sexta-feira, 11 de maio de 2012

Estudo pela leitura trabalhada

1- A IMPORTÂNCIA DA LEITURA 

Não basta ir às aulas para garantir pleno êxito nos estudos. É preciso ler e, principalmente, ler bem. Quem não sabe ler não saberá resumir, não saberá tomar apontamentos e, finalmente, não saberá estudar. Ler bem é o ponto fundamental para os que quiserem ampliar e desenvolver as orientações e aberturas das aulas. É muito importante participar das aulas; elas não circunscrevem, não limitam; ao contrário, abrem horizontes para as grandes caminhadas do aluno que leva a sério seus estudos e quer atingir resultados plenos de seus cursos. Aliás, quase todas as cadeiras desenvolvem programas de pesquisa bibliográfica para que o aluno desenvolva temas e reconstrua ativamente o que outros já construíram. Para elaborar trabalhos de pesquisa, é necessário ir às fontes, aos autores, aos livros; é preciso ler, ler muito e, principalmente, ler bem. 

Durante as primeiras aulas de qualquer disciplina, os mestres apresentam criteriosa bibliografia; alguns livros são básicos, ou de leitura obrigatória, para quem quer colher todo fruto das aulas; outros são mais especializados ou se concentram em algum item do programa, e pode, entre os tratados gerais de consulta obrigatória, ser indicado um, como livro de texto. A indicação do livro de texto tem vantagens e inconvenientes cuja análise ultrapassaria os limites que este compêndio impõe. Diremos, apenas, que o livro de texto é muito bom para a preparação da aula, mas que o aluno não pode ater-se exclusivamente a ele. "Timeo hominem unius libri", diziam os antigos. Devemos temer o homem de um livro só. É necessário abeberar-se de outras fontes mais amplas, mais especializadas sobre cada tema ou sobre cada pormenor dos programas. 

Se não é possível pensar em fazer um bom curso sem descobrir ou fazer aparecer espaços de tempo para o estudo extra-aula e se é necessário programar criteriosamente a utilização desse tempo, não seria igualmente impossível pensar em fazer um bom curso sem ter à mão boas fontes de leitura? É possível que se pretenda fazer um curso universitário sem frequentar bibliotecas ou sem adquirir, ao menos, os livros básicos para cada programa? 

A leitura amplia e integra os conhecimentos, desonerando a memória, abrindo cada vez mais os horizontes do saber, enriquecendo o vocabulário e a facilidade de comunicação, disciplinando a mente e alargando a consciência pelo contato com formas e ângulos diferentes sob os quais o mesmo problema pode ser considerado. Quem lê constrói sua própria ciência; quem não lê memoriza elementos de um todo que não se atingiu. E, ao terminar um curso superior, deveríamos não só estar capacitados a repetir o que foi aprendido na faculdade, como também estar habilitados a desenvolver, através de pesquisas, temas nunca abordados em aula. Deveríamos ser uma pequena fonte, não um pequeno depósito de conhecimentos, ou mero encanamento por onde as coisas apenas passam. 

É preciso ler, ler muito, ler bem. 

É preciso sentir atração pelo saber, e encontrar onde buscá-lo. É necessário iniciar este trabalho com determinação e perseverar nele; o crescimento cultural tem crises como o crescimento físico; quem não sente apetite não deve deixar de alimentar-se; comprometeria sua saúde. Também na leitura trabalhada devemos ser perseverantes; só esta perseverança garantirá aquela espécie de saltos de integração de dados, que se vão acumulando e associando como frutos da leitura continuada. 

2- COMO SELECIONAR O QUE LER 

O titulo do livro é a primeira informação que temos sobre seu conteúdo, mas não deve figurar como critério de escolha para a leitura. Devemos examinar sumariamente o livro cujo título nos interessa à primeira vista; devemos ver o nome do autor, seu curriculum; devemos ler sua "orelha", o índice da matéria, a documentação ou as citações ao pé das páginas, a bibliografia, assim como verificar a editora, a data, a edição e ler rapidamente o prefácio. A convergência destes vários elementos ajuda a selecionar o que ler. Ademais, podemos consultar professores da respectiva área. 

Todo estudante deveria interessar-se pela formação de uma pequena biblioteca de obras selecionadas; os livros são suas ferramentas de trabalho. O primeiro passo é adquirir os livros citados pelos professores como indispensáveis ou fundamentais; em seguida as obras mais amplas e mais especializadas dentro da área profissional ou do interesse particular de cada um. 

3- VELOCIDADE E EFICIÊNCIA DA LEITURA 

Alguns leem tão devagar que, ao final de um parágrafo, já tiveram tempo para esquecer seu início, e voltam para revê-lo. Estes retornos representam nova forma de perda de tempo que se soma à lentidão da leitura, com enorme prejuízo. Quem assim procede não encontra tempo para ler, pois não há tempo que chegue e, desta forma, instala-se um verdadeiro círculo vicioso. 

Normalmente, a leitura veloz não prejudica a eficiência ou a compreensão. Quem lê bem e depressa encontra tempo para ler e faz seu tempo render. Não existe uma velocidade-padrão de leitura; a maior ou a menor velocidade depende do gênero do próprio texto, bem como das peculiaridades do leitor. Não se leem com a mesma velocidade textos de gênero diferente, como, por exemplo, um romance e um manual de biologia. Por outro lado, cada um deve atingir sua velocidade ideal, mas é certo que sempre é possível aumentar a velocidade sem prejuízo da compreensão. 

Não pretendemos apresentar um curso de leitura veloz, mas oferecer uma seqüência de normas e de considerações que levarão normalmente a um aumento de velocidade e de eficiência na leitura cultural, isto é, um curso que aumentará o rendimento do esforço pessoal no estudo, através da leitura. Em nosso caso, da leitura eficiente decorrem a captação, a retenção e a integração de conhecimentos contidos no manancial dos textos lidos. 

4- COMODIDADE E HIGIENE NA LEITURA 

O ambiente material de leitura deve reunir umas tantas condições que a favoreçam. É preferível ler em ambiente amplo, arejado, bem iluminado e silencioso; se a luz for artificial, deve ser difusa, e seu foco deve estar à esquerda de quem lê. É preferível ler sentado a ler em pé ou deitado. Além do texto a ser lido, é importante ter à mão um bom dicionário, lápis e um bloco de papel. É de suma importância, também, o clima de silêncio interior, de concentração naquilo que se vai fazer. 

Tudo o que resumimos acima está amplamente desenvolvido provado e justificado nos tratados de pedagogia e de didática. Não duvidamos de sua importância, mas quem não dispuser do ambiente ideal de leitura deve aprender a ler com boa velocidade e eficiência num banco de jardim, numa sala de espera ou numa fila de ônibus. Cada um constrói sua casa com as pedras que tem. 

Não se julgue impossibilitado de ler aquele que não puder fazê-lo em ambiente de condições ideais, mas é importante conhecer estas condições e procurar criá-las ou desfrutar delas tanto quanto possível. 

5- DEFINIÇÃO DE PROPÓSITOS 

Alguém pode ler só para passar o tempo, para não manter conversação com o cidadão estranho que se sentou a seu lado no mesmo vagão, ou para dar ares de intelectual; estas são maneiras de dar alguma finalidade à leitura. Mas não é dessa finalidade ou propósito que estamos falando. 

A finalidade básica da leitura cultural é a procura, a captação, a crítica, a retenção e a integração de conhecimentos, e isto se faz, em primeiro lugar, pela procura das idéias mestras, das idéias principais, também chamadas idéias diretrizes. Cada texto, cada seção, cada capítulo e, mesmo, cada parágrafo tem uma ideia principal, uma palavra-chave, um conceito fundamental. “... é essencial que o estudante se preocupe em descobrir qual é essa ideia diretriz, fio condutor do pensamento do mestre ou expositor", escreve Emilio Mira y López, em seu Como estudar e como aprender, e continuar "Assim, pois, como cada fábula tem sua 'moral', isto é, a sua essência significativa, cada série de pensamentos possui uma ideia diretriz ou conceito fundamental. Descobri-lo, quando não está em negrito, é conquistar um dos fatores essenciais de toda aprendizagem cultural". 

