre o capítulo, a lição:
- tentar apenas se informar do que se trata
- tentar esboçar o plano do capítulo ou do texto
- estabelecer rapidamente relação com temas anteriores
Esta primeira leitura é sem anotações – “veloz”, sem análises – levada a cabo, mesmo sem entender tudo.
2. PARCIAL
Concentração

Análise
Crítica







Síntese

Sistematização



Ordenação lógica
5.    Nova leitura: demorada, refletida
– assinalar as partes importantes
– obtenção da idéia principal
– obtenção dos detalhes importantes
- assinalar à lápis no livro
- relacionar as partes
- criticar (se for o caso) pontos de vista do autor
- confrontá-los com os próprios
- levantar dúvidas
- procurar respostas
6. Anotações (de preferência em fichas)
- breves transcrições
- esquemas
- resumos próprios
- conclusões tiradas
- análises e críticas pessoais (se for o caso)
- documentar-se não apenas para o presente, o imediato. A anotação deve servir para o futuro. Daí ser concisa, sem ser obscura.
7. Relacionar o assunto com o anterior e o seguinte.
Consultar outras fontes. Não escravizar-se ao livro de textos.
3. GLOBAL
Concentração


Persistência

Adaptação às situações reais, fora do contexto lido
8. Revisão e assimilação
- rever toda a anotação feita
- confrontar com o texto
- repetir para si o aprendido, imaginando que o está comunicando a alguém
- treinar-se para que tal “comunicação” tenha clareza e seqüência lógica
- testar a memória para assegurar-se de que não esqueceu algo importante. Não decorar, mas  assimilar.

O estudante que adquirir o hábito de estudar com tal método pode estar tranqüilo que obterá grandes vantagens.
Conseguirá maior produção ideativa e racional. Sua memória intelectual aumentará sensivelmente. Obterá maior capacidade de análise e de síntese. Terá mais facilidade na comunicação. Sobretudo, se completar o próprio método com a prática da “discussão” de assuntos em equipe ou em grupo de estudo.  A experiência ensina que o estudo em grupo só tem eficácia se todos os elementos já vão para o estudo coletivo com o conhecimento da matéria. O estudo coletivo servirá para resolver dúvidas, estabelecer confronto dos próprios pontos de vista com os dos colegas. Ajuda a desenvolver, sobretudo, a capacidade de comunicação. A ilusão de muitos estudantes é estabelecer o estudo em grupo como uma das modalidades de estudar pela primeira vez um assunto. Geralmente o resultado é negativo e constitui perda inestimável de tempo.
O método acima apontado apresenta ainda uma grande utilidade armazenagem de conhecimentos e documentação para a vida.
O estudante que intenciona desenvolver-se e mais tarde transformar-se em autêntico trabalhador intelectual, a par da atividade de “estudar para fazer o curso”, tem de interessar-se curiosamente por outras fontes de informação que não o livro texto, habituar-se a ler os autores e suas teorias e, sobretudo, procurar com vontade e persistência respostas aos problemas que ele mesmo levanta. Tem de habituar-se a questionar por iniciativa própria, para tirar as suas conclusões.
Sabemos que dentro da estrutura do nosso ensino superior, é praticamente impossível atingir, em todos os setores, o objetivo da “escola laboratório”, onde o aluno pratica, experimenta, investiga. A maior parte de sua formação intelectual se faz através de livros. Mas que não seja exclusivamente através de livros de textos, de manuais adotados. Mesmo sem possibilidade de praticar, experimentar e investigar deverá desenvolver o hábito de estudar fora dos compêndios, indo direto às fontes, consultando as obras importantes daquela especialização e os artigos científicos dos periódicos.



SALOMON, Délcio Vieira. O Método do Estudo Eficiente. In: _________. Como fazer uma monografia: elementos de metodologia do trabalho científico. 5.ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977. Cap 1.p.32-36.

A organização da vida de estudos na universidade

Ao dar início a essa nova etapa de sua formação escolar, a etapa do ensino superior, o estudante dar-se-á conta de que se encontra diante de exigências específicas para a continuidade de sua vida de estudos. Novas posturas diante de novas tarefas ser-­lhe-ão logo solicitadas. Daí a necessidade de assumir prontamente essa nova situação e de tomar medidas apropriadas para enfren­tá-la. É claro que o processo pedagógico-didático continua, as­sim como a aprendizagem que dele decorre. No conjunto, po­rém, as suas posturas de estudo devem mudar radicalmente, embora explorando tudo o que de correto aprendeu em seus estu­dos anteriores.

Em primeiro lugar, é preciso que o estudante se conscientize de que doravante o resultado do processo depende fundamental­mente dele mesmo. Seja pelo seu próprio desenvolvimento psí­quico e intelectual, seja pela própria natureza do processo educa­cional desse nível, as condições de aprendizagem transformam­-se no sentido de exigir do estudante maior autonomia na efetiva­ção da aprendizagem, maior independência em relação aos subsí­dios da estrutura do ensino e dos recursos institucionais que ain­da continuam sendo oferecidos. O aprofundamento da vida ci­entífica passa a exigir do estudante uma postura de auto-ativi­dade didática que será, sem dúvida, crítica e rigorosa. Todo o conjunto de recursos que está na base do ensino superior não pode ir além de sua função de fornecer instrumentos para uma atividade criadora. 

Em segundo lugar, convencido da especificidade dessa situa­ção, deve o estudante empenhar-se num projeto de trabalho alta­mente individualizado, apoiado no domínio e na manipulação de uma série de instrumentos que devem estar contínua e permanente­mente ao alcance de suas mãos. É com o auxílio desses instrumen­tos que o. estudante se organiza na sua vida de estudo e disciplina sua vida científica. Este material didático e científico serve de base para o estudo pessoal e para a complementação dos elementos ad­quiridos no decurso do processo coletivo de aprendizagem em sala de aula. Dado o novo estilo de trabalho a ser inaugurado pela vida universitária, a assimilação de conteúdos já não pode ser feita de maneira passiva e mecânica como costuma ocorrer, muitas vezes, nos ciclos anteriores. Já não basta a presença física às aulas e o cum­primento forçado de tarefas mecânicas: é preciso dispor de um ma­terial de trabalho específico à sua área e explorá-lo adequadamente. 

