quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Normas ABNT para Trabalhos Acadêmicos 2017

Quem não sofreu para adaptar seu trabalho acadêmico (TCC , artigo, entre outros) às Normas da "bendita" ABNT?

Pois é. Mas para que seu trabalho possa ser divulgado e publicado ele deve obedecer a um padrão estrutural. Lembre-se que cada instituição pode ter alguma particularidade quanto a essas regras.
Falamos sobre como fazer citações, referências, gráficos, tabelas, enfim. Tudo que você precisa para fazer e acontecer no seu trabalho.
Aproveite bem e lembre-se que sem esforço, a vitória não tem sabor!

Baseado em normas vigentes da ABNT NBR 6023, 6027, 6028, 10520, 14724.
Objetivo
Tem-se como objetivo estabelecer uniformidade na apresentação dos trabalhos acadêmicos desta instituição e também ser ferramenta de auxilio no processo de elaboração dos trabalhos.
1- ESTRUTURA DOS TRABALHOS ACADÊMICOS
(teses, dissertações, monografias, Trabalho de conclusão de curso e outros)
Os elementos de um trabalho acadêmico possuem estrutura composta por partes pré-textuais, textuais e pós-textuais, sendo algumas dessas partes consideradas obrigatórias e outras opcionais. Devem obedecer a seguinte ordem:

1.1 PRÉ-TEXTUAIS
1.1.1 Capa (obrigatório)
1.1.2 Folha de rosto (obrigatório)
1.1.2.2 Verso da folha de rosto ou após para versão digital - Ficha Catalográfica (obrigatório)
1.1.3 Errata (opcional)
1.1.4 Folha de aprovação (obrigatório)
1.1.5 Dedicatória (opcional)
1.1.6 Agradecimentos (opcional)
1.1.7 Epígrafe (opcional)
1.1.8 Resumo em português / Resumo em inglês (obrigatório)
1.1.9 Lista de ilustrações, Tabelas, Abreviaturas e siglas, Símbolos(opcional)
1.1.9.1 Apresentação de ilustrações no texto
1.1.9.2 Apresentação de tabelas e quadros no texto
1.1.10 Sumário (obrigatório)
1.2 TEXTUAIS
1.2.1 Introdução
1.2.2 Desenvolvimento
1.2.2.1 Revisão da Literatura
1.2.2.2 Proposição
1.2.2.3 Método
1.2.2.4 Resultados
1.2.2.5 Discussão
1.2.3 Conclusão
1.3 PÓS-TEXTUAIS
1.3.1 Referências (obrigatório)
1.3.2 Obras consultadas (opcional)
1.3.3 Glossário (opcional)
1.3.4 Apêndice (s) (opcional)
1.3.5 Anexos (opcional)
2 CITAÇÃO NO TEXTO
2.1 SISTEMAS DE CHAMADA DA CITAÇÃO NO TEXTO
2.2 SISTEMA AUTOR-DATA
2.3 SISTEMA NUMÉRICO
2.4 CITAÇÃO DIRETA OU TEXTUAL
2.5 CITAÇÃO INDIRETA
2.6 CITAÇÃO DE CITAÇÃO
2.7 CITAÇÃO DE CANAIS INFORMAIS (AULA, CONFERÊNCIA, E-MAIL, DEPOIMENTOS, ENTREVISTA.)
2.8 CITAÇÃO COM UM AUTOR
2.9 CITAÇÃO COM DOIS AUTORES
2.10 CITAÇÃO COM TRÊS AUTORES - CITA-SE OS TRÊS CITAÇÃO COM MAIS DE TRÊS AUTORES CITA-SE O PRIMEIRO SEGUIDO DE “at al”
2.11 CITAÇÃO DE VÁRIOS AUTORES À UMA MESMA IDÉIA
2.12 CITAÇÃO DE AUTORES COM MESMO SOBRENOME
2.13 CITAÇÃO DE UM MESMO AUTOR COM DATAS DE PUBLICAÇÕES DIFERENTES
2.14 CITAÇÃO DE UM MESMO AUTOR COM MESMAS DATAS DE PUBLICAÇÃO
2.15 CITAÇÃO CUJO AUTOR É UMA ENTIDADE COLETIVA
2.16 CITAÇÃO DE TRABALHOS EM VIAS DE PUBLICAÇÃO (NO PRELO)
2.17 CITAÇÃO DE HOMEPAGE OU WEB SITE
2.18 CITAÇÃO DE OBRAS CLÁSSICAS
2.19 CITAÇÃO COM OMISSÃO DE PARTE DO TEXTO
2.20 NUMERAÇÃO
3 REFERÊNCIAS

1.1 PRÉ-TEXTUAIS

1.1.1 Capa (obrigatório)
Segue abaixo modelo de capa, que deve ser apresentado no formato A4 (21 cm x 29,7 cm), o projeto gráfico e de responsabilidade do autor, recomenda-se obedecer ao padrão de fonte Times New Roman ou Arial. Deve obedecer a seguinte ordem:nome da instituição, faculdade e curso;nome do autor;título; subtítulo, se houver;local (cidade da instituição)ano da entrega
Figura 1 - Modelo de Capa

1.1.2 Folha de rosto (obrigatório)
Segue abaixo modelo de folha de rosto, que é a folha que contém os elementos essenciais à identificação do trabalho, deve ser apresentado no formato A4 (21 cm x 29,7 cm), o projeto gráfico e de responsabilidade do autor, recomenda-se obedecer ao padrão de fonte Times New Roman ou Arial. Deve obedecer a seguinte ordem: a-nome do autor; b- título; c- subtítulo, se houver; d- natureza (tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso, monografia e outros) e objetivo (aprovação em disciplina, grau pretendido e outros); nome da instituição, faculdade, curso; área de concentração e- nome do orientado e, se houver, do co-orientador; f- local (cidade da instituição) g- ano da entrega

Figura 2 - Modelo de Folha de Rosto

1.1.2.2 Verso da folha de rosto ou após para versão digital - Ficha Catalográfica (obrigatório)
No verso da folha de rosto deverá constar a ficha catalográfica que é a identificação padrão do trabalho a para ser catalogado na biblioteca da Metodista ou em outras, e deverá seguir padrões internacionais conforme o Código de Catalogação Anglo-Americano – AACR2. A biblioteca é responsável de fazer a ficha catalográfica para todos os alunos da instituição procure a bibliotecária de seu campus.
Figura 3 - Modelo de verso de Folha de Rosto

1.1.3 Errata (opcional)
Utiliza-se para indicação de erros porventura cometidos e sua respectiva correção, acompanhados de sua localização no texto. Esta lista deverá constar após a folha de rosto.

Figura 4 - Modelo de Errata

1.1.4 Folha de aprovação (obrigatório)
Deve conter informações essenciais à aprovação do trabalho que constiui-se pelo nome do autor(es), título e subtítulo (se houver), natureza, objetivo, nome da instituição a que é submetido, área de concentração, data de aprovação, nome, titulação e assinatura dos componentes da banca examinadora e instituição a que pertencem. A data de aprovação e assinatura dos membros da banca é colocada após a aprovação do trabalho. Esta folha não recebe título.
Figura 5 - Modelo de Folha de Aprovação

1.1.5 Dedicatória (opcional)
Página opcional onde o(a) autor(a) presta homenagem ou dedica seu trabalho. Esta folha não recebe título e o projeto gráfico fica a critério do autor.

1.1.6 Agradecimentos (opcional)
Devem ser dirigidos às pessoas ou instituições que, realmente contribuíram de maneira relevante à elaboração do trabalho, restringindo-se ao mínimo necessário. Deve receber título, o projeto gráfico fica a critério do autor.

1.1.7 Epígrafe (opcional)
Frase, pensamento ou até mesmo versos no qual o autor apresenta citação seguida de autoria relacionada à matéria tratada no corpo do trabalho. Também podem ser apresentadas epígrafes nas folhas iniciais dos capítulos ou seções. Esta folha não recebe título e o projeto gráfico fica a critério do autor.

1.1.8 Resumo em português / Resumo em inglês (obrigatório)
Deve ser um texto bastante sintético que inclui as idéias principais do trabalho, permitindo que tenha uma visão sucinta do todo, principalmente das questões de maior importância e das conclusões a que se tenha alcançado. É feito normalmente na língua de origem e numa outra de larga difusão, dependendo de seus objetivos e alcance. O título deve ser centralizado, sem indicativo numérico e deve ser redigido em parágrafo único. Em teses e dissertações, apresentar o resumo com, no máximo, 500 palavras e em monografias e outros trabalhos acadêmicos, com 250 palavras. As palavras-chave devem estar logo abaixo do resumo. Obs.: os resumos devem estar em folhas separadas, e devem obedecer a seguinte ordem: a- folha do resumo português. b- folha do resumo em inglês.

