sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mário de Andrade e a linguagem

A linguagem de Mário de Andrade se constituiu, em parte, o desiderato do Autor, que era abrasileirar o Português do Brasil. Agora nos causa uma impressão senão de artifício e de postiço, pois disso nos salva a genialidade do grande Modernista, causa-nos uma impressão de atitude estudada, de intervenção indébita na língua. O que a esvazia da sua Verdade.

Mário Neme, em artigo a respeito de Mário de Andrade e Antoninho de Alcântara Machado na Revista do Arquivo Municipal de São Paulo, sai-se com esta apreciação: “sinto que falta ................. alguma coisa de mais puro, de mais natural, de menos pensado... na linguagem do Mestre. É que Mário de Andrade, intelectual puro, está muito alto, culturalmente, para se identificar com a massa.”

Todavia Sérgio Milliet nos dá seu depoimento, exatamente contrário: Conta-nos de uma senhora que estava traduzindo para o francês os contos de “Belazarte”, pouco depois da morte de Mário. “Trabalhamos, a tradutora e eu, duas manhãs inteiras, na procura das melhores soluções e foi aí que, relendo os contos tão meus conhecidos, tive a oportunidade de observar até que ponto essa língua de Mário de Andrade era brasileira.” Boa parte daquilo que se classificou como pernóstico e que tanto chocava o leitor pacato de suas crônicas ou de seus livros deve atribuir-se a essa constante solicitação do Brasileiro, em Mário de Andrade. Assim como na época das primeiras colonizações os jesuítas incentivavam a expansão da língua geral, dando-lhe uma estrutura sintática vocabular, Mário, em nossos tempos de regionalismos literários tentou descobrir e cultivar o denominador comum do Português falado no Brasil”.

Então repitamos com Manuel Bandeira:

“A sua finalidade era a unificação psicológica do Brasil. De fato, Mário de Andrade viveu e produziu sempre em função desse destino que se impôs, como um apostolado”.

Sabemos que Mário de Andrade o propulsor e o estruturador do Modernismo brasileiro, em Literatura, e quiçá nas outras artes, porque deu o primeiro impulso e ficou, à maneira de um Atlas, sustentando um mundo. Em função desse gigantesco destino, ele foi, ao mesmo tempo, o Realizador e a Vítima dos caminhos e descaminhos da tendência nacionalista. Aceitou como força vital a Literatura, e, em última instância, a Palavra, tocando, por si só e por si mesma a significação total do Ser.

Mário foi o que lutou, tentou, tateou, intuiu, estudou, fez, desfez, e refez caminhos. A sua luta foi tremenda, tremendo foi o seu drama, tremenda a sua intransigente honestidade.

Não entendemos porque, com a excelência de seus livros, com a sua linguagem brasileira – a sua obra não é exaustivamente indicada, repisada, incluída em todos os vestibulares, de todas as escolas do país.

Fizéssemos isso e nos tornaríamos talvez independentes da nossa atual galopante involução, involução esta comandada por todas as nossas mestras eletrônicas.

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