1. OS INSTRUMENTOS DE TRABALHO 

A formação universitária acarreta quase sempre atividades práticas, de laboratório ou de campo, culminando no fornecimen­to de algumas habilidades profissionais próprias de cada área. Na­turalmente, as várias áreas exigem, umas mais, outras menos, essa prática profissional. Contudo, antes de aí chegar, faz-se necessário um embasamento teórico pelo qual responde, fundamentalmente, o ensino superior. Essa fundamentação teórica das ciências, das artes e das técnicas é justificativa essencial desse nível de ensino. E é por aí que se inicia a tarefa de aprendizagem na universidade. 

A assimilação desses elementos é feita através do ensino em classe propriamente dito, nas aulas, mas é garantida pelo estudo pessoal de cada estudante. E é por isso que precisa ele dispor dos devidos Instrumentos de trabalho que, em nosso meio, são fundamentalmente bibliográficos. . 

Ao dar início a sua vida universitária, o estudante precisa co­meçar a formar sua biblioteca pessoal, adquirindo paulatinamen­te, mas de maneira bem sistemática, os livros fundamentais para o desenvolvimento de seu estudo. Essa biblioteca deve ser especia­lizada e qualificada. As obras de referência geral, os textos clássi­cos esgotados, são encontrados nas bibliotecas das universidades, das várias faculdades ou de outras instituições. E, no momento oportuno, essas bibliotecas devem ser devidamente exploradas pelo estudante. O estudante precisa munir-se de textos básicos para o estudo de sua área específica, tais como um dicionário, um texto introdutório, um texto de história, algum possível tratado mais am­plo, algumas revistas especializadas, todas obras específicas à sua área de estudo e a áreas afins. Posteriormente, à medida que o cur­so for avançando, deve adquirir os textos monográficos e especia­lizados referentes à matéria. 

Esses textos básicos aqui assinalados têm por finalidade úni­ca criar um contexto, um quadro teórico geral a partir do qual se pode desenvolver a aprendizagem, assim como a maturação do próprio pensamento. Esses textos exercem, portanto, papel mera­mente propedêutico, situando-se numa etapa provisória de inicia­ção. Não se trata de maneira alguma de restringir o estudo aos manuais ou, pior ainda, às apostilas. Eles se fazem necessários, con­tudo, nesse momento de iniciação, sobretudo para complementar as exposições dos professores em classe, para servir de base de comparação com algum texto porventura utilizado pelos professo­res, enfim, para fornecer o primeiro instrumental de trabalho nas várias áreas, o vocabulário básico, os elementos do código das vá­rias disciplinas. Esses textos desempenham, pois, o papel de fon­tes de consultas das primeiras categorias a partir das quais se de­senvolverão os vários discursos científicos. Naturalmente, à medi­da do avanço e do aprofundamento do estudo, serão progressiva­mente substituídos pelos textos especializados, pelos estudos monográficos resultantes das pesquisas elaboradas pelos vários especialistas com os quais o estudante, deverá conviver por muito tempo. Numa fase mais avançada de seus estudos e, sobretudo durante sua vida profissional, esses textos formarão a biblioteca do estudante, lançando as linhas mestras do seu pensamento cien­tífico organicamente estruturado. Nesse momento, os textos introdutórios só serão utilizados para cobrir eventuais lacunas do processo seqüencial de aprendizagem. Frise-se, porém, que, na universidade, não se pode passar o tempo todo estudando apenas textos genéricos, comentários e introduções, embora, pelo menos nas atuais condições, iniciar o curso superior única e exclusiva­mente com textos especializados, sem nenhuma propedêutica teó­rica, seja um empreendimento de resultados pouco convincentes. Embora essa concepção de muitos professores universitários de­corra do esforço para criar maior rigor científico, tal prática não se recomenda como norma geral. Seus resultados históricos são, em alguns casos, brilhantes, mas foram obtidos com sacrifício de mui­tas potencialidades que se perderam neste salve-se-quem-puder que acaba agravando a situação de discriminação e de seleção de nosso ensino superior. O universitário deve poder passar por um encaminhamento lógico que o inicie ao pensar, por mais que o pro­fessor não goste de executar essa tarefa. Ao professor não basta ser um grande especialista: é preciso dar-se conta de que é também um professor e mestre, conseqüentemente, um educador inserido numa situação histórico-cultural de um país que não pode desco­nhecer. Isto não quer dizer que o professor sabe tudo: mas que deve saber, pelo menos, conduzir os alunos a descobrirem as vias de aprendizagem. O uso inteligente desses textos auxiliares não prejudicará, em hipótese alguma, a qualificação do ensino. 

A esta altura das considerações sobre os instrumentos de tra­balho de que o estudante universitário deve munir-se, é preciso dar ênfase às revistas, as grandes ausentes do dia-a-dia do trabalho acadêmico em nosso meio universitário. A assinatura de periódi­cos especializados é hábito elementar para qualquer estudante exi­gente. Tais revistas mantêm atualizada a informação sobre as pes­quisas que se realizam nas várias áreas do saber, assim como sobre a bibliografia referente às mesmas. Em algumas áreas, acompanham essas revistas repertórios bibliográficos, outro indispensável instru­mento do trabalho científico. A função da revista enquadra-se na vida Intelectual do estudante enquanto lhe permite acompanhar o desenvolvimento de sua ciência e das ciências afins. Com efeito, ao fazer o curso superior, o estudante é levado a tomar conheci­mento de todas as aquisições da ciência de sua especialidade, obti­das durante toda sua formação. Esse acervo cultural acumulado, porém, continua desenvolvendo-se dinamicamente. Por isso além de assimilar essas aquisições, deve. passar a seguir sua solução, que estaria a cargo dessas publicações periódicas. O mínimo que uma revista fornece são informações bibliográficas preciosas, além de resenhas e de outros dados sobre a vida científica e cultural. 

Deve ser igualmente estimulada entre os universitários, de ma­neira incisiva, a participação em acontecimentos extra-escolares, tais como simpósios, congressos, encontros, semanas etc. 

É impossível indicar neste livro todos os textos básicos im­portantes para as várias disciplinas. Em geral, os professores já fazem constar da sua programação essa bibliografia. Apesar de haver a mesma dificuldade a respeito das revistas, são assinala­dos, em anexo, alguns periódicos brasileiros, pertinentes a algu­mas áreas de nosso ensino superior, sem pretensão alguma de es­gotar a informação a esse respeito, para os estudantes deles toma­rem conhecimento e, eventualmente, passarem a assinar alguns que possam mais diretamente lhes interessar. 

