quarta-feira, 27 de junho de 2012

Reeditemos Vasconcellos Maia

Ruth Guimarães 

Quando vi o livro, pensei: mais “um” de poesia, embora o pensamento não estivesse voltado para poesia essencial, mas formulado em termos puramente visuais de apresentação. Mais “um” de versos, deveria dizer, com mais verdade, para aderir intimamente a esse mesmo pensamento. Pois sabe-se que às vezes não se trata de poesia, mas se continua a dizer poesia, por uma espécie de comodismo, e por motivos outros, igualmente graves – transação de consciência, niilismo, desejo de nãocompromisso, medo de tomar posição, formando juízo, que terá de ser defendido. Estas coisas, que por um lado se pensam, e por outro apenas são apreendidas, assim a jeito de um pensar mais sutil, acessível somente a quem possui antenas delicadas, passam logo à categoria dos indizíveis e dos imponderáveis. 

No pensamento, há uma série de expressões, atrás das outras, que não podem ser captadas por falta de expressão consentânea. Uma opinião, nem por ser no pensamento, estará isenta de palavras. Como se poderia pensar, a não ser travando um diálogo interminável com os nossos conhecimentos? 

Resultou que não era o que eu esperava, e aqui não ouso escrever que não era o que eu temia. 

Pois não era. 

Contos em forma de poemas, ou poemas em forma de contos, sei lá! Da intenção de fazer conto-poema dão testemunho o conto inicial e a própria apresentação do livro ( o meu é de 1955, O Cavalo e a Rosa, Vasconcellos Maia, Livraria Progresso Editora, Salvador):- os desenhos alucinados de Caribé, o índice realmente muito interessante e original que tem em mira efeitos estéticos visuais, como os livros de versos. 

Referindo-se ao “O Maio e a Rosa”, disse alguém que Vasconcellos Maia achou uma frase feliz e a quis fazer render. Não será tão simplista a solução. Parece que o Autor quis, através de um período com um mínimo de variações, esquematizar à maneira de poema o seu conto. Vemos apresentada, uma após outra, numa gradação vagarosa de tons cambiando para o negro, as muitas faces da divindade, todas iguais, porém cada uma contendo uma Verdade diferente. 

Já se disse que quiseram ser poemas, então deveria eu distinguir novamente: são e não são o que eu temia, porém já é complicação demais, para quem ama as coisas simples. E embora não pareça, eu as amo. Então afirmemos de uma vez por todas que contém poesias – é Poesia – e esse reconhecimento é talvez tudo quanto deve ser dito em seu louvor. E não é pouco. Qualquer comentário, depois disso, é redundância.

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