domingo, 21 de outubro de 2012

Como empregar a figura da repetição

1. Introdução
A repetição de palavras, expressões ou frases representa um dos recursos mais expressivos da linguagem para realçar as idéias.

É um recurso que remonta ao período barroco, estudado pela retórica, que se esmerou em sua subclassificação: anáfora (repetição no início de cada frase), epanalepse (no meio), epístrofe (no fim), simplace (no princípio e no fim), anadiplose (no fim de uma oração e no princípio da seguinte).

2. Textos
2.1 Textos-modelos 

Último discurso de Martin Luther King

Martin Luther King
Freqüentemente imagino que todos nós pensamos no dia em que seremos vitimados por aquilo que é o denominador comum e derradeiro da vida, essa alguma coisa a que chamamos morte.
Freqüentemente penso em minha própria morte e em meu funeral, mas não num sentido angustiante.
Freqüentemente pergunto a mim mesmo o que é que eu gostaria que fosse dito então, e deixo aqui com vocês a resposta.
Se vocês estiverem ao meu lado quando eu encontrar o meu dia, lembrem-se de que não quero um longo funeral.
Se vocês conseguirem alguém para fazer a oração fúnebre, digam-lhe:
para não falar muito;
para não mencionar que eu tenho trezentos prêmios, isto não é importante;
para não dizer o lugar onde estudei.Eu gostaria que alguém mencionasse aquele dia em que 
eu tentei dar minha vida a serviço dos outros;
eu tentei amar alguém;
eu tentei ser honesto e caminhar com o próximo;
eu tentei visitar os que estavam na prisão;
eu tentei vestir um mendigo;
eu tentei amar e servir a humanidade.Sim, se quiserem dizer algo, digam que
EU FUI ARAUTO:
arauto da justiça;
arauto da paz;
arauto do direito.Todas as outras coisas triviais não têm importância.
Não quero deixar atrás
nenhum dinheiro;
coisas finas e luxuosas.Só quero deixar atrás
uma vida de dedicação.E isto é tudo o que eu tenho a dizer:
SE EU PUDER
ajudar alguém a seguir adiante;
animar a alguém com uma canção;
mostra a alguém o caminho certo;
cumprir meu dever de cristão;
levar a solução para alguém;
divulgar a mensagem que o Senhor deixouentão,
MINHA VIDA NÃO TERÁ SIDO EM VÃO.

Mentira

Rui Barbosa
Mentira de tudo, em tudo e por tudo. Mentira na terra, no ar, no céu. Mentira nos protestos.Mentira nas promessas. Mentira nos progressos. Mentira nos projetos. Mentira nas reformas. Mentira nas convicções. Mentira nas soluções. Mentira nos homens, nos atos e nas coisas. Mentira no rosto, na voz, na postura, no gesto, na palavra, na escrita. Mentira nos partidos, nas coligações e nos blocos. (...) Mentira nas instituições, mentira nas eleições. Mentira nas apurações. Mentira nas mensagens. Mentira nos relatórios. Mentira nos inquéritos. Mentira nos concursos. Mentira nas embaixadas. Mentira nas candidaturas. Mentira nas garantias. Mentira nas responsabilidades. Mentira nos desmentidos. A mentira geral. O monopólioda mentira.

