terça-feira, 7 de novembro de 2017

PONDERAÇÕES E DICAS PARA SE EVITAR O PLÁGIO

Prof. Ms. Marcelo Krokoscz

Plágio é a apropriação indevida de ideias e conteúdos produzidos por outros, mas que são apresentados como se fossem próprios.
A ocorrência de casos dessa prática no âmbito acadêmico tem sido repercutida na mídia nacional e internacional o que vem demonstrando se tratar de um problema que acontece com frequência e que vem sendo ignorado.

ALGUMAS PONDERAÇÕES SOBRE O ASSUNTO:

1. Estima-se que o plágio esteja disseminado na produção acadêmica universitária. Nos Estados Unidos, por exemplo, verifica-se ampla bibliografia e publicações sobre o assunto, sobretudo nos últimos 60 anos (HART; FRIESNER, 2004 apud MCCORD, 2008). Não obstante o comprometimento dos pesquisadores com o assunto, estudos indicam que 36% dos estudantes norte-americanos admitem fazer plágio (PLAGIARISM, 2009). O jurista Richard Posner estima que um terço dos estudantes universitários americanos cometem plágio ou algum tipo de fraude acadêmica (POSNER, 2007, p.8). No Brasil, 82,7% dos professores alegam já ter-se deparado com trabalhos acadêmicos que não foram feitos pelos alunos (GARCIA, 2006).

2. A ocorrência do plágio é responsabilidade de todos os envolvidos na instituição educacional: alunos, professores, gestores e também da comunidade. Ultimamente, a banalização do plágio vem-se tornando tema recorrente na mídia mundial.

3. O plágio no ambiente acadêmico é um fenômeno bastante específico porque, além do redator (o plagiário, quem copia) e do autor (plagiado, de quem foi copiado), envolve um terceiro sujeito que é o leitor (o enganado, quem recebe o trabalho copiado).

4. O plágio no ambiente acadêmico é inaceitável. Além de ser considerado roubo de ideias ou empréstimos mal feitos, trata-se de uma fraude do conhecimento, de desonestidade do estudante e mancha na reputação acadêmica da instituição. O desenvolvimento do conhecimento por meio da prática da pesquisa científica é um dos aspectos fundamentais da instituição universitária e foi considerado pela comunidade intelectual brasileira em 1932 como o “centro nervoso da universidade" (AZEVEDO et al., 1984).

5. No meio acadêmico brasileiro é dada pouca importância ao fenômeno do plágio. Há pouca pesquisa relacionada ao assunto. Além de não fazer parte dos manuais de formação acadêmica, as instituições de ensino não apresentam esclarecimentos e orientações em suas páginas eletrônicas sobre o assunto (KROKOSCZ, 2011).

6. Embora o plágio seja previsto como infração pela Lei dos Direitos Autorais (Lei 9.610/1998) com enquadramento descrito no Código Penal (Artigo 184), no ambiente universitário, o plágio é uma forma de desacato da integridade acadêmica que escapa da responsabilização judicial. O advogado Eduardo Senna, citado em matéria do portal Universia, esclarece que, embora o plágio seja uma violação do direito autoral, “não é crime, e não pode ser punido com ação penal, mas, sim, com ação cível". O plágio só pode ser tratado criminalmente no caso de contrafação, no entanto, em geral o plágio apresentado academicamente não corresponde a uma cópia literal da obra de outro autor, mas a uma “imitação disfarçada” da propriedade intelectual alheia (UNIVERSIA, 2005). "Nem a universidade nem o professor podem entrar com uma ação contra o 97 aluno. O dono da obra é quem pode processar. Por isso que é muito difícil de coibir isso e a história fica só no meio acadêmico", ressalta o advogado (UNIVERSIA, 2005).

