Prof.
Ms. Marcelo Krokoscz
Plágio
é a apropriação indevida de ideias e conteúdos produzidos por outros, mas que
são apresentados como se fossem próprios.
A
ocorrência de casos dessa prática no âmbito acadêmico tem sido repercutida na
mídia nacional e internacional o que vem demonstrando se tratar de um problema
que acontece com frequência e que vem sendo ignorado.
ALGUMAS
PONDERAÇÕES SOBRE O ASSUNTO:
1. Estima-se que o plágio esteja disseminado na produção
acadêmica universitária. Nos Estados Unidos, por exemplo, verifica-se ampla
bibliografia e publicações sobre o assunto, sobretudo nos últimos 60 anos
(HART; FRIESNER, 2004 apud MCCORD, 2008). Não obstante o comprometimento dos
pesquisadores com o assunto, estudos indicam que 36% dos estudantes
norte-americanos admitem fazer plágio (PLAGIARISM, 2009). O jurista Richard
Posner estima que um terço dos estudantes universitários americanos cometem
plágio ou algum tipo de fraude acadêmica (POSNER, 2007, p.8). No Brasil, 82,7%
dos professores alegam já ter-se deparado com trabalhos acadêmicos que não
foram feitos pelos alunos (GARCIA, 2006).
2. A ocorrência do plágio é responsabilidade de todos os
envolvidos na instituição educacional: alunos, professores, gestores e também
da comunidade. Ultimamente, a banalização do plágio vem-se tornando tema
recorrente na mídia mundial.
3. O plágio no ambiente acadêmico é um fenômeno bastante
específico porque, além do redator (o plagiário, quem copia) e do autor
(plagiado, de quem foi copiado), envolve um terceiro sujeito que é o leitor (o
enganado, quem recebe o trabalho copiado).
4. O plágio no ambiente acadêmico é inaceitável. Além de
ser considerado roubo de ideias ou empréstimos mal feitos, trata-se de uma
fraude do conhecimento, de desonestidade do estudante e mancha na reputação
acadêmica da instituição. O desenvolvimento do conhecimento por meio da prática
da pesquisa científica é um dos aspectos fundamentais da instituição
universitária e foi considerado pela comunidade intelectual brasileira em 1932 como
o “centro nervoso da universidade" (AZEVEDO et al., 1984).
5.
No meio acadêmico brasileiro é dada pouca importância ao fenômeno do plágio. Há
pouca pesquisa relacionada ao assunto. Além de não fazer parte dos manuais de
formação acadêmica, as instituições de ensino não apresentam esclarecimentos e
orientações em suas páginas eletrônicas sobre o assunto (KROKOSCZ, 2011).
6. Embora o plágio seja previsto como infração pela Lei
dos Direitos Autorais (Lei 9.610/1998) com enquadramento descrito no Código Penal
(Artigo 184), no ambiente universitário, o plágio é uma forma de desacato da
integridade acadêmica que escapa da responsabilização judicial. O advogado
Eduardo Senna, citado em matéria do portal Universia, esclarece que, embora o
plágio seja uma violação do direito autoral, “não é crime, e não pode ser
punido com ação penal, mas, sim, com ação cível". O plágio só pode ser
tratado criminalmente no caso de contrafação, no entanto, em geral o plágio
apresentado academicamente não corresponde a uma cópia literal da obra de outro
autor, mas a uma “imitação disfarçada” da propriedade intelectual alheia
(UNIVERSIA, 2005). "Nem a universidade nem o professor podem entrar com
uma ação contra o 97 aluno. O dono da obra é quem pode processar. Por isso que
é muito difícil de coibir isso e a história fica só no meio acadêmico",
ressalta o advogado (UNIVERSIA, 2005).