Dia de Agradecer

Ivete Brandalise
Obrigada por esse céu que se fez azul depois de tanta tempestade. Obrigada pela tempestade que me fez sonhar e desejar e descobrir o azul do céu. 
Obrigada pelo horizonte que meus olhos não alcançam, embora o concreto tente limitar meu mundo. Obrigada pelas frestas que ainda existem e que me deixam encontrar o céu, saber das nuvens, navegar pela mansidão do Guaíba, percorrendo ilhas e pontes, me perdendo e me achando em espaços indefinidos. 
Obrigada pela primavera que aconteceu em mim, pelas flores que brotaram na noite e se ofereceram regadas de orvalho na manhã. Obrigada pela manhã que veio luminosa. 
Obrigada pela noite que veio banhada de lua. Obrigada pelas estrelas que passearam por meus olhos. Obrigada pelos olhos que ainda se deixam salpicar de estrelas. 
Obrigada pelo riso, que ainda povoa minha vida. Obrigada pelos encantamentos que eu ainda encontro no riso fácil dos meus anjos loiros. Obrigada pelos anjos que fazem a minha poesia, as minhas canções, a minha alegria, o meu amor, até as minhas apreensões. 
Obrigada pelo amor que ainda existe em mim e me faz reviver na possibilidade de entrega. Obrigada pela ternura que a criança ainda sente num beijo meu. 
Obrigada pelas saudades que eu tenho, pelo bem-querer que não morreu. 
Obrigada pelo meu trabalho, pelo meu dia, pela minha noite, pelo meu ontem, pelo meu amanhã. Obrigada pelo alimento, pelo abrigo, pela vida, pelo amigo.
Mas não agradeço o amigo que não tive, muito menos o amigo que partiu. Não agradeço a fome, o ódio, a guerra. Não agradeço a solidão. Não posso agradecer o sofrimento, o desamparo, o desemprego. Não posso agradecer as injustiças. Não posso agradecer a angústia, as tensões, a poluição. Não posso agradecer as perdas, os desencontros, os desencantos. 
Perco o jeito de agradecer quando encontro criança perdida na noite e me calo e me omito e deixo que ela se encolha na porta de um edifício e cubra seu frio com os jornais, e cubra sua miséria com o meu descaso e cubra sua infância sofrida com sonhos de um tempo melhor. 
Perco o jeito de agradecer quando vejo a flor murchando nas mãos magras e sujas da criança esmoleira. Perco o jeito de agradecer quando vejo que as cores não pertencem a todas as crianças, as flores não brotam para toda a gente, o dia é luminoso para muito poucos. E perco o jeito de agradecer quando descubro que o "obrigada" deve vir no singular, que o amor, a ternura, o alimento, a alegria não existem para todo mundo.
Perco o jeito de agradecer quando me sinto culpada de agradecer.

2.2 Textos de Alunos

Arriscar é Viver...

Deise Konhardt Ribero
Rir é arriscar-se a parecer louco.
Chorar é arriscar-se a parecer sentimental.
Estender a mão para outro é arriscar-se a se envolver.
Expor seus sentimentos é arriscar-se a expor se eu verdadeiro.
Amar é arriscar-se a não ser amado.
Viver é arriscar-se a morrer.
Ter esperança é arriscar-se a sofrer decepção.
Tentar é arriscar-se a falhar.
Mas... é preciso correr riscos.
Porque o maior azar da vida é não arriscar nada...

Medo

Juliana Duzzo
Medo de falar, de ouvir...
De falar muito e muito pouco, de ouvir o que não se quer, ou o que se queria ouvir, mas imaginava que jamais ouviria.
Medo de encarar...
Medo de encarar os medos, medo de dizer oi, de dizer tchau...
Medo de rir na hora errada e chorar de assustada.
Medo de não saber o que dizer... de ir, de ficar, de não saber se ficar, se ir...
Medo de discar o último dígito, alguém atender e não se saber o que falar...
Medo de discar e não atender nunca mais.
Medo de ter medo. Medo de ter coragem de fazer a coisa errada. Ou, a coisa certa e acertar. Mas mesmo assim sofrer, mesmo assim chorar.
Medo de tudo, medo do escuro, medo da luz, da noite, do dia, da tarde...
Medo do telefone, do e-mail, do carteiro, dos conhecidos, dos amigos, dos parentes, dos pais.
Medo de qualquer um que possa dizer o que não se quer ouvir.
Ou dos que não dizem o que se precisa dizer.
Medo de se enganar, ou de já saber demais, mesmo sem nada saber.
Medo de ti.
Medo de mim.

Saudade

Kátia Simone Menegat
Lembrar das coisas ruins, das que me fizeram sofrer, dos sonhos não realizados, eu não queria. Para que sofrer com coisas inúteis, como o acidente que sofremos há muitos anos, a mentira que nos contaram, como quando nos difamaram? Eu não queria.
Se eu pudesse, esqueceria daquele amor não correspondido, das brigas que me fizeram sofrer, das pessoas que por mim passaram e causaram muitos estragos. Lembrar, eu não queria. 
Mas por que, então? Porque guardamos um espaço em nossa mente e coração para a imagem de quem não gostamos, de quem desprezamos, de quem não queremos ouvir falar? Por que ainda memorizamos seus rostos, e também os acontecimento passados e tão nocivos ao nosso presente, que só nos fazem sofrer? Sinceramente, eu não queria. 
As lembranças que ficam não podem ser apagadas, embora muitas vezes as tentamos mascarar. E aquela pessoa, aquele acontecimento, aquilo que queríamos esquecer vai estar sempre lá, mesmo que não a queiramos. E eu, realmente, não os queria. 
Mas a memória tem seu valor, e é isso que faz com que lembremos das coisas boas que vivemos, apesar dos acontecimento ruins; das pessoas maravilhosas que encontramos, apesar daquelas com quem nos desencontramos; e dos momentos preciosos pelos quais passamos, apesar daqueles que apenas passaram por nós. 
Mesmo que haja o mau, haverá sempre o bom a ser lembrado, e mesmo que existam coisas que queríamos esquecer, sem o que lembramos, quem haveríamos de ser? Sem nossas lembrança, esqueceríamos de muitas coisas, mas mais do que isso,desconheceríamos o significado de uma coisa que nos faz crescer,idealizar, sonhar e sorrir: a saudade. 
Dizer que não quero lembrar é, então, dizer que não a queria.