1.1.9 Lista de ilustrações, Tabelas, Abreviaturas e siglas, Símbolos(opcional)
Enumeração de elementos selecionados do texto, como datas, ilustrações (figuras), exemplos e tabelas, cada item designado por seu nome específico, acompanhado do respectivo número da página. O título deve ser centralizado, sem indicativo numérico, obedecem à ordem que aparecem no texto, exceto para Abreviaturas e siglas que devem estar relacionados em ordem alfabética. Recomenda-se fazer lista para informações que contenham mais de 3 itens. Obs.: as listas devem estar em folhas separadas, e deve obedecer a seguinte ordem: 1ª - Lista de ilustrações ou figuras, 2ª - Tabelas, 3ª - Abreviaturas e siglas, 4ª - Símbolos.
Figura 6 - Modelo de Lista

1.1.9.1 APRESENTAÇÃO DE ILUSTRAÇÕES NO TEXTO
Entende-se como ilustração os gráficos, diagramas, desenhos, fotografias, mapas, etc. que complementam visualmente o texto.
OBS: DE ACORDO COM A NBR ITEM 5.8 da NBR 14724:2011, AS FIGURAS, TABELAS E GRÁFICOS EM GERAL onde a fonte é embaixo e a denominação acima. Item válido até hoje, não havendo quaisquer alterações neste sentido. FAVOR DESCONSIDERAR AS FIGURAS ILUSTRATIVAS, DESMEMBRANDO CONFORME SUGERIDO.
Figura 7 - Modelo de figura no Texto

1.1.9.2 APRESENTAÇÃO DE TABELAS E QUADROS NO TEXTO
As tabelas apresentam informações tratadas estatisticamente; os quadros contêm informações textuais agrupadas em colunas.
Figura 8 - Modelo de tabelas e Quadros no Texto

1.1.10 Sumário (obrigatório)
Enumeração das principais divisões, seções e capítulos, na mesma ordem e grafia em que a matéria é apresentada no corpo do trabalho. Se o trabalho for apresentado em mais de um volume, em cada um deles deve constar o sumário completo do trabalho.

Figura 9 - Modelo de Sumário

1.2 TEXTUAIS
Essa é a parte do trabalho onde é exposta a matéria. Deve ser apresentado no formato A4 (21 cm x 29,7 cm), recomenda-se obedecer ao padrão de fonte Times New Roman ou Arial, margens iguais as partes pré-textuais, espacejamento 1,5 entre linhas. Em caso de citações diretas com mais de três linhas e legendas de tabelas e ilustrações, usa-se espaço simples.
Os títulos e subtítulos das seções e subseções que compõem o texto devem ser alinhados à esquerda, precedidos de seus indicativos numéricos grafados em algarismos arábicos e separados entre si por um espaço de caractere e os títulos devem ser separados do texto que os precede ou que os sucede por dois espaços duplos. Cada seção primária deve ser iniciada em folha nova.
Deve ter três partes principais: introdução, desenvolvimento e conclusão.

1.2.1 Introdução
A partir da página inicial da introdução, todas as páginas devem ser numeradas inclusive referências, anexos etc, e o número deve vir no canto superior direito, a 2 cm da borda superior. A introdução é a parte inicial do texto, na qual devem constar a formulação e delimitação do assunto tratado, bem como os objetivos da pesquisa. Tem por finalidade fornecer ao leitor os antecedentes que justificam o trabalho, assim como enfocar o assunto a ser abordado. A introdução pode incluir informações sobre a natureza e importância do problema, sua relação com outros estudos sobre o mesmo assunto, suas limitações e objetivos. Essa seção deve preferentemente representar a essência do pensamento do autor em relação ao assunto que pretende estudar. Deve ser abrangente sem ser prolongada. É um discurso de abertura em que o pesquisador oferece ao leitor uma síntese dos conceitos da literatura; expressa sua própria opinião - contrastando-a ou não - com a literatura; estabelece as razões de ser de seu trabalho sumariando apropriadamente começo, meio e fim de sua proposta de estudo.

Figura 10 - Modelo de Introdução



1.2.2 Desenvolvimento
Parte principal do texto, que contém a exposição ordenada e pormenorizada do assunto. Pode ser dividida em seções e subseções, que variam em função do tema e da abordagem do método. Portanto, a organização do texto será determinada pela natureza do trabalho monográfico e respeitará a tradição da área em que o mesmo se insere. Em trabalhos que se propõem a rever e comentar a literatura, e que não relatam pesquisa de campo ou de laboratório conduzida pelo autor, a Proposição precederá a revisão de literatura. Também não se justifica uma seção Resultados, porque em trabalhos dessa natureza não existe coleta de dados e respectivo tratamento estatístico. Em trabalhos nos quais se relata pesquisa de laboratório ou de campo conduzida pelo autor, o Desenvolvimento das monografias, dissertações ou teses apresentarão nessa ordem as seguintes partes do texto: Revisão da Literatura; Proposição; Método; Resultados; Discussão.

1.2.2.1 Revisão da Literatura
Da Revisão da Literatura devem constar trabalhos preexistentes, que serviram de subsídio às intenções de pesquisa do autor. Pode constituir um corpo único ou ser subdividida, caso o assunto a ser tratado assim o exija. A ordem cronológica dos fatos deve ser obedecida, permitindo uma visão histórica do desenvolvimento do conhecimento do tema.

1.2.2.2 Proposição
A seção da Proposição destina-se a assentar as intenções do autor em relação ao assunto. Deve expressar coerência recíproca entre o título e as seções de Revisão da Literatura e o Material e Método.

1.2.2.3 Método
A seção de Método destina-se a expor os meios dos quais o autor se valeu para a execução do trabalho. Pode ser redigida em corpo único ou dividida em subseções. As subseções mais comuns são: Sujeitos, Material, Procedimentos. Se houver preferência por redigir em corpo único, a cada produto, material ou equipamento citado no texto, corresponderá uma nota de rodapé na qual constará no mínimo o tipo e a origem do meio empregado.

1.2.2.4 Resultados
Nesta seção o autor irá expor o obtido em suas observações. Os resultados poderão estar expressos em quadros, gráficos, tabelas, fotografias ou outros meios que demonstre o que o trabalho permitiu verificar. Os dados expressos não devem ser repetidos em mais de um tipo de ilustração.

1.2.2.5 Discussão
A discussão constitui uma seção com maior liberdade. Nessa fase o autor, ao tempo que justifica os meios que usou para a obtenção dos resultados, pode contrastar esses com os constantes da literatura pertinente. A liberdade dessa seção se expressa na possibilidade de constarem deduções capazes de conduzir o leitor naturalmente às conclusões. Na discussão dos resultados o autor deve cumprir as seguintes etapas:
a- estabelecer relações entre causas e efeitos; b- apontar as generalizações e os princípios básicos, que tenham comprovações nas observações experimentais; c- esclarecer as exceções, modificações e contradições das hipóteses, teorias e princípios diretamente relacionados com o trabalho realizado; d- indicar as aplicações teóricas ou práticas dos resultados obtidos, bem como, suas limitações; e- elaborar, quando possível, uma teoria para explicar certas observações ou resultados obtidos; f- sugerir, quando for o caso, novas pesquisas, tendo em vista a experiência adquirida no desenvolvimento do trabalho e visando a sua complementação.

1.2.3 Conclusão
Mesmo que se tenham várias conclusões deve-se usar sempre o termo no singular, pois, se trata da conclusão do trabalho em si e não um mero enunciado das conclusões a que o(a) autor(a) chegou. È a recapitulação sintética dos resultados e da discussão do estudo ou pesquisa. Pode apresentar deduções lógicas e correspondentes aos objetivos propostos.

1.3 PÓS-TEXTUAIS
Nesta secção compreendem as informações que complementam o trabalho acadêmico.

1.3.1 Referências (obrigatório)
Conjuntos de elementos que permitem a identificação, no todo ou em parte, de documentos impressos ou registrados em diversos tipos de materiais que foram mencionados explicitamente no decorrer do trabalho. Não deve constar nas referencias elementos que não foram citados no texto.
As referências deverão ser apresentadas em lista ordenada alfabeticamente por autor (sistema autor-data), usar espaçamento entre linhas simples e entre as referências, duplo espaço e alinhados à esquerda.
O título deve ser centralizado e sem indicativo numérico.

1.3.2 Obras consultadas (opcional)
São materiais que foram utilizados para compor um idéia e não foi citado no texto.

1.3.3 Glossário (opcional)
É um vocabulário explicativo dos termos, conceitos, palavras, expressões, frases utilizadas no decorrer do trabalho e que podem dar margens a interpretações errôneas ou que sejam desconhecidas do público alvo e não tenham sido explicados no texto.

1.3.4 Apêndice (s) (opcional)
Documentos que são anexados no final do trabalho com a finalidade de abonar ou documentar dados ou fatos citados no decorrer de seu desenvolvimento. São documentos elaborados pelo próprio autor e que completam seu raciocínio sem, prejudicar a explanação feita no corpo do trabalho.
Os apêndices são identificados por letra maiúscula do alfabeto consecutivas, travessão e pelos respectivos títulos. Exemplo:
APÊNDICE A - Avaliação numérica... APENDICE B - Avaliação de células...

1.3.5 Anexos (opcional)
Suportes elucidativos e indispensáveis para compreensão do texto, são constituídos de documentos, nem sempre elaborados pelo próprio autor, que complementam a intenção comunicativa do trabalho.
O título deve ser centralizado e sem indicativo numérico.
Se houver mais de um anexo, sua identificação deve ser feita por meio de letra maiúscula do alfabeto. Exemplo:
ANEXO A - Questionário... ANEXO B - Representação gráfica...

2 CITAÇÃO NO TEXTO
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) - NBR10520 - Citação é a “menção, no corpo do texto, de uma informação extraída de outra fonte".

2.1 SISTEMAS DE CHAMADA DA CITAÇÃO NO TEXTO
Segundo a ABNT, as citações devem ser indicadas no texto por um sistema de chamada: autor-data ou numérico. Qualquer método adotado deverá ser seguido consistentemente em todo o texto.

