sexta-feira, 11 de maio de 2012

Comparação entre um Bom e o Mau leitor


A primeira vista parece fora de propósito a epígrafe acima. Poder-se-ia objetar que se trata de um problema de valor e seria ocioso, numa perspectiva científica, estabelecer um confronto entre “bom” e “mau”, pois se torna um julgamento bastante subjetivo. Sem discutir o mérito e a procedência deste ponto de vista, que nos transportaria provavelmente, para um terreno mais abrangente – o valor nas mensurações científicas – queremos apenas justificar nossa colocação. A experiência e a observação tem nos mostrado um fato bastante freqüente: há muitas pessoas que “lêem” e há pessoas que “sabem ler”. Muitos, sobretudo quando têm consciência do problema, pagam um tributo caro a hábitos formados desde a escola primária e que nos condicionam a ler, sem saber ler. É pelo problema de hábitos negativos de leitura que nos interessamos quando rotulamos a pessoa de “mau leitor”; e o “bom leitor” consequentemente, passa a significar para nós aquele que tem habilidades eficientes de leitura. 


Introduzir alguém no conhecimento das habilidades de leitura, sem antes leva-lo a uma auto-análise, parece-nos não ser o caminho indicado. É por isso que tentamos estampar diante do interessado um quadro onde é possível descobrir seu “perfil de leitor”. À medida que este quadro vai se desenrolando, os aspectos positivos e negativos vão sendo identificados e as necessidades específicas de cada um vão sendo colocadas em termos concretos. No término desta atividade, a análise já estará praticamente feita e a pessoa terá condições de decidir pelo que lhe interessar mais de perto. 

Nosso quadro é baseado num esquema semelhante elaborado por WITT (39) que o produziu, porém, de maneira sumária, e sem a intenção didática que estamos propondo. 

A leitura desse quadro deve ser feita em atitude de reflexão, como os antigos religiosos faziam (ou fazem ainda?) em seus conventos durante o chamado “exame de consciência”. Não se trata de um teste de psicologia, pois o teste psicológico tem apenas a característica da objetividade (o quadro deriva de conclusões de pesquisas feitas a respeito de habilidades de leitura que os estudantes têm) e funciona como estímulo para a reação do leitor. 

Convém que se leia o quadro pausadamente, um item de uma coluna e logo a seguir o correspondente na outra coluna. À medida que for identificando pontos positivos e pontos negativos, assinale-os. Depois reveja-os e estabeleça o esquema de suas necessidades concretas para desenvolver hábitos de leitura veloz e producente. 

Bom Leitor
Mau Leitor
O bom leitor lê rapidamente e entende bem o que lê. Tem habilidades e hábitos como:
1. Lê com objetivo determinado – Ex: aprender certo assunto – repassar detalhes – responder a questões.

2. Lê unidades de pensamento. Abarca, num relance, o sentido de um grupo de palavras. Relata rapidamente as idéias encontradas numa frase ou num parágrafo.

3.Tem vários padrões de velocidade. Ajusta a velocidade da leitura com o assunto que lê. Se lê uma novela, é rápido. Se livro científico para guardar detalhes – lê mais devagar para entender bem.

4. Avalia o que lê. Pergunta-se frequentemente: Que sentido tem isso para mim? Está o autor qualificado para escrever sobre tal assunto? Está ele apresentando apenas um ponto de vista do problema? Qual é a idéia principal deste trecho? Quais seus fundamentos?

5. Possui bom vocabulário. Sabe o que muitas palavras significam. É capaz de perceber o sentido das palavras novas pelo contexto. Sabe usar dicionários e o faz frequentemente para esclarecer o sentido de certos termos, no momento oportuno.
  
6. Tem habilidades para conhecer o valor do livro. Sabe que a primeira coisa a fazer quando se toma um livro é indagar de que trata, através do título, subtítulos, encontrados na página de rosto e não apenas na capa. Em seguida lê os títulos do autor. Edição do livro. Índice “orelhas do livro”. Prefácio. Bibliografia citada. Só depois é que se vê em condições de decidir pela conveniência ou não de leitura. Sabe selecionar o que lê. Sabe quando consultar e quando ler.

