Deide Gabriela de Oliveira Costa
Resumo: Esta pesquisa pretende refletir sobre a dinâmica do estrangeirismo presente nos produtos nacionais, com o objetivo de entender a relação entre o consumidor e os signos sociais presentes no uso dessa língua. Para a pesquisa foram entrevistados 15 consumidores, buscando refletir a posição deles diante do uso de estrangeirismos nos produtos que consomem. A pesquisa resultou na idéia de que os fatores sociais influem nos fatores linguísticos.
Palavras-chave: Estrangeirismo, influências, símbolo linguístico.
1. Introdução
O uso de palavras estrangeiras vem se intensificando cada vez mais na Língua Portuguesa, principalmente nas palavras oriundas da língua inglesa. Isso se deve aos fatores sócio-econômicos dos Estados Unidos da América, os quais trazem entre outras influências, a língua. Este trabalho visa entender a influência que essa língua exerce nos produtos nacionais, os quais a utilizam como um recurso linguístico, buscando atribuir aos produtos as mesmas concepções sociais que se tem da língua inglesa. Esse trabalho foi dividido em três etapas. A primeira traz os fundamentos teóricos do tema aqui discutido. Logo após estão os passos metodológicos para realização da pesquisa e os dados que foram coletados. Por último estão as considerações finais, trazendo a conclusão da pesquisa, mostrando que os aspectos de ordem social influenciam e muito no uso de línguas estrangeiras, e atualmente da língua inglesa, já que o EUA é visto como uma potência econômica.
2. Fundamentação Teórica
O estrangeirismo é um fenômeno natural que desde a antiguidade se mostra presente nas sociedades. Segundo Bechara (2007, p. 599) “Estrangeirismo é o emprego de palavras, expressões e construções alheias ao idioma que a ele chegaram por empréstimos tomados de outra língua”. Todas as línguas convivem de forma direta ou indiretamente com os estrangeirismos, pois eles são consequências do processo de interação entre as sociedades linguísticas,pois como afirma Faraco (2001, p.140) o estrangeirismo é “um fenômeno comum a todas as línguas do mundo, resultante do fato de que a miscigenação das culturas (e, por consequência, das línguas) é um dado universal”.O uso de palavras estrangeiras está relacionado à valorização da cultura de um povo, isso acontece quando um país depende economicamente ou intelectualmente de algum outro país. Assim, além das teorias, das tecnologias e dos produtos é importada também a língua como mais um elemento da sociedade que se sobrepõe pelos seus aspectos socioeconômicos ou sócio-culturais.
A língua portuguesa recebe influências das línguas estrangeiras desde a colônia, pois nesse período devido o contato com povos vindos de outros países o Brasil recebeu muitos estrangeirismos,hoje boa parte deles faz parte do léxico da língua portuguesa, e os outros desapareceram com o tempo. No Império não foi diferente, já que durante esse período a França estava no auge das divulgações literárias, científicas, filosóficas, artísticas, teatrais, enfim, a cultura francesa se expandia, e com ela veio a sua língua, em que algumas palavras do francês foram bastante utilizadas na época em muitos países, inclusive no Brasil.Hoje, na língua portuguesa os estrangeirismos advêm principalmente da língua inglesa, pois a situação sócio-econômica dos Estados Unidos da América contribui nessa realidade. Com isso, essa língua é vista como uma mercadoria de alta conotação, pois simboliza uma sociedade de grande porte político e econômico. Esse pensamento de supremacia da cultura desse país é também expresso na língua, pois o Inglês hoje é visto como instrumento de poder na sociedade, além de que existem situações como a obtenção de alguns empregos e a prestação de vestibulares em que a experiência com essa língua é necessária. Diante dessa posição social sobre a língua inglesa é observável que muitos produtos produzidos no Brasil recorrem a essa língua como uma referência de qualidade,buscando associar ao produto as mesmas características que a sociedade atribui à língua inglesa. Nesse sentido, o valor social do produto é determinado pela “criação e manutenção de um conjunto organizado de características funcionais e aspectos simbólicos a ele conectados”(PINHO, 1996, p. 48).As associações do nome referente a um produto consistem no processamento das informações passadas através dos símbolos linguísticos, ou seja, a linguagem expressa no produto busca produzir um significado, um valor representativo para o consumidor,com o objetivo de atribuir ao produto uma sofisticação norte-americana. Nesse sentido, pode-se dizer que a sociedade atual consome objetos pelos seus signos, pelas representações simbólicas que oferecem.Essa atitude de marketing utiliza o estrangeirismo como um recurso linguístico que atribui significados ao uso da língua inglesa, e isso só enriquece a língua portuguesa, pois é um meio de renovação lexical, sendo que os estrangeirismos fazem parte da dinâmica da língua, refletindo ainda os aspectos sociais, culturais e históricos dos seus usuários, pois segundo Possenti (2001, p. 170) “Um léxico sempre pode crescer, ou o atual receber novos sentidos, mas isso dificilmente se faz por decreto. A história das línguas é em grande parte de empréstimos”
3. Universo da pesquisa e análise dos dados coletados
Essa pesquisa é de abordagem qualitativa em que se relaciona o sujeito com a sua realidade. Primeiramente foi feito um levantamento bibliográfico do tema trabalhado, logo após foi realizada uma entrevista com os sujeitos da pesquisa conforme um questionário com uma sequência de perguntas sobre o consumo de produtos com nomes estrangeiros, e especificamente com nomes na língua inglesa. Os sujeitos pesquisados foram 15 consumidores entre 15 e 40 anos de idade. Inicialmente, foi questionado o critério para escolha de um produto de consumo, a resposta de todos se resume na fala de um dos entrevistados, uma jovem de 18 anos:
A qualidade e o preço são meus critérios essenciais!
