quarta-feira, 27 de junho de 2012

Uma nova visão no ensino do Português


Welington Cleber dos Reis

“Tem ‘uma pedra no meio do caminho’ da aula de Português”. É o que afirma, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, Irandé Antunes, Doutora em Linguística pela Universidade de Lisboa, em sua obra intitulada: “Aula de Português: encontro e interação”. O trabalho é resultado de um estudo motivado pelas inquietações e dificuldades, em relação ao adequado ensino do Português, advindas de docentes com os quais manteve contato em sua vivência acadêmico-profissional. O desejo da escritora, segundo ela mesma, é o “de contribuir significativamente para que os alunos ampliem sua competência no uso oral e escrito da língua portuguesa.”

Para Carlos Alberto Faraco, Irandé Antunes apresenta “um trabalho que certamente marcará época na história do ensino de Português no Brasil”.
A obra consta de seis capítulos, nos quais a autora dá atenção a três aspectos da educação linguística: a leitura, a escrita e a reflexão. Para a escritora, conquanto haja avanços na investigação a respeito da linguagem, ainda existem práticas inadequadas e irrelevantes que não condizem com as mais recentes concepções de língua, pois a linguagem evolui e na sala de aula a metodologia continua sendo a mesma. A autora tem a pretensão de alcançar os objetivos mais amplos e relevantes, no ensino da língua, que favoreçam um contato mais positivo do aluno com o objeto de estudo, no sentido de fortalecer o processo da fala, audição, escrita e leitura, para que estas ações tenham maior propriedade na construção do conhecimento, seja político ou social.

Como a autora esclarece ter a obra um caráter de “incompletude”, à espera da participação reflexiva, crítica e criadora de cada professor – vale inserir, também, nessa perspectiva a figura do sujeito leitor. E sabendo que há inexauríveis pensamentos, opiniões e concepções, teço minha análise-crítica a respeito da obra e do tema.
No primeiro capítulo, Irandé Antunes aborda as maiores dificuldades e os maiores equívocos ainda constatados em relação às atividades pedagógicas, no tratamento com a oralidade, a escrita, a leitura e a gramática.
Quando se fala de Língua Portuguesa, muitos pensam em conceitos, regras e normas, enfim, em gramática. Essa concepção foi colocada, ao longo do tempo, pelos gramáticos tradicionais, pela escola e pelos professores, vindo até os dias atuais.

Ensinar Língua Portuguesa não se deveria resumir ao estudo da gramática e feitura de exercícios para fixação das regras e normas, mas é o que na realidade acontece. Ultimamente, a Linguística tem colaborado para que haja mudanças relevantes no ensino, na abordagem e no estudo da língua.
Nas escolas públicas, pode-se notar a existência da disciplina Língua Portuguesa que se encarrega de fazer um estudo “completo” no âmbito da leitura, da redação e da gramática. Ao passo que nas instituições privadas – não que seja o procedimento ideal, mas há uma especificidade de estudo e um tempo, determinado, para isso – não se nota a existência da disciplina Língua Portuguesa. O ensino da língua é subdividido em várias outras disciplinas: a gramática, a redação, as literaturas.
A meu ver, o tempo e a especificidade de estudos aludidos acima podem ser benéficos no processo de aprendizagem embora não sejam suficientes na formação adequada de leitores capacitados para compreender, interpretar e aplicar os conhecimentos adquiridos. Já o paradigma de estudo da linguagem utilizado por muitas escolas públicas: o de se fazer um estudo de todos os aspectos numa só disciplina pode pecar pela falta de organização, pela desatenção e pela dispersão dos educandos.

Nos outros capítulos, a escritora apresenta alguns princípios teóricos que são capazes de fundamentar um ensino mais eficiente e relevante da língua, além de retratar sugestões de atividades que podem ser desenvolvidas no âmbito da escrita, da leitura, da reflexão gramatical e da oralidade. Hoje existem possibilidades de se sair do tradicionalismo empregado no ensino da Língua Portuguesa, fazendo com que as aulas sejam mais prazerosas e com que os educandos não reclamem de sono, de falta de vontade etc. Existem métodos de aulas que não sejam apenas exposição de regras e normas mas que possibilitam a inserção dessas regras no ambiente que condiz com a realidade de cada aprendiz.

A meu ver, não só o aprendizado, mas também o uso da Língua Portuguesa está atrelado ao contexto sócio-cultural e político em que se encontra o indivíduo falante. Logo, o acontecimento deveria nortear a prática pedagógica. Aprender só gramática, em uma sociedade na qual a comunicação evolui velozmente é, como diz a própria autora, tornar-se um “sujeito inexistente”.

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