quarta-feira, 4 de abril de 2012

A língua portuguesa vai mudar. Para melhor.


Embora parentes bem próximas, irmãs quase univitelinas, a língua portuguesa e a língua espanhola estão em estágios diferentes. O espanhol é uma língua mais bem resolvida em vários aspectos, e conseguiu incorporar marcas de oralidade interessantes, o que seguramente faz com que a língua tenha mais atratividade.

Caso típico é a autorização que os falantes do espanhol têm de começar frases com pronomes oblíquos. Eles dizem “me gusta”, “te quiero”, sem remorsos. No caso do português, a razão para a proibição é formal, normativa, e já poderia ter caído em desuso. Mas é para promover essas reformas que existe a Academia Brasileira de Letras. As novas regras devem ser implantadas a partir de 2008 (quase quarenta anos depois da última reforma ortográfica, realizada em 1971).

São pequenas modificações, que não devem atingir nem 2% dos 228.000 verbetes constantes do mais recente dicionário brasileiro. Mas terá o condão de simplificar a língua. O que, em si, já um ganho significativo. A seguir, comentários sobre algumas dessas modificações.

Para começar, acaba o trema. Não vai ser mais preciso escrever “cinqüenta”, mas cinquenta. A explicação é que o trema é mais uma referência fonética do que propriamente de escritura.

Também na direção da simplificação, foram eliminados alguns casos de uso do hífen para composição de prefixos. O hífen desaparece quando o segundo elemento simples começa com s ou r, devendo a consoante ser duplicada (contrarregra, ultrassom). A exceção nesse caso é quando o prefixo termina em r (hiper-, inter- e super-). Também desaparece o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com vogal diferente: aeroespacial, autoestrada.

Lembram-se dos chamados acentos diferenciais, mantidos pela reforma de 1971? Também somem. Não se usará mais o acento em pára, do verbo parar, que o diferenciava da preposição para. Não se usará mais o acento em péla, do verbo pelar, que o diferenciava da preposição pela. Pólo, substantivo, também perde o acento. Pêlo (cabelo) e pélo (do verbo pelar) também não precisarão de acentos para se diferenciarem de pelo (preposição + artigo). Pêra, a fruta, também não terá mais acento.

Outra “limpeza” da língua portuguesa é o desaparecimento do acento circunflexo nas formas verbais (terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo) de crer, dar, ler, ver. A grafia passa a ser assim: creem, deem, leem e veem. Com base no mesmo raciocínio, desaparece o acento circunflexo em palavras terminadas no hiato oo, como enjôo ou vôo: agora devem ser escritos enjoo e voo.

Quanto ao acento agudo, também some em alguns casos. Por exemplo, nos ditongos abertos ei e oi de palavras paroxítonas (vamos passar a escrever assembleia, ideia, heroica, jiboia). Também nas palavras paroxítonas, em que haja ditongo seguido de i ou u tônico, desaparece o acento (feiura, baiuca). E, finalmente, desaparece o acento agudo em formas verbais como averigúe (averigue), apazigúe (apazigue) e argúem (arguem).

A nova reforma também resgata as letras k, w e y, e o alfabeto volta a ter 26 letras. Aliás, nem deviam ter sido eliminadas, porque são necessárias para o aprendizado de outras línguas, como o inglês, e de siglas internacionais.

Aí estão algumas das modificações que a gramática descritiva indica para tornar a língua portuguesa mais econômica, mas simples e, portanto, mais dinâmica. São mudanças no caminho da modernidade.



Joaquim Maria Botelho é jornalista e escritor. Especializado em Jornalismo Internacional nos EUA e Mestre em Literatura e Crítica Literária. Trabalhou em veículos como TV Globo e Revista Manchete. Seu livro mais recente é “Imprensa, poder e crítica".

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