Em cada parágrafo, pois, o leitor deve captar a ideia principal; deve concentrar-se em sua procura. O mau leitor, ou seja, o leitor lento e ineficiente, lê palavras, ou melhor dizendo, lê palavra por palavra, como se todas tivessem igual valor ; o bom leitor lê unidades de pensamento, lê idéias e as hierarquiza enquanto lê, de maneira a encontrar a ideia mestra ou a palavra-chave. Quem lê idéias é mais veloz na leitura e capta melhor o que lê. Mas isto è fruto de treinamento, de exercícios. "Se vocês, amigos leitores, dedicassem uma hora por dia à tarefa de descobrir, concretizar e formular as idéias diretrizes de alguns parágrafos de diversos textos, exercitar-se-iam em uma técnica de abstração e de síntese que lhes permitiria tirar o máximo proveito de qualquer tipo de leitura ou estudo ulterior. 

Nossa experiência de mais de vinte anos de magistério, bem como de mais de trinta anos de continuados estudos confirmam as palavras de Mira y López e da generalidade dos autores que versaram sobre o assunto. Por ocasião da última abordagem do presente assunto em classe, uma aluna tomou a palavra para prestar interessante depoimento: "Estou cursando esta cadeira de Metodologia com calouros, mas já estou no último semestre do curso de Estudos Sociais. Sou transferida de outra faculdade, onde não existe a cadeira de Metodologia. Confesso que estava chegando ao fim do curso sem saber ler. Percebo que fui muito prejudicada. Mas... antes tarde do que nunca!" 

Esse depoimento teve mais força persuasiva do que toda nossa aula. E aquela classe passou a valorizar nossa cadeira, a estar mais atenta às aulas e a aplicar-se com maior dedicação à leitura cultural para trabalhos de pesquisa bibliográfica. 

Quem não puder dedicar uma hora por dia ao trabalho de encontrar as idéias principais de alguns parágrafos não se julgue dispensado deste exercício; leia com este propósito seu livro de textos, suas apostilas e toda a bibliografia consultada na elaboração de seus trabalhos de pesquisa. Procure, após a leitura de algumas páginas, reformular as idéias mestras; leia novamente a passagem para verificar se atingiu o propósito de toda leitura cultural, que é captar, reter, integrar e evocar conhecimentos reformulados. "Crie o hábito de encontrar a ideia principal em cada parágrafo que ler. Quando julgar tê-lo feito confira sua conclusão e mantenha a ideia em mente enquanto continua a ler, e compare-a, especialmente, com a sentença-sumário. Se tiver dúvidas a respeito de sua seleção, releia o parágrafo, desta vez olhando-o bem para se certificar de que captou a ideia correta. Lembre-se, porém, de que nem sempre pode encontrá-la numas poucas palavras dadas; talvez, tenha de refraseá-la com palavras suas (uma boa prática, afinal de contas) para captá-la com exatidão. 

6- A IDEIA MESTRA EM SUA CONSTELAÇÃO 

Não existem capítulos, seções ou livros só com idéias mestras; estas seriam encontradas nos índices, nos prefácios e nos sumários. Nem é possível captar, hierarquizar, criticar, reter ou evocar idéias mestras totalmente despojadas de pormenores importantes. A ideia principal aparece sempre numa constelação de idéias que gravitam à sua volta; um argumento que a justifique, um exemplo que a elucide, uma analogia que a torne verossímil e um fato ao qual ela se aplique são elementos de sustentação da ideia principal. 

O bom leitor não lê só o essencial; não lê apenas resumos com o propósito insano de memorizá-los. O bom leitor produz seus resumos, é verdade; e procura acompanhar a montagem, o encadeamento, a articulação das idéias em amplos e profundos textos nos quais as idéias principais são fundamentadas em bases sólidas, em demonstrações de validade ponderável, em fatos de evidência comprovada, em documentos insofismáveis, ou são aplicadas na solução de problemas ou na definição ou normalização da conduta. 

Quem alega, por ocasião de exames ou em conversações rotineiras, que tem facilidade para responder a perguntas essenciais, mas não se interessa por pormenores e "coisinhas" está confessando, embora não seja esta a sua intenção, que não lê ou não sabe ler, que não estuda ou não sabe estudar. 

É importantíssimo discernir o principal e o secundário, a ideia mestra e os pormenores mais importantes ou menos importantes. Memorizar índices, enunciados, teses, ou postulados não exime ninguém da pecha de mau leitor, de mau estudante ou de pseudo-selecionador de preciosidades. Quem procede assim não tem razão para escusar-se; deve mudar de conduta e começar a ler e a estudar com inteligência e sabedoria, isto é, com amor pelo saber. 

7- SUBLINHAR COM INTELIGÊNCIA 

Sublinhar é uma arte que ajuda a colocar em destaque as idéias mestras, as palavras-chave e os pormenores importantes. Quem sublinha com inteligência está constantemente atento à leitura; descobre o principal em cada parágrafo e o diferencia do acessório; este propósito o mantém concentrado e em atitude de critica durante todo o tempo dedicado à leitura. Além desse efeito benéfico, já durante a leitura, o hábito de sublinhar com inteligência favorece o trabalho das revisões imediatas, bem como as revisões globalizadoras posteriores. 

Há leitores que ouviram falar na vantagem de sublinhar, ou que tiveram colegas excelentes nos estudos, cujos livros estavam sempre sublinhados inteligentemente; por isso resolveram sublinhar também. Mas esses imitadores de coisas vão sublinhando logo na primeira leitura todas as palavras que parecem mais importantes em determinado parágrafo, e seguem em frente como se tudo estivesse perfeitamente localizado, hierarquizado, captado, entendido. 

Sublinhar é uma técnica que tem suas normas. Se essas normas não forem observadas, o sublinhamento indiscriminado atrapalhará mais do que ajudará, quer durante a leitura, quer por ocasião das revisões. 

8- NORMAS PARA SUBLINHAR 

Cada um pode adotar uma simbologia arbitrária e pessoal para sublinhar e fazer anotações à margem dos textos. Basta que a simbologia adotada mantenha uma significação bem definida e constante. Entretanto, poderíamos sugerir algumas normas colhidas em fontes credenciadas e em larga experiência pessoal: 

a) Sublinhar apenas as idéias principais e os detalhes importantes- Não se deve sublinhar em demasia. Não sublinhar longos períodos; basta sublinhar palavras-chave. Aplica-se ao caso o adágio latino "non multa, sed multum", que traduziríamos, adaptando a nosso intento: não sublinhar multa, isto é, muitas coisas, mas sublinhar multum, isto é, muito significativo. 

b) Não sublinhar por ocasião da primeira leitura - As pessoas mais experimentadas, que examinam textos pertinentes à sua área de especialização, sublinham inteligentemente por ocasião da primeira leitura; mas recomenda-se aos principiantes que não o façam; leiam primeiro um ou mais parágrafos, e retomem para sublinhar aquelas palavras ou bases essenciais que, desde a primeira leitura, foram identificadas como principais, e que a releitura mais rápida confirma como tais. 

c) Reconstituir o parágrafo a partir das palavras sublinhadas - É supérfluo esclarecer esta norma que traduz a natureza e a finalidade do ato de sublinhar. 

