1. Introdução
A FRASE NOMINAL é a frase que prescinde de verbo, constituída, portanto, apenas por nomes.
É característica de muitos provérbios e máximas: Cada louco com sua mania; Cada macaco no seu galho.
É uma frase curta, incisiva que tanto pode expressar ações quanto apontar os elementos essenciais de um quadro numa descrição.
"A cama de ferro, a colcha branca, o travesseiro com fronha de morim. O lavatório esmaltado, a bacia e o jarro. Uma mesa de pau, o tinteiro niquelado, papéis, uma caneta. Quadros nas paredes".
(Érico Veríssimo, Clarissa, p. 220)
Na literatura brasileira contemporânea, quase todos os novelistas e cronistas dela servem, quase sempre na descrição.
A FRASE FRAGMENTADA é geralmente uma oração subordinada ou um adjunto que se apresentam isoladamente, isto é, não anexados à oração principal.
Othon Garcia, em "Comunicação em prosa moderna", p. 100, dá bem a idéia do que é frase fragmentada:
"A festa de inauguração da nova sede estara esplêndida. Gente que não acabava mais. Todos muito animados. Mas uma confusão tremenda. E um calor insuportável. De rachar. De modo que grande parte dos convivas saiu muito antes de terminar, muito antes mesmo da chegada do Governador. Porque era impossível agüentar todo aquele aperto, aquela confusão. E principalmente o calor".
Os períodos do texto são, na verdade, "pedaços" de períodos, verdadeiros fragmentos. São frases fragmentadas.
De acordo com a sintaxe ortodoxa, o período (e a pontuação) deveria ser assim construído:
Mas uma confusão tremenda e um calor insuportável, de rachar, de modo que grande parte dos convivas saiu muto antes de terminar, muito antes mesmo da chegada do Governador, porque era impossível de aguentar todo aquele aperto, aquela confusão, e principalmente o calor."
A frase fragmentada é um recurso de estilo, próprio da literatura moderna.
A FRASE CURTA, incisiva, direta também é característica da literatura moderna, ao contrário do período longo, característica do classicismo, do parnasianismo e do romantismo.
É um estilo entrecortado, soluçante,"asmático", na expressão de Othon Garcia. Ou um estilo "picadinho", segundo José Oiticica.
Não raro, frases nominais, fragmentadas e curtas se misturam, dando como resultado um estilo "estertorante", "convulsivo", "asmático", segundo, ainda, expressões de Othon Garcia.
Observe uma vez mais o texto "Por uma aprendizagem natural da escrita", onde aparecem frases curtas, nominais e fragmentadas.
Por uma aprendizagem natural da escrita
Sem professor. Sem aula. Sem provas. Sem notas.
Sem computador. Sem dom. Sem queda. Sem inspiração.
Sem estresse!
Só tu.
Tu e tu. Tu e o texto. Tu e a folha em branco.
Que impassível espera ser preenchida, para entretecer contigo a teia de palavras que liga todas as dimensões de tua existência, nesta travessia de comunicação de ti para contigo, de ti para o outro.
Sem.
Só tu.
Com teu ritmo. Com tua pulsação. Com paixão.
Na aventura do cotidiano. De resgatar a memória.
De fecundar o presente. De gestar o futuro. Anunciando esperanças. Denunciando injustiças. In(en)formando o mundo com tua-vida-toda-linguagem.
Sem!
Levanta tua voz: em meio às desfigurações da existência, da sociedade, tu tens a palavra.
A tua palavra. Tua voz. E tua vez.
Gilberto Scarton
O leitor que quiser mais informações relativas a esses tipos de frase, fará bem consultar a excelente obra de Othon Garcia "Comunicação em prosa moderna".
2. Textos
2.1 Textos-modelos
Letra de Música
Germano Jacobs
Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. Àquela hora, sete da noite, o bar estava cheio. Ele se encontrava sozinho, numa mesa no canto, quase escondido. Devia ter 45 anos e gostava de conversar consigo mesmo, de relembrar os bons tempos, aqueles que não voltam mais, essas coisas sentimentais do lugar-comum.
Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. Vai ao banheiro. Volta. Continua o ritual. Droga de vida, os bons tempos não resolvem coisa alguma. Parece letra de música destas duplas que infestam o rádio, mas os últimos anos foram uma sucessão de dramas. Dramas, não, dramalhões. Encontrar a mulher na cama com seu melhor amigo foi o começo. Bem que andava desconfiado, mas como é que podia imaginar tamanha sem-vergonhice? Ela ainda riu na sua cara,o seu amigo vestiu-se calmamente, fazendo pouco caso de sua presença. Quase que pediu desculpas por encontrá-los em adultério. Mais tarde perdoou a mulher, mas ela preferiu mesmo ficar com seu melhor amigo.
Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. Tosse. A desgraçada está voltando. Tosse. Vinte anos na mesma empresa. Auxiliar de contabilidade. Cumpridor de seus deveres, de jamais faltar ao serviço. Certo dia, sem mais nem menos, o aviso de demissão. "Por que eu, o que fiz, em que falha incorri?" "Contenção de despesa", a resposta, "a crise está braba". Sem mulher e sem emprego. E o emprego? Faz a escrita contábil do bar que freqüenta, da verdureira da esquina, da sapataria de um compadre seu, vai se virando. Ganha para comer, pagar o quartinho da pensão e tomar a cerveja de todos os dias. É o único luxo que se permite.
Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. O dois filhos, de 19 e 17 anos, estão por aí, no mundo. Eles que se virem. Ele quer ficar só, os outros que se danem. Se conseguisse esquecer da mulher, tudo seria diferente. Aí é que está, mesmo que continuasse a traí-lo, com seu melhor amigo, com quem quer que fosse, não importa, suportaria tudo para estar junto dela. Isso o deixa louco de raiva: "Que merda de homem sou eu?", se pergunta, e encontra à sua frente o copo de cerveja e o cigarro.
Uma tragada. Um copo de cerveja. Mais um copo de cerveja. Uma tragada. Tem certeza que nunca vai encontrar resposta. E continua o ritual.
Felicidades
Beertolt Brecht - Poemas
O primeiro olhar da janela de manhã.
O velho livro perdido e reencontrado.
Rostos animados.
A neve, a sucessão das estações.
Jornais.
O cachorro.
A dialética.
Tomar um banho, nadar um pouco.
A música antiga.
Sapatos macios.
Compreender.
A música nova.
Escrever, plantar.
Viajar, cantar.
Ser Camarada.
2.2 Textos de alunos
Inocentes Reflexões
Renata Eichenberg
Viver é desejar. Realizar nossos sonhos. Crescer. Amadurecer. Amar. Descobrir. Procurar. Acredito ser a vida preciosa, atraente, misteriosa, surpreendente. Não basta apenas vivê-la, temos que sonhá-la, imaginá-la, supô-la, adivinhá-la.
Se eu pudesse ter sete vidas, certamente teria sete desejos, sete anseios, sete amores, sete pais, sete filhos, sete sonhos.
Como só tenho uma, porém intensa e preciosa, espero, durante a minha vivência terrena:
conhecer muitos lugares, povos, costumes, tradições;
provar todas as formas e tipos de chocolates;
escrever, pelo menos, uma obra;
ter dois filhos, uma menina e um menino;
viver em uma praia tranqüila;
sentir, todo o dia, o cheiro de terra, mar, areia;
ter coragem de mergulhar, conhecendo os mistérios da água;
ver o pôr-do-sol sem a sombra de um arranha-céu;
viver a vida inteira ao lado de um único homem;
amar e ser amada;
sugar a essência do mundo;
provar de todos os vinhos;
arrancar suspiros;
simplesmente viver.
Devastação
Scheila Feijó Fantinels
Noite escura. Chuva caindo lá fora.
Continua chovendo. O cachorro late prevendo alguma coisa.
Aumenta a chuva.
Granizo. Vento. Chuva.
Começo a sentir medo.
A água ultrapassa as portas.
Telhas voam e não ouço nada. Pavor. Choro.
Os minutos parecem horas. Rezo...
Silêncio. O pesadelo acabou.
Devastação.
Árvores caídas, casas derrubadas, lágrimas, alguns feridos.
Ninguém segura a natureza.
Fonte: Guia de Produção Textual. Disponível em: http://www.pucrs.br/gpt/fragmentadas.php.
Othon Garcia é, de fato, excelente! Creio que deveríamos propagar muito no Brasil este excelente autor.
ResponderExcluirParabéns!
E muito importante Fica por dentro dos conteúdos.
ResponderExcluirEstas histórias é real muitas pessoas vivenciam isso vivenciam.
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