2.2 SISTEMA AUTOR-DATA
Esse estilo de citação permite ao leitor identificar, rapidamente a fonte de informação na lista de referências, em ordem alfabética no final do trabalho.As citações são feitas pelo sobrenome do autor ou pela instituição responsável, ou ainda, pelo título de entrada (caso a autoria não esteja declarada), seguido da data de publicação do documento, separados por vírgula ou entre parênteses.
EX.: O discurso competente, além de expressar significados, "representações, ordens, injunções para fazer ou não fazer consequencias, significações no sentido amplo do termo" (CASTORIADAS, 1991, p. 195), expressa também significantes cujas variáveis são mais sinuosas. "Apesar das aparências, a desconstrução do logocentrismo não é uma psicanálise da filosofia " segundo, Derrida, (1963, p.123)

2.3 SISTEMA NUMÉRICO
Neste sistema, a indicação da fonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em algarismo arábicos, remetendo a lista de referencias no final do trabalho, na mesma ordem em que aparecem no texto. A indicação da numeração pode ser feita entre parênteses, alinhada ao texto, ou situada um pouco acima da linha do texto em expoente à linha do mesmo, após a pontuação que fecha a citação
EX.: Diz Rui Barbosa: " Tudo é viver, previvendo."(15) Diz Rui Barbosa: "Tudo é viver, previvendo15."

2.4 CITAÇÃO DIRETA OU TEXTUAL
As citações diretas, no texto, de até três linhas, devem estar contidas entre aspas duplas.
EX.: Barbour (1971, p.35) descreve: “O estudo da morfologia dos terrenos..."
As citações diretas, no texto, de mais de três linhas devem ser destacadas com recuo de 4cm da margem esquerda com letra menor que a do texto, sem as aspas.
EX.: A teleconferência permite ao individuo participar de um encontronacional ou regional sem a necessidade de deixar seu local de origem. Tipos comum de teleconferência incluem o uso da televisão, telefone,e computador. Através da áudio-conferência, utilizando a companhialocal de telefone, um sinal de áudio... (NICHOLS, 1993, p.181)

2.5 CITAÇÃO INDIRETA
Transcrição de conceitos do autor consultado, porém descritos com as próprias palavras do redator. Na citação indireta o autor tem liberdade para escrever com suas palavras as idéias do autor consultado.
EX.: Apenas poucos estudos examinaram a conformação de uma molécula inteira de mucina, utilizando a NMR de carbono 13 e técnicas de disseminação luminosa, (GERKEN, 1989). (Dentro do parênteses o nome do autor deve estar em letras maiúsculas, só se usa minúscula no texto).

2.6 CITAÇÃO DE CITAÇÃO
É a transcrição direta ou indireta de uma obra ao qual não se teve acesso. Nesse caso, emprega-se a expressão latina "apud" (junto à), ou o equivalente em português "citado por", para identificar a fonte secundária que foi efetivamente consultada.
EX.: Além desses aspectos sobre a formação do povo brasileiro, que ainda hoje influenciam, de forma negativa, a disponibilidade para o ato de ler, outros ainda devem ser observados. Sobre este assunto, são esclarecedoras as palavras de Silva (1986 apud CARNEIRO, 1991, p. 31)

2.7 CITAÇÃO DE CANAIS INFORMAIS (AULA, CONFERÊNCIA, E-MAIL, DEPOIMENTOS, ENTREVISTA.)
Quando se tratar de dados obtidos por informação verbal (palestras, debates, comunicações) indicar entre parênteses, a expressão informação verbal, mencionando os dados disponíveis em rodapé.
EX.: O novo medicamento está disponível até o final deste semestre (informação verbal)1. No rodapé da página: 1 Notícia fornecida pelo presidente do Brasil Fernando Henrique Cardoso em Novembro de 2002.

2.8 CITAÇÃO COM UM AUTOR
EX. 1: (autor como parte do texto) Como afirma Almeida (1988, p. 14) "As novas tecnologias são o resultado prático de cruzamentos entre as diversas faces do triangulo da comunicação contemporânea: a tv, o satélite e o computador."
EX. 2: (autor não faz parte do texto) "As novas tecnologias são o resultado prático de cruzamentos entre as diversas faces do triangulo da comunicação contemporânea: a tv, o satélite e o computador." (ALMEIDA, 1988, p. 14)
OBS.: trata-se de citação direta, por isso o trecho retirado da obra consultada é digitado entre aspas duplas e a pontuação do autor citado é fielmente reproduzida.

2.9 CITAÇÃO COM DOIS AUTORES
Devem ser apresentados pelos sobrenomes dos autores ligados por ; quando apresentados entre parênteses. Quando citados no texto, devem ser ligados por "e", seguidos do ano da publicação. Os nomes devem estar separados por " ; ". O símbolo & indica sociedade comercial, portanto não é apropriado para um trabalho científico.
EX. 1: (autor como parte do texto) Zaccarelli e Fischmann (1994) identificam a estratégia de oportunidades como sendo a adotada por empresas que enfrentam grandes variações no nível de atividade em seus mercados. Ela consiste basicamente na manutenção de mínimo esforço durante os períodos de baixa intensidade e na minimização do esforço em período de pico.
EX. 2: (autor não faz parte do texto) As estratégia de oportunidades como sendo a adotada por empresas que enfrentam grandes variações no nível de atividade em seus mercados. Ela consiste basicamente na manutenção de mínimo esforço durante os períodos de baixa intensidade e na minimização do esforço em período de pico. (ZACCARELLI; FISCHMANN, 1994)

2.10 CITAÇÃO COM TRÊS AUTORES - CITA-SE OS TRÊS CITAÇÃO COM MAIS DE TRÊS AUTORES CITA-SE O PRIMEIRO SEGUIDO DE “at al”
Com mais de três autores:
EX. 1: (autor como parte do texto) Lotufo Neto et. al (2001) afirmam que as pessoas com depressão sofrem muito e procuram a ajuda de profissionais da saúde, porém estes raramente identificam o problema.
EX. 2: (autor não faz parte do texto) As pessoas com depressão sofrem muito e procuram a ajuda de profissionais da saúde, porém estes raramente identificam o problema. (LOTUFO NETO et al., 2001)

2.11 CITAÇÃO DE VÁRIOS AUTORES À UMA MESMA IDÉIA
Citar os autores obedecendo a ordem alfabética de seus sobrenomes.
EX.: Essas proposições foram testadas dentro dos limites estreitos da pesquisa sobre projeto do tabalho e em powerment. Dessa forma Parker, Wall e Jackson ( 1997) e Parker (2000) demonstraram como autonomia e decisão são positivamente relacionadas com comportamentos proativos, iniciativas, flexibilidades e internalizações de estratégias organizacionais por parte dos empregados. Do mesmo modo, Cordery e Clegg, Leach, Jackson (2000), Parker (1998),Wall (2000) .

2.12 CITAÇÃO DE AUTORES COM MESMO SOBRENOME
Havendo dois autores com o mesmo sobrenome e mesma data de publicação, acrescentam-se as iniciais de seus prenomes.
EX.: 1Os dados para a amostra dessa pesquisa foram coletados no banco de dados International Finance Corporation. Conforme salientam Costa J.R. e Costa M.R (1984).

2.13 CITAÇÃO DE UM MESMO AUTOR COM DATAS DE PUBLICAÇÕES DIFERENTES
EX.: Recentemente, foi comprovado que a educação continuada e o treinamento representam a base de sustentação do controle de qualidade total Tavares (1994, 1995, 1998).
Importante: a seqüência das citações obedece a ordem cronológica das publicações.

2.14 CITAÇÃO DE UM MESMO AUTOR COM MESMAS DATAS DE PUBLICAÇÃO
EX.: De acordo com Robinson (1973a, 1973b, 1973c) o número de manifestação corresponde a ....
Importante: na elaboração das referências as mesmas letras identificadoras dos documentos deverão ser apresentadas.

2.15 CITAÇÃO CUJO AUTOR É UMA ENTIDADE COLETIVA
EX.: Segundo a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, (2002) todo autor citado no texto deve ser relacionado nas referências.
OBS: As próximas vezes que a entidade for citada poderá ser utilizada apenas a sigla. Exemplo: Segundo a ABNT...

2.16 CITAÇÃO DE TRABALHOS EM VIAS DE PUBLICAÇÃO (NO PRELO)
EX.: Segundo Carneiro (não publicado), todo comportamento humano decorre da concepção que nós temos da realidade e nessa realidade existem três pólos distintos: nós e aquilo que nós somos, nós e aquilo que nos cerca, nós e as outras pessoas. Nossa postura na vida depende do modo como estabelecemos esta relação.
OBS: No caso do texto estar redigido em inglês, utiliza-se a expressão" in the press"

2.17 CITAÇÃO DE HOMEPAGE OU WEB SITE
Cita-se o autor pelo sobrenome, como se faz na citação tradicional. Quando não houver autor cita-se a primeira palavra do título em CAPS LOCK (A ABNT orienta fazer a citação da mesma forma que a do autor-livro e autor revista. Não se faz menção do site na nota de rodapé, pois existe uma referência própria para documentos retirados da Internet.
EX.: Ao tratar de biblioteca digital, Cunha (1999) esclarece que ela " é também conhecida como biblioteca eletrônica (principalmente no Reino Unido), biblioteca virtual (quando utiliza recursos da realidade virtual), bibliotecas sem paredes e biblioteca virtual.
Somente na lista de referências cita-se o nome completo do autor o nome do site e a data do acesso.