7. O combate ao plágio vai além da simples constatação e punição aos responsáveis diretamente envolvidos. Ações efetivas de enfrentamento são àquelas orientadas à prevenção e tratamento das causas de ocorrência. Donald McCabe, professor no Curso de Administração da Universidade de Rutgers, realizou estudos que demonstram que a adoção de Códigos de Honra tem sido a forma eficaz encontrada por muitas universidades para reduzir práticas desonestas no ambiente acadêmico, sobretudo quando uma parte pequena dos estudantes é envolvida em sua elaboração e depois garantem a aceitação desses códigos por toda a comunidade educativa (MCCABE; PAVELA, 2005).

8. Algumas propostas de enfrentamento do plágio no meio acadêmico são: o emprego de esforços das instituições de ensino na adoção de políticas relacionadas ao assunto, bem como a criação de conteúdos e estratégias acadêmicas para a mitigação desse problema, tais como: adoção de Códigos de Ética, apresentação de conteúdo relacionado ao plágio nas home page das universidades brasileiras, integração do estudo sobre escrita acadêmica e plágio em matéria específica da grade dos cursos superiores (KROKOSCZ, 2011).

ALGUMAS DICAS PRÁTICAS PARA EVITAR A OCORRÊNCIA DO PLÁGIO:

- Para ser evitado, o plágio precisa ser conhecido. Em alguns casos, o plágio acontece acidentalmente porque o estudante não sabe como ele ocorre. Contudo, a falta de intencionalidade não é atenuante para a ocorrência do plágio. No Instituto de Technologia de Massachusetts (MIT, 2011), é observado que mesmo nesses casos as consequências são dolorosas e implicam reprovação e expulsão. Eis algumas modalidades de ocorrência do plágio:
a) Plágio direto (word by word): cópia literal;
b) Plágio indireto (paraphrase): interpretação de um texto original sem indicação da fonte;
c) Plágio de fontes: quando um trabalho é feito com a reprodução de citações de outros trabalhos;
d) Plágio consentido (conluio): apresentação de trabalhos feitos por colegas ou comprados;
e) Autoplágio: quando o estudante entrega o mesmo trabalho para disciplinas diferentes, sem informar que o conteúdo já foi apresentado anteriormente. - Oriente os estudantes que trabalhos acadêmicos devem ser apresentados de acordo com as convenções de escrita científica adotadas pela comunidade.

Deve ser seguida a normalização da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). As principais normas a serem seguidas são:
a) NBR 10520 de 2002 sobre a apresentação de citações;
b) NBR 6023 de 2002 sobre a apresentação de referências;
c) NBR 14724 de 2011 sobre a apresentação de trabalhos acadêmicos.

Avise os estudantes que o plágio pode ser facilmente identificado. Usando a intuição, um pouco de bom senso e o conhecimento do perfil dos alunos, a comparação entre o estilo de escrita no trabalho e o nível de conhecimento dos alunos pode evidenciar que há algo de errado no trabalho entregue.

A Profª. Nancy Stanlick (2008), da University of Central Florida, observa, por exemplo, o caso de trabalhos escritos com uma eloquência que não corresponde ao vocabulário do aluno e com seções inteiras reproduzidas a partir da internet de fontes que sequer são acadêmicas, como blogs, enciclopédias eletrônicas, sites pessoais, institucionais ou de notícias etc.

Faça a arguição de trabalhos entregues com evidências/suspeitas de plágio. Quando perceber que o conteúdo apresentado não corresponde ao vocabulário ou estilo de escrita do aluno, peça ao aluno que explique determinadas passagens do trabalho. Se o aluno não escreveu as ideias apresentadas, não será capaz de sustentar o argumento desenvolvido no texto. Quando o estudante não sabe o que está escrito, fica evidente que ele não é o autor do texto apresentado.

