Cada um de nós é um continente postado à mesa, cada qual em seu lugar respeitando fronteiras estabelecidas pela linguagem. Um sorriso é sempre encorajador se faz brechas no muro sentado em frente: e o sorriso se constrange quando obrigado a responder em língua estranha. Os sons indecifráveis não entendem o olhar súplice implorando a interrupção dessa torrente que nada diz. O gesto indeciso aumenta o mar de palavras, inunda o inimigo...
Algumas das nove musas, entre elas Dança, Canto, Música, Poema, invadem espaços, engolem fronteiras. O povo sentado à mesa se embebedou saudando as bruxas que traduziam mal o linguajar eclesiástico vertido nas taças. O mapa-múndi perdeu o equilíbrio, trocou de posição; o eixo pendeu esvaziando mares encharcando penínsulas.
Mesas são afastadas, desfaz-se o nó das gravatas, começa o ritmo desconhecido. Os pés tentam acompanhar, mas o compasso está mesmo é na malícia dos olhos seguindo o rebolado da mulata. Heresia? O que faz o sacerdote cristão sobre a mesa? Rouba a cena tentando imitar a dança que o encanta. Alguém ousa dizer que a Europa não tem gingado? o eixo do mundo pende novamente, a África muda de lugar. Nos rostos azuis os grandes beiços imitam a percussão do surdo. Um passo. E dois. Um. E dois. E um e dois; e um e dois e um e dois eumedois. Quadris comunicam o convite universal – África, Europa, Continente Americano esmaecem o desenho original, todo mundo é preto e branco.
Silêncio. Mesas abandonadas, salão vazio, toalhas manchadas, taças quebradas, um lenço perdido.
As musas se afastam. A linguagem cede lugar à polidez; o sorriso tímido responde outra vez ao que não pode mais entender...
Júnia Botelho |
Especializações: História do Cinema - Fotografia - Especialização em Tradução
Sítio: www.palascomunicacao.com.br
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