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Fabio Abreu dos Santos
Droga. Oito da manhã e ele estava, novamente, atrasado para o serviço. Seu chefe iria querer sua cabeça. Levanta-se correndo e vai até o banheiro. Ao lavar o rosto, fita seu reflexo no espelho. Pára por um momento e analisa as rugas que traz na face. Não pode deixar de sentir um pouco de tristeza. Afinal, já passou da casa dos quarenta anos, e julgava-se, em suas próprias palavras, um perdedor. Como sua vida fora parar naquele ponto? Não suportava sua mulher, depois de mais de vinte anos de casamento. Seus dois filhos, um de dezoito e outra de quinze, só lhe traziam problemas. Problemas e despesas.O mais velho não queria saber de trabalhar e a mais nova gastava todo seu tempo em passeios pelo shopping e saídas com as amigas. 
Mas o pior de tudo era o seu emprego. Não suportava seu chefe, não suportava seus colegas, não suportava sua função. Era contador, o que por si só já seria motivo de um eterno tédio. Mas tinha um agravante, era contador já há vinte e dois anos, na mesma empresa, no mesmo cargo. Nunca fora promovido. Seu salário estava longe de poder sustentar a família. Por isso, tinha de conseguir rendas extras, fazendo vários serviços como free-lance. Em resumo, sentia-se velho, cansado, triste e, pior, fracassado. 
Mas de repente, ao olhar-se no espelho, não sabe bem por que, lembra-se de uma história em quadrinhos que havia lido em sua infância, quando tinha a maior coleção de revistinhas de ficção científica de seu bairro. A história se passava num universo paralelo ao nosso, o universo X14, onde existiam clones de todas as pessoas que existem em nosso próprio universo. Se lembrava bem, a historieta mostrava que o único momento em que os dois, clone e original, se encontravam, era quando estavam frente a um espelho. O espelho seria, então uma passagem, ou uma janela, entre os dois universos, o nosso universo e o universo paralelo. 
Se isso fosse verdade, continua com seus pensamentos, o seu clone do universo paralelo, o seu clone do universo X14, poderia ser uma pessoa bem diferente. Não fisicamente é lógico, mas em relação à vida que levava. Na verdade no universo X14, seu clone poderia ser muito feliz. Poderia, não. Era muito feliz. No universo X14, seu clone deveria estar levantando àquela hora e indo até o espelho, só para se arrumar e ir fazer jogging matinal. Afinal, era muito importante manter a forma. No universo X14, seu clone teria deixado, deitada na cama, uma de suas inúmeras amantes maravilhosas. No universo X14, seu clone não deveria se preocupar com chefes. Aliás, no universo X14, seu clone deveria ser o chefe. E não de uma firma de contabilidade qualquer, mas sim de uma poderosa multinacional. No universoX14, seu clone não deveria ter preocupações com filhos. No universo X14, seu clone já deveria ter se separado da mulher com a qual casara e, sem dúvida, ela teria ficado com as pestes das crianças. 
Não pode deixar de sorrir. Na verdade, ele era um cúmplice da tão estupenda vida que levava seu clone no universo X14. Estava orgulhoso de ter um clone tão importante e poder fazer parte de sua vida, mesmo que fosse apenas por alguns momentos, quando o clone procurasse o espelho para se mirar. Se não fosse ele, seu clone seria um infeliz sem reflexo. Quase inconscientemente, leva a mão até o espelho e toca seu reflexo, como que felicitando seu clone por ter proporcionado um momento de alegria em sua porcaria de existência. 
Engraçada a vida. Como, às vezes, pequenos detalhes ou grandes fantasias podem torná-la tão melhor, tão mais feliz, tão mais maravilhosa. 
Enquanto isso, no universo X14... 
Droga. Oito da manhã e ele estava, novamente, atrasado para o serviço. Seu chefe iria querer sua cabeça. Levanta-se correndo e vai até o banheiro. Ao lavar o rosto, fita seu reflexo no espelho...

Fonte: Guia de Produção Textual. Disponível em: http://www.pucrs.br/gpt/repeticao.php

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