Embora parentes bem próximas, irmãs
quase univitelinas, a língua portuguesa e a língua espanhola estão em estágios
diferentes. O espanhol é uma língua mais bem resolvida em vários aspectos, e
conseguiu incorporar marcas de oralidade interessantes, o que seguramente faz
com que a língua tenha mais atratividade.
Caso típico é a autorização que os
falantes do espanhol têm de começar frases com pronomes oblíquos. Eles dizem
“me gusta”, “te quiero”, sem remorsos. No caso do português, a razão para a
proibição é formal, normativa, e já poderia ter caído em desuso. Mas é para
promover essas reformas que existe a Academia Brasileira de Letras. As novas
regras devem ser implantadas a partir de 2008 (quase quarenta anos depois da
última reforma ortográfica, realizada em 1971).
São pequenas modificações, que não
devem atingir nem 2% dos 228.000 verbetes constantes do mais recente dicionário
brasileiro. Mas terá o condão de simplificar a língua. O que, em si, já um
ganho significativo. A seguir, comentários sobre algumas dessas modificações.
Para começar, acaba o trema. Não vai
ser mais preciso escrever “cinqüenta”, mas cinquenta. A explicação é que o
trema é mais uma referência fonética do que propriamente de escritura.
Também na direção da simplificação,
foram eliminados alguns casos de uso do hífen para composição de prefixos. O
hífen desaparece quando o segundo elemento simples começa com s ou r, devendo a
consoante ser duplicada (contrarregra, ultrassom). A exceção nesse caso é
quando o prefixo termina em r (hiper-, inter- e super-). Também desaparece o
hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com vogal
diferente: aeroespacial, autoestrada.
Lembram-se dos chamados acentos
diferenciais, mantidos pela reforma de 1971? Também somem. Não se usará mais o
acento em pára, do verbo parar, que o diferenciava da preposição para. Não se
usará mais o acento em péla, do verbo pelar, que o diferenciava da preposição pela.
Pólo, substantivo, também perde o acento. Pêlo (cabelo) e pélo (do verbo pelar)
também não precisarão de acentos para se diferenciarem de pelo (preposição +
artigo). Pêra, a fruta, também não terá mais acento.
Outra “limpeza” da língua portuguesa é
o desaparecimento do acento circunflexo nas formas verbais (terceiras pessoas
do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo) de crer, dar, ler, ver. A
grafia passa a ser assim: creem, deem, leem e veem. Com base no mesmo
raciocínio, desaparece o acento circunflexo em palavras terminadas no hiato oo,
como enjôo ou vôo: agora devem ser escritos enjoo e voo.
Quanto ao acento agudo, também some em
alguns casos. Por exemplo, nos ditongos abertos ei e oi de palavras paroxítonas
(vamos passar a escrever assembleia, ideia, heroica, jiboia). Também nas
palavras paroxítonas, em que haja ditongo seguido de i ou u tônico, desaparece
o acento (feiura, baiuca). E, finalmente, desaparece o acento agudo em formas
verbais como averigúe (averigue), apazigúe (apazigue) e argúem (arguem).
A nova reforma também resgata as letras
k, w e y, e o alfabeto volta a ter 26 letras. Aliás, nem deviam ter sido
eliminadas, porque são necessárias para o aprendizado de outras línguas, como o
inglês, e de siglas internacionais.
Aí estão algumas das modificações que a
gramática descritiva indica para tornar a língua portuguesa mais econômica, mas
simples e, portanto, mais dinâmica. São mudanças no caminho da modernidade.
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