2.18 CITAÇÃO DE OBRAS CLÁSSICAS
EX.: Homero exulta o povo "Bravos, meus filhos! Vigiai, sempre assim; que ninguém ceda ao sono..." (Ilíada, 10, p.173). O volume deve ser indicado em arábico e deve-se colocar a designação da página " p. "

2.19 CITAÇÃO COM OMISSÃO DE PARTE DO TEXTO
Omissões em citações são permitidas quando não alteram o sentido do texto. São indicadas pelo uso de reticências no inicio ou no final da citação.Quando houver omissões, no meio da citação, usam-se reticências entre colchetes. As reticências indicam interrupção de um pensamento ou omissão intencional de algo que se devia ou que podia dizer e que apenas se sugere, por estar facilmente subtendido.
EX.: No inicio da citação: "...alguns dos piores erros na construção organizacional tem sido cometidos pela imposição de um modelo mecanicista de organização ideal" ou "universal" a uma empresa viva" (CASTRO, 1976, p.41)
No meio da citação: “O poder tributário [...] é à base de aplicação de qualquer categoria de tributos" (FOUROUGE, 1973, p. 41)
No final da citação: "Em relação a este tema Muraro (1983) no seu estudo com mulheres brasileiras da classe burguesa, afirma que uma das preocupações mais importantes destas mulheres centrava-se na própria aceitação...”.

2.20 NUMERAÇÃO
A numeração das notas explicativas é feita em algarismo arábico, devendo ter numeração única e consecutiva para cada capítulo ou parte. Não se inicia a numeração a cada página.
Ibdem - ibd [ na mesma obra] - Usado quando se faz várias citações seguidas de um mesmo Documento.

5 Silva, 1980, p.120 6 Ibid, p. 132Idem - Id [ do mesmo autor] - Obras diferentes do mesmo autor.
5 Silva, 1980, p. 132 6 Id, 1992, p. 132
Opus citatum - op. cit. [obra citada] - Refere-se à obra citada anteriormente “na mesma página”, quando houver intercalação de outras notas.

5 Silva, 1980, p. 23 6 Pereira, 1991, p. 213 7 Silva, op. cit., 93Locus citatum - loc cit [lugar citado] - Refere-se a mesma página de uma obra citada anteriormente, quando houver intercalação de outras notas.
5 Silva, 1995, p120 6 Pereira, 1994, p.132 7 Silva, loc. Cit
Nota:

As expressões latinas somente podem ser usadas em notas de rodapé.
Das expressões latinas, a expressão apud é a única que pode ser usada no texto também.

3 REFERÊNCIAS
Segue nesta secção exemplos dos tipos de referências e sua ordem exata conforme norma vigente da ABNT – NBR 6023.


ABORÍGENES. In: Novo Aurélio : dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2000.

3.14 LEIS E DECRETOS
BRASIL. Decreto lei n. 2.425, de 7 de abril de 1988. Estabelece critérios para pagamento de gratificações e vantagens pecuniárias aos titulares de cargos e empregos na Administração Federal. Diário oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, v.126, n. 66, p.6009, 08 de abril. Seção 1, pt 1

3.15 ACÓRDÃOS DECISÕES E SENTENÇAS DE CORTES OU TRIBUNAISNOME DO PAÍS, ESTADO OU MUNICÍPIO.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Deferimento de pedido de extradição. Extradição n. 410. Estados Unidos da América e José Antônio Hernandez. Relator: Ministro Rafael Mayer. 21 mar. 1984. Revista Trimestral de Jurisprudencia, Brasilia, v. 109, p. 870-879, set. 1984.

3.16 PARECERES, RESOLUÇÕES E INDICAÇÕES AUTORIA
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO. Resolução n. 16 de 13 de dezembro de 1984. Dispões sobre reajustamento de taxas, contribuições e semestralidades escolares e altera e altera a relação do artigo 5 da da resolução n. 1 de 14/1/83. Relator: Lafayete de Azevedo. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 13 dez. 1984. Séc. 1, p. 190-191.

3.17 BÍBLIA
Bíblia considerada no todo
BIBLIA. Idioma. Título. Tradução ou versão. Edição. Local: Editora, ano
BIBLIA. Português. Bíblia sagrada. Tradução: Centro Bíblico Católico. 34. ed rev. São Paulo: Ave Maria, 1982.
Partes da Bíblia
Quando se tratar de partes da bíblia, inclui-se o titulo da parte antes da indicação do idioma e menciona-se a localização da parte (capítulo ou versículo) no final.
BIBLIA, N. T. João. Português. Bíblia sagrada. Reed. Versão de Anttonio Pereira de Figueiredo. São Paulo: Ed. Da Américas, 1950. Cap. 12, vers. 11.

3.18 ATAS DE REUNIÕES
Universidade Metodista de São Paulo. Conselho de Ensino e Pesquisa, São Bernardo do Campo. Ata da sessão realizada no dia 10 out. 2002. Livro 30, p. 10 verso.

3.19 ARQUIVOS ELETRÔNICOS
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO. Sistema de Bibliotecas. Normas.doc. Manual para apresentação de trabalhos científicos. Biblioteca Central. São Bernardo do Campo, 16 out. 2002. 2 disquetes. Word 5.0. SILVA, L.L. B. Apostila.doc. São Bernardo do Campo, 16 out. 2001. Arquivo (605 bytes); disquetes 3 ½ Word for Windows 6.0.
UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO. Biblioteca Central. Manual de referencia. São Bernardo do Campo, 2002. 1 disquete.


SANTOS, J. J. Discussões sobre normalização de trabalhos [mensagem pessoal]. Mensagem recebida porbiblioteca@metodista.br em 12 out. 2002.
NOTA: Segundo a ABNT, as mensagens que circulam por intermédio do correio eletrônico devem ser referenciadas somente quando não se dispuser de nenhuma outra fonte para abordar o assunto em discussão. Mensagens trocadas por e-mail tem caráter informal, interpessoal e efêmero, e desaparece rapidamente, não sendo recomendável seu uso como fonte cientifica ou técnica de pesquisa.

3.20 DOCUMENTOS ELETRÔNICOS (disponíveis em meio tradicional e que também se apresentam em meio eletrônico)
a- Livro no todo:
QUEIRÓS, Eça de. A relíquia. In: BIBLIOTECA virtual do estudante brasileiro. São Paulo: USP, 1998. Disponível em: <http://www.bibvirt.futuro.usp.br>. Acesso em: 11 nov. 2002.
b- Evento no todo:
CONGRESSO BRASILEIRO DE CIENCIAS DO MOVIMENTO, 35., 2002, São Paulo. Anais... São Paulo, SP: UMESP. 1 cd-rom.


ABORÍGENES. In: Novo Aurélio : dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2000. Disponível em <http://www.dicionariodalinguaportuguesa.com.br >. Acesso em: 12 nov. 2002.
f- Jornal
Estado de São Paulo. São Paulo, ano 126, n. 39401, nov. 2002. Disponível em: <http://www.estadao.com.br >. Acesso em: 12 nov. 2002.
g- Artigo de jornal
COMÉRCIO, eletrônico. O Povo On-line, Fortaleza, 18 nov. 1989. Disponível em: <http://www.opovo.com.br >. Acesso em: 18 nov. 2002.
h- Artigo de revista
SANTOS, Lineu. O bibliotecário de referencia. Ciência da Informação. Brasília : IBICT, v. 26, n. 3, 1997. Disponível em <http://www.ibict.br/cionline/ >. Acesso em: 18 nov. 2002.

3.21 DOCUMENTOS TRADUZIDOS
Pode-se indicar a fonte da tradução quando mencionada.
CARRUTH, J. A nova casa do Bebeto. Desenho de Tony Hutchings. Tradução Ruth Rocha. São Paulo: Circulo do Livro, 1993. 21p. Tradução de: Moving House.

ANEXO A - Roteiro para Formatar o Trabalho Acadêmico Inserindo Numeração a partir da Introdução:
Fazer a quebra de página na folha anterior a introdução ou a anterior a que se inicia a numeração.Na barra de menu do word clicar em:

Inserir
Quebra de página
Tipos de quebra de seção – Contínua
OK2. Na página da introdução ou a que inicia a numeração. Clicar em (barra de menu do word):

Exibir
Cabeçalho e rodapé
Desabilitar o ícone : “mesmo que a seção anterior”
Formatar números de página – completar o campo “iniciar em”: com a numeração que inicia o seu trabalho.
Clicar no ícone : “inserir números da página”

Fonte: http://www.metodista.br

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Lobato e o livro

Ruth Guimarães

(Dois dedos de prosa, 04set1999)

José Bento Monteiro Lobato assistiu na rua Barão de Itapetininga, na Brasiliense. Tinha sim um escritoriozinho no mezanino, ia para trás, onde recebia editados e editorandos, a longa procissão de candidatos a escritores. Comover Mestre Lobato não era tão fácil, seria necessário ser um Lima Barreto, nada menos. Outros entravam, saíam, tinham que mirar aqueles olhos sagazes, o sorriso sem descerrar os lábios, a fala irônica, aquele dizer não, sem dizer não, o sobrancelhudo inamovível como pedra.

Sim, ele assistia no mezanino da Brasiliense. Mas, se fôsseis os trocapernas das Barão, nas tarde amenas, talvez parásseis diante das vitrinas das livrarias que as há e muitas por ali. Uma, especialmente; chamava muito a atenção de todos. Os passantes se detinham meio surpresos, prestavam muita atenção, cutucavam-se uns aos outros os que estavam juntos, sorriam, riam mesmo alvoroçados, teciam comentários nem sempre abonadores, sacudiam a cabeça, aprovando, desaprovando, divertindo-se. Que acontecia nessas tardes bonitas, em plena rua Barão, numa vitrina de livros? O que jamais chama a atenção de nenhum passante apressado ou não.

Sim, era uma criatura na montra. Está vivo? É manequim? - perguntava-se. Nessa época não se usava truques publicitários.