Quando se fala aqui desses instrumentos teóricos especializa­dos, livros ou revistas, considerados como base para o estudo e pesquisa dos fatos e categorias fundamentais do saber atual, não se quer fazer apologia da hiperespecialização, hermética e isolada. Pelo contrário, a interdisciplinaridade é um pressuposto básico de toda formação teórica. As disciplinas não se isolam no contexto teórico: se o curso do aluno define o núcleo central de sua especia­lização, é de se notar que sua formação exigirá igualmente abertu­ra de complementação para áreas afins com o objetivo de ampliar o referencial teórico. Por isso é importante familiarizar-se com o material relativo a essas disciplinas afins. Assim, não só textos bá­sicos, mas também revistas de áreas complementares à da sua es­pecialização, devem, paulatina e sistematicamente, ser adquiridos, na medida do possível. 

Assim serão indicados em anexos, no final deste livro, alguns instrumentos de trabalho acessíveis ao estudante brasileiro. Ênfase especial será dada às revistas cujo uso mais sistemático e inten­sivo precisa ser instaurado no meio universitário. Também já exis­tem no Brasil alguns repertórios bibliográficos de boa qualidade, mas, em geral, pouco conhecidos e utilizados. O mesmo se diga dos di­cionários especializados, que, embora sejam traduções, na sua gran­de maioria são instrumentos de grande utilidade para o estudante universitário. 

Dentre os instrumentos para o trabalho científico disponíveis atualmente, cabe dar especial destaque aos recursos eletrônicos ge­rados pela tecnologia informacional. De modo especial, cabe refe­rir à rede mundial de computadores, a Internet, e aos muitos recursos comunicacionais da multimídia, como os disquetes e CD­ROMs. Também sobre o uso desses recursos se falará adiante, sub­sidiando o estudante para utilizá-Ios adequadamente. (p. 125-8) 

2. A EXPLORAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE TRABALHO 

Esse material didático científico deve ser considerado e trata­do pelo estudante como base para seu estudo pessoal, que complementará os dados adquiridos através das atividades de clas­se. Uma vez documentada a matéria abordada em aula, devem ser igualmente documentados os elementos complementares a essa ma­téria e que são levantados mediante a pesquisa feita sobre este material de base. É que muitos esclarecimentos só se encontram através desses estudos pessoais extraclasse. As técnicas e a prática da documentação são expostas no próximo capítulo. 

A documentação como prática do trabalho científico é a ma­neira mais adequada e sistemática de "tomar apontamentos". As informações colhidas nas aulas expositivas, nos debates em gru­po, nos seminários e conferências são assinaladas, num primeiro momento, de maneira precária e provisória, nos cadernos de ano­tações. Ao retomar, em casa, as anotações, o estudante submete-­las, á a um processo de correção, de complementação e de triagem após o qual serão transcritas nas fichas de documentação. Com efei­to, ao tomar notas durante uma exposição, muitas idéias acabam ficando truncadas: é preciso reconstruí-Ias. O contexto ajudará tanto mais que o que importa reter não é o texto da exposição do profes­sor, mas as idéias principais. 

Cabe lembrar que para tomar notas de uma aula, de uma pa­lestra, de um debate, não é preciso gravar a exposição nem taquigrafar o discurso feito, palavra por palavra. Não há, nesses casos, necessidade de registrar o texto integral da fala, pois tal ta­refa, além de difícil tecnicamente, atrapalha a concentração do ouvinte para pensar no que vem sendo dito. 

O que melhor se faz é ir registrando palavras ou expressões que traduzam conteúdos conceituais, geralmente categorias substantivas ou verbais. Portanto, vai-se registrando uma seqüência de categorias, sem a estruturação lógico-redacional explícita da frase. Não é preciso preocupar-se com a falta do texto completo nem com a ausência de muitos dos detalhes da exposição do professor ou do palestrante. É preferível e mais eficiente concentrar-se nas idéias fundamentais, procurando expressá-Ias mediante algumas catego­rias básicas e investir na compreensão, na apreensão das idéias do orador. 

Ao ir registrando essas categorias, deve-se separá-Ias por bar­ra transversal //. Ao retomar, em momento posterior, esses aponta­mentos, o ouvinte que esteve atento conseguirá recompor a síntese relevante do discurso, bem em cima do eixo essencial da reflexão. 

Tratando-se de dados objetivos ou de conceitos precisos que ficaram incompletos, é hora de recorrer aos instrumentos pessoais de pesquisa, às obras básicas de referência. Procura-se assim re­compor o texto, complementando-o com esclarecimentos pertinen­tes que vão ajudar a compreender melhor as informações presta­das. Recuperadas as informações, os elementos fundamentais, aqueles que merecem ser assimilados, são passados para as fichas de documentação, sintetizados pessoalmente pelo aluno. 

Observe-se que ao proceder assim o aluno está trabalhando de maneira inteligente e racional, realizando simultaneamente to­das as dimensões da aprendizagem. Em nenhum momento está preocupando-se com o "decorar", com o "memorizar”. Está tão ­somente pensando nas idéias que está manipulando. Está pensan­do à medida que se esforça para construir o sentido dos conceitos ou das idéias em jogo. Está ainda pesquisando, comparando, infor­mando-se. Através desse conjunto de atividades que envolve com o pensamento, facilitando as tarefas física e psíquicas do estudo, o aluno adquire maior familiaridade com o assunto por mais difícil e estranho que possa parecer à primeira vista. Ademais não é.pre­ciso esperar que domine já dessa feita todo o conteúdo e seus des­dobramentos. O próprio desenvolvimento do curso e esse sistema de documentação irão lhe proporcionar outras oportunidades para a retomada desses temas que, nas sucessivas apresentações, já es­tarão cada vez mais familiares. 

A orientação para a revisão da matéria vista em aula pode ser adaptada às outras situações criadas para o estudante no caso da participação do trabalho em grupo, da preparação do seminário e da elaboração do trabalho de pesquisa. Nessas situações, o pro­cedimento básico de estudo é o mesmo, apesar das diferenças de objetivo. O estudante analisa o material proposto fazendo as devi­das anotações sob forma de documentação. 

3. A DISCIPLINA DO ESTUDO 

Apesar da aparente rigidez desta proposta de metodologia de estudo, ela é, sem dúvida, a mais eficiente. Pressupõe um mínimo de organização da vida de estudos, mas, em compensação, torna­-se sempre mais produtiva. Em virtude de os universitários brasi­leiros, na sua grande maioria, disporem de pouco tempo para seus cursos e exercerem funções profissionais concomitantes ao curso superior, exige-se deles organização sistemática do pouco tempo disponível para o estudo em casa, indispensável para um aprovei­tamento mais inteligente do seu curso de graduação, com um mí­nimo de capacitação qualitativa para as etapas posteriores tanto numa eventual seqüência de seus estudos, como na continuidade de suas atividades profissionais definidas e oficializadas pelo seu curso. 

