A primeira vista parece fora de propósito a epígrafe acima. Poder-se-ia objetar que se trata de um problema de valor e seria ocioso, numa perspectiva científica, estabelecer um confronto entre “bom” e “mau”, pois se torna um julgamento bastante subjetivo. Sem discutir o mérito e a procedência deste ponto de vista, que nos transportaria provavelmente, para um terreno mais abrangente – o valor nas mensurações científicas – queremos apenas justificar nossa colocação. A experiência e a observação tem nos mostrado um fato bastante freqüente: há muitas pessoas que “lêem” e há pessoas que “sabem ler”. Muitos, sobretudo quando têm consciência do problema, pagam um tributo caro a hábitos formados desde a escola primária e que nos condicionam a ler, sem saber ler. É pelo problema de hábitos negativos de leitura que nos interessamos quando rotulamos a pessoa de “mau leitor”; e o “bom leitor” consequentemente, passa a significar para nós aquele que tem habilidades eficientes de leitura.
Introduzir alguém no conhecimento das habilidades de leitura, sem antes leva-lo a uma auto-análise, parece-nos não ser o caminho indicado. É por isso que tentamos estampar diante do interessado um quadro onde é possível descobrir seu “perfil de leitor”. À medida que este quadro vai se desenrolando, os aspectos positivos e negativos vão sendo identificados e as necessidades específicas de cada um vão sendo colocadas em termos concretos. No término desta atividade, a análise já estará praticamente feita e a pessoa terá condições de decidir pelo que lhe interessar mais de perto.
Nosso quadro é baseado num esquema semelhante elaborado por WITT (39) que o produziu, porém, de maneira sumária, e sem a intenção didática que estamos propondo.
A leitura desse quadro deve ser feita em atitude de reflexão, como os antigos religiosos faziam (ou fazem ainda?) em seus conventos durante o chamado “exame de consciência”. Não se trata de um teste de psicologia, pois o teste psicológico tem apenas a característica da objetividade (o quadro deriva de conclusões de pesquisas feitas a respeito de habilidades de leitura que os estudantes têm) e funciona como estímulo para a reação do leitor.
Convém que se leia o quadro pausadamente, um item de uma coluna e logo a seguir o correspondente na outra coluna. À medida que for identificando pontos positivos e pontos negativos, assinale-os. Depois reveja-os e estabeleça o esquema de suas necessidades concretas para desenvolver hábitos de leitura veloz e producente.
Bom Leitor
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Mau Leitor
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O
bom leitor lê rapidamente e entende bem o que lê. Tem habilidades e hábitos
como:
1. Lê com objetivo determinado – Ex: aprender certo assunto –
repassar detalhes – responder a questões.
2. Lê unidades de
pensamento. Abarca,
num relance, o sentido de um grupo de palavras. Relata rapidamente as idéias
encontradas numa frase ou num parágrafo.
3.Tem vários padrões
de velocidade.
Ajusta a velocidade da leitura com o assunto que lê. Se lê uma novela, é
rápido. Se livro científico para guardar detalhes – lê mais devagar para
entender bem.
4. Avalia o que lê. Pergunta-se frequentemente: Que
sentido tem isso para mim? Está o autor qualificado para escrever sobre tal
assunto? Está ele apresentando apenas um ponto de vista do problema? Qual é a
idéia principal deste trecho? Quais seus fundamentos?
5. Possui bom
vocabulário. Sabe o
que muitas palavras significam. É capaz de perceber o sentido das palavras
novas pelo contexto. Sabe usar dicionários e o faz frequentemente para
esclarecer o sentido de certos termos, no momento oportuno.
6. Tem habilidades
para conhecer o valor do livro.
Sabe que a primeira coisa a fazer quando se toma um livro é indagar de que
trata, através do título, subtítulos, encontrados na página de rosto e não
apenas na capa. Em seguida lê os títulos do autor. Edição do livro. Índice
“orelhas do livro”. Prefácio. Bibliografia citada. Só depois é que se vê em
condições de decidir pela conveniência ou não de leitura. Sabe selecionar o
que lê. Sabe quando consultar e quando ler.