Mas sim. Era mesmo Monteiro Lobato, sentado dentro da vitrina, rodeado de livros seus (ele era editado da Brasiliense) numa cadeira confortável, larga, com espaldar. Trajava calças cinzentas, paletó marrom, camisa branca de linho, com colarinho alto e abotoaduras, gravata, sapatos de verniz de bico fino, pernas cruzadas. Muito se comentava a respeito, nas rodinhas literárias, no Bom Giovani e no Franciscano, no clube dos engenheiros e no Terrace Itália. Não somente os passantes da Barão se arrepiavam de ver a figura do mestre, perfeitamente imóvel, raro piscando, parecia até mesmo uma estátua. Tão bem falante, no mezanino, aqui, diante do público, mantinha-se calado. Hirto e calado. Pernas cruzadas, recostado como um bom savoir faire. Como um treinado manequim de loja, dessas meninas que enfeitam em épocas especiais.

Ele não ria, nem sequer sorria. Nem sequer olhava. Algumas pessoas permaneciam diante dos vidros um bom tempo, para se certificarem de que não era um clone do escritor, nem alguma bem feita estátua, copiada da ilustre figura.

Entretanto, assim calado, ele estava a seu modo discutindo, que a propaganda é a alma do negócio, como acreditava, como praticava, como dizia alto e bom som, reafirmando que um livro é mercadoria tão boa de negócio e de métodos de impingi-la como o arroz, o sabão e a mortadela.

Ouvindo os comentários e cochichos diante dele na vitrina e tendo os comentaristas e críticos e cronistas, eu sei que ele sorria por dentro.

E o que diziam dele?

Vaidoso?Ridículo?Negociante?Cabotino?

Quando Pablo Neruda esteve no Brasil, Monteiro Lobato estava mais morto do que vivo. Neruda também, que tinha um câncer em estado avançado. A apresentação dos dois intelectuais de esquerda no Pacaembu foi um delírio, apesar de ser um tempo em que comunista comia criança, na avaliação do povo. A voz cavernosa e enrouquecida de Lobato mal foi entendida. Até agora ainda mal entendemos essa voz.

Amigos, ambos de esquerda, Lobato e Neruda pensavam do mesmo modo, em relação ao livro, como produto para divulgação.

Achavam os dois que livro deveria alcançar as classes mais populares, ser vendidos em supermercado, açougue, farmácia, nas praças, no chão, na pastelaria, nos tabuleiros. Livro era para ser visto, folheado. Bem ao contrário do pensamento da época, de que as pessoas que gostassem de livros iriam buscá-los nas livrarias. Lobato procurava desmistificar o livro como utopia da intelectualidade. 

Diz ele: Livro não é para ficar no altar (leia-se prateleira de livraria, biblioteca) e nem para ser adquirido como supérfluo, quadro ou estatueta.

Banco da praça

Ruth Guimarães

Foto de Botelho Netto
Agora é que eu sei por que velho gosta demais de sentar num banco de jardim. Ficar sentado lagarteando, solzinho morno antes das onze. Temperatura pedindo sombra de árvore. E tanta coisa pra ver! Mas tantas coisas e das mais deliciosas que existem. Primeiro aquele relógio da torre da igreja matriz, que nunca está certo. E assim mesmo a cada cinco minutos estamos olhando para cima, conferindo as horas. O saibro canta sob os passos que vão e vêm da menininha que corre, perninhas curtas, gordas, cheias de covinhas e de roscas. Da moça de saltos muito altos. Dos colegiais, da mãe com a criança de colo, dos operários que vão para o almoço. 

A gente que passa varia. Ora são as mulheres com cesta de compras, apressadas, mas não muito, havendo sempre tempo para uma boa prosa. Ora, à saída ou entrada das escolas, os uniformes em azul e branco. 

As cores também mudam. De que cor é o branco da manhã clarinha, recém lavada da cama do dia? A face ainda molhada do orvalho? De que cor é a cabeleira de fogo do sol, desnastrada pelo céu de água marinha? De que cor o dourado da manhã que adolescerá algumas horas depois? 

Os passantes não vêem nada disso. Não viram o broto que espia em cada nozinho dos ramos, há dias sem vida, nem as últimas azaléias brancas escondidas no verde-escuro da folhagem. Nem as onze-horas sorrateiramente se abrirem em ciclame no canteiro em forma de estrelas. Nem que a terra sob as árvores está úmida, limpa e cheirosa, como se o Criador tivesse acabado de fazê-la. Mas não é isso. Claro que não. Não é o ver, o sentir, é o sentir. É o ser ou o deixar de ser. 

Quem passa está ocupado com o por vir e com o fazer. Está com pressa Vai não sabe onde, fazer ainda não sabe o que. Buscar não descobriu o que, ansioso e agitado, pois não descobriu ainda a lição a respeito da desimportância da vida. 

Eu sei por que velho gosta de ficar no jardim. Gente precisa de gente para viver. Sorriso de gente também é sol. 

Não é bom perguntar a si mesmo ou ao seu vizinho de banco se não é aquela moça bonita e sem juízo. E que fazem as mães daquelas crianças que ali estão... E por que motivo o moço colocou um chapéu verde bem no alto da cabeça e por que parece tão envergonhado: Por que não tira o chapéu? E com essas e outras cogitações inúteis, cada um tenta convencer a si mesmo e aos outros que ainda não desistiu. Ainda está ali. Ainda vê e participa. Estou aqui, gente. Estou aqui. 

Agora eu sei por que velho gosta de ficar no banco do jardim. Não participar não é não sofrer. Ninguém pode nada contra isso. 

Com o tempo vem inapelavelmente a sensação de que a vida é afinal uma interinidade um tanto passageira.

O grande calote

Ruth Guimarães 

Uma história que eu gosto de contar é a do esperto pescador de Nápoles. Havia nessa cidade um pescador de profissão, um tal Ciccillo, que todas as manhãs saía do porto com o seu barquinho e ia pescar em alto-mar. 

Certa tarde, durante a pescaria, reparou que o tempo ia mudando, pois começava a soprar o vento precursor de tempestade. Os marinheiros sabem distinguir o vento manso daquele que precede a borrasca. Por isso resolveu recolher todas as redes e voltar para a casa. 

As tempestades no mar às vezes surgem repentinamente e Ciccillo, no breve prazo de um quarto de hora, encontrou-se no meio de vergalhões tão agitados e tão desordenados, que o pobre diabo dizia para si mesmo: “Hoje é o dia em que vou morrer!” 

Lembrando-se então de São Genaro, o protetor dos napolitanos, como nós aqui temos Nossa Senhora Aparecida, para cuidar dos paulistas, ajoelhou-se e pediu que o salvasse: 

- San Genaro, tem dó de mim! San Genaro mio bello. Não me deixes morrer! Tu bem sabes que tenho quatro guaglione e a mulher paralítica. Faltando eu, onde iriam buscar dinheiro para a macarronada de todos os dias? São Genaro, tu me salvas e no dia de tua festa, levar-te-ei um feixe de velas! São Genaro mio bello, salva-me se queres as velas! 

O santo, condoído de sua trágica situação, pediu a Deus que lhe permitisse salvar o infeliz, no que Deus concordou. 

Imediatamente a tempestade abrandou, os vagalhões, aos poucos, tornaram-se mais mansos, e, por fim, os elementos acalmaram-se completamente, permitindo ao pescador voltar à sua “bella Napoli”. 

Nos domingos seguintes, quando ia à missa, o santo dava-lhe certas olhadelas esquisitas, como para dizer-lhe: Lembra-te da promessa! e, quando, durante a semana, que a borrasca não permitia pescaria alguma e os pescadores andavam pra lá e pra cá trocando pernas pela cidade, ao passar na frente da igreja, Ciccillo tirava o chapéu, não tinha coragem de olhar para o santo, talvez porque já estivesse com algum criminoso plano arquitetado. 

Chegou por fim o dia da festa de São Genaro. Nessa manhã, o velhaco pescador não queria ir à missa, com receio de que o santo lhe lembrasse a promessa Não querendo, no entanto, perder a função, resolveu assistir ao ofício divino da sacristia, exatamente às costas do santo. 

São Genaro, porém, estava de olho bem aberto. Logo que viu Ciccillo cruzar a praça da Matriz e dirigir-se para trás do templo, rumo à sacristia, chamou-o apressadamente: 

- Olá Ciccilo! Vem cá! E o feixe de velas, Ciccillo? 

Ele, apesar da gritaria de São Genaro, que se ouvia a légua e meia, tocava adiante, impertérrito, olhando do lado oposto e fingindo não escutar os chamados. Desta forma, o dia fatídico passou, dia comprido que não se acaba. 

Daí em diante, o descarado mentiroso julgou-se quite de qualquer compromisso com o santo. “Me cobrou, me envergonhou em praça pública, eu agora não pago mesmo.” 

Quando o povo de Nápoles ficou ciente dessa tramóia, inventou o tal provérbio popular: “Passata la festa gabbato lo santo.” “Passada a festa, caloteado o santo.” 

Ora! o que vem por aí, no fim do ano, é uma grande cópia de promessas. Se você não tem problemas, não se preocupe. Os candidatos encontrarão alguns bem cabeludos ou os inventarão se for necessário. Daí farão miríades de promessas de os resolver. Passado o quê, vem o imenso, o inominável, o abominável calote. 

Até outra safra.