d) Ler o texto sublinhado com a continuidade e plenitude de sentido de um telegrama - Por ocasião das revisões imediatas ou posteriores, os textos sublinhados de acordo com esta norma permitirão uma leitura rapidíssima, apoiada nos pilares das palavras sublinhadas; por outro lado, a leitura das palavras sublinhadas, embora pertencentes a frases diferentes e até distanciadas, terá um sentido fluente e concatenado. 

e) Sublinhar com dois traços as palavras-chave da idéia principal, e com um único traço os pormenores importantes - Devemos sublinhar tanto as idéias principais como os detalhes importantes, mas é bom agir de tal maneira que as idéias principais se mantenham destacadas. 

f) Assinalar com linha vertical, à margem do texto, as passagens mais significativas - Não raro, a ideia principal retorna em diversos parágrafos e em diversos contextos. E há passagens em que o autor atinge uma espécie de clímax; essas passagens, que poderíamos transcrever em nossas fichas de documentação pessoal, devem ser identificadas para futuras buscas. Nada melhor que um traço vertical à margem do texto para tal identificação. 

g) Assinalar com um sinal de interrogação, à margem, os pontos de discordância - Podemos não concordar com as posições assumidas pelo autor, como também perceber incoerências, paralogismos, interpretações tendenciosas de fontes e uma série de falhas ou de colocações que julgamos insustentáveis, dignas de reparos ou passíveis de críticas. Devemos registrar o fato mediante uma interrogação à margem do texto em apreço. 

Há quem fale do uso de cores diferentes para assinalar idéias principais e pormenores importantes, em lugar de usar um ou dois traços, conforme preferirmos, bem como do uso de uma terceira cor para assinalar pontos mais difíceis ou que não tenham ficado claros. Para assinalar pontos mais obscuros, quer durante a leitura de preparação para as aulas, quer durante as leituras ulteriores, em textos de maior desenvolvimento, preferimos a utilização de lápis e não de canetas a tinta. De resto, aplica-se ao caso o provérbio latino "de gustibus et cloribus nom disputatur", isto é, "a respeito de preferências e de cores não se deve discutir": que cada um adote a simbologia que melhor lhe pareça. 

9- VOCABULÁRIO E LEITURA EFICIENTE 

Muita gente lê mal porque não tem bom vocabulário e não tem bom vocabulário porque lê mal, o que se torna um círculo vicioso que deve converter-se em círculo virtuoso, para todo aquele que aspira atingir nível de crescimento cultural. 

O domínio cada vez mais amplo do vocabulário enriquece nossa possibilidade de compreensão e concorre para aumentar a velocidade na leitura. 

Mas como aumentar nosso vocabulário? Decorando algum dicionário? Quem o fez em seu tempo de estudante, em eras que não voltam mais, confessa que o trabalho era penoso; entretanto, acaba agradecendo aos professores exigentes de seu tempo. Mas o melhor recurso para aumentar o próprio vocabulário é, sem dúvida, a leitura. 

Como proceder ante uma palavra de sentido desconhecido, ou que assume sentido novo em determinado contexto? Morgan e muitos outros recomendam a imediata consulta aos dicionários: "A primeira coisa a fazer é procurá-la num dicionário. " Por nossa parte, sugerimos que se experimente não interromper a leitura ante um termo de sentido desconhecido ; não raro, a seqüência do texto deixará bem claro o sentido da palavra desconhecida; anote, pois, a palavra desconhecida em um papel avulso, e continue a ler. Ao final de um capitulo, apanhe o dicionário para esclarecer todas as palavras anotadas como desconhecidas e verifique o sentido que melhor se coaduna com o respectivo contexto. Assim, durante a segunda leitura, em que se sublinham as idéias principais e os pormenores importantes, todos os termos estarão claros e incorporados a nosso vocabulário. Adote a sugestão da consulta imediata ou a sugestão de não interromper a leitura cada vez que encontrar uma palavra desconhecida. O fundamental é que não se deve perder a oportunidade de enriquecer o próprio vocabulário pela preguiça da busca de palavras novas em algum dicionário. Por certo, estaríamos prejudicando a compreensão do texto e impedindo o próprio crescimento cultural. Que dicionários consultar? Não se entende um estudante de nível superior que não tenha um bom dicionário comum da língua materna. Mas há certas palavras que, embora incorporadas à linguagem vulgar, conservam ou assumem sentido específico, definido pelas diversas ciências, como a botânica, a biologia, a medicina, a filosofia, e assim por diante. Outras palavras não constam nos dicionários comuns, mas tão-somente nos dicionários de maior porte ou em dicionários técnicos das diversas áreas. O estudante deve adquirir um bom dicionário dentro de sua área de especialização. Entretanto, as faculdades mantêm bibliotecas ricas em fontes de consulta, com grande variedade de dicionários e enciclopédias à disposição de seus alunos. Não é preciso que cada um compre enciclopédias caríssimas para usar uma vez ou outra; com- o dinheiro de uma enciclopédia de generalidades monta-se uma preciosa estante com obras da própria especialidade, inclusive com dicionários técnicos ; e isto parece ser mais útil. 

10- USAR MELHOR A VISTA 

Durante a leitura, nossos olhos percorrem as linhas não em movimento continuo, mas aos pulos, não lemos durante o movimento dos olhos, mas nas suas rápidas paradas, que podem ser observadas com aparelhos adequados. Nossos olhos podem fixar-se em uma sílaba, em uma palavra, ou em um grupo de palavras, nessas paradas de reconhecimento dos estímulos gráficos. Quanto mais amplo for este campo de parada ou de reconhecimento, mais veloz será a leitura; e como essas paradas incidem em palavras principais, mais compreensível toma-se o texto. 

O bom leitor não lê palavra por palavra, muito menos sílaba por sílaba; sua vista incide sobre grupos de palavras; a pausa de reconhecimento deste grupo de palavras é curta. Mas, esta habilidade é fruto de exercícios e da prática da leitura. 

Sugerimos que se façam exercícios de leitura, procurando fixar em cada grupo de palavras as sílabas iniciais, como se o texto estivesse escrito com abreviaturas. 

RUIZ, J. A. Estudo pela Leitura trabalhada. In:_______. Metodologia Científica: guia para eficiência nos estudos. São Paulo: Atlas, 1996. Cap 2. P.34-42.

Comparação entre um Bom e o Mau leitor


A primeira vista parece fora de propósito a epígrafe acima. Poder-se-ia objetar que se trata de um problema de valor e seria ocioso, numa perspectiva científica, estabelecer um confronto entre “bom” e “mau”, pois se torna um julgamento bastante subjetivo. Sem discutir o mérito e a procedência deste ponto de vista, que nos transportaria provavelmente, para um terreno mais abrangente – o valor nas mensurações científicas – queremos apenas justificar nossa colocação. A experiência e a observação tem nos mostrado um fato bastante freqüente: há muitas pessoas que “lêem” e há pessoas que “sabem ler”. Muitos, sobretudo quando têm consciência do problema, pagam um tributo caro a hábitos formados desde a escola primária e que nos condicionam a ler, sem saber ler. É pelo problema de hábitos negativos de leitura que nos interessamos quando rotulamos a pessoa de “mau leitor”; e o “bom leitor” consequentemente, passa a significar para nós aquele que tem habilidades eficientes de leitura. 


Introduzir alguém no conhecimento das habilidades de leitura, sem antes leva-lo a uma auto-análise, parece-nos não ser o caminho indicado. É por isso que tentamos estampar diante do interessado um quadro onde é possível descobrir seu “perfil de leitor”. À medida que este quadro vai se desenrolando, os aspectos positivos e negativos vão sendo identificados e as necessidades específicas de cada um vão sendo colocadas em termos concretos. No término desta atividade, a análise já estará praticamente feita e a pessoa terá condições de decidir pelo que lhe interessar mais de perto. 

Nosso quadro é baseado num esquema semelhante elaborado por WITT (39) que o produziu, porém, de maneira sumária, e sem a intenção didática que estamos propondo. 

