Everton Pereira Santos
Já é certo que as pessoas, hoje, não vivem sem acessar a Internet. Nem que seja uma vezinha por dia, para olhar os scraps. E parece mesmo que o scrap virou a mais moderna forma de se comunicar, mas não esquecendo os gêneros digitais existentes, como o MSN Messenger (o mais popular dos “messengers”), o e-mail (pioneiro nessa forma de comunicação virtual), os blogs e até os flogs.
É claro que a Internet serve para muitas outras funcionalidades, mas a comunicação é a principal característica de todos os recursos da rede. E uma vez que se fale de comunicação, o scrap, como já dito, é a principal forma de trocar mensagens na Internet, por intermédio do Orkut.
Ao se fazer uma análise da funcionalidade do scrap, percebemos que ele é uma forma evoluída do bilhete comum e, como tal, carrega as mesmas funções do seu antepassado, mas ainda não inutilizado, bilhete. Serve para comunicar algo a alguém, de forma curta e prática.
E quando se fala nesse tipo de evolução, devemos conhecer o que são os gêneros textuais, suas evoluções e adaptações.
Gêneros textuais são tipos estáveis de enunciado que refletem as condições específicas e as finalidades de utilização da linguagem. Em outras palavras, é o nome que se dá a cada tipo de enunciado, como: bilhete, redação, carta, scrap, e-mail, artigo científico (gêneros textuais escritos), palestra, notícia televisiva, rádio-novela (gêneros textuais falados), piada, canção, anedota (gêneros textuais escritos e falados) etc.
Luiz Antônio Marcuschi, pesquisador da área de gêneros textuais e professor da Universidade Federal de Pernambuco, observa que o surgimento de novos gêneros textuais nada mais é que uma adaptação dos gêneros às tecnologias encontradas atualmente. O scrap é, então, um gênero textual que deixou de ser bilhete para se transformar no que é hoje. Marcuschi observa ainda que a depender de onde o texto seja inserido, ele será um ou outro gênero textual.
Nessa adaptação a essas tecnologias, a função de deixar uma mensagem para alguém ficou mais dinâmica, pois o scrap permite a resposta imediata do recado e, mais recentemente, o usuário que estiver conectado ao Orkut pode saber quando alguém o manda uma mensagem, através de um quadro de avisos que aparece no canto inferior da janela.
Assim como a função do bilhete é deixar uma pequena mensagem para alguém, o scrap mantém tal característica, nos levando a outra reflexão.
Nas conversas de internet e nas mensagens do orkut, observa-se, já há algum tempo, o surgimento do Internetês, que nada mais é que uma forma específica de se comunicar, cuja característica principal é a simplificação de palavras.
A linguagem da internet reflete a “lei do menor esforço” praticada na linguagem oral. O uso de palavras como “pq”, “vc”, “kd”, “tb”, “hj”, “fds”, “flw”, demonstram essa forma de simplificação das palavras.
Existem também formas acrescidas de palavras, que não refletem a lei supracitada, mas demonstram a capacidade de criação dos internautas e uma necessidade de manipular a língua portuguesa a fim de dar características próprias ao que se fala na internet. Tais palavras são, por exemplo: “naum”, “amow”, “tah”, “jah”, “eh” etc.
Vê-se também formas exageradas de se expressar o que se quer dizer, como por exemplo: “amoowwww”, “bejãooooOoOoOoO”, ou frases que requerem uma maior análise para que se entenda o significado, como: “MAR É DOJXA VISSE?” cujo significado seria: “mas é doida, viu?”. Aqui no Brasil, para alguns, esse tipo específico de linguagem é chamada de miguxês.
Na linguagem da Internet, existem ainda duas formas de comunicação que são bastante utilizadas pelos internautas: o smile e as risadas onomatopaicas.
O smile, ou emoticon, expressa as emoções das pessoas que estão utilizando a comunicação. Alguns exemplos comuns são: :) , :( , :P , 8-), XD , :| , ¬¬ , #-D etc. São variadas as formas de smile que se encontram hoje.
As risadas representam as onomatopéias de risadas normais, e algumas bastante anormais. São elas “hehehe”, “rsrsrsrsrs”, “kkkkkk” e, algumas novas “auhuhauhauha”, “ahuhusahusahuauhs”, “heaoueahaoeuah” etc. E, ainda, a risada padrão importada da língua inglesa, já simplificada “LOL”, que significa “Laughing Out Loud”.
Diante dessa linguagem nova que o scrap apresenta, o jovem, principalmente, pois este é quem está em formação lingüística, deve se preocupar em não utilizar o internetês em textos onde a norma culta é necessária, como redações, cartas formais, provas etc.
Há teorias linguísticas que dizem que a língua sofre mutações diariamente. A linguagem oral sofre essas alterações dia-a-dia e é mais perceptível, pois não há regras no que chamamos de português não-padrão, que é a linguagem que utilizamos diariamente, sem se preocupar com as normas do português padrão.
Mas ao contrário da linguagem oral, a escrita ainda se preocupa com as normas, porque ela, a escrita, evolui menos que a oral. Claro que a linguagem da Internet vem derrubando isso aos poucos, criando neologismos e provocando uma verdadeira mutação linguística. Mas ainda deve-se atentar às maneiras de como escrever o texto. Existe na Internet a liberdade para simplificar as palavras e até criar outras novas, porque esse tipo específico de linguagem reproduz a linguagem oral, o português não-padrão.
Portanto, deve-se usufruir do Internetês, separando-o dos lugares onde a norma culta ainda é necessária. Cada gênero textual carrega suas próprias características, inclusive no que diz respeito a que linguagem utilizar, ou não. Seria muito estranho vermos um scrap começando com “à Vossa Senhoria” ou finalizando com “Atenciosamente”. O internetês tem lugar próprio para ser utilizado, assim como o tem o português padrão. Saber utilizar cada um em seu lugar é que faz de cada pessoa uma boa usuária da língua portuguesa.
Uma boa dica, para concluir, é conhecer os gêneros textuais e perceber que tipo textual e que tipo de linguagem está sendo usado em um ou em outro gênero. Desse jeito, fica mais fácil produzir textos para fins específicos e, é claro, pratica-se a leitura de uma forma geral.
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