Os Poemas de Guto

Ruth Guimarães 

O livro de Guto começa com um poema que é a própria dedicatória. Ao Botelho. No nosso exemplar, por ele gentilmente oferecido, chama o Botelho de amigo, a mim trata meio que medalhona, e me chama de Mestra, com M maiúsculo. Fiquei sem saber se essa maneira de classificar deve me lisonjear ou entristecer; eis que o nosso poeta tem duas grandes qualidades, ou dois grandes defeitos, dependendo do ponto de vista. Primeiro aquela sensibilidade agônica dos muito moços e muito poetas, e segundo o romantismo no seu caso dirigido para o niilismo à Alvares de Azevedo e a 1899, que faz taboa rasa de tudo, e descrê de tudo, e ficamos sem saber se é melhor atribuir essa crise existencial ao excesso de mocidade, e passa mais ou menos sem seqüelas, como o sarampo. 

O poeta meio que pede desculpas de juntar tais e tais poemas e nos conta que se demorou a ter coragem para isso. 

Coragem de que? Coragem de sair à luz, enfrentar as críticas e comentários, sem saber bem se tinha acertado? Mas esse temor devia ter sido quando da publicação do primeiro livro, quando perdeu a virgindade com os haikais. 

Então, o quê? A coragem de dizer e escrever palavrões? Depois de Jorge Amado e da desorientação da TV. Basta que a gente dê uma boa olhadela ao Decameron e a outras obras desabusadas do medioevo, para perceber que isso não é mais necessário. 

Coragem, a própria palavra quer dizer coração intrépido. 

Eu sei bem da sua coragem, meu poeta! Aquela coragem de violentar a si mesmo e trazer à luz o imo em carne viva. Contar da sua tristeza existencial, da sua descrença, do seu negativismo, das suas desilusões. Da incapacidade e de impotência de enfrentar o mundo e seus horrores. De desculpar o homem e a cega caminhada para o abismo. Existir não é fácil, quando se tem a sua sensibilidade. 

O poeta nos mostra o nosso rosto original, o que tínhamos antes de nascer. Pois que em verdade temos duas idades. A do nosso tempo presente e a que trazemos conosco ao vir ao mundo: o pacote genético, com tudo que a humanidade aprendeu definitivamente, em milhões de anos, e ao qual vamos acrescentar um grão, ao lutarmos para viver como a vida deve ser vivida. 

A última notícia que me vem desse poeta é que volta para Cachoeira talvez, mas de qualquer modo para o Estado de São Paulo. Fez concurso para professor do Estado. Passou muito bem classificado. Vencedor? Joguete de suas tarefas ilusórias? 

Neste mundo brasileiro há duas classes de gente abandonada ao seu destino precário e sonhador: os artistas e os professores.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

A gramática no cordel

Literatura popular no ensino da língua portuguesa

Bel Levy

– Estudo é coisa séria
Não me venha com pilhéria
Decore a cartilha, sim senhor!
– Que é isso, professor?
É com rima e bom humor
Que o menino vira doutor!

Se você gostou dos versos acima, certamente simpatizará com Janduhi Dantas: eles foram construídos inspirados nas 263 sextilhas que ele compôs em sua Gramática no cordel . Professor de português de escolas de ensino médio e cursinhos pré-vestibulares da Paraíba, ele resolveu divulgar regras gramaticais de forma criativa para facilitar – e alegrar – o aprendizado dos alunos.

A literatura de cordel é bastante popular no Norte e Nordeste e durante muito tempo funcionou como um meio de divulgar as histórias e a cultura de uma região. Antes dos jornais, do rádio e da televisão, era por meio dos folhetos de cordel que o povo tomava conhecimento dos feitos de Lampião e Maria Bonita, de crimes, milagres e até de secas e enchentes.

Janduhi, que é cordelista, aproveitou essa característica tradicional do gênero para fazer circular, de forma simples e interessante, as normas às vezes complicadas da gramática: "As rimas ajudam a memorizar e, como os versos são geralmente engraçados, o aprendizado se torna mais rápido e a aula, eficiente", garante o professor.

A idéia de escrever a Gramática no cordel surgiu quando seus filhos, de 12 e 11 anos, pediram-lhe ajuda para uma prova de português. "Nisso me deu um estalo / e a luz da idéia acendeu: / eu disse – agora, meninos, / uma idéia me ocorreu: / 'cês vão aprender gramática / como nunca se aprendeu", conta Janduhi na introdução do livro.

O cordelista começou, então, a criar as sextilhas gramaticais que hoje compõem a obra. São estrofes sobre fonologia, semântica, morfologia e sintaxe, que explicam as regras da língua portuguesa e esclarecem dúvidas comuns entre os alunos – como a diferença entre há e a , afim e a fim , onde e aonde .

A publicação foi totalmente financiada por Janduhi, em uma pequena gráfica da cidade, o que resultou numa edição modesta. Ele mesmo vende os exemplares em escolas da região, com a ajuda sobretudo de amigos. A Gramática no cordel custa R$ 12 e pode ser adquirida junto ao autor pelo telefone (83) 421-8977 ou pelo e-mail dantasjn@ig.com.br .

A gramática no cordel
Janduhi Dantas
Gráfica, Editora e Cartonagem Visão
Patos (PB), 2004
51 páginas

Confira algumas sextilhas da Gramática no cordel :

Substantivo
O Substantivo dá
Nomes aos seres em geral.
É o nome dado a coisa,
Ação, pessoa, animal...
É palavra variável
Em gênero, número e grau.

Mortadela, sem n
Não vá comer morta n dela
Pra não ter idigestão,
Mas mortadela , sem n ,
Pode comer de montão:
“Levante a mão quem não gosta
De mortadela no pão!”

Cocô gelado?!
Colocar acento em coco
È um erro bem danado!
Principalmente no fim
Se o acento é colocado
Pois ninguém está maluco
De beber “ cocô gelado”!

Há = passado, a = futuro
Na indicação de tempo,
Há e a são empregados:
A se emprega no futuro ,
Há se usa no passado –
"Vou sair daqui a pouco",
" Há dias fui ao mercado". 

Revista Ciência Hoje

O Cuidado dos Mortos: Uma História da Condenação e Legitimação do Espiritismo


GIUMBELLI, Emerson. 1997. O Cuidado dos Mortos: Uma História da Condenação e Legitimação do Espiritismo. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional. 326 pp.

Patricia Birman
Profª de Antropologia, UERJ

A pergunta mais pertinente a respeito desse trabalho minucioso, feito com raro empenho em explorar antropologicamente fontes historiográficas, talvez seja a mesma que a sociedade dirige a seus religiosos ditos e reconhecidos como "espíritas": vale mesmo o que está escrito? Ou, em termos equivalentes, será que o sentido dos textos psicografados que, frase após frase, contam histórias de personagens famosos, atribuem um sentido moral a certos comportamentos, explicam certas curas e os procedimentos a seguir deve ser buscado nos princípios da mediunidade, ou seja, na fonte que permite entender e acreditar na psicografia?

Para os espíritas, com efeito, a escrita dos médiuns é reveladora porque se parte da pressuposição de que o seu sentido advém de fonte sobrenatural. Assim, o médium não faz nada mais do que transcrever o que o espírito lhe dita e esse conhecimento transmitido é passível de ser incorporado mediante um trabalho de exegese feito por seus seguidores que mistura, em doses indiscerníveis, a interpretação que realizam com tudo aquilo que acreditam lhes chegar diretamente, sem contaminações, desse emissor do Além. Por mais que, portanto, naturalizem o texto psicografado, os espíritas reconhecem a existência de premissas que o validam, bem como de uma interpretação que lhe dá sentido.

Quando aproximo os documentos psicografados dos processos analisados por Emerson Giumbelli quero, para além de uma brincadeira, colocar em discussão o lugar que nos últimos se concede à interpretação. Certamente, os critérios interpretativos que conduzem a pesquisa etnográfica a hipóteses interessantes não são os mesmos daqueles aplicados pelo espiritismo diante de textos "psicografados", mas tanto espíritas quanto antropólogos reconhecem, por vezes com evidente dificuldade, que os dados não falam por si mesmos e que, portanto, é preciso dotá-los de sentido. Dessa maneira, reconhece-se a polissemia que os habita, enfronha-se em uma rede de discursos contraditórios e ambíguos para, finalmente, construir uma mera versão. A incerteza, pouco tranqüilizadora, a respeito dos resultados alcançados não deixa nem espíritas nem antropólogos descansar em paz. O mundo dos mortos e as comunicações que resvalam de antigos textos lhes acompanhará para sempre.

Deixemos por ora essa aproximação para expor em linhas gerais esse importante trabalho sobre o espiritismo no Brasil. Com um recorte preciso em uma enorme massa de material, Emerson manuseia fontes diversas para discutir a constituição do espiritismo no Brasil e, particularmente, no Rio de Janeiro. Ele parte da suposição de que o espiritismo é uma produção histórica e contextual, resultado de um processo que não continha, desde os seus primórdios, o traçado de seu caminho já delineado. Em outras palavras, a noção, hoje pouco relativizada, de que espiritismo é religião seria efeito, segundo o autor, de uma conjunção peculiar, de um encontro de diferentes estratégias discursivas desenvolvidas por agentes sociais diversos. Nesse processo, atuaram de maneiras contextualmente também diferenciadas as instituições médicas, jurídicas, os meios de comunicação, os agentes religiosos espíritas, católicos e outros, além das forças policiais. Com distintas estratégias discursivas esses grupos, ao se enfrentarem e por vezes também se alinharem, instituíram categorias, forjaram polaridades (como aquela que opôs "místicos" e "científicos" entre os espíritas de diferentes facções), estabeleceram jurisprudências, práticas diversas que hoje são difíceis de apreender (e, portanto, desnaturalizar) como efeito de um processo. A formação do espiritismo, tal como o conhecemos, no presente é efeito desse processo desenvolvido em um certo campo de forças, do entrelaçamento que se produziu entre discursos e poderes que foram capazes de fazer valer não somente algumas versões, mas também instituir certas práticas.