A leitura desse quadro deve ser feita em atitude de reflexão, como os antigos religiosos faziam (ou fazem ainda?) em seus conventos durante o chamado “exame de consciência”. Não se trata de um teste de psicologia, pois o teste psicológico tem apenas a característica da objetividade (o quadro deriva de conclusões de pesquisas feitas a respeito de habilidades de leitura que os estudantes têm) e funciona como estímulo para a reação do leitor. 

Convém que se leia o quadro pausadamente, um item de uma coluna e logo a seguir o correspondente na outra coluna. À medida que for identificando pontos positivos e pontos negativos, assinale-os. Depois reveja-os e estabeleça o esquema de suas necessidades concretas para desenvolver hábitos de leitura veloz e producente. 

Bom Leitor
Mau Leitor
O bom leitor lê rapidamente e entende bem o que lê. Tem habilidades e hábitos como:
1. Lê com objetivo determinado – Ex: aprender certo assunto – repassar detalhes – responder a questões.

2. Lê unidades de pensamento. Abarca, num relance, o sentido de um grupo de palavras. Relata rapidamente as idéias encontradas numa frase ou num parágrafo.

3.Tem vários padrões de velocidade. Ajusta a velocidade da leitura com o assunto que lê. Se lê uma novela, é rápido. Se livro científico para guardar detalhes – lê mais devagar para entender bem.

4. Avalia o que lê. Pergunta-se frequentemente: Que sentido tem isso para mim? Está o autor qualificado para escrever sobre tal assunto? Está ele apresentando apenas um ponto de vista do problema? Qual é a idéia principal deste trecho? Quais seus fundamentos?

5. Possui bom vocabulário. Sabe o que muitas palavras significam. É capaz de perceber o sentido das palavras novas pelo contexto. Sabe usar dicionários e o faz frequentemente para esclarecer o sentido de certos termos, no momento oportuno.
  
6. Tem habilidades para conhecer o valor do livro. Sabe que a primeira coisa a fazer quando se toma um livro é indagar de que trata, através do título, subtítulos, encontrados na página de rosto e não apenas na capa. Em seguida lê os títulos do autor. Edição do livro. Índice “orelhas do livro”. Prefácio. Bibliografia citada. Só depois é que se vê em condições de decidir pela conveniência ou não de leitura. Sabe selecionar o que lê. Sabe quando consultar e quando ler.

7. Sabe quando deve ler um livro até o fim, quando interromper a leitura definitivamente ou periodicamente. Sabe quando e como retomar a leitura, sem perda de tempo e sem perder a continuidade.

8. Discute frequentemente o que lê com colegas. Sabe distinguir entre impressões subjetivas e valor objetivo durante as discussões.
  
9. Adquire livros com freqüência e cuida de ter sua biblioteca particular. Quando é estudante procura os livros de textos indispensáveis e se esforça em possuir os chamados clássicos e fundamentais. Tem interesse em fazer assinaturas de periódicos científicos. Formado, continua alimentando sua biblioteca e restringe a aquisição dos chamados “compêndios”. Tem o hábito de ir direto às fontes; de ir além dos livros de texto.

10. Lê assuntos vários. Lê livros, revistas, jornais. Em áreas diversas: ficção, científica, história, etc. Habitualmente nas áreas de seu interesse ou especialização.

11. Lê muito e gosta de ler. Acha que ler traz informações e causa prazer. Lê sempre que pode.

12. UM BOM LEITOR é aquele que não é só bom na hora da leitura. É bom leitor porque desenvolve uma atitude de vida: é constantemente um bom leitor. Não só lê, mas sabe ler.
O mau leitor lê vagarosamente e entende mal o que lê. Tem hábitos como:

1. Lê sem finalidade.
Raramente sabe por que lê.

2. Lê palavra por palavra. Pega o sentido da palavra isoladamente. Esforça-se para ajuntar os termos para poder entender a frase. Frequentemente tem de reler as palavras.
3. Só tem um ritmo de leitura.
Seja qual for o assunto, lê sempre vagarosamente.
  
4. Acredita em tudo que lê. Para ele tudo que é impresso é verdadeiro. Raramente confronta o que lê com suas próprias experiências ou com outras fontes. Nunca julga criticamente o escritor ou seu ponto de vista.
  
5. Possui vocabulário limitado. Sabe o sentido de poucas palavras. Nunca relê uma frase para pegar o sentido de uma palavra difícil ou nova. Raramente consulta o dicionário. Quando o faz, atrapalha-se em achar a palavra. Tem dificuldade em entender a definição das palavras e em escolher o sentido exato.
6. Não possui nenhum critério técnico para conhecer o valor do livro. Nunca ou raramente lê a página de rosto do livro, o índice, o prefácio, a bibliografia etc., antes de iniciar a leitura. Começa a ler a partir do primeiro capítulo. É comum até ignorar o autor, mesmo depois de terminada a leitura. Jamais seria capaz de decidir entre a leitura e a simples consulta. Não consegue selecionar o que vai ler. Deixa-se sugestionar pelo aspecto material do livro.

7. Não sabe decidir se é conveniente ou não interromper uma leitura. Ou lê todo o livro, ou o interrompe sem critério objetivo, apenas por questões subjetivas.

8. Raramente discute com colegas o que lê. Quando o faz, deixa-se levar por impressões subjetivas e emocionais para defender um ponto de vista. Seus argumentos, geralmente, derivam da autoridade do autor, da moda, dos lugares comuns, das tiradas eloqüentes, dos preconceitos.

9. Não possui biblioteca particular. Às vezes é capaz de adquirir “metros de livro” para decorar a casa. É frequentemente levado a adquirir livros secundários em vez dos fundamentais. Quando estudante, só lê e adquire compêndios de aula. Formado, não sabe o que representa o hábito das “boas aquisições” de livro.
  
10. Está condicionado a ler sempre a mesma espécie de assunto.
  
11. Lê pouco e não gosta de ler. Acha que ler é ao mesmo tempo um trabalho e um sofrimento.
12. O MAU LEITOR não se revela apenas no ato da leitura, seja silenciosa ou oral. É constantemente um mau leitor, por que se trata de uma atitude de resistência ao hábito de saber ler.

  

SALOMON, Délcio Vieira. Aperfeiçoamento da Leitura. In:_______. Como fazer uma monografia: elementos de metodologia do trabalho científico. 5.ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977. p.44-48.

Paper: um instrumento pedagógico para prática acadêmica

Paper

Apresenta o paper como instrumento pedagógico para a prática acadêmica. Esta discussão é provocada, no sentido de haver certo desconhecimento por parte de acadêmicos para tal instrumento. Tem como objetivo basilar, contribuir para o processo ensino-aprendizagem, apresentando pistas metodológicas para produção de documentos com a característica de paper. Utiliza como metodologia a pesquisa bibliográfica e eletrônica. Tem como público alvo os usuários acadêmicos. Apresenta o pensamento de estudiosos. Define estratégias de trabalho para trabalhar com o paper na academia. Conclui apresentando uma solução viável para a produção de um documento com as características de paper.

Utilizou-se como metodologia a pesquisa bibliográfica (textos científicos e as normas da ABNT, especialmente a norma de Resumo – NBR 6028, Artigo em publicação periódica científica impressa – NBR 6022, Referências – 6023, Citações em documentos – 10520 e Numeração progressiva das seções de um documento escrito – NBR 6024) e pesquisa eletrônica.

A frente será mostrada uma série de opiniões a respeito da concepção e aplicação do Paper no meio acadêmico, assim como orientá-lo, metodologicamente, na produção de um paper.

REVISÃO DE LITERATURA

Para Medeiros (2008), entende-se por paper uma síntese de pensamentos aplicados a um tema específico. Esta síntese deverá ser original e reconhecer a fonte do material utilizado. Em português, a palavra corresponde a ensaio, mas este nome não encontrou acolhida entre os pesquisadores.