Não se trata de estabelecer uma minuciosa divisão do horário de estudo: o essencial é aproveitar sistematicamente o tempo dis­ponível, com uma ordenação de prioridades. Também não vem ao caso discutir as condições de ordem física e psíquica que sejam melhores para o estudo, muito dependentes das características pessoais de cada um, sendo difícil estabelecer normas gerais que acabam caindo numa tipologia artificial. 

Feito o levantamento do tempo disponível, predetermina-se um horário para o estudo em casa. E uma vez estabelecido o horá­rio, é necessário começar sem muitos rodeios e cumprí-Io rigoro­samente, mantendo um ritmo de estudo. Vencida a fase de aquecimento e seguindo as diretrizes apresentadas para a exploração do material neste e nos próximos capítulos, a produção do trabalho torna-se eficiente, fluente e até mesmo agradável. 

Tais diretrizes são aplicáveis igualmente ao estudo em grupo. Uma vez reunidos no horário combinado, os elementos do grupo devem desencadear o trabalho sem maiores rodeios, definindo-se as várias tarefas, as várias etapas a serem vencidas e as várias for­mas de procedimento. 

Quando o período de estudo ultrapassar duas horas, faz-se regra geral um intervalo de meia hora para alteração· do ritmo de trabalho. Esse intervalo também precisa ser seguido à risca. 

Recomenda-se distribuir um tempo de estudo para os vários dias da semana, com objetivo de revisara matéria ou preparar au­las das várias disciplinas nos períodos imediatamente mais próxi­mos às suas aulas. Caso haja necessidade de um período maior de concentração, a distribuição do tempo para as várias matérias le­vará em conta a carga de trabalho de cada uma e o grau de dificul­dade das mesmas. 

CONCLUSÃO

Para acompanhar o desenvolvimento do seu curso, o aluno deve preparar e rever aulas. O cronograma de estudo possibilita ao aluno maior proveito da aula, seja ela expositiva, um debate ou um seminário.
Tratando-se de aula expositiva, até a tomada de apontamentos torna-se mais fácil, dada a familiaridade com a matéria que está sendo exposta; conseqüentemente, há melhores con­dições de selecionar o que é essencial e que deve ser anotado/evi­tando-se a sensação de "estar perdido" no meio de informações aparentemente dispersas. Tratando-se de seminários ou debates, mais necessária se faz ainda a preparação prévia do que se falará ulteriormente. 

A revisão da aula situa-se como a primeira etapa de persona­lização da matéria estudada. É o momento em que se retomam os apontamentos feitos apressadamente durante a aula e se dá acaba­mento aos informes, recorrendo-se aos instrumentos complemen­tares de pesquisa, após uma triagem dos elementos que passarão definitivamente para as fichas de documentação. Não há necessidade, neste momento, de decorar os apontamentos: basta transcrevê-Ios pensando detidamente sobre as idéias em causa e buscando uma compreensão exata dos conteúdos anotados. Rever essas fichas como preparação da aula seguinte é medida inteligente para o paulatino domínio de seu conteúdo. 


SEVERINO, Antonio Joaquim. A organizacão da vida de estudos na universidade. In: _______. Metodologia do Trabalho Cientifico. 22ed. São Paulo: Cortez, 2002. Cap 1. p.23-33. 

Declaração dos direitos do homem e do cidadão: 26 de agosto de 1789

Os representantes do povo francês, constituídos em Assembléia nacional, considerando que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem é as causas únicas das infelicidades públicas e da corrupção dos governos, resolvem expor, numa declaração solene, os direitos naturais, inalienáveis e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, constantemente presente a todos os membros do corpo social, lhes lembre sem cessar seus direitos e seus deveres, a fim de que os atos do poder legislativo e os do poder executivo, podendo ser a cada instante comparados com a meta de toda instituição política, sejam mais respeitados, a fim de que as reclamações dos cidadãos, fundadas de agora em diante sobe princípios simples e incontestáveis, se destinem sempre à manutenção da constituição e à felicidade de todos. Por conseguinte, a assembléia Nacional reconhece e declara, em presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão: 

Artigo l. Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos. As distinções sociais não podem ser fundamentadas senão sobre a utilidade comum. 

Artigo 2. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são: a liberdade, a prosperidade, a segurança e a resistência à opressão. 

Artigo 3. O princípio de toda soberania reside essencialmente na nação; nenhum corpo, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente. 

Artigo 4. A liberdade consiste em poder fazer tudo aquilo que não prejudique a outrem; assim sendo, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem outros limites senão os que assegurem aos demais membros da sociedade o gozo desses direitos. Tais limites não podem ser determinados senão pela lei. 

Artigo 5. A lei só tem direito de proibir as ações prejudiciais à sociedade. Tudo quanto não for proibido pela lei pode ser impedido e ninguém pode ser constrangido a fazer o que ela não ordena. 

Artigo 6, A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de concorrer, pessoalmente ou pelos seus representantes, na sua formação. Ela tem de ser a mesma para todos, quer seja protegendo, quer seja punindo. Todos os cidadãos, sendo iguais aos seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a capacidade deles, e sem outra distinção do que a de suas virtudes e talentos. 

Artigo 7. Nenhum homem pode ser acusado, preso nem detido senão determinados. Pe1a lei, e segundo as formas que ela prescreveu. Aqueles que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser punidos; mas todo cidadão chamado ou detido em virtude da lei deve obedecer a incontinente; ele se torna culpado pela resistência. 

Artigo 8. A lei só deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias, e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e promulgada anteriormente ao delito e legalmente aplicada. 

Artigo 9. Todo homem sendo presumido inocente até que tenha sido declarado culpado, se julgar indispensável detê-lo, todo rigor que não for necessário para garantir a sua detenção deve ser severamente reprimido pela lei. 

Artigo 10. Ninguém deve ser molestado pelas suas opiniões, mesmo religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública, estabelecida pela lei. 

Artigo 11. A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem; todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo pelo abuso dessa liberdade nos casos determinados pela lei. 

Artigo 12. A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública; por conseguinte, esta força fica instituída para o benefício de todos, e não para a utilidade particular daqueles a quem ela for confiada. 

Artigo 13. Para a manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição comum; ela deve ser igualmente repartida entre todos os cidadãos, à razão de suas faculdades. 