7. Sabe quando deve
ler um livro até o fim, quando interromper a leitura definitivamente ou
periodicamente.
Sabe quando e como retomar a leitura, sem perda de tempo e sem perder a
continuidade.
8. Discute
frequentemente o que lê com colegas.
Sabe distinguir entre impressões subjetivas e valor objetivo durante as
discussões.
9. Adquire livros com
freqüência e cuida de ter sua biblioteca particular. Quando é estudante procura os
livros de textos indispensáveis e se esforça em possuir os chamados clássicos
e fundamentais. Tem interesse em fazer assinaturas de periódicos científicos.
Formado, continua alimentando sua biblioteca e restringe a aquisição dos
chamados “compêndios”. Tem o hábito de ir direto às fontes; de ir além dos
livros de texto.
10. Lê assuntos
vários. Lê livros,
revistas, jornais. Em áreas diversas: ficção, científica, história, etc.
Habitualmente nas áreas de seu interesse ou especialização.
11. Lê muito e gosta
de ler. Acha que
ler traz informações e causa prazer. Lê sempre que pode.
12. UM BOM LEITOR é aquele que não é só bom na hora
da leitura. É bom leitor porque desenvolve uma atitude de vida: é constantemente um bom leitor. Não só
lê, mas sabe ler.
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O
mau leitor lê vagarosamente e entende mal o que lê. Tem hábitos como:
1. Lê sem finalidade.
Raramente
sabe por que lê.
2. Lê palavra por
palavra. Pega o
sentido da palavra isoladamente. Esforça-se para ajuntar os termos para poder
entender a frase. Frequentemente tem de reler as palavras.
3. Só tem um ritmo de
leitura.
Seja
qual for o assunto, lê sempre vagarosamente.
4. Acredita em tudo
que lê. Para ele
tudo que é impresso é verdadeiro. Raramente confronta o que lê com suas
próprias experiências ou com outras fontes. Nunca julga criticamente o
escritor ou seu ponto de vista.
5. Possui vocabulário
limitado. Sabe o
sentido de poucas palavras. Nunca relê uma frase para pegar o sentido de uma
palavra difícil ou nova. Raramente consulta o dicionário. Quando o faz,
atrapalha-se em achar a palavra. Tem dificuldade em entender a definição das
palavras e em escolher o sentido exato.
6. Não possui nenhum
critério técnico para conhecer o valor do livro. Nunca ou raramente lê a página de
rosto do livro, o índice, o prefácio, a bibliografia etc., antes de iniciar a
leitura. Começa a ler a partir do primeiro capítulo. É comum até ignorar o
autor, mesmo depois de terminada a leitura. Jamais seria capaz de decidir
entre a leitura e a simples consulta. Não consegue selecionar o que vai ler.
Deixa-se sugestionar pelo aspecto material do livro.
7. Não sabe decidir se
é conveniente ou não interromper uma leitura. Ou lê todo o livro, ou o interrompe
sem critério objetivo, apenas por questões subjetivas.
8. Raramente discute
com colegas o que lê.
Quando o faz, deixa-se levar por impressões subjetivas e emocionais para
defender um ponto de vista. Seus argumentos, geralmente, derivam da
autoridade do autor, da moda, dos lugares comuns, das tiradas eloqüentes, dos
preconceitos.
9. Não possui
biblioteca particular.
Às vezes é capaz de adquirir “metros de livro” para decorar a casa. É
frequentemente levado a adquirir livros secundários em vez dos fundamentais.
Quando estudante, só lê e adquire compêndios de aula. Formado, não sabe o que
representa o hábito das “boas aquisições” de livro.
10. Está condicionado
a ler sempre a
mesma espécie de assunto.
11. Lê pouco e não
gosta de ler. Acha
que ler é ao mesmo tempo um trabalho e um sofrimento.
12. O MAU LEITOR não se revela apenas no ato da
leitura, seja silenciosa ou oral. É
constantemente um mau leitor, por que se trata de uma atitude de
resistência ao hábito de saber ler.
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SALOMON,
Délcio Vieira. Aperfeiçoamento da Leitura. In:_______. Como fazer uma monografia: elementos de metodologia do trabalho
científico. 5.ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977. p.44-48.
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