7. O combate ao plágio vai além da simples constatação e
punição aos responsáveis diretamente envolvidos. Ações efetivas de
enfrentamento são àquelas orientadas à prevenção e tratamento das causas de
ocorrência. Donald McCabe, professor no Curso de Administração da Universidade
de Rutgers, realizou estudos que demonstram que a adoção de Códigos de Honra
tem sido a forma eficaz encontrada por muitas universidades para reduzir
práticas desonestas no ambiente acadêmico, sobretudo quando uma parte pequena
dos estudantes é envolvida em sua elaboração e depois garantem a aceitação
desses códigos por toda a comunidade educativa (MCCABE; PAVELA, 2005).
8. Algumas propostas de enfrentamento do plágio no meio
acadêmico são: o emprego de esforços das instituições de ensino na adoção de
políticas relacionadas ao assunto, bem como a criação de conteúdos e
estratégias acadêmicas para a mitigação desse problema, tais como: adoção de
Códigos de Ética, apresentação de conteúdo relacionado ao plágio nas home page
das universidades brasileiras, integração do estudo sobre escrita acadêmica e
plágio em matéria específica da grade dos cursos superiores (KROKOSCZ, 2011).
ALGUMAS
DICAS PRÁTICAS PARA EVITAR A OCORRÊNCIA DO PLÁGIO:
-
Para ser evitado, o plágio precisa ser conhecido. Em alguns casos, o plágio
acontece acidentalmente porque o estudante não sabe como ele ocorre. Contudo, a
falta de intencionalidade não é atenuante para a ocorrência do plágio. No
Instituto de Technologia de Massachusetts (MIT, 2011), é observado que mesmo
nesses casos as consequências são dolorosas e implicam reprovação e expulsão.
Eis algumas modalidades de ocorrência do plágio:
a)
Plágio direto (word by word): cópia literal;
b) Plágio indireto (paraphrase): interpretação de um
texto original sem indicação da fonte;
c)
Plágio de fontes: quando um trabalho é feito com a reprodução de citações de
outros trabalhos;
d) Plágio consentido (conluio): apresentação de trabalhos
feitos por colegas ou comprados;
e)
Autoplágio: quando o estudante entrega o mesmo trabalho para disciplinas
diferentes, sem informar que o conteúdo já foi apresentado anteriormente. -
Oriente os estudantes que trabalhos acadêmicos devem ser apresentados de acordo
com as convenções de escrita científica adotadas pela comunidade.
Deve
ser seguida a normalização da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
As principais normas a serem seguidas são:
a)
NBR 10520 de 2002 sobre a apresentação de citações;
b)
NBR 6023 de 2002 sobre a apresentação de referências;
c)
NBR 14724 de 2011 sobre a apresentação de trabalhos acadêmicos.
Avise
os estudantes que o plágio pode ser facilmente identificado. Usando a intuição,
um pouco de bom senso e o conhecimento do perfil dos alunos, a comparação entre
o estilo de escrita no trabalho e o nível de conhecimento dos alunos pode
evidenciar que há algo de errado no trabalho entregue.
A
Profª. Nancy Stanlick (2008), da University of Central Florida, observa, por
exemplo, o caso de trabalhos escritos com uma eloquência que não corresponde ao
vocabulário do aluno e com seções inteiras reproduzidas a partir da internet de
fontes que sequer são acadêmicas, como blogs, enciclopédias eletrônicas, sites
pessoais, institucionais ou de notícias etc.
Faça
a arguição de trabalhos entregues com evidências/suspeitas de plágio. Quando
perceber que o conteúdo apresentado não corresponde ao vocabulário ou estilo de
escrita do aluno, peça ao aluno que explique determinadas passagens do
trabalho. Se o aluno não escreveu as ideias apresentadas, não será capaz de
sustentar o argumento desenvolvido no texto. Quando o estudante não sabe o que
está escrito, fica evidente que ele não é o autor do texto apresentado.
Avise os estudantes que os trabalhos entregues serão
submetidos a softwares de detecção do plágio. Para isso, solicite que seja
entregue uma versão eletrônica no formato de edição de texto (Word by
Office/Microsoft) para que o arquivo possibilite a busca de similaridades.