Artigo 14. Todos os cidadãos têm o direito de verificar, por eles mesmos ou pelos seus representantes, a necessidade da contribuição pública, de consenti-la livremente, de acompanhar-1he o emprego, de 1he determinar a quota, a cobrança e a duração. 

Artigo 15. A sociedade tem o direito de pedir a todo agente público contas de sua administração. 

Artigo 16. Toda sociedade na qual a garantia dos direitos não for assegurada, nem a repartição dos poderes determinada, não tem constituição. 

Artigo 17. Sendo a propriedade um direito inviolável e sagrado, dela ninguém pode ser privado, salvo quando a necessidade pública, legalmente verificada, o exigir evidentemente e com a condição de uma justa e prévia indenização. 

Duguit L. et Monnier H. Les Constitutioms et principales lois politiques de la France depuis 1789. Paris, P. Pichon, éditeur, 1898, pp. 1-3.

O método de leitura SQ3R



Preciso criar um sistema
para não ser escravizado
pelo de outras pessoas
William. Blake,
1757 - 1827 Inglês


Examine! Questione! Leia! Recite! Revise!
Survey! Question! Read! Recite! Review!
Antes de ler,
Examine (Survey)
o capítulo:
  • o título, cabeçalhos, e subtítulos
  • textos explicativos sob as fotos, diagramas, gráficos ou mapas
  • reveja questões ou direcionamentos feitos pelo professor
  • parágrafo de abertura e conclusão do texto
  • sumário
Formule perguntas (Question)
enquanto você está examinando:
  • Transforme o título, cabeçalhos e subtítulos em perguntas;
  • Leia as questões ao final dos capítulos ou depois de cada sub-tópico;
  • Pergunte a si mesmo, "O que o professor falou a respeito deste capítulo ou assunto quanto ele foi passado?"
  • Pergunte-se, "O que eu já conheço sobre este assunto?"
Nota: Se lhe for útil, escreva em separado estas perguntas para que sejam levadas em conta.. Esta variação é chamada SQW3R
Quando você começar a ler
(Read):
  • Procure por respostas para as questões que você levantou anteriormente;
  • Responda as perguntas do começo ou do final de capítulos ou estudos dirigidos
  • Releia as informações sob as figuras, gráficos, etc.
  • Atente para todas as palavras ou frases sublinhadas, em itálico e impressas em negrito
  • Estude os gráficos de apoio
  • Reduza a velocidade da leitura em passagens difíceis
  • Pare e leia de novo partes que não estejam muito claras
  • Leia apenas uma seção de cada vez e recite após a leitura
Recite
depois que você tenha lido uma seção:
  • Verbalize para si mesmo perguntas sobre o que você tiver lido e/ou sumarize, com suas próprias palavras, o que acabou de ler
  • Faça um apontamento do texto mas escreva as informações em suas próprias palavras
  • Sublinhe/destaque pontos importantes que você tenha lido
  • Use o método de recitação que melhor se adequee ao seu estilo particular de aprendizado mas lembre-se, quantos mais sentidos você empregar, tanto mais você se lembrará do que tenha lido – por ex.,
APRENDIZADO COM TRIPLA FORÇA: ver, dizer, ouvir-
APRENDIZADO COM QUÁDRUPLA FORÇA: ver, dizer, ouvir, escrever!!!
Revisão:
um processo contínuo.
  • Primeiro dia
    Assim que você tenha lido e recitado o capítulo inteiro, escreva nas margens perguntas para aqueles pontos que você tenha destacado/sublinhado. Se o seu método de recitação inclui tomar notas na margem esquerda do seu bloco de notas escreva perguntas para as notas que tenha tomado.
  • Segundo Dia
    Folheie as páginas de seu texto e/ou caderno a fim de familiarizar-se com os pontos importantes. Cubra a parte escrita de seu texto/caderno e dirija a si mesmo as perguntas da margem esquerda. Responda em voz alta ou escreva as respostas de memória. Faça fichas para aquelas questões que lhe causam dificuldade. Desenvolva dispositivos mnemônicos para materiais que necessitam ser memorizados.
  • Terceiro, quarto e quinto dias
    Alterne entre suas fichas e apontamentos e teste a si próprio (oralmente e por escrito) em questões que tenha formulado. Elabore fichas adicionais se necessário.
  • Fim-de-Semana
    Usando o texto ou caderno, faça um índice – liste todos os tópicos e sub-tópicos que você precisa conhecer do capítulo. Do índice, construa uma Folha de Estudos/Mapa Conceitual. Recite a informação em voz alta com suas próprias palavras enquanto põe Folha de Estudo e Mapa juntos.
  • Agora que você consolidou toda a informação de que necessita para aquele capítulo, periodicamente revise a sua Folha/Mapa e então na hora da prova você não vai ter do que reclamar.

Adaptado de Robinson, Francis Pleasant, (1961, 1970) Effective study, 4th ed –quarta edição, Harper & Row, New York, NY. Disponível em: < http://www.studygs.net/portuges/>.

Estudo pela leitura trabalhada

1- A IMPORTÂNCIA DA LEITURA 

Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É preciso ler e, principalmente, ler bem. Quem não sabe ler não saberá resumir, não saberá tomar apontamentos e, finalmente, não saberá estudar. Ler bem é o ponto fundamental para os que quiserem ampliar e desenvolver as orientações e aberturas das aulas. É muito importante participar das aulas; elas não circunscrevem, não limitam; ao contrário, abrem horizontes para as grandes caminhadas do aluno que leva a sério seus estudos e quer atingir resultados plenos de seus cursos. Aliás, quase todas as cadeiras desenvolvem programas de pesquisa bibliográfica para que o aluno desenvolva temas e reconstrua ativamente o que outros já construíram. Para elaborar trabalhos de pesquisa, é necessário ir às fontes, aos autores, aos livros; é preciso ler, ler muito e, principalmente, ler bem. 

Durante as primeiras aulas de qualquer disciplina, os mestres apresentam criteriosa bibliografia; alguns livros são básicos, ou de leitura obrigatória, para quem quer colher todo fruto das aulas; outros são mais especializados ou se concentram em algum item do programa, e pode, entre os tratados gerais de consulta obrigatória, ser indicado um, como livro de texto. A indicação do livro de texto tem vantagens e inconvenientes cuja análise ultrapassaria os limites que este compêndio impõe. Diremos, apenas, que o livro de texto é muito bom para a preparação da aula, mas que o aluno não pode ater-se exclusivamente a ele. "Timeo hominem unius libri", diziam os antigos. Devemos temer o homem de um livro só. É necessário abeberar-se de outras fontes mais amplas, mais especializadas sobre cada tema ou sobre cada pormenor dos programas. 