Giumbelli, nesse sentido, analisa a dinâmica e os atores sociais presentes no final do século passado e início deste que redimensionaram o lugar dos discursos médicos, transformaram as fronteiras identitárias dos grupos religiosos e redefiniram, sucessivamente, os papéis atribuídos ao Poder Judiciário e à polícia para, a partir da análise desse contexto e desses embates, compreender o espiritismo como resultado disso tudo. Contexto é, pois, uma palavra-chave. Produto de um campo de lutas em que se definiu competências médicas e jurídicas, emerge como lugar possível para o espiritismo aquele concedido à religião. Criam-se, portanto, novos lugares e novos papéis. O autor explica, assim, como, a partir de um certo momento, cristaliza-se uma crença por meio da qual o espiritismo construiu o seu lugar. Este teria se subordinado ao monopólio de cura conquistado pela medicina e se aliado ao poder policial para garantir, no campo "religioso", seu papel privilegiado em relação ao baixo espiritismo, à macumba, ao candomblé, ou seja, aos cultos de origem africana em geral.

Segundo a hipótese desenvolvida por esse trabalho, a construção histórica desse campo e o formato que veio a adquirir, em função do jogo de forças e estratégias discursivas que o traspassaram, concederam ao espiritismo, no Rio de Janeiro, comparativamente, um lugar de referência, um ponto de ancoragem em torno do qual todos os conflitos religiosos passaram a se expressar, e o metro a partir do qual passaram a se hierarquizar. O espiritismo no Rio de Janeiro teria tido, desse modo, papel equivalente àquele desempenhado pela africanidade nagô na Bahia, construída por uma aliança entre intelectuais e certos grupos de culto que passaram a ter o poder de legitimar, segundo seus critérios e medidas, os outros cultos de possessão. Mais do que um operador de distinções, o espiritismo teria sido capaz, portanto, de instituir práticas e critérios por intermédio dos quais os grupos religiosos associados à possessão passaram a se regular, obedecendo, assim, às injunções históricas que deram ao espiritismo kardecista um poder auxiliar de polícia e fizeram da Federação Espírita Brasileira (FEB) um regulador doutrinário tanto para "dentro" dos grupos espíritas quanto para a sociedade.

As conclusões a respeito do espiritismo no Rio de Janeiro são alcançadas mediante uma análise que se desdobra em torno de diferentes momentos históricos e debruça-se sobre práticas institucionais diversas. O papel e o perfil da FEB resultam tanto de um esquadrinhamento de suas práticas quanto dos efeitos dos confrontos aos quais foi sendo submetida no interior desse campo. O privilégio concedido à formação da FEB teve como resultado colocar em relevo a sua formação e, ao lado disso, também permitir entender o papel de outras instituições no Rio de Janeiro em alguns momentos decisivos, como as instituições sanitárias e judiciárias no processo de urbanização da cidade, os procedimentos judiciários associados à formação da República, os sucessivos lugares e diferentes definições do charlatanismo, os códigos penais e as jurisprudências estabelecidas etc.

Esse plano analítico pôde ser alcançado graças ao trabalho de investigação que envolveu diferentes fontes históricas. Cabe ressaltar o mérito, ainda raro na antropologia produzida no Brasil, do esforço de enfrentar essa modalidade de pesquisa, distante da perspectiva tradicional da disciplina com o seu privilégio atribuído ao trabalho de campo e à observação participante. A pesquisa fundamentou-se, essencialmente, no estudo de quatro processos-crimes instaurados com base nos artigos 156, 157 e 158 do Código Penal de 1890. A partir desses processos, o autor busca examinar como se estruturou a repressão ao exercício ilegal da medicina, como se fizeram presentes as acusações relativas ao espiritismo e à Federação Espírita Brasileira. Além disso, foi beneficiário das fontes pesquisadas no Arquivo Nacional, relativas tanto a esses processos quanto a outros, por Yvonne Maggie em Medo de Feitiço, tese de doutorado também do Museu Nacional, posteriormente premiada e publicada pelo Arquivo Nacional em 1992 (como ocorreria mais tarde com O Cuidado dos Mortos: Uma História da Condenação e Legitimação do Espiritismo).

Voltemos agora à questão mencionada de início sobre o lugar da interpretação. Como disse, tanto os textos psicografados como os processos não falam por si. Essa aparente obviedade, por vezes, parece ser diluída na análise que o autor faz dos processos penais. Talvez, por conta disso, ele não cumpra o que promete, em função de um discreto nominalismo que atravessa a elaboração do seu argumento. Com efeito, ao construir sua hipótese a respeito da aceitação do lugar de religião que o espiritismo da FEB promoveu, Giumbelli se apóia no que está dito nos processos sem, no entanto, articular inteiramente esse dito com o contexto discursivo presente nos processos e também fora destes. Texto e contexto operam separados em momentos importantes de sua análise. Com efeito, este último parece funcionar mais como um quadro de fundo do que como uma articulação analítica que permitiria justificar a interpretação dos discursos referidos. Destaquemos um exemplo, entre outros que poderiam ser citados. Na análise que empreende dos processos, Emerson Giumbelli não os toma como um texto composto de múltiplas intervenções e confrontos que se apresentam - como depoimentos, provas documentais, testemunhos, relatos, descrições etc. Os processos são apresentados, fundamentalmente, através do discurso elaborado pelo advogado de defesa da FEB. Como pano de fundo temos uma análise do campo médico da época e suas questões, como, por exemplo, o lugar atribuído à hipnose, ao magnetismo, à sugestão. Sem dúvida, aquilo que designo como pano de fundo se refere ao contexto, mas revela pouco das articulações discursivas que foram operadas por esses interlocutores no próprio processo e, muito menos, os deslizamentos de sentido que foram sendo operados pelos diferentes interlocutores no curso desse confronto. Assim, o contexto, aquele que nos daria as estratégias discursivas empregadas pelos agentes sociais que se fazem presentes no processo e fora dele, a partir dos lugares e interesses diferenciados, está ausente. As relações de sentido, em lugar de emergirem de uma análise dessas relações contextuais e, portanto, das redes de sentido que se tramam, são deduzidas das práticas espíritas e das orientações adotadas pela FEB, como resultados alcançados posteriormente a esses processos, o que pressupõe uma relação direta entre a funcionalidade de certos comportamentos e o discurso elaborado pela defesa espírita. E o sentido do discurso espírita parece, assim, falar por si mesmo, dispensando um trabalho interpretativo que supõe a interlocução com os outros discursos e agentes sociais que em vários níveis se fizeram presentes.

Em decorrência dessas pressupostas articulações, o autor sustenta a criação de um modelo institucional que explicaria as atividades espíritas e o lugar (funcionalmente adequado) que a FEB viria a ocupar no Rio de Janeiro. Pergunto-me se essa sua hipótese, rica em conseqüências, não deveria se apoiar mais na análise das articulações discursivas que se propõe a fazer do que na funcionalidade que se torna um dos elementos mais importantes de sua comprovação.

O autor tem o mérito de não se furtar à discussão com os trabalhos que antecederam o seu. Por isso, como reconhecimento do seu esforço de esclarecer seus pontos de discordância, merece que levemos a sério seu livro, buscando também contribuir para o debate que inaugurou. É importante, por fim, frisar que somente os bons trabalhos como o seu são críticos e suportam críticas em razão do valor das questões que levantam e buscam resolver.

Revista Mana

Deus na Aldeia: missionários, índios e mediação cultural

Eduardo Dullo
Mestrando do Museu Nacional – UFRJ

Montero, Paula (org.). Deus na Aldeia: missionários, índios e mediação cultural, São Paulo, Globo, 2006, 583 pp.

Engana-se quem se limita, ao ler o título, em pensar nesta coletânea como uma produção somente acerca de missionários e índios. O subtítulo é suficientemente completo para indicar a relevância de sua leitura para um público mais amplo: a mediação cultural, que é pensada enquanto categoria articuladora desses atores sociais. A leitura dirigida que forneço nesta resenha discute menos os dados de pesquisa e mais a elaboração que os sustenta. A razão dessa escolha reside nas questões levantadas pelos autores, dignas de uma expansão, tal como se pode inferir das palavras da organizadora: "A atividade missionária foi, por excelência, como veremos neste trabalho, uma atividade de classificação e comparação das diferenças de modo a localizá-las em quadros universais" e "agentes como os missionários são especialistas voltados para a produção desse tipo de compatibilização" (pp.10 e 56, respectivamente, grifos meus).

As pesquisas foram desenvolvidas em diferentes âmbitos institucionais, o que acarreta inovadoras contribuições. Há a presença dos departamentos de Antropologia das universidades de São Paulo, de Campinas e da Federal do Rio de Janeiro (Museu Nacional), além da valiosa contribuição do professor de História Moderna da USP e de História das Religiões da Universidade de Udine. O esforço é agrupado com os diálogos ocorridos no Cebrap, sob coordenação de Paula Montero. Um empreendimento coletivo de tal envergadura, culminando em coletânea com 11 autores e capítulos, além da introdução da organizadora, não se realiza facilmente. Esse é o primeiro mérito e sucesso. Entretanto, a leitura dos capítulos evidencia a divergência (em alguns casos, mais clara) entre os autores.