7. Sabe quando deve ler um livro até o fim, quando interromper a leitura definitivamente ou periodicamente. Sabe quando e como retomar a leitura, sem perda de tempo e sem perder a continuidade.

8. Discute frequentemente o que lê com colegas. Sabe distinguir entre impressões subjetivas e valor objetivo durante as discussões.
  
9. Adquire livros com freqüência e cuida de ter sua biblioteca particular. Quando é estudante procura os livros de textos indispensáveis e se esforça em possuir os chamados clássicos e fundamentais. Tem interesse em fazer assinaturas de periódicos científicos. Formado, continua alimentando sua biblioteca e restringe a aquisição dos chamados “compêndios”. Tem o hábito de ir direto às fontes; de ir além dos livros de texto.

10. Lê assuntos vários. Lê livros, revistas, jornais. Em áreas diversas: ficção, científica, história, etc. Habitualmente nas áreas de seu interesse ou especialização.

11. Lê muito e gosta de ler. Acha que ler traz informações e causa prazer. Lê sempre que pode.

12. UM BOM LEITOR é aquele que não é só bom na hora da leitura. É bom leitor porque desenvolve uma atitude de vida: é constantemente um bom leitor. Não só lê, mas sabe ler.
O mau leitor lê vagarosamente e entende mal o que lê. Tem hábitos como:

1. Lê sem finalidade.
Raramente sabe por que lê.

2. Lê palavra por palavra. Pega o sentido da palavra isoladamente. Esforça-se para ajuntar os termos para poder entender a frase. Frequentemente tem de reler as palavras.
3. Só tem um ritmo de leitura.
Seja qual for o assunto, lê sempre vagarosamente.
  
4. Acredita em tudo que lê. Para ele tudo que é impresso é verdadeiro. Raramente confronta o que lê com suas próprias experiências ou com outras fontes. Nunca julga criticamente o escritor ou seu ponto de vista.
  
5. Possui vocabulário limitado. Sabe o sentido de poucas palavras. Nunca relê uma frase para pegar o sentido de uma palavra difícil ou nova. Raramente consulta o dicionário. Quando o faz, atrapalha-se em achar a palavra. Tem dificuldade em entender a definição das palavras e em escolher o sentido exato.
6. Não possui nenhum critério técnico para conhecer o valor do livro. Nunca ou raramente lê a página de rosto do livro, o índice, o prefácio, a bibliografia etc., antes de iniciar a leitura. Começa a ler a partir do primeiro capítulo. É comum até ignorar o autor, mesmo depois de terminada a leitura. Jamais seria capaz de decidir entre a leitura e a simples consulta. Não consegue selecionar o que vai ler. Deixa-se sugestionar pelo aspecto material do livro.

7. Não sabe decidir se é conveniente ou não interromper uma leitura. Ou lê todo o livro, ou o interrompe sem critério objetivo, apenas por questões subjetivas.

8. Raramente discute com colegas o que lê. Quando o faz, deixa-se levar por impressões subjetivas e emocionais para defender um ponto de vista. Seus argumentos, geralmente, derivam da autoridade do autor, da moda, dos lugares comuns, das tiradas eloqüentes, dos preconceitos.

9. Não possui biblioteca particular. Às vezes é capaz de adquirir “metros de livro” para decorar a casa. É frequentemente levado a adquirir livros secundários em vez dos fundamentais. Quando estudante, só lê e adquire compêndios de aula. Formado, não sabe o que representa o hábito das “boas aquisições” de livro.
  
10. Está condicionado a ler sempre a mesma espécie de assunto.
  
11. Lê pouco e não gosta de ler. Acha que ler é ao mesmo tempo um trabalho e um sofrimento.
12. O MAU LEITOR não se revela apenas no ato da leitura, seja silenciosa ou oral. É constantemente um mau leitor, por que se trata de uma atitude de resistência ao hábito de saber ler.

  

SALOMON, Délcio Vieira. Aperfeiçoamento da Leitura. In:_______. Como fazer uma monografia: elementos de metodologia do trabalho científico. 5.ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977. p.44-48.

Nenhum comentário:

Postar um comentário