Se não é possível pensar em fazer um bom curso sem descobrir ou fazer aparecer espaços de tempo para o estudo extra-aula e se é necessário programar criteriosamente a utilização desse tempo, não seria igualmente impossível pensar em fazer um bom curso sem ter à mão boas fontes de leitura? É possível que se pretenda fazer um curso universitário sem frequentar bibliotecas ou sem adquirir, ao menos, os livros básicos para cada programa? 

A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua própria ciência; quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu. E, ao terminar um curso superior, deveríamos não só estar capacitados a repetir o que foi aprendido na faculdade, como também estar habilitados a desenvolver, através de pesquisas, temas nunca abordados em aula. Deveríamos ser uma pequena fonte, não um pequeno depósito de conhecimentos, ou mero encanamento por onde as coisas apenas passam. 

É preciso ler, ler muito, ler bem. 

É preciso sentir atração pelo saber, e encontrar onde buscá-lo. É necessário iniciar este trabalho com determinação e perseverar nele; o crescimento cultural tem crises como o crescimento físico; quem não sente apetite não deve deixar de alimentar-se; comprometeria sua saúde. Também na leitura trabalhada devemos ser perseverantes; só esta perseverança garantirá aquela espécie de saltos de integração de dados, que se vão acumulando e associando como frutos da leitura continuada. 

2- COMO SELECIONAR O QUE LER 

O titulo do livro é a primeira informação que temos sobre seu conteúdo, mas não deve figurar como critério de escolha para a leitura. Devemos examinar sumariamente o livro cujo título nos interessa à primeira vista; devemos ver o nome do autor, seu curriculum; devemos ler sua "orelha", o índice da matéria, a documentação ou as citações ao pé das páginas, a bibliografia, assim como verificar a editora, a data, a edição e ler rapidamente o prefácio. A convergência destes vários elementos ajuda a selecionar o que ler. Ademais, podemos consultar professores da respectiva área. 

Todo estudante deveria interessar-se pela formação de uma pequena biblioteca de obras selecionadas; os livros são suas ferramentas de trabalho. O primeiro passo é adquirir os livros citados pelos professores como indispensáveis ou fundamentais; em seguida as obras mais amplas e mais especializadas dentro da área profissional ou do interesse particular de cada um. 

3- VELOCIDADE E EFICIÊNCIA DA LEITURA 

Alguns leem tão devagar que, ao final de um parágrafo, já tiveram tempo para esquecer seu início, e voltam para revê-lo. Estes retornos representam nova forma de perda de tempo que se soma à lentidão da leitura, com enorme prejuízo. Quem assim procede não encontra tempo para ler, pois não há tempo que chegue e, desta forma, instala-se um verdadeiro círculo vicioso. 

Normalmente, a leitura veloz não prejudica a eficiência ou a compreensão. Quem lê bem e depressa encontra tempo para ler e faz seu tempo render. Não existe uma velocidade-padrão de leitura; a maior ou a menor velocidade depende do gênero do próprio texto, bem como das peculiaridades do leitor. Não se leem com a mesma velocidade textos de gênero diferente, como, por exemplo, um romance e um manual de biologia. Por outro lado, cada um deve atingir sua velocidade ideal, mas é certo que sempre é possível aumentar a velocidade sem prejuízo da compreensão. 

Não pretendemos apresentar um curso de leitura veloz, mas oferecer uma seqüência de normas e de considerações que levarão normalmente a um aumento de velocidade e de eficiência na leitura cultural, isto é, um curso que aumentará o rendimento do esforço pessoal no estudo, através da leitura. Em nosso caso, da leitura eficiente decorrem a captação, a retenção e a integração de conhecimentos contidos no manancial dos textos lidos. 

4- COMODIDADE E HIGIENE NA LEITURA 

O ambiente material de leitura deve reunir umas tantas condições que a favoreçam. É preferível ler em ambiente amplo, arejado, bem iluminado e silencioso; se a luz for artificial, deve ser difusa, e seu foco deve estar à esquerda de quem lê. É preferível ler sentado a ler em pé ou deitado. Além do texto a ser lido, é importante ter à mão um bom dicionário, lápis e um bloco de papel. É de suma importância, também, o clima de silêncio interior, de concentração naquilo que se vai fazer. 

Tudo o que resumimos acima está amplamente desenvolvido provado e justificado nos tratados de pedagogia e de didática. Não duvidamos de sua importância, mas quem não dispuser do ambiente ideal de leitura deve aprender a ler com boa velocidade e eficiência num banco de jardim, numa sala de espera ou numa fila de ônibus. Cada um constrói sua casa com as pedras que tem. 

Não se julgue impossibilitado de ler aquele que não puder fazê-lo em ambiente de condições ideais, mas é importante conhecer estas condições e procurar criá-las ou desfrutar delas tanto quanto possível. 

5- DEFINIÇÃO DE PROPÓSITOS 

Alguém pode ler só para passar o tempo, para não manter conversação com o cidadão estranho que se sentou a seu lado no mesmo vagão, ou para dar ares de intelectual; estas são maneiras de dar alguma finalidade à leitura. Mas não é dessa finalidade ou propósito que estamos falando. 

A finalidade básica da leitura cultural é a procura, a captação, a crítica, a retenção e a integração de conhecimentos, e isto se faz, em primeiro lugar, pela procura das idéias mestras, das idéias principais, também chamadas idéias diretrizes. Cada texto, cada seção, cada capítulo e, mesmo, cada parágrafo tem uma ideia principal, uma palavra-chave, um conceito fundamental. “... é essencial que o estudante se preocupe em descobrir qual é essa ideia diretriz, fio condutor do pensamento do mestre ou expositor", escreve Emilio Mira y López, em seu Como estudar e como aprender, e continuar "Assim, pois, como cada fábula tem sua 'moral', isto é, a sua essência significativa, cada série de pensamentos possui uma ideia diretriz ou conceito fundamental. Descobri-lo, quando não está em negrito, é conquistar um dos fatores essenciais de toda aprendizagem cultural". 

