Welington Cleber dos Reis
“Tem ‘uma pedra no meio do caminho’
da aula de Português”. É o que afirma, parafraseando Carlos Drummond de
Andrade, Irandé Antunes, Doutora em Linguística pela Universidade de Lisboa, em
sua obra intitulada: “Aula de Português: encontro e interação”. O trabalho é
resultado de um estudo motivado pelas inquietações e dificuldades, em relação
ao adequado ensino do Português, advindas de docentes com os quais manteve
contato em sua vivência acadêmico-profissional. O desejo da escritora, segundo
ela mesma, é o “de contribuir significativamente para que os alunos ampliem sua
competência no uso oral e escrito da língua portuguesa.”
Para Carlos Alberto Faraco, Irandé
Antunes apresenta “um trabalho que certamente marcará época na história do
ensino de Português no Brasil”.
A obra consta de seis capítulos, nos
quais a autora dá atenção a três aspectos da educação linguística: a leitura, a
escrita e a reflexão. Para a escritora, conquanto haja avanços na investigação
a respeito da linguagem, ainda existem práticas inadequadas e irrelevantes que
não condizem com as mais recentes concepções de língua, pois a linguagem evolui
e na sala de aula a metodologia continua sendo a mesma. A autora tem a
pretensão de alcançar os objetivos mais amplos e relevantes, no ensino da
língua, que favoreçam um contato mais positivo do aluno com o objeto de estudo,
no sentido de fortalecer o processo da fala, audição, escrita e leitura, para
que estas ações tenham maior propriedade na construção do conhecimento, seja
político ou social.
Como a autora esclarece ter a obra um
caráter de “incompletude”, à espera da participação reflexiva, crítica e
criadora de cada professor – vale inserir, também, nessa perspectiva a figura
do sujeito leitor. E sabendo que há inexauríveis pensamentos, opiniões e
concepções, teço minha análise-crítica a respeito da obra e do tema.
No primeiro capítulo, Irandé Antunes
aborda as maiores dificuldades e os maiores equívocos ainda constatados em
relação às atividades pedagógicas, no tratamento com a oralidade, a escrita, a
leitura e a gramática.
Quando se fala de Língua Portuguesa,
muitos pensam em conceitos, regras e normas, enfim, em gramática. Essa
concepção foi colocada, ao longo do tempo, pelos gramáticos tradicionais, pela
escola e pelos professores, vindo até os dias atuais.
Ensinar Língua Portuguesa não se
deveria resumir ao estudo da gramática e feitura de exercícios para fixação das
regras e normas, mas é o que na realidade acontece. Ultimamente, a Linguística
tem colaborado para que haja mudanças relevantes no ensino, na abordagem e no
estudo da língua.
Nas escolas públicas, pode-se notar a
existência da disciplina Língua Portuguesa que se encarrega de fazer um estudo
“completo” no âmbito da leitura, da redação e da gramática. Ao passo que nas
instituições privadas – não que seja o procedimento ideal, mas há uma
especificidade de estudo e um tempo, determinado, para isso – não se nota a
existência da disciplina Língua Portuguesa. O ensino da língua é subdividido em
várias outras disciplinas: a gramática, a redação, as literaturas.
A meu ver, o tempo e a especificidade
de estudos aludidos acima podem ser benéficos no processo de aprendizagem
embora não sejam suficientes na formação adequada de leitores capacitados para
compreender, interpretar e aplicar os conhecimentos adquiridos. Já o paradigma
de estudo da linguagem utilizado por muitas escolas públicas: o de se fazer um
estudo de todos os aspectos numa só disciplina pode pecar pela falta de
organização, pela desatenção e pela dispersão dos educandos.
Nos outros capítulos, a escritora
apresenta alguns princípios teóricos que são capazes de fundamentar um ensino
mais eficiente e relevante da língua, além de retratar sugestões de atividades
que podem ser desenvolvidas no âmbito da escrita, da leitura, da reflexão
gramatical e da oralidade. Hoje existem possibilidades de se sair do
tradicionalismo empregado no ensino da Língua Portuguesa, fazendo com que as
aulas sejam mais prazerosas e com que os educandos não reclamem de sono, de
falta de vontade etc. Existem métodos de aulas que não sejam apenas exposição
de regras e normas mas que possibilitam a inserção dessas regras no ambiente
que condiz com a realidade de cada aprendiz.
A meu ver, não só o aprendizado, mas também o uso
da Língua Portuguesa está atrelado ao contexto sócio-cultural e político em que
se encontra o indivíduo falante. Logo, o acontecimento deveria nortear a
prática pedagógica. Aprender só gramática, em uma sociedade na qual a
comunicação evolui velozmente é, como diz a própria autora, tornar-se um
“sujeito inexistente”.
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