Christiano Netto (s.d) retrata que paper é um pequeno artigo científico elaborado sobre determinado tema ou resultados de um projeto de pesquisa para comunicações em congressos e reuniões científicas, sujeitos à sua aceitação por julgamento.

Para Andrade (1995, p. 68 apud MEDEIROS, 2008, p. 213), “paper é texto escrito para uma comunicação oral. Pode apresentar o resumo ou o conteúdo integral da comunicação e tem por objetivo sua publicação nas atas ou anais do evento em que foi apresentado”.

Para Roth (1994, p. 02 apud MEDEIROS, 2008, p. 213), paper é um documento que se baseia em pesquisa bibliográfica e em descobertas pessoais.
Caso o autor apenas tenha compilado informações sem fazer avaliações ou interpretações sobre elas, o produto de seu trabalho será um relatório.

Para Medeiros (2008, p. 213), “o paper difere de um relatório, sobretudo porque se espera de quem o escreve uma avaliação ou interpretação de fatos ou das informações que forem recolhidas’.
O paper é para Roth (1994, p. 03 apud MEDEIROS, 2008, p. 213): 
a) uma síntese de suas descobertas sobre um tema e seu julgamento, avaliação, interpretação sobre essas descobertas; 
b) um trabalho que deve apresentar originalidade quanto às idéias; 
c) um trabalho que deve reconhecer as fontes que foram utilizadas; 
d) um trabalho que mostra que o pesquisador é parte da
comunidade acadêmica.

O paper não é para Roth (1994, p. 04 apud MEDEIROS, 2008, p. 213): 
a) um resumo de um artigo ou livro (ou outra fonte); 
b) idéias de outras pessoas, repetidas não criticamente; 
c) uma série de citações, não importa se habilmente postas juntas; 
d) opinião pessoal não evidenciada, não demonstrada; 
e) cópia do trabalho de outra pessoa sem reconhecê-la, quer o trabalho seja ou não publicado, profissional ou amador: isto é plágio.

Medeiros (2008, p. 214) acredita que “depois de informar que o tamanho do
paper depende da complexidade do tema e da motivação do pesquisador para o trabalho e do tempo de que dispõe”. Roth (1994, p. 06 apud MEDEIROS, 2008, p. 214) ensina cinco passos para a realização de um paper: escolher um assunto, reunir informações, avaliar o material, organizar as idéias, escrever o paper.

Medeiros (2008, p. 214) cita que, para redigir um paper, escolha um assunto, estabeleça limites precisos para ele (dessa forma, você estará determinando o tema), eleja uma perspectiva sob a qual você tratará o tema (sociológico, psicológico, químico, físico, matemático, filosófico, histórico, geográfico). Em seguida, apresente o problema que estará resolvendo e construa uma hipótese de trabalho (antecipação de uma resposta para o problema). Diga o objetivo de seu paper e desenvolva suas idéias apoiando-se em fontes dignas de crédito. Após defender seu ponto de vista, demonstrá-lo e apresentar provas, conclua o paper. Uma bibliografia deve acompanhar o trabalho.

Estrutura do paper

Assim quanto à estrutura, basta seguir a mesma da comunicação científica,
seguindo os seguintes passos:
1) Pré-textual: 
a) Capa que engloba o nome do evento ou outro tipo da reunião; 
b) título do trabalho; 
c) nome do autor; 
d) credenciais do autor e patrocinador (se houver); 
e) resumo (incluindo palavras-chave); 
f) local e data.

2) Os textuais abrangem: introdução, desenvolvimento (incluindo reflexão/análise sobre a abordagem em questão) e considerações finais.
Para Medeiros (2008, p. 204), a estrutura da comunicação engloba:
introdução, na qual é composta por: formulação do tema, justificativa, objetivos, metodologia, delimitação do problema, abordagem e exposição exata da ideia central. O desenvolvimento inclui exposição detalhada do que se disse na introdução e fundamentação lógica das idéias apresentadas. A conclusão busca a síntese dos resultados da pesquisa.

3) Os pós-textuais: Resumo em Língua estrangeira (opcional) e Referências.
Quanto ao estilo, o paper deve ser escrito na voz ativa e na terceira pessoa do singular.
Quanto à formatação deve conter:
a) Papel A4;
b) Margem: superior e esquerda (3 cm), direita e inferior (2 cm);
c) Tipo da fonte: Arial/ Times New Roman;
d) Tamanho da fonte: 12 (texto). 10 (Notas e citações);
e) Espacejamento: 1,5 para o texto e simples para o resumo indicativo5 (De 100 a 250 palavras);
f) Seções: utilizar números arábicos (máximo de 5 seções). Anteceder e suceder as seções e sub-seções com enter duplo;
Ex: 1 (Maiúsculo e negrito) - 1.1 (maiúsculo) - 1.1.1 (Minúsculo e negrito) - Simplificado e não exclui a leitura do texto original conforme NBR 6028 (2003).
1.1.1.1 (minúsculo) - 1.1.1.1.1 (minúsculo e itálico);
g) Número de folhas: 05 a 20 (incluindo as referências e dependendo da complexidade).

Medeiros (2008, p. 214) observa que “no meio acadêmico o paper vem sendo empregado com um sentido genérico; pode referir-se não só a comunicação científica, mas também a texto de um simpósio, mesa-redonda e mesmo a um
artigo”.

Considerações finais

Conclui-se que dentre as 41 normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) voltadas para informação e documentação, não existe nenhuma norma exclusiva, direcionada para a produção de paper.
Como fora visto, existem variadas opiniões e direcionamentos de estudiosos que compilam e sistematizam princípios da ABNT e adaptam para a construção de um dado paper.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: Informação e documentação - artigo em publicação periódica científica impressa - apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
______. NBR 6023: Informação e documentação - referências - elaboração. RJ: ABNT, 2002.
______. NBR6024: Informação e documentação - numeração progressiva das seções de um documento escrito - apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
______. NBR 6028: Informação e documentação - resumo – apresentação. RJ: ABNT, 2003.
______. NBR 10520: Informação e documentação - citações em documentos - apresentação. RJ: ABNT, 2002.
______. NBR 14724: Informação e documentação - trabalhos acadêmicos - apresentação. Rio de Janeiro: ABNT, 2005.
CHRISTIANO NETTO, Ismael Guilherme. Paper. Disponível em: escolaqi.com.br/professor>. 
MEDEIROS, João Bosco. Redação científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
MORAIS, Vanessa. Modelo de ensaio e paper. 

Fluxo de caixa

A IMPORTÂNCIA DO FLUXO DE CAIXA 

Embora ainda não exigida pela lei das sociedades anônimas a demonstração de fluxo de caixa é de grande importância. Havendo necessidade de concentrar–se em um demonstrativo para análise de uma empresa certamente a escolha recairia sobre a projeção do fluxo de caixa. 

Para empresas novas ou em fase de expansão pode significar a diferença entre sucesso e fracasso, já para as demais mostra o seu comportamento oportunizando detectar se está em crescimento ou estagnada. 

O fluxo de caixa é uma demonstração dinâmica, que oferece ao gerente financeiro uma bagagem de informações que o ajudará na tomada de decisões. 

Representa a previsão, o controle e o registro de entradas e saídas financeiras durante um determinado período, contendo informações sobre a vida financeira da empresa. Através dele, obtêm-se as informações sobre o estado de liquidez da empresa; como utilizar seus recursos por um determinado período; se há capacidade da empresa aplicar recursos e/ou se há necessidade de buscar um empréstimo. 

Apesar disto, poucas são as empresas que preocupam-se com o fluxo de caixa o que é paradoxal, pois na atual conjuntura econômica em que a competitividade no mercado está cada vez mais acirrada o mínimo que espera de uma empresa é controle do seu fluxo de caixa. 