Em cada parágrafo, pois, o leitor deve captar a ideia principal; deve concentrar-se em sua procura. O mau leitor, ou seja, o leitor lento e ineficiente, lê palavras, ou melhor dizendo, lê palavra por palavra, como se todas tivessem igual valor ; o bom leitor lê unidades de pensamento, lê idéias e as hierarquiza enquanto lê, de maneira a encontrar a ideia mestra ou a palavra-chave. Quem lê idéias é mais veloz na leitura e capta melhor o que lê. Mas isto è fruto de treinamento, de exercícios. "Se vocês, amigos leitores, dedicassem uma hora por dia à tarefa de descobrir, concretizar e formular as idéias diretrizes de alguns parágrafos de diversos textos, exercitar-se-iam em uma técnica de abstração e de síntese que lhes permitiria tirar o máximo proveito de qualquer tipo de leitura ou estudo ulterior. 

Nossa experiência de mais de vinte anos de magistério, bem como de mais de trinta anos de continuados estudos confirmam as palavras de Mira y López e da generalidade dos autores que versaram sobre o assunto. Por ocasião da última abordagem do presente assunto em classe, uma aluna tomou a palavra para prestar interessante depoimento: "Estou cursando esta cadeira de Metodologia com calouros, mas já estou no último semestre do curso de Estudos Sociais. Sou transferida de outra faculdade, onde não existe a cadeira de Metodologia. Confesso que estava chegando ao fim do curso sem saber ler. Percebo que fui muito prejudicada. Mas... antes tarde do que nunca!" 

Esse depoimento teve mais força persuasiva do que toda nossa aula. E aquela classe passou a valorizar nossa cadeira, a estar mais atenta às aulas e a aplicar-se com maior dedicação à leitura cultural para trabalhos de pesquisa bibliográfica. 

Quem não puder dedicar uma hora por dia ao trabalho de encontrar as idéias principais de alguns parágrafos não se julgue dispensado deste exercício; leia com este propósito seu livro de textos, suas apostilas e toda a bibliografia consultada na elaboração de seus trabalhos de pesquisa. Procure, após a leitura de algumas páginas, reformular as idéias mestras; leia novamente a passagem para verificar se atingiu o propósito de toda leitura cultural, que é captar, reter, integrar e evocar conhecimentos reformulados. "Crie o hábito de encontrar a ideia principal em cada parágrafo que ler. Quando julgar tê-lo feito confira sua conclusão e mantenha a ideia em mente enquanto continua a ler, e compare-a, especialmente, com a sentença-sumário. Se tiver dúvidas a respeito de sua seleção, releia o parágrafo, desta vez olhando-o bem para se certificar de que captou a ideia correta. Lembre-se, porém, de que nem sempre pode encontrá-la numas poucas palavras dadas; talvez, tenha de refraseá-la com palavras suas (uma boa prática, afinal de contas) para captá-la com exatidão. 

6- A IDEIA MESTRA EM SUA CONSTELAÇÃO 

Não existem capítulos, seções ou livros só com idéias mestras; estas seriam encontradas nos índices, nos prefácios e nos sumários. Nem é possível captar, hierarquizar, criticar, reter ou evocar idéias mestras totalmente despojadas de pormenores importantes. A ideia principal aparece sempre numa constelação de idéias que gravitam à sua volta; um argumento que a justifique, um exemplo que a elucide, uma analogia que a torne verossímil e um fato ao qual ela se aplique são elementos de sustentação da ideia principal. 

O bom leitor não lê só o essencial; não lê apenas resumos com o propósito insano de memorizá-los. O bom leitor produz seus resumos, é verdade; e procura acompanhar a montagem, o encadeamento, a articulação das idéias em amplos e profundos textos nos quais as idéias principais são fundamentadas em bases sólidas, em demonstrações de validade ponderável, em fatos de evidência comprovada, em documentos insofismáveis, ou são aplicadas na solução de problemas ou na definição ou normalização da conduta. 

Quem alega, por ocasião de exames ou em conversações rotineiras, que tem facilidade para responder a perguntas essenciais, mas não se interessa por pormenores e "coisinhas" está confessando, embora não seja esta a sua intenção, que não lê ou não sabe ler, que não estuda ou não sabe estudar. 

É importantíssimo discernir o principal e o secundário, a ideia mestra e os pormenores mais importantes ou menos importantes. Memorizar índices, enunciados, teses, ou postulados não exime ninguém da pecha de mau leitor, de mau estudante ou de pseudo-selecionador de preciosidades. Quem procede assim não tem razão para escusar-se; deve mudar de conduta e começar a ler e a estudar com inteligência e sabedoria, isto é, com amor pelo saber. 

7- SUBLINHAR COM INTELIGÊNCIA 

Sublinhar é uma arte que ajuda a colocar em destaque as idéias mestras, as palavras-chave e os pormenores importantes. Quem sublinha com inteligência está constantemente atento à leitura; descobre o principal em cada parágrafo e o diferencia do acessório; este propósito o mantém concentrado e em atitude de critica durante todo o tempo dedicado à leitura. Além desse efeito benéfico, já durante a leitura, o hábito de sublinhar com inteligência favorece o trabalho das revisões imediatas, bem como as revisões globalizadoras posteriores. 

Há leitores que ouviram falar na vantagem de sublinhar, ou que tiveram colegas excelentes nos estudos, cujos livros estavam sempre sublinhados inteligentemente; por isso resolveram sublinhar também. Mas esses imitadores de coisas vão sublinhando logo na primeira leitura todas as palavras que parecem mais importantes em determinado parágrafo, e seguem em frente como se tudo estivesse perfeitamente localizado, hierarquizado, captado, entendido. 

Sublinhar é uma técnica que tem suas normas. Se essas normas não forem observadas, o sublinhamento indiscriminado atrapalhará mais do que ajudará, quer durante a leitura, quer por ocasião das revisões. 

8- NORMAS PARA SUBLINHAR 

Cada um pode adotar uma simbologia arbitrária e pessoal para sublinhar e fazer anotações à margem dos textos. Basta que a simbologia adotada mantenha uma significação bem definida e constante. Entretanto, poderíamos sugerir algumas normas colhidas em fontes credenciadas e em larga experiência pessoal: 

a) Sublinhar apenas as idéias principais e os detalhes importantes- Não se deve sublinhar em demasia. Não sublinhar longos períodos; basta sublinhar palavras-chave. Aplica-se ao caso o adágio latino "non multa, sed multum", que traduziríamos, adaptando a nosso intento: não sublinhar multa, isto é, muitas coisas, mas sublinhar multum, isto é, muito significativo. 

b) Não sublinhar por ocasião da primeira leitura - As pessoas mais experimentadas, que examinam textos pertinentes à sua área de especialização, sublinham inteligentemente por ocasião da primeira leitura; mas recomenda-se aos principiantes que não o façam; leiam primeiro um ou mais parágrafos, e retomem para sublinhar aquelas palavras ou bases essenciais que, desde a primeira leitura, foram identificadas como principais, e que a releitura mais rápida confirma como tais. 