Esse depoimento mostra os aspectos da sociedade capitalista moderna, que não quer a qualidade ou o preço baixo isolados um do outro, querem os dois associados. Entretanto, o preço é fácil de ser identificado em um produto, mas como saber se elepossui a qualidade procurada?Para responder essa indagação foi questionado aos sujeitos da pesquisa se o nome de um produto pode ter referência com a sua qualidade. Nove entrevistados responderam que “sim”, justificando-se que o “nome fala aquilo que o produto oferece”, os outros seis responderam “não”, já que para eles a qualidade é analisada pela “experiência dos usos”. Contudo, esses seis entrevistados precisam utilizar algum critério para escolher os produtos e assim testá-los. Para tanto, ao se questionar sobre o assunto a maioria respondeu que um dos critérios é “os elementos da embalagem”, dentre esses elementos está a língua escrita, e por isso disseram que “sim, os elementos linguísticos interferem na escolha de um produto”. Isso constata o que é fundamentado nesse trabalho, o fato de que os símbolos representados pelas palavras (que podem ser estrangeiras) interferem na visão social das pessoas em referência a um objeto de consumo. Em um último momento levantou-se a questão do estrangeirismo, em que foi perguntado aos entrevistados o que significava a língua inglesa hoje no mundo, 50% respondeu que ela é o exemplo do “poder econômico” norte-americano, os outros disseram que é mais uma forma que as sociedades abastadas acharam de “diferenciar-se das classes menos favorecidas”, já que poucas pessoas não pertencentes às elites sabem falar essa língua.
As duas respostas denotam aspectos sociais para uso do inglês, uma por mostrar o poder que um país pode exercer e sua influência cultural proporcionada por esse poder, e a outra como instrumento de discriminação, sendo também originada da influência cultural de um país. Sabendo que as características linguísticas dão significados maiores aos produtos, questionou-se se aos entrevistados se os nomes estrangeiros originados da língua inglesa contidos nos produtos comercializados atribuem a esses produtos alguma característica, oito pessoas responderam que pode significar de alguma forma “qualidade e referência”, outras quatro responderam que esses produtos são usados por pessoas de classes mais favorecidas já que “essa língua é entendida por eles”, e que, portanto, possuem “prestígio social”, o restante dos entrevistados, três pessoas, responderam que esses nomes muitas vezes não são “entendidos” e que por isso preferem usar “um produto que fale na nossa língua, pois é mais compreensível”. Esses depoimentos fortalecem a ideia de que a língua vale o que vale os seus falantes na sociedade, assim se a língua inglesa é significado de poder e qualidade o seu uso em produtos comercializados atribuirá as mesmas características de sofisticação.
4. Considerações finais
Nessa pesquisa pode ser observado que a posição do uso de estrangeirismo em produtos nacionais é de caráter simbólico, já que a língua carrega aspectos sociais. Assim, conclui-se que o uso de estrangeirismos consiste em um fator social, linguístico e cultura, podendo dizer ainda que mesmo com esses usos o estrangeirismo não afeta a língua, mas a enriquece com uma variedade maior de vocabulários.
REFERÊNCIAS
BAGNO, Marcos, STUBBS, Michel, GOFNÉ, Gilles. Língua Materna Letramento, Variação e ensino. Ed. Parábola, 2002.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. revista e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.
CALVET, L-J. Sociolinguística: uma introdução crítica. Tradução: Marco Macionilo. São Paulo: Parábola, 2002 (La Socioliquistique. Paris: PUF, 1993).
FARACO, Carlos Alberto e outros. Estrangeirismos: Guerras em torno da língua. Edição 1. São Paulo. SP. Parábola. 2001.
LABOV, William. Padrões sociolinguísticos. Tradução de Marcos Bagno, Maria Marta Pereira Scherre, Caroline Rodrigues Sampaio. São Paulo: Parábola, 2008.
MARCUSCHI, Luiz. Linguagem e classes sociais. Edição 1. Porto Alegre. RS. Movimento. 1975.
PINHO, J.B. O poder das marcas. São Paulo: Summus Editorial. 1996.
POSSENTI, Sírio. A questão dos estrangeirismos. In FARACO, C. A. (Org.).Estrangeirismos: Guerra em torno da lingual. Sao Paulo: Parábola Editorial, 2001.
PRETI, Dino. Sociolinguística: Os níveis da fala. Edição 9. São Paulo. SP. Edusp. 2000.
SAMARA, Beatriz Santos; MORSCH, Marco Aurélio. Comportamento do Consumidor: conceitos e casos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
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