Recomende, inclusive, que os estudantes façam isso antes de entregarem seus
trabalhos. Confira no link "As 20 melhores ferramentas gratuitas
antiplágio", selecionadas pelo The Blog Herald. No Brasil, há o aplicativo
Farejador de Plágio (www.farejadordeplagio.com.br) que faz o rastreamento
gratuito de similaridades em uma parte de qualquer documento. Com o pagamento
de única e pequena taxa, o usuário é registrado para utilizar o sistema
completo indefinidamente. O software mais utilizado internacionalmente é o
Turnitin.
Recomende
que o estudante assine uma declaração de autoria. Essa estratégia, usada na
Universidade de Oxford (EUA) e na Universidade de Cape Town (África do Sul),
funciona como um atestado de responsabilidade autoral, o que confere maior
comprometimento e seriedade ao processo de pesquisa.
Prefira que os trabalhos sejam entregues no formato de
artigos científicos. Essa modalidade de trabalho, que visa à apresentação em
evento científico e/ou publicação (em periódico, repositório institucional,
blog etc.), aumenta a seriedade do conteúdo e dos resultados produzidos. Além
disso, a possibilidade de visibilidade pública do trabalho também aumenta a
preocupação do redator com a sua integridade. - Solicite que trabalhos longos
sejam entregues de forma escalonada. Corrija as partes que forem entregues e
faça sugestão de modificações no texto. Indique novas fontes que devem constar
no trabalho. A entrega do trabalho em partes, com correção e solicitação de
alterações, minimiza a prática de compra de trabalhos prontos porque requer que
o aluno faça esforços permanentes na elaboração do próprio trabalho, tornando o
“investimento” na compra de um trabalho feito por um escritório especializado
nesse tipo de (des)serviço um mal gasto. - Modifique a forma de solicitar a
apresentação do conhecimento produzido pelos alunos.
Phil
Davies, professor da Escola de Informática da Universidade de Glamorgan (Reino
Unido), diz que vem usando há dois anos a técnica de "digital
storytelling" e, desde então, não tem encontrado mais evidências de plágio
nos trabalhos feitos pelos alunos (WILLIANS, 2010). A estratégia consiste
basicamente na mudança da forma de entrega dos trabalhos: ao invés de conteúdos
escritos, os alunos devem apresentar o trabalho com o uso de recursos
multimídia.
Esclareça
quais são as sanções e penalidades aplicadas aos estudantes que cometem plágio.
Solicite o comprometimento ético do aluno. Apesar da
existência de ferramentas eletrônicas para a detecção do plágio e de um
aparelhamento legal e institucional que permite o cerceamento do plágio, cabe
insistir na importância de que evitar o plágio, mais do que uma decisão
intimidada pela coerção, deve ser uma escolha do indivíduo que denota
comprometimento pessoal e manifesta pacto com valores inegociáveis
fundamentados em princípios como verdade e honestidade. Enfatize que o plágio é
uma fraude intelectual que compromete a reputação da instituição, mancha a
integridade acadêmica do estudante e prejudica a sua carreira profissional no
futuro.
Alguns
casos de plágio, ocorridos em 2011, com implicações acadêmicas e profissionais:
a)
Karl-Theodor zu Guttenberg foi pressionado a se demitir do posto de Ministro da
Defesa da Alemanha e teve seu título de Doutor cassado pela Universidade de
Bayreuth;
b)
London School of Economics (LSE) investiga denúncia de plágio na tese de doutorado
de Saif al Islam;
c)
O Prof. Andreimar Soares foi demitido da USP por envolvimento em caso de
plágio;
d)
A Drª Carolina Dalaqua Sant’Ana teve o título acadêmico cassado por causa de
plágio na tese.
Incentive
a cultura de integridade acadêmica. Estudos internacionais têm demonstrado que
o cultivo de práticas de integridade institucional, como a elaboração coletiva
e o emprego de Códigos de Honra, são altamente eficazes na redução das práticas
de desonestidade acadêmica (MCCABE, TREVINO; BUTTERFIEL, 2002; MCCABE; PAVELA,
2005). R
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