c) Reconstituir o parágrafo a partir das palavras sublinhadas - É supérfluo esclarecer esta norma que traduz a natureza e a finalidade do ato de sublinhar. 

d) Ler o texto sublinhado com a continuidade e plenitude de sentido de um telegrama - Por ocasião das revisões imediatas ou posteriores, os textos sublinhados de acordo com esta norma permitirão uma leitura rapidíssima, apoiada nos pilares das palavras sublinhadas; por outro lado, a leitura das palavras sublinhadas, embora pertencentes a frases diferentes e até distanciadas, terá um sentido fluente e concatenado. 

e) Sublinhar com dois traços as palavras-chave da idéia principal, e com um único traço os pormenores importantes - Devemos sublinhar tanto as idéias principais como os detalhes importantes, mas é bom agir de tal maneira que as idéias principais se mantenham destacadas. 

f) Assinalar com linha vertical, à margem do texto, as passagens mais significativas - Não raro, a ideia principal retorna em diversos parágrafos e em diversos contextos. E há passagens em que o autor atinge uma espécie de clímax; essas passagens, que poderíamos transcrever em nossas fichas de documentação pessoal, devem ser identificadas para futuras buscas. Nada melhor que um traço vertical à margem do texto para tal identificação. 

g) Assinalar com um sinal de interrogação, à margem, os pontos de discordância - Podemos não concordar com as posições assumidas pelo autor, como também perceber incoerências, paralogismos, interpretações tendenciosas de fontes e uma série de falhas ou de colocações que julgamos insustentáveis, dignas de reparos ou passíveis de críticas. Devemos registrar o fato mediante uma interrogação à margem do texto em apreço. 

Há quem fale do uso de cores diferentes para assinalar idéias principais e pormenores importantes, em lugar de usar um ou dois traços, conforme preferirmos, bem como do uso de uma terceira cor para assinalar pontos mais difíceis ou que não tenham ficado claros. Para assinalar pontos mais obscuros, quer durante a leitura de preparação para as aulas, quer durante as leituras ulteriores, em textos de maior desenvolvimento, preferimos a utilização de lápis e não de canetas a tinta. De resto, aplica-se ao caso o provérbio latino "de gustibus et cloribus nom disputatur", isto é, "a respeito de preferências e de cores não se deve discutir": que cada um adote a simbologia que melhor lhe pareça. 

9- VOCABULÁRIO E LEITURA EFICIENTE 

Muita gente lê mal porque não tem bom vocabulário e não tem bom vocabulário porque lê mal, o que se torna um círculo vicioso que deve converter-se em círculo virtuoso, para todo aquele que aspira atingir nível de crescimento cultural. 

O domínio cada vez mais amplo do vocabulário enriquece nossa possibilidade de compreensão e concorre para aumentar a velocidade na leitura. 

Mas como aumentar nosso vocabulário? Decorando algum dicionário? Quem o fez em seu tempo de estudante, em eras que não voltam mais, confessa que o trabalho era penoso; entretanto, acaba agradecendo aos professores exigentes de seu tempo. Mas o melhor recurso para aumentar o próprio vocabulário é, sem dúvida, a leitura. 

Como proceder ante uma palavra de sentido desconhecido, ou que assume sentido novo em determinado contexto? Morgan e muitos outros recomendam a imediata consulta aos dicionários: "A primeira coisa a fazer é procurá-la num dicionário. " Por nossa parte, sugerimos que se experimente não interromper a leitura ante um termo de sentido desconhecido ; não raro, a seqüência do texto deixará bem claro o sentido da palavra desconhecida; anote, pois, a palavra desconhecida em um papel avulso, e continue a ler. Ao final de um capitulo, apanhe o dicionário para esclarecer todas as palavras anotadas como desconhecidas e verifique o sentido que melhor se coaduna com o respectivo contexto. Assim, durante a segunda leitura, em que se sublinham as idéias principais e os pormenores importantes, todos os termos estarão claros e incorporados a nosso vocabulário. Adote a sugestão da consulta imediata ou a sugestão de não interromper a leitura cada vez que encontrar uma palavra desconhecida. O fundamental é que não se deve perder a oportunidade de enriquecer o próprio vocabulário pela preguiça da busca de palavras novas em algum dicionário. Por certo, estaríamos prejudicando a compreensão do texto e impedindo o próprio crescimento cultural. Que dicionários consultar? Não se entende um estudante de nível superior que não tenha um bom dicionário comum da língua materna. Mas há certas palavras que, embora incorporadas à linguagem vulgar, conservam ou assumem sentido específico, definido pelas diversas ciências, como a botânica, a biologia, a medicina, a filosofia, e assim por diante. Outras palavras não constam nos dicionários comuns, mas tão-somente nos dicionários de maior porte ou em dicionários técnicos das diversas áreas. O estudante deve adquirir um bom dicionário dentro de sua área de especialização. Entretanto, as faculdades mantêm bibliotecas ricas em fontes de consulta, com grande variedade de dicionários e enciclopédias à disposição de seus alunos. Não é preciso que cada um compre enciclopédias caríssimas para usar uma vez ou outra; com- o dinheiro de uma enciclopédia de generalidades monta-se uma preciosa estante com obras da própria especialidade, inclusive com dicionários técnicos ; e isto parece ser mais útil. 

10- USAR MELHOR A VISTA 

Durante a leitura, nossos olhos percorrem as linhas não em movimento continuo, mas aos pulos, não lemos durante o movimento dos olhos, mas nas suas rápidas paradas, que podem ser observadas com aparelhos adequados. Nossos olhos podem fixar-se em uma sílaba, em uma palavra, ou em um grupo de palavras, nessas paradas de reconhecimento dos estímulos gráficos. Quanto mais amplo for este campo de parada ou de reconhecimento, mais veloz será a leitura; e como essas paradas incidem em palavras principais, mais compreensível toma-se o texto. 

O bom leitor não lê palavra por palavra, muito menos sílaba por sílaba; sua vista incide sobre grupos de palavras; a pausa de reconhecimento deste grupo de palavras é curta. Mas, esta habilidade é fruto de exercícios e da prática da leitura. 

Sugerimos que se façam exercícios de leitura, procurando fixar em cada grupo de palavras as sílabas iniciais, como se o texto estivesse escrito com abreviaturas. 

RUIZ, J. A. Estudo pela Leitura trabalhada. In:_______. Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1996. Cap 2. P.34-42.