O FLUXO DE CAIXA E AS EMPRESAS 

Nas empresas em geral, devido à complexidade de sua estrutura, que muitas vezes prescinde de áreas, departamentos e seções, a principal contribuição do fluxo de caixa é exatamente na compreensão dos efeitos das decisões tomadas, com relação às disponibilidades da empresa. O empreendedor, ao conceder prazo para pagamento ou descontos aos clientes, pode gerar a necessidade de captação de recursos para pagamento das obrigações e, conseqüentemente, implicar na incorrência de despesas financeiras. E isso deve ser considerado o custo da operação, ao calcular-se, por exemplo, os preços praticados para vendas a prazo. A contribuição do fluxo de caixa é portanto, fundamental no entendimento do funcionamento da própria empresa e das implicações das decisões tomadas. Além disso podemos citar outros aspectos da atividade que a manutenção de um fluxo de caixa pode ajudar a perceber e compreender: 

· Existência de concentração de pagamentos/recebimentos; 
· Sazonalidade nas vendas; 
· Necessidade e resultados das políticas de marketing e promoções; 
· Estrutura de custos/despesas fixa; 
· Necessidade da separação dos controles pessoais e da empresa; 
· Necessidade de uma remuneração pelo trabalho do empreendedor; 
· Efeitos dos tributos; 
· A noção de passivos/obrigações. 

Outra razão para se considerar com administração das disponibilidades é a principal característica das empresas que é dispor de recursos escassos em caixa, pelo menos durante os primeiros anos de operação e ficam vulneráveis a qualquer mudança repentina tanto dentro da empresa quanto no ambiente geral do negócio. 

Muitas empresas, por escassez de caixa, fracassam exatamente no momento que na verdade estão tendo lucro. 

A sobrevivência antecede o sucesso. A única pré-condição para a sobrevivência da empresa é a disponibilidade de dinheiro na mão quando você realmente precisar. 

Ficar sem dinheiro significa ficar fora do negócio. A administração do caixa é uma condição decisiva para a sobrevivência e o sucesso de qualquer negócio empresarial. 

VANTAGENS DO FLUXO DE CAIXA 

Através do conhecimento do passado (o que ocorreu) se poderá fazer uma boa projeção do fluxo de caixa para o futuro (próxima semana, próximo mês, próximo trimestre, etc.). A comparação do fluxo projetado com o real indica as variações que, quase sempre, demonstram as deficiências nas projeções. Estas variações são excelentes subsídios para aperfeiçoamento de novas projeções de fluxos de caixa. 

O objetivo básico é a projeção das entradas e das saídas de recursos financeiros para determinado período, visando prognosticar a necessidade de captar empréstimos ou aplicar excedentes de caixa em operações rentáveis para a empresa, proporcionando um fluxo de caixa equilibrado, otimizando a aplicação, de recursos próprios e de terceiros nas atividades mais rentáveis pela empresa. 

Outros objetivos: 

· saldar as obrigações da empresa nas datas de vencimento; 
· planejar pagamentos em datas certas para não incorrer em inadimplemento; 
· ter um fundo com saldo de caixa para eventuais despesas; 
· quando tem caixa elevado programar para uma melhor aplicação e pelo tempo que depois de analisado o fluxo pode se deixar; 
· buscar perfeito equilíbrio entre ingressos e desembolsos de caixa da empresa; 
· analisar fontes de crédito que oferecem empréstimos menos onerosos – em caso de necessidade – com tempo já previsto. 

O fluxo de caixa é de vital importância para a eficácia econômico-técnico-financeira e administrativa das empresas, sejam elas micro, pequenas, médias ou grandes, a tal ponto, que muitas instituições de crédito exigem a sua apresentação antes de concederem empréstimos ou financiamentos a seus clientes. As empresas que o utilizam dificilmente fracassam, o mesmo não ocorre com aqueles que dele não fazem uso para planejar e controlar as suas atividades. Através do fluxo de caixa a empresa poderá saber antecipadamente (no início de um período) o que ela terá de necessidade ou de excedentes de recursos financeiros, podendo com isso tomar a decisões mais adequadas para solucionar seus impasses. A sua adoção como ferramenta gerencial proporciona ainda que a empresa tenha: 

· Um auto planejamento utilizando-se de dados estatísticos; 
· Uma visão de curto e médio prazo sobre o seu desempenho ; 
· Um planejamento de investimentos, quando os dados, mês a mês, apresentarem índices de crescimento acentuado; 
· Capacidade de tomar decisões rápidas, fundamentadas diante do surgimento de dificuldades financeiras. 

Dentre as inúmeras vantagens decorrentes do uso do fluxo de caixa, destacam-se: 

· Visão integrada do caixa: sabendo-se o saldo verdadeiro do caixa, busca-se a sua otimização, através do aumento de entradas e/ou redução de saídas. 
· Alta preocupação com competitividade e desempenho: ao se projetar um fluxo de caixa, definem-se os parâmetros de desempenho. Ex.: Se uma empresa vender X, sua atuação será modesta no mercado, sem influenciar a concorrência. Se vender X + Y sua atuação será satisfatória e equiparada aos dos concorrentes; mas caso ela venda X + Y + Z, sua atuação passa a ser ótima e supera a condição dos concorrentes. Com isso, esses indicadores de desempenho norteiam a empresa quanto aos seus objetivos e metas a serem alcançadas. 
· Equilíbrio financeiro de caixa: Permite à empresa conhecer seu ponto de equilíbrio com relação ao caixa, ou seja, determinar qual o volume de capital que precisa estar presente, ao mínimo, para que a empresa possa arcar com seus custos dia-a-dia. Este procedimento evita situações prejudiciais à empresa como a falta de caixa, o que pode gerar dívidas com empréstimos e o excesso de caixa, situação esta referente a uma reserva muito alta de capital no caixa e que poderia ser tranqüilamente reaplicada em outros investimentos (custo de capital). 

TIPOS DE FLUXO DE CAIXA 

Os fluxos operacionais são os fluxos de caixa – entradas e saídas – diretamente relacionado à produção e venda dos produtos e serviços da empresa. Esses fluxos captam a demonstração do resultado e as transações das contas circulantes (excluindo os títulos a pagar) ocorridas durante o período. 

As principais modalidades de ingressos operacionais são as vendas à vista; recebimento, desconto, caução e cobrança das duplicatas de vendas a prazo realizadas pela empresa. 

Quanto aos desembolsos operacionais podem ser relacionados com as compras de matérias-primas à vista e a prazo, salários e ordenados com os encargos sociais pertinentes, custos indiretos de fabricação, despesas administrativas, despesas com vendas, despesas financeiras e despesas tributárias. 

Nesse caso o fluxo que resulta da atividade econômica da empresa deve ser superior ao lucro líquido após o imposto de renda, devido a dois fatores: 

a) o montante de despesas não desembolsadas atribuídas ao período, principalmente a depreciação que é um custo, porém não representa uma saída de caixa; 
b) desembolsos com investimentos não capitalizados, porém considerados como despesas do período. 

Os fluxos de investimento são fluxos de caixa associados com a compra e venda de ativos imobilizados, e participações societárias. Obviamente, as operações de compra resultam em saídas de caixa, enquanto que as operações de venda geram entradas de caixa. 

Os fluxos de financiamento resultam de operações de empréstimo e capital próprio. Tomando ou quitando empréstimos tanto de curto prazo (títulos a pagar) quanto de longo prazo resultará numa correspondente entrada ou saída de caixa. Do mesmo modo, a venda de ações pode resultar numa entrada de caixa, enquanto que a recompra de ações ou o pagamento de dividendos pode resultar em saída financeira. 