Aproveitando-me da apresentação do livro feita pela organizadora, reproduzo-a integralmente:

Esse debate tem, a nosso ver, cinco dimensões principais, ou cinco conjuntos de problemas que podem nos servir de eixo para a apresentação deste empreendimento coletivo: o modo como procuramos enfrentar o problema metodológico das relações entre antropologia e história; o uso que fizemos dos principais conceitos – religião e cultura – utilizados nestes textos; a questão estratégica da tradução nas relações de mediação; o privilégio que demos à noção de rede na análise das relações sociais e simbólicas; e, finalmente, o modo como procuramos construir uma perspectiva teórica adequada ao problema da interculturalidade que enfatizasse os sentidos produzidos nas relações. (pp. 11-2)

Seqüencialmente, ela apresenta os cinco eixos, comentando todos os capítulos. Não irei refazer o que já foi (bem-)feito. Cabe apenas ressaltar a amplitude dos trabalhos, articulando-se os eixos dos missionários jesuítas no século XVI aos evangélicos fundamentalistas atuais, de fontes documentais a pesquisas etnográficas em aldeias, e das práticas e estratégias de conversão às alterações decorrentes das revisões teológicas.

Minhas questões, no entanto, são direcionadas à teoria da mediação cultural e, mais propriamente, à formação de "códigos compartilhados". Se, como colocou a organizadora, os missionários são "especialistas" nesse tipo de "compatibilização", devemos inferir que essa é uma atividade possível para outros atores sociais, entre eles os indígenas – envolvidos na mediação – e quaisquer outros. Por isso, com essas frases (e ênfases) sempre em mente, o missionário de uma Modernidade nascente – formada, entre eles, no Concílio de Trento e na decorrente passagem para a catequese apostólica (cf. pp. 111 e 502) –, a atuação do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e das missões evangélicas da contemporaneidade não são os únicos objetos possíveis para as questões postas. Embora os trabalhos da coletânea sejam restritos à nossa alteridade antropológica radical, não devemos descuidar do olhar que procura compreender a alteridade pela ótica dos agentes em análise.

O volume, que é organizado sob a rubrica de uma "antropologia das missões" e que se pretende inovador ao romper com abordagens que às vezes são mutuamente exclusivas – como as que enfocam objetos de análise cunhados com os termos de antropologia ou história das religiões e etnologia indígena (cf. p. 23) –, traz para o centro do debate não o estudo de grupos, atores, culturas e, sim, o modo como cada um desses torna a diferença comensurável.

Ao longo dos diversos capítulos, descreveu-se o modo como o missionário se comunica com a diferença nativa – como ele imagina que o nativo é ou pensa e como incorpora certos modos interpretados como nativos; ao mesmo tempo, procurou-se descrever como o nativo se apropria em parte de algumas dessas representações de si e do missionário. (p. 25)

Os capítulos de Cristina Pompa, Marta Amoroso, Ronaldo de Almeida e Artionka Capiberibe demonstram de maneira mais nítida a centralidade adquirida pelos indígenas, capazes de articular modalidades do "sobrenatural" no procedimento de "imaginação" do outro: o xamanismo é, inicialmente, elevado à potencialidade religiosa pelos missionários. Assim, o xamã é visto como capaz de transitar entre mundos e, dessa forma, capaz de apreender diferentes pontos de vista. No entanto, ele é também percebido negativamente pelos missionários, pois sua relação com o "sobrenatural" não é a cristã. Por fim, os momentos de permissividade missionária – como observado por Amoroso (p. 229) e por Almeida (p. 289) – reduzem suas práticas a aspectos "terapêuticos" e "técnicos".

Nas missões católicas contemporâneas, um aspecto crucial é estudado por Marcos Rufino: a Teologia da Inculturação. Formulação teológica recente (a partir de meados dos anos 80), ela se propõe a recusar a primazia ocidental e européia do cristianismo e a verificar, nas outras culturas, sinais da Boa-Nova que não estão visíveis na cultura do missionário. Essa abertura ao Outro busca trazer elementos, no caso, indígenas, para o cristianismo. Rufino observa com detalhe a passagem e o debate entre duas teologias católicas: da Libertação e da Inculturação. Passa-se da libertação dos pobres (categoria homogeneizante) à promoção dos índios: "o empreendimento de cristalização de entidades socioculturais distintas em uma mesma personagem [...] cede lugar ao seu oposto. Cabe aos missionários, a partir de então, lançar-se no paciente trabalho de reconstituição das diferenças" (p. 253). Mas o trabalho de Rufino demonstra, ainda, como tais propostas, a princípio tão díspares e opostas ao olhar antropológico, foram conciliadas pelo CIMI.

A mesma Teologia da Inculturação é contrastada com outra, a da Transculturação, por Almeida (p. 287). Se, como mostrou Rufino, a primeira é uma revisão dos procedimentos missionários pela Igreja Católica, a ponto de Almeida dizer (p. 288) que ela "positiva aquelas dimensões da vida indígena que foram demonizadas pelos jesuítas" – o que pode ser observado nos capítulos 2, 3 e 4 de Gasbarro, Pompa e Agnolin –, a segunda "anuncia" o Evangelho "às culturas [...], remodelando o universo de valores, rituais e comportamentos, segundo os parâmetros da religiosidade evangélico-fundamentalista".

Os capítulos da coletânea, em íntimo debate, permitem, pela comparação dos meios e métodos dos missionários, uma elaboração antropológica que os organize. Montero, apoiada em Wittgenstein, evita a noção de "Cultura", redimensiona-a como categoria nativa para visualizar o que chamou de código. Este só pode ser concebido a partir do "aprendizado do uso de determinadas matrizes ou regras", quando as pessoas estão "dispostas a se comunicar" e a "compartilharem experiências comuns" (p. 26). Mas não podemos deixar de lembrar de maneira diversa da autora (cf. p. 55) – que a pretensão universalista do cristianismo, analisada como o especialista na inclusão da alteridade e na pedagogia das regras, não encontra um equivalente direto nos indígenas com quem se defronta. A atribuição do interesse de códigos compartilhados a todos os envolvidos me parece excessiva, bem como a atribuição de uma mesma lógica na produção desses códigos. Só é possível conceber que a alteridade possa ser reduzida e aproximações feitas dentro de um pensamento como o dos missionários cristãos (pretensão compartilhada pelos antropólogos). Nós (geralmente), como os missionários, cremos nessa possibilidade. Mas como afirmar que os indígenas agiam da mesma forma sem uma preocupação minuciosa diante dos dados?

Se, como afirma Montero (p. 56), as categorias indígenas possuem "menor alcance de generalização", não seria o caso de se preocupar mais com sua "lógica da produção de diferenciações e oposições"? O que me parece é que há o encontro entre duas lógicas bem distintas: uma inclusivista e universalista e outra diferenciante e oposicionista. Então, a questão que coloco é: ocorre uma produção de códigos compartilhados na ótica dos dois envolvidos ou apenas na dos missionários?

Se, por um lado, somos bem informados sobre o interesse missionário na "produção desse tipo de compatibilização", o material etnológico não adquire relevo capaz de nos fornecer a mesma informação por parte dos indígenas. Parece-me que, aqui, reside uma das divergências entre os autores. Alguns são mais inclinados que outros à possibilidade de alcance da voz indígena em fontes documentais (conforme podemos observar nas páginas 12-15, 124, 227, 304); e os últimos preferem restringir-se a falar dos missionários e da forma como estes descrevem os indígenas.

Exemplarmente, a aproximação ou, nas palavras de Cristina Pompa, a "redutibilidade" do Outro ao Eu – do indígena ao missionário capuchinho (cf. p. 122) – pode também ser lida como uma concepção da alteridade feita pelo missionário com base em sua simbolização privilegiada: as convenções nos termos religiosos (p. 123). Embora a análise da autora nos permita observar somente o modo como o capuchinho concebe o indígena, podemos inferir uma atividade similar por parte desse outro ator envolvido. Para além das teorias da ação, prática e/ou agência, o que se reivindica para todos os atores é uma capacidade de simbolização e de compreensão do Outro a partir de Si. Seria necessário o mesmo trabalho de imersão nos indígenas, tal qual feito para os missionários, para que possamos compreender a "negociação da realidade" e, principalmente, qual a importância que esta adquire para ambos.

O trabalho missionário adquire, ainda, outras relevâncias no debate contemporâneo: ao deslocar as categorias de "religião", "cultura", "conversão" e "etnicidade" para o plano nativo, elas se tornam elementos para análise e recebem um uso tático (cf. p. 383). Especialmente nos capítulos de José Maurício Arruti e Melvina Araújo, observa-se o trabalho missionário que, baseado na religião, estabelece conexões com a cultura indígena que envolvem alterações no entendimento de sua etnicidade (cf. pp. 382, 421; e, para Araújo, pp. 441-2). Esse movimento é observado por Arruti como uma "conversão às avessas [...] de civilizados em indígenas, do catolicismo a uma religião indígena (porém agora genérica)" (p. 421) ao "resgatar os elementos da cultura e da religiosidade indígenas soterrados sob camadas geológicas de catolicismo popular, como forma de favorecer que populações camponesas contemporâneas se reinvistam de uma identidade étnica ancestral" (p. 423).

No caso dos índios macuxi pesquisados por Melvina, a afirmação étnica promovida pelos missionários da Consolata está relacionada estreitamente com a problemática do território. É devido ao conflito com posseiros e às fazendas estabelecidas na região que ocorre um "deslocamento contextual das significações cristãs": Cristo, em sua "defesa da terra e da união fraterna" como "chaves da salvação", é lido como uma defesa do território e da organização política (p. 433).

A multiplicidade de agentes é um excelente caso para se repensar critérios comparativos, trabalho realizado pelos missionários ao comparar diferentes povos com quem interagem, mas também pelos autores, ao colocar lado a lado esses diferentes indígenas, missionários, teologias e conversões. É assim que a proposta deste livro expande-se, como se observa, para além dos interessados na religião ou na etnologia.

Revista de Antropologia