"Através da beleza do preto e branco, o fotojornalista Botelho Netto, também professor, também pai, também marido e também amigo, discutia em seus projetos fotográficos a linguagem da imagem captada".
Botelho Netto é paulista da cidade de Cachoeira Paulista, nascido no dia quinze de janeiro de 1921. Nasceu na Rua Silva Caldas, s/n e morreu na Rua Carlos Pinto, 130, curiosamente na mesma casa, na cidade de Cachoeira Paulista, dia 09 de outubro de 2001. Era o mais velho de quatro irmãos. Ia se chamar Cirilo, mas o seu tio, pai de sua esposa, esqueceu o nome quando estava no cartório e tascou-lhe um José. Seu pai, Antonio Botelho, era chefe de estação e ficava entre Rio e São Paulo e foi em Suzano que fixaram residência. Morava no Torreão do meio.
Zizinho para os amigos, para a esposa, para a turma do ginásio cachoeirense onde ele entrou aos trinta anos para não ser o “marido da professora” e ter sua própria personalidade. Botelho para os colegas de trabalho, para os amigos da faculdade onde aprendeu a amar a linguística, a semiótica, a história da arte.
Com a esposa, Ruth Guimarães, teve 9 filhos. Uma tal de síndrome de Alport atacou a família mas nem todos manifestaram a doença. Esse casal foi companheiro na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. Enquanto moraram em Cachoeira ele era o fotógrafo dos casamentos, dos batizados, dos noivados, dos “anjinhos”. Na praça tinha um alto-falante com sua propaganda: “Você é feio? Isso não é problema para o Zizinho do foto Marta.”
Vieram para São Paulo com os 4 filhos mais novos crescidos, dos nove que tiveram, para dar a estes chances que a cidade pequena não oferecia. Prestou concurso, foi ser professor no Campo Belo, longe léguas da Adma Jafet, travessinha da 9 de julho, em frente ao hospital Sírio Libanês, onde morava. Por quê? Porque se apaixonou pelo nome da rua: “Feitiço da Vila”.
Era apaixonado pelo que fazia. Era professor. Educador. Ensinava a ver. Ensinava fotografia com a técnica da latinha e o furo da agulha. Levava seus alunos para o alto das montanhas, para as trilhas, mandava tirar os sapatos, sentir a grama e a terra. Ensinava os meninos do ginásio fazendo coral de poesias, contando histórias, jogando truco. Ensinava os filhos no cinema falando de composição, triângulo de ouro, foco, luz, cor, saturação. Ensinou a faculdade onde estudou, a Fatea, a montar seu próprio laboratório. E quase passou cimento nos tijolos junto, para mostrar como deveria ser o melhor laboratório do mundo. Era engajado, consciente, e todos eram seus alunos em qualquer conversa que houvesse. Porque sua missão era ensinar. Fazia saraus em sua casa para juntar os amigos linguistas, filósofos, comunistas, poetas, jornalistas, folcloristas, cantadores. O violão levava às discussões e as discussões viravam cantoria.
Tinha tanta cantoria que animou um grupo de violão e cavaquinho e flauta, com o Bolacha, o Nilton Roseira, e outros, que se chamou “Os Velhinhos Transviados”. E fizeram sucesso até na capital!
Esse homem foi boêmio, fotógrafo, professor, educador, ambientalista. Mas principalmente fotógrafo, e fotógrafo-poeta. Um artista.
Texto de Júnia (carinhosamente chamada de Juninha, Junica), a caçula dos 9.
Texto de Júnia (carinhosamente chamada de Juninha, Junica), a caçula dos 9.
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