O fluxo de caixa extra-operacional compreende os ingressos e os desembolsos de itens não relacionados à atividade principal da empresa, como: imobilizações, vendas do ativo permanente, receitas financeiras, aluguéis, recebidos ou pagos, amortizações de empréstimos ou de financiamentos, pagamento de contraprestações (leasing). 

ELABORAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA 

A projeção do fluxo de caixa depende de vários fatores como o tipo de atividade econômica, o porte da empresa, o processo de produção e/ou comercialização se é contínuo ou não, etc. 

O fluxo de caixa é um dos instrumentos mais eficientes de planejamento e de controle financeiro, o qual poderá ser elaborado de diferentes maneiras, conforme as necessidades ou conveniências de cada empresa, a fim de permitir que se visualize os ingressos de recursos e os respectivos desembolsos. 

O período ideal para um planejamento de pelo fluxo de caixa é um mínimo de três meses, segundo Zdanowicz, (1995). O fluxo de caixa mensal deverá, posteriormente, transformar-se em semanal e este em diário. Onde o modelo diário fornecerá a posição dos recursos em função dos ingressos e dos desembolsos de caixa, e constitui-se em poderoso instrumento de planejamento e de controle financeiro para a empresa. 

Elabora-se o fluxo de caixa a partir das informações recebidas dos diversos departamentos, setores, seções da empresa, de acordo com o cronograma anual ou mensal de ingressos e de desembolsos, remetidos ao departamento ou gerência financeira. 

As seguintes informações ou estimativas, segundo os períodos de tempo, são úteis para a elaboração do fluxo de caixa: 

a) projeção de vendas, considerando-se as prováveis proporções entre as vendas à vista e a prazo da empresa; 
b) estimativa das compras e as respectivas condições oferecidas pelos fornecedores; 
c) levantamento das cobranças efetivas com os créditos a receber de clientes; 
d) determinação da periodicidade do fluxo de caixa, de acordo com as necessidades, tamanho, organização da empresa e ramo de atividade; 
e) orçamento dos demais ingressos e desembolsos de caixa para o período. 

Os dados deverão ser os mais corretos possíveis, onde os seus responsáveis estejam conscientes da exatidão, clareza e confiabilidade dos dados prestados. 

Para se fazer um fluxo de caixa, deve-se conhecer todas as receitas (com datas de entrada) e todas despesas (com datas de vencimento). 

As principais receitas são: vendas à vista, recebimento de vendas a prazo, aumento de capital social, vendas dos itens do Ativo Permanente, receita de aluguéis e resgate de aplicações no mercado financeiro. As principais despesas são: custos para financiar o ciclo operacional da empresa (aluguel, mão-de-obra, matéria-prima, luz, telefone, água, ...), amortizar os empréstimos e/ou financiamentos. 

Na elaboração do fluxo de caixa utiliza-se mapa auxiliar que são muito úteis, eis alguns: mapa auxiliar de recebimento de vendas a prazo; de recebimento de vendas a prazo com atraso; de pagamentos das compras a prazo; planilha de recebimentos; planilha de projeção das compras, planilha de pagamentos, planilha de despesas administrativas. 

As principais transações que afetam o caixa são: 

a) Transações que aumentam o caixa (disponível) 

· integralização do capital pelos sócios ou acionistas; 
· empréstimos bancários e financeiros; 
· venda de itens do Ativo Permanente; 
· vendas à vista e recebimento de duplicatas a receber; 
· outras entradas, como: juros recebidos, dividendos recebidos, indenizações de seguros, etc. 

b) Transações que diminuem o caixa (disponível) 

· pagamento de dividendos aos acionistas; 
· pagamento de juros, correção monetária da dívida e amortização da dívida; 
· aquisição de itens do Ativo Permanente; 
· compras à vista e pagamento de fornecedores; 
· pagamento de despesa/custo, contas a pagar e outros. 

c) Transações que não afetam o caixa 

· depreciação, amortização e exaustão. São meras reduções de Ativo, sem afetar o caixa; 
· provisão para devedores duvidosos. Estimativa de prováveis perdas com clientes que não representa o desembolso ou encaixa; 
· acréscimo (ou diminuição) de itens de investimentos pelo método de equivalência patrimonial. Assim como correção monetária, poderá haver aumentos ou diminuições em itens de investimentos sem significar que houve vendas ou novas aquisições. 

MODELO DE FLUXO DE CAIXA 

O fluxo de caixa é elaborado de acordo com o tipo de atividade econômica, dependendo também do porte da empresa e de seu processo de comercialização. 

Considerando-se a legislação tributária vigente as empresas de pequeno porte classificam-se em optantes e não optantes pelo SIMPLES a nível federal, conforme o ramo de atividade e faturamento anual, segundo a lei nº 9.317/96 e alterações posteriores . Sendo optante pelo SIMPLES elas classificam-se em micro-empresa ou empresa de pequeno porte, conforme faturamento anual. Já na esfera estadual as empresas classificam-se em micro-empresa, empresa de pequeno porte e modalidade em geral conforme receita bruta e ramo de atividade. 

Como o modelo usado uma empresa de pequeno porte a nível federal e estadual, sendo uma limitada, que tem pôr atividade industrial a produção de uvas passas está empresa denominar-se-á Bella Fruta e suas transações financeiras estão a seguir relacionadas: 

· A empresa conta com 24 funcionários, dentre os quais 10 estão na área administrativa da empresa, englobando o comercial, depto pessoal; 10 estão diretamente ligados a área industrial e 4 são terceirizados que fazem o trabalho de serviços gerais, vigilância e Office-boy. 
· A entrada de recursos é com recebimentos através de vendas à vista (80%) e a prazo - 30 dias (20%); 
· Não houve outras entradas de caixa, como por exemplo venda de ativo permanente, financiamento e integralização de capital; 
· Os desembolsos são com: fornecedores (mercadorias – à vista 80% e a prazo 20% em 30 dias, já os transportes são à vista), remuneração de pessoal (salários, férias, 13º salário) no quinto dia útil, encargos sociais (FGTS) no sétimo dia do mês seguinte, imposto e taxas (SIMPLES, ICMS, IPI, COFINS, IPTU, alvará de localização e de saúde) no 10º dia do mês seguinte, financiamentos bancários no vencimento, despesas administrativas (aluguel, telefone, honorários “pro-labore”, água, luz) no 5º dia, despesas financeiras (despesas bancárias no dia 30 e juros a pagar quando ocorrer), e outros; 
· O saldo inicial de caixa no ano 1 é de R$ 80.369,14; 
· O nível desejado de caixa para o ano seguinte é de 5% a mais em relação ao anterior; 
· Em caso de excedentes será aplicado no mercado financeiro, para resgate em 30 dias; 
· No caso de escassez de recursos, a empresa captará recursos em Bancos, com amortização em 60 dias;
Demonstrativo das projeções de transações no período considerado. 

Sobre manuais técnicos e a revisão de textos

A redação de manuais técnicos é, muitas vezes, um processo complexo que envolve muitas pessoas e uma série de etapas, em um período de tempo relativamente curto. Ainda que a informática contribua para que esse processo se torne mais ágil, sua complexidade e o avanço incessante da tecnologia exigem do usuário, seja ele o autor ou a equipe responsável pela revisão, conhecimentos cada vez mais precisos. 

Embora indispensável, ela pode dificultar ou atrasar o processo de edição, quando, por exemplo, várias pessoas usam os mesmos recursos de formas diferentes. Pode-se afirmar a grande necessidade de uma padronização referente à técnica de revisão de textos e de seu controle, que devem ser realizados por um profissional habilitado e competente para tal função. 