Avise os estudantes que os trabalhos entregues serão submetidos a softwares de detecção do plágio. Para isso, solicite que seja entregue uma versão eletrônica no formato de edição de texto (Word by Office/Microsoft) para que o arquivo possibilite a busca de similaridades. Recomende, inclusive, que os estudantes façam isso antes de entregarem seus trabalhos. Confira no link "As 20 melhores ferramentas gratuitas antiplágio", selecionadas pelo The Blog Herald. No Brasil, há o aplicativo Farejador de Plágio (www.farejadordeplagio.com.br) que faz o rastreamento gratuito de similaridades em uma parte de qualquer documento. Com o pagamento de única e pequena taxa, o usuário é registrado para utilizar o sistema completo indefinidamente. O software mais utilizado internacionalmente é o Turnitin.

Recomende que o estudante assine uma declaração de autoria. Essa estratégia, usada na Universidade de Oxford (EUA) e na Universidade de Cape Town (África do Sul), funciona como um atestado de responsabilidade autoral, o que confere maior comprometimento e seriedade ao processo de pesquisa.

Prefira que os trabalhos sejam entregues no formato de artigos científicos. Essa modalidade de trabalho, que visa à apresentação em evento científico e/ou publicação (em periódico, repositório institucional, blog etc.), aumenta a seriedade do conteúdo e dos resultados produzidos. Além disso, a possibilidade de visibilidade pública do trabalho também aumenta a preocupação do redator com a sua integridade. - Solicite que trabalhos longos sejam entregues de forma escalonada. Corrija as partes que forem entregues e faça sugestão de modificações no texto. Indique novas fontes que devem constar no trabalho. A entrega do trabalho em partes, com correção e solicitação de alterações, minimiza a prática de compra de trabalhos prontos porque requer que o aluno faça esforços permanentes na elaboração do próprio trabalho, tornando o “investimento” na compra de um trabalho feito por um escritório especializado nesse tipo de (des)serviço um mal gasto. - Modifique a forma de solicitar a apresentação do conhecimento produzido pelos alunos.

Phil Davies, professor da Escola de Informática da Universidade de Glamorgan (Reino Unido), diz que vem usando há dois anos a técnica de "digital storytelling" e, desde então, não tem encontrado mais evidências de plágio nos trabalhos feitos pelos alunos (WILLIANS, 2010). A estratégia consiste basicamente na mudança da forma de entrega dos trabalhos: ao invés de conteúdos escritos, os alunos devem apresentar o trabalho com o uso de recursos multimídia.
Esclareça quais são as sanções e penalidades aplicadas aos estudantes que cometem plágio.

Solicite o comprometimento ético do aluno. Apesar da existência de ferramentas eletrônicas para a detecção do plágio e de um aparelhamento legal e institucional que permite o cerceamento do plágio, cabe insistir na importância de que evitar o plágio, mais do que uma decisão intimidada pela coerção, deve ser uma escolha do indivíduo que denota comprometimento pessoal e manifesta pacto com valores inegociáveis fundamentados em princípios como verdade e honestidade. Enfatize que o plágio é uma fraude intelectual que compromete a reputação da instituição, mancha a integridade acadêmica do estudante e prejudica a sua carreira profissional no futuro.

Alguns casos de plágio, ocorridos em 2011, com implicações acadêmicas e profissionais:
a) Karl-Theodor zu Guttenberg foi pressionado a se demitir do posto de Ministro da Defesa da Alemanha e teve seu título de Doutor cassado pela Universidade de Bayreuth;
b) London School of Economics (LSE) investiga denúncia de plágio na tese de doutorado de Saif al Islam;
c) O Prof. Andreimar Soares foi demitido da USP por envolvimento em caso de plágio;
d) A Drª Carolina Dalaqua Sant’Ana teve o título acadêmico cassado por causa de plágio na tese.


Incentive a cultura de integridade acadêmica. Estudos internacionais têm demonstrado que o cultivo de práticas de integridade institucional, como a elaboração coletiva e o emprego de Códigos de Honra, são altamente eficazes na redução das práticas de desonestidade acadêmica (MCCABE, TREVINO; BUTTERFIEL, 2002; MCCABE; PAVELA, 2005). R

Nenhum comentário:

Postar um comentário