Sabe-se que, apesar da importância dada à qualidade nos dias de hoje, a atividade de revisão de textos não é considerada essencial nos diversos segmentos mercadológicos, principalmente naqueles que se julgam puramente “técnicos”. Entendemos que a escassez de bibliografia sobre o assunto é um dos principais fatores que contribuem para a falta de legitimidade da profissão de revisor. Intenciona-se, assim, com este artigo, esclarecer e divulgar conceitos relevantes ao entendimento do processo de revisão e, também, mostrar como um revisor pode contribuir substancialmente para a garantia da qualidade em uma empresa. Além disso, este artigo não deixa de ser uma tentativa de iniciar uma bibliografia nesta área, como forma de tentar legitimar e valorizar a profissão. Com a finalidade de aprofundar mais na importância da revisão de textos e apresentar com mais clareza a relevância dessa atividade, optamos por fazer um recorte frente aos diversos tipos de texto e de segmentos mercadológicos.

Texto técnico 

Observamos que a bibliografia sobre textos técnicos é escassa. De um modo geral, os livros limitam-se a afirmar que esse tipo de texto se caracteriza pela objetividade, como a definição seguinte de linguagem técnica: Um uso específico que se circunscreve a uma dada área sócio-profissional e que nem sempre tem uma função prática, visa a obter assentimento das pessoas, dar reforço para atitudes desejadas, provocar mudanças de opinião ou de comportamento, dar orientação para novas ações, bem como subsidiar decisões (CINTRA, 1995). 

Acreditamos que a redação do texto técnico, por se tratar de um texto não-ficcional, deve ter a mesma “verdade” para escritor e leitor, ou seja, o leitor deve chegar à mesma compreensão de conteúdo que o escritor intenciona. Diferentemente do texto ficcional (em que a concatenação de idéias pode ficar a cargo do leitor), no texto técnico, o leitor precisa compreender o conteúdo e não, simplesmente, interpretar o que lê à sua maneira/ótica particular. Garcia (1985) e Carvalho (1991) utilizam a expressão "técnico-científico" para designar os textos técnicos de cunho acadêmico referentes a especialidades de determinado ramo. Entretanto, aqui, denominaremos a linguagem técnica como aquela dos textos referentes ao funcionamento de máquinas, peças e descrição de equipamentos, deixando a expressão "linguagem científica" para as publicações de caráter científico, que não são o nosso objeto de análise neste trabalho. Sendo técnica diferente de ciência – respectivamente habilidade e conhecimento – podemos distinguir texto técnico de texto científico. Genouvrier e Peytard (1973, p.288) diferenciam o saber técnico do saber científico: 

Deve-se distinguir terminologia técnica de metalingüística científica: a primeira exerce um papel de denominação dos ramos ou objetos próprios de uma técnica e estabelece uma classificação entre os resultados obtidos pela técnica enquanto atividade: a segunda reúne as palavras por meio das quais se designam os conceitos operatórios de uma pesquisa ou de uma reflexão científica (GENOUVRIER & PEYTARD, 1973). 

Apesar da vasta utilização do texto técnico nas empresas – descrição de peças, equipamentos, relatórios de manutenção, manual de instrução –, percebemos que este não tem recebido a merecida atenção por parte da maioria dos elaboradores, divulgadores e usuários. Mesmo por parte dos estudiosos da língua, observamos pouca bibliografia no que tange à orientação na hora de elaborar tais textos. Acredita-se que, pelo fato do texto técnico ter estado sempre relacionado ao curso técnico, essa modalidade textual não receba a devida importância. Percebemos também que a dificuldade relacionada à especificidade lexical do texto técnico, associada a aspectos histórico-educacionais, contribui para esse descaso, uma vez que, como sabemos, o tradicional ensino de redação tem o objetivo único de preparar o aluno para o exame vestibular. 

A revisão como auxiliar da qualidade 

O trabalho de revisão pode auxiliar na qualidade do serviço, uma vez que as empresas que emitem documentos primam não só pela qualidade técnica, como também pela estética dos seus textos. 

Com a atual preocupação da Certificação da Qualidade, as empresas têm se voltado mais para os aspectos que contribuem para a obtenção desse certificado. O processo de certificação implica em vistorias semestrais por parte do auditor (“recertificação”), devendo, pois, ser uma constante preocupação da empresa. Não basta somente atingir um patamar de qualidade, deve-se permanecer nele, para não correr o risco de perder a certificação. Qualquer serviço, portanto, que auxilie na garantia da qualidade em uma empresa é, a cada dia, mais valorizado. Nesse sentido, a revisão textual pode ser considerada um dos mais fortes indicativos de qualidade e, por essa razão, vem ocupando um espaço importante e promissor nas empresas. Ser capaz de redigir com correção, clareza e precisão é exigência indispensável a todos que se acham incumbidos de expressar, por escrito, informação, opinião ou parecer, quando não, as conclusões de um estudo, o texto de um projeto ou as normas de um serviço. Na prática, entretanto, percebe-se que isso não acontece na maioria das vezes. Daí a necessidade de recorrer ao trabalho de revisão.

Parceria entre revisor e autor na nossa prática diária 

A linguagem técnica faz-se a partir dos conhecimentos específicos que a permeiam. Ainda que de posse de tais conhecimentos, os manuais técnicos  devem adequar a redação dos textos à finalidade a que estes se propõem, tendo em mente que escrever “bem” não significa escrever “difícil”. 

No exercício da profissão de revisor, atentamos sempre para alguns detalhes que fazem diferença, como, por exemplo, o de orientar as empresas em relação a redação de seus manuais. Sugerimos, por exemplo, que evitem diversos vícios de linguagem que prejudicam a compreensão final do tema. É muito importante observar sugerir sem, entretanto, generalizar. Muitas vezes, o que parece incorreção pode ser proposital e fazer parte do estilo do redator ou do destaque que ele queira dar a algum trecho, como, por exemplo, o uso de pleonasmos e de adjetivos aparentemente supérfluos.

REFERÊNCIAS 

BAGNO, Marcos (org.). Lingüística da Norma. São Paulo: Loyola, 2002. 
BORBA, Francisco da Silva. Dicionário gramatical de verbos. Araraquara: Unesp, 1991. 
BRASIL. Manual de Redação da Presidência da República; Gilmar Ferreira Mendes [et al.] – Brasília: Presidência da República, 1991. 
CARVALHO, Nelly A terminologia científica. São Paulo: Ática, 1991. 
CHAMADOIRA, João Batista, Uma modalidade de texto técnico: descrição de objeto. 
CINTRA, Ana et al. Português instrumental. São Paulo: Atlas, 1995. 
FRIEIRO, Eduardo. Os Livros: Nossos Amigos. Belo Horizonte: Itatiaia, 1999. 
GARCIA, Othon. Maria. Comunicação em prosa moderna. Rio Janeiro: Fund. G. Vargas, 1985. 
GENOUVRIER, Emile e PEYTARD, Jean. Lingüística e ensino do Português. Almeidina, 1973. 
KOCK, Ingedore Grunfeld Villaça. Introdução à Lingüística Textual – Trajetória e grandes temas. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 
MARCUSCHI Luiz Antônio. Da fala para a escrita – Atividades de retextualização-, São Paulo, Cortez Editora, 2003 
NEY, João Luiz. Prontuário de Redação Oficial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. PERINI-SANTOS, Pedro. Por que as pessoas têm dificuldade de escrever? – reflexões sobre a limitação repertorial e cognitiva da sociedade contemporânea. In: 1º ENCONTRO MINEIRO DE ANÁLISE DO DISCURSO. UFMG: 2005. 
PETEROSSI, Helena G. Formação do professor para o ensino técnico. São Paulo: Ática, 1995. 
SARAMAGO, José. História do Cerco de Lisboa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. 
VALENÇA, Ana. Roteiro de Redação. Scipione, 1998. 
ZAMBONIM, João Devino. Língua natural: enfoque sócio-lingüístico. In: Alfa